28.2.11

Jornadas Anticapitalistas ( 1 a 8 de Março) começam amanhã em Lisboa


http://jornadasanticapitalistas.wordpress.com/


Vivemos numa sociedade onde a política se tornou profissional e estes profissionais já não mais são que gestores da crise do capitalismo. Vivemos numa sociedade do trabalho, onde para sermos considerados cidadãos de plano direito somos sujeitos a processos de selecção, que nos dão a escolher entre o recibo-verde, falso ou não, ou o desemprego, e no qual as mulheres são sempre as mais penalizadas. Vivemos numa sociedade onde, do nosso corpo à nossa vida, tudo se tornou mercadoria, descartável a qualquer momento.

Vivemos numa sociedade onde o estado social administrador da crise dissolve, dia após dia, as suas últimas garantias sociais. Vivemos numa sociedade onde a nossa liberdade e autonomia apenas é reconhecida enquanto for rentável, estável e calculável. Vivemos numa sociedade onde a administração autoritária da crise se revela na promessa de mais vigilância, afirmando de forma paternalista ser para “nossa” segurança. Vivemos numa sociedade onde a legitimação dessa repressão é feita pelos discursos mediáticos cúmplices ou reféns da lógica do poder.

Não queremos a economia, não queremos o estado, não queremos a política.

Não queremos esta merda.

Não queremos pagar por aquilo que não decidimos: das quantias maiores da dívida pública, as dívidas pequenas à segurança social. Não queremos viver em cidades onde o espaço desenha fronteiras, cria guetos e nos divide segundo a conta bancária. Não queremos que nos impinjam como responsabilização moral individual a salvação do planeta numa versão mais verde do capitalismo, enquanto recursos naturais continuam a ser arrasados.

Por isso, o único sim que podemos dizer reside exactamente na forma de dizer NÃO: em conjunto, horizontalmente, sem intermediários, representantes ou vanguardas.

Pensamos estas jornadas anti-capitalistas enquanto meio de criar uma discussão e uma prática que não se cinja a comités centrais, tácticas parlamentares, políticos profissionais, ortodoxias ideológicas e sectarismos fossilizados. Propomos um espaço de encontro, de reflexão e de acção, no qual possamos começar a pensar em como nos vamos organizar para reclamar as nossas vidas e os nossos espaços.

Uma outra crise é possível.

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Não queremos a vossa economia

Num momento em que o capitalismo se revela como crise e esta serve de pretexto à dissolução das últimas garantias do Estado social, numa altura em que dinheiros públicos pagam a bancarrota de bancos e seguradoras perdidos nas aventuras dos mercados, e onde o capital desbasta recursos naturais em prol do benefício de muito poucos, num tempo em que a democracia procura sobreviver à crescente perda de legitimidade representada pela corrupção no seio do poder político ou pelas elevadas taxas de abstenção nos actos eleitorais, num contexto de generalização do uso de dispositivos de segurança, controlo e mercadorização da palavra e do corpo, nós, como outros em todo o mundo, escolhemos organizar-nos.

Ocupamos um espaço fora da política institucional. Não pretendemos representar ninguém, nem nos orientamos por uma lógica programática. Não nos junta uma direcção, mas uma afinidade que se encontra mais numa rejeição óbvia do capitalismo do que em eventuais proximidades ideológicas. Entregamos em exclusivo a uma assembleia, horizontal, aberta e informal, todos os momentos de decisão. Uma assembleia em que todos podem a todo o tempo tudo decidir.

As Jornadas anticapitalistas são a proposta que apresentamos. O seu programa permanece e permanecerá sempre em aberto e outras acções, que com ela se identifiquem ou solidarizem, poderão e deverão ter lugar. Este documento é, por isso, também um apelo à mobilização de todos os anticapitalistas e antiautoritários.

Propomos um conjunto de diferentes actividades e acções a decorrer no período de 1 a 8 de Março, que conte com acções de rua, debates, visionamento de filmes, jantares e festas, entre outros, e que proponham saídas para este modo de vida ou que critiquem de forma radical e directa o sistema capitalista. Estamos de acordo que não queremos esta ou qualquer outra economia capitalista e, nessa recusa, criamos um terreno comum, onde os contributos acompanham as diferentes sensibilidades num processo colectivo de discussão, decisão e acção.