O ‘saque’ de livros pertencentes a intelectuais palestinos pelo exército israelitae é tema de um documentário que está sendo realizado pelo cineasta israelita de origem holandesa Benny Brunner.
Ele afirma que cerca de 30 mil livros e manuscritos árabes, alguns deles raros e valiosos, acabaram na Biblioteca Nacional de Israel depois da guerra de 1948.
O interesse de Brunner pela história começou com um artigo escrito por um jovem académico israelita, Gish Amit, que por acaso encontrou livros ‘colectados’ de bibliotecas pessoais de palestinos que fugiram ou foram expulsos de suas casas em 1948 quando fazia a pesquisa de sua tese de doutorado.
Benny Brunner agora está recriando o que ele chama de ‘saque’ dos livros no documentário “The Great Book Robbery” (O grande roubo de livros). Ele espera localizar os proprietários originais dos livros. Uma testemunha entrevistada por ele é Nasser Eldin Al Nashashibi, membro de uma conhecida família de intelectuais em Jerusalém, que em 1948 tinha 20 anos: "Nossos livros foram roubados da minha casa. Eles foram saqueados por judeus. Vi isso com meus próprios olhos.”
De acordo com Brunner, funcionários da Biblioteca Nacional, coordenados com o exército israelita, entravam nas casas depois que os proprietários palestinos eram retirados à força. Às vezes, os livros eram colectados enquanto o conflito ainda estava acontecendo, conta Al Nashashibi.
A Biblioteca Nacional de Israel nega a acusação de saque. O porta-voz Oren Weinberg disse à Radio Naderland numa declaração por escrito que sua instituição está apenas administrando os livros em nome do Departamento de Custódia de Propriedade Abandonada do Ministério das Finanças.
Numa curta reposta, um oficial do ministério confirmou que a biblioteca está administrando a colecção. De acordo com ele, no entanto, os livros foram colectados em 1948 por um terceiro: a Universidade de Haifa. Pela resposta, não fica claro sob quais circunstâncias os livros foram colectados e como se tornaram propriedade do Ministério das Finanças. Os proprietários originais, de acordo com o ministério, são desconhecidos.
Testemunhas
Brunner conseguiu localizar testemunhas tanto do lado palestino como israelita, incluindo uma que trabalhou no processo de indexação. Aziz Shehadah, um advogado árabe-israelita de Nazaré, era estudante na Universidade Hebraica, em 1960, quando trabalhou para a biblioteca. “Alguns eram livros raros sobre literatura árabe antiga e sobre o islão”, ele diz. “Todo mundo sabia que eles vinham de cidades árabes. Alguns ainda estavam em sacos.”
Sinais de propriedade
Brunner diz que muitas das pessoas que localizou que estiveram envolvidas na história em torno dos livros se recusaram a falar com ele ou serem filmadas para o documentário. Um ex-funcionário da biblioteca inclusive “reagiu agressivamente, e descobriu-se que era ele o responsável pelo processo de indexação”.
No entanto, outros foram mais cooperativos e um ex-funcionário revelou a Brunner que os empregados da biblioteca removeram os sinais de propriedade árabe da maioria dos livros. Isso, segundo Brunner, “explica porque apenas seis mil livros permanecem como ‘propriedade abandonada’, enquanto documentos originais mencionam 30 mil”.
Brunner também encontrou um israelita de origem palestina que comprou livros do Departamento de Custódia de Propriedade Abandonada nos anos 1960 e descobriu que eles pertenciam a um amigo que havia emigrado para o Líbano. “Quando os livros não eram interessantes para a biblioteca, como livros escolares, eles os revendiam. Imagine vender propriedade roubada para as pessoas de quem você roubou!”
Campanha
Junto com o parlamentar de origem palestina Arjen El Fassed, do Partido Verde da Holanda, Brunner lançou uma campanha online para localizar pessoas que de alguma forma estiveram envolvidas nos eventos ou que ouviram od seus pais ou avós falar sobre eles. Todas as informações serão usadas no documentário.
Fonte:
www.rnw.nl/portugues/article/%E2%80%9Co-grande-roubo-de-livros%E2%80%9D
http://thegreatbookrobbery.org/
http://thegreatbookrobbery.org/blog