22.1.06

Fórum Social Mundial de 2006


A sexta edição do Fórum Social Mundial (FSM), que este ano é policêntrico, acabou de abrir as suas portas em Bamako ( Mali), decorrendo entre 19 e 23 de Janeiro, transferindo-se depois a partir do dia 24 para Caracas para terminar no mês de Março em Karachi, uma vez que o sismo de Cachemira abalou profundamente todo o Paquistão, impediu a sequência temporal prevista e forçou ao adiamento da reunião a fim de não prejudicar os esforços de ajuda às vítimas.
Esta diversificação espacial do FSM responde ao duplo objectivo de acentuar a sua vocação como resposta global às grandes questões actuais, além do confessado propósito de reivindicar a especificidade dos problemas e as eventuais soluções nos diversos contextos geopolíticos. Em sintonia com estas preocupações, a reunião de Bamako centar-se-á sobre as questões da migrações e do meio ambiente, em Caracas será a vez da atenção recair sobre o imperialismo e a militarização do planeta, enquanto em Karachi se insistirá na desmontagem do sistema de castas e do patriarcado, na linha do que aconteceu, de resto, há dois anos atrás por ocasião do FSM de Mumbai.
Para além destas metas gerais, o policentrismo do presente Fórum aponta a necessidade de ir mais longe do que da simples área eurolatinoamericana, que tem prevalecido até agora, a fim de realçar a importância de outras regiões e continentes, como a Ásia e a África, em especial esta última que, não obstante as enormes potencialidades que possui, se transformou na terra maldita do planeta – vejam-se os recentes filmes-denúncia como o The Constant Gardener ( O Fiel Jardineiro) sobre a vilania da indústria farmacêutica e o The Lord of War ( que denúncia o tráfico de armas).
O próximo FSM que terá lugar em 2007 em Nairobi ( Quénia) e actual Fórum em Bamako com os seus 30.000 participantes e mais de 2.500 actores colectivos podem e devem contribuir para transformar o destino miserável a que o continente africano tem sido refém.
Claro que a multiplicação dos Fóruns e o seu policentrismo presta-se a algumas acusações como o risco de se tornarem em clubes de viagens políticas ou de Féria internacional de uma sociedade civil circulante como se referem Ignacio Ramonet e Gustave Massiah. Mas a dinamização dos movimentos sociais é a melhor defesa contras as guerras de Bush e o totalitarismo do império norte-americano e das suas multinacionais. Sem esquecer que num momento de re-nacionalização das políticas dos Estados e de demagogias nacionalistas o que faz falta são trincheiras protectoras e causas alternativas.
Quando o fim de trabalho para todos, com a precarização laboral e a desqualificação sindical que arrasta consigo, turvou o horizonte simbólico de uma sociedade mais justa e socialmente mais comprometida, o que há a fazer é procurar outros mitos para enraizar as esperanças colectivas. E se o integralismo nacionalista tem assumido a função referencial para o qual contribuiu a globalização de quase todos os processos mais determinantes, assim como o fenómeno migratório exacerbou a exigência de um pertença grupal, que vai muito para além do territorial até à consagração de solidariedades extraterritoriais com a emergência de comunidades transnacionais, o que há a fazer é encontrar as melhores formas de o defrontarmos.
A rigidez institucional dos sistemas políticos afastou os cidadãos, e sempre que estes querem sair deste jugo da partidocracia ao manifestarem-se nas ruas, são logo taxados de populistas.
Por isso é que é cada vez mais premente encontrarmos alternativas ao mercado das multinacionais e ao sistema da partidocracia, bem como a uma política capitalista de corrupção e depredatória dos recursos naturais, convocando os cidadãos à participação popular.

O FSM do Mali abriu com um multitudinária manifestação que mostrou a força e variedade da sociedade civil do Mali, em especial das populações do Sahra, estando presente muitas e variadas ONGs de todo o mundo.


FSM do Mali-
http://www.fsmmali.org/

FSM -
http://www.wsf2006.org/

FSM de Caracas -
http://www.forosocialmundial.org.ve/