6.8.05

Edições apalavrados



«Apalavrados: seres humanos comprometidos por um pacto de honra, valor, ideal, sangue ou princípio. No caso presente das artes, banda de poesia, trupe de saltimbancos, grupo de amigos, paralelos ou comuns, ligados por todas as áreas vivas ou por viver. podem ser poucos ou muitos, alguns ou todos, sós ou acompanhados, são os que estiverem na hora da luz e da revelação»

As edições apalavrados, com o apoio e cortesia do colectivo «silêncio da gaveta», inauguraram a sua primeira colecção de livros, sob a designação de «cobras incompletas», e para o seu início nada melhor que dar à estampa um volume de poesias de Joaquim Castro Caldas , com o título «há»

Desistam da ideia de procurar o livro nos escaparates das livrarias, e muitos menos nos saldos das feiras dos livros. São livros clandestinos, vendidos à sorrelfa pela cidade, nos bares e esquinas onde ainda esteja erguida alguma réstia de inteireza humana.

Do conjunto de poesias coligidas, seleccionamos o seguinte excerto:


(…)
há poetas como padeiros
por isso fermentam ambos
à hora a que os sinos
se avisam uns aos outros
para não soarem simultâneos

há marés para os afagos
se os vinhos mais sagrados
se bebem na rua puros
nobres desencantados
quando partem barcos
se devolvem os sorrisos

há vadios que nos tecem
companhia no desespero
à hora a que os medos
no dia em que os lábios deixam vestígio soltos
e em sangue os violinos
pela noite vão fingindo
que ainda são amados


há também as paixões
que escorregam como o frio
quem se morde por dentro
o que se morre em segredo
e por isso é pela ausência
que se vê um amigo

Autor: Joaquim Castro Caldas, em «há»