1.6.05

O que os militares norte-americanos fazem para aliciar os jovens…!!!



David McSwane, aluno do 12º ano no Colorado, decidiu saber até onde os recrutadores do exército norte-americano estavam prontos a chegar para aliciarem os voluntários, numa altura em que a guerra do Iraque fez baixar as vocações para a carreira militar. Em Janeiro, David entrou em contacto com o seu centro de recrutamento fazendo-se passar por um jovem à deriva, mas interessado em alistar-se no exército. Confessou que não possuía diploma algum. Ora segundo o regulamento, os recrutas do Exército devem ter, pelo menos, um certificado de escolaridade de nível liceal (isto é, da escolaridade obrigatória). Não há problema, responderam-lhe. Bastará fabricar um, sendo mais seguro arranjar um de uma escola inexistentes. O recrutador até sugeriu um nome, a Faith Hill Baptist School. Por 200 dólares, David conseguiu pela Internet obter um falso diploma no nome deste estabelecimento fictício. Referiu-se, depois, a um problema com as drogas. Quanto a isso, não há problema nenhum. O recrutador logo recomendou um kit de desintoxicação que fazia desaparecer os traços em caso de análise. Levou inclusivamente o seu pupilo a um estabelecimento comercial para a sua aquisição.
David McSwane teve o cuidado de gravar as conversas telefónicas, e convenceu a sua irmã mais nova, de 11 anos, a fotografar e pediu a uma amigo para filmar os seus encontros com uma câmara escondida. No passado dia 17 de Março publicou o seu relato no jornal do liceu de Arvada. Em Abril a cadeia CBS difunde as suas gravações. E no mês de Maio o assunto ganha contornos de debate nacional.
Desde 1973 e o fim da guerra do Vietname o exército norte-americano é constituído por voluntários. O recrutamento conhece hoje uma crise sem precedentes. Falta, 6.000 efectivos ao exército de terra para se atingir o objectivo fixado de 80.000 elementos até Outubro. Aos 7.500 oficiais recrutadores foi entregue a tarefa de recrutarem 2 voluntários por mês. A aproximação do final do ano lectivo faz aumentar a pressão, e foram registados centenas de casos de excesso de zelo. Mas só 7 incidentes foram qualificados por má conduta. Os recrutamentos foram, entretanto, suspensos a fim de permitir um apelo à ética e ao cumprimento do regulamento.
Note-se que os elementos recrutadores têm acesso aos estabelecimento. Podem circular na cantina, no buffet e até estarem presentes nas reuniões com os pais dos alunos. Oferecem bilhetes para concertos e jogos desportivos. Os pais queixam-se de intromissões, mas é o próprio liceu que fornece os números de telefone pessoal aos militares. As escolas são obrigadas a fornecer os seus ficheiros ao exército sob pena de perderem os financiamentos públicos. Não há muito, o representante da Califórnia, Mike Honda, apresentou um projecto de lei que impeça o fornecimento dos dados dos alunos ao exército salvo expressa autorização dos pais. Entretanto, um distrito escolar do Estado de New York, que recusou o acesso àqueles dados, aguarda a visita por estes dias de um coronel que não deixará de os incentivar a cooperarem.

( texto publicado no Le monde, de 1 de Junho de 2005)