A árvore foi objecto de culto religioso desde remotos tempos. Cada uma das divindades pagãs tinha a sua árvore: Neptuno o pinheiro, Minerva a oliveira, Vénus o mirto. No jardim do paraíso terrestre dos chineses produzia-se a vida, cuja conservação dependia do fruto de uma árvore.
A história refere-as. Napoleão quis sepultura à sombra do salgueiro de Santa Helena; nos ramos do loureiro de Zubia, perto de Granada, escondeu-se Isabel a Católica, fugindo à perseguição dos mouros granadinos; a lenda quer que Freixo de Espada à Cinta deva o nome a uma destas árvores famosas. A heráldica serve-se de árvores para compor os brasões. O Direito romano punia quem cortasse furtivamente as árvores e as nossas Ordenações castigavam o corte de frutíferas com penas que podiam chegar ao degredo em África e no Brasil, após a sessão de açoites.
O culto religioso da árvore daria lugar a um amor racional, convertendo-a na grande amiga do homem. Nos Estados Unidos terá acontecido a primeira celebração anual, conduzindo as crianças ao local onde, após a explanação de carácter pedagógico, todas plantavam uma. A Irlanda instituiria a Festa da Árvore em 1904 e as crianças das escolas espanholas plantaram mais de 70.000 árvores já em 1907.
Realizada timidamente aqui e ali, Portugal promoveria oficialmente a primeira Festa da Árvore em 9 de Março de 1913, iniciativa do «Século Agrícola», suplemento semanal do extinto diário «O Século»; êxito que ficou a dever-se à adesão dos professores do ensino primário: os pequenos plantaram por todo o país milhares de árvores, ao som de um hino composto por Aboim Foios. Acusada de laicismo pelos fundamentalistas da época, viria desaparecer. Bem mais recentemente foi instituído oficialmente o Dia Mundial da Floresta, ou Dia da Árvore, que hoje se assinala por todo o país. Naturalmente não se sugere o regresso aos cortejos de meninos e meninas, marchando em filinha, todos de batinha branca, até ao local onde plantariam a sua árvore e disporiam de lauta merenda a fechar. Mas há-se ser a ainda chamada escola primária a inocular-lhes o carinho devido à tão violentada amiga do homem.
Reprodução com a devida vénia do texto de Vale dos Passos, publicado no Jornal de Notícias de 21 de Março de 2005