1.6.05

Burótica, um enorme esbanjamento de energia



A burótica, e mais particularmente os computadores, entraram de rompante nas nossas vidas, e é muito difícil questionar o seu uso, se este se pautar por níveis de grande exigência. Processamento de texto, poder de cálculo, modelização de fenómenos complexos são, entre outros, serviços prestados pelos computadores que, dificilmente, poderíamos prescindir. Muito do que usufruímos devem-se aos computadores que nos permitem gerir, seleccionar centenas e milhões de dados.
Mas não é despiciendo perguntamo-nos se será necessário aceitar toda esta deriva energética em que a burótica se lançou nos últimos anos. A resposta é um rotundo não. Mas vejamos de perto do que falamos…
Em média o consumo de um computador é de 362 kWh/na. Se supusermos que existam 20 milhões de computadores, isto levar-nos-á a um consumo anual de 7,2 TWh, ou seja a produção de uma grande central nuclear.
Os parâmetros que influem no consumo de um computador são o tamanho e a tecnologia do ecrã, o poder de paragem da unidade central e do ecrã e, evidentemente, o tempo do seu funcionamento.
Um computador com um ecrã catódico de 21’’ consome em média 306 kWh. Se se contentar com um ecrã de 17’’, o consumo cai para os 170 kWh. E se adoptarmos um ecrã plano de 17’’, o consumo não será mais que 102 kWh. Se tivermos um de 15’’, o consumo anual não ultrapassará os 59 kWh.
Os ecrãs planos consomem em média muito menos, cerca de 2,3 vezes menos, que os ecrãs catódicos. Não vale a pena comprar um ecrã grande se não tivermos necessidade dele. Note-se que, depois de fechado, o ecrã ainda continua a consumir ( uma potência entre 1,7 a 2,7 w). Para evitar isso há que desligar o interruptor, cortando a passagem de energia.
A solução mais cómoda é, sem dúvida, o computador portátil, uma vez que a sua potência média é 25 W. Como o trabalho no portátil nem sempre é confortável, desenvolveram-se as «estações de acolhimento». Trata-se de terminais que compreendem um ecrã plano de 15’’ e um teclado a que se liga o portátil quando queremos trabalhar. A vantagem é beneficiar do fraco consumo do portátil e do conforto da estação.
Em média, um portátil não consome mais que 53 kWh por ano, isto é, dez vezes menos que um computador pessoal com um ecrã catódico de 21’’

A grande questão está em saber como se pode fazer melhor gastando menos. Para isso é preciso entender como os computadores são utilizados nas empresas. E aí começam as surpresas. Um estudo feito mostrou que uma unidade central funciona em média 4004 h/ano, ou seja, 17,8 h. por dia de trabalho, e um ecrã 2510 h./ano, ou seja, 11,2 h. por dia de trabalho. Claro que as máquinas funcionam mesmo sem nenhuma pessoa a trabalhar com elas. Note-se que o tempo de funcionamento dos ecrãs é inferior ao das unidades centrais porque 46% deles estão sob controle de um gestor de energia que os fecha quando não são utilizados. Mesmo assim é importante notar que 7% do consumo anual dos computadores corresponde a um consumo de véspera ( quando o computador é encerrado).
Mas as surpresas continuam porque, graças a um dispositivo específico de medição, vê-se o tempo durante o qual um computador de escritório é realmente utilizado (desde que é accionado pelo rato ou teclado): 686 h./ano, ou seja, 3,0h. por dia de trabalho! Tal significa que uma unidade central é utilizada 17% do tempo em que está em funcionamento, e o ecrã é utilizado 25% do tempo de funcionamento. Todo o tempo restante é esbanjamento e desperdício.
Face a isto não deve ser difícil melhorar as coisas e reduzir os consumos. Vamos indicar as medidas prioritárias começando por aquelas que não custam nada.
A primeira é, pois, gratuita e fácil. Em todas as máquinas vendidas desde há 4 a 5 anos existe um gestor de energia. Trata-se do Energy Star. Acontece que ele nunca é activado, excepto em certos ecrãs. É, pois, aconselhável ir activá-lo no painel da configuração onde diz »Opções de alimentação». Seleccione-se a opção da paragem do ecrã após 10 minutos de inutilização e a paragem da unidade central após 20 minutos de não-uso. Esta simples medida permitirá uma redução média do consumo do ecrã em 60% e da unidade central em 51%
Se comprarmos uma multi-tomada com interruptor e a ligarmos à unidade central, ao ecrã a todos os periféricos, poder-se-á ganhar mais 6%, porque quando desligarmos o computador bastará cortar a alimentação de energia através do interruptor.
Se substituirmos os ecrãs catódicos pelos planos, activando a gestão de energia, a poupança de energia atingirá os 85 a 95%. E se utilizarmos uma «estação de acolhimento» ou um portátil, então a redução do consumo será de cerca de 83%. O simples uso de um portátil é que permitirá, enfim, a maior poupança ( cerca de 89%)

Um enorme potencial de economia

Se estendermos a análise ao conjunto de toda a burótica, então as coisas piam mais fino. O consumo anual observado é de cerca 878 kWh por assalariado. A este número deve acrescentar-se o consumo anual de electricidade específica e a que serve para a iluminação e o aquecimento no edifício, o que faz disparar os números para os 1552 kWh por pessoa, ou seja, mais de 50% que nos alojamentos residenciais.
Todos estes números mostram até que ponto estamos habituados ao esbanjamento e como o desperdício se banalizou no nosso quotidiano. Todavia, quanto será fácil fazer economias significativas no nosso dia-a-dia.

(tradução do texto publicado no nº 320 da revista Silence de Fevereiro de 2005)