O conceito de género tem a ver com a diferenciação social entre os homens e as mulheres. Tem a vantagem, sobre a palavra "sexo", de sublinhar as diferenças sociais entre os homens e as mulheres e de as separar das diferenças estritamente biológicas.
Os estudos das relações sociais de género foram bastante marcados pelo trabalho de investigação levado a cabo pela socióloga feminista norte-americana Jessie Bernard, que, em meados dos anos 40 do século XX, iniciou a abordagem da importância do "género" na organização da vida em sociedade. A obra mais conhecida desta autora, The Future of Marriage (1982), procura mostrar como é que o casamento constitui um contexto institucional de cristalização de normas, valores, papéis e padrões de interacção entre o homem e a mulher, que são ideologicamente dominantes e que subjugam e oprimem a mulher. Esse estudo tornou-se já um clássico, num dos domínios de investigação sobre as relações sociais de género que mais se tem desenvolvido: a divisão tradicional dos papéis sexuais e as suas repercussões ao nível da família e do trabalho, ou em relação ao domínio privado e ao domínio público.
A investigação sociológica no domínio das relações sociais de género centra-se em dois pressupostos de análise principais:
1) a posição ocupada na sociedade pelos homens e pelas mulheres não são apenas diferentes, mas também desiguais;
2) a desigualdade social entre homens e mulheres resulta, principalmente, da organização da sociedade e não de diferenças biológicas ou psicológicas significativas entre os mesmos.
Em relação ao princípio analítico de que não há apenas uma diferenciação socialmente construída entre homens e mulheres, mas também, e sobretudo, uma desigualdade social, isto significa que os estudos em função do género supõem que as mulheres têm menos recursos materiais, estatuto social, poder e oportunidades de auto-realização do que os homens com quem partilham a mesma posição social.
O género é, assim, considerado um elemento que condiciona a posição social dos indivíduos, tais como a classe, os rendimentos económicos, a profissão, o nível de escolaridade, a idade, a raça, a etnia, a religião e a nacionalidade. Neste âmbito, têm-se desenvolvido estudos sociológicos centrados na discriminação e na diferenciação social, em função do género, em diversas áreas da vida em sociedade, tais como, por exemplo, as desigualdades no acesso ao poder e ao emprego e na atribuição de rendimentos salariais.
No que respeita ao princípio de que as diferenças entre os dois sexos são sobretudo socialmente instituídas e não predeterminadas, o conceito explicativo principal é o de "socialização".
Por outras palavras, uma parte significativa dos estudos no domínio das relações sociais de género supõe que a diferenciação de comportamentos e de traços de personalidade consoante o género resulta de expectativas socialmente incutidas nos indivíduos desde a infância, pelas quais as crianças são socializadas no sentido de desempenharem diferentes papéis, "masculinos" ou "femininos". Basicamente, trata-se de investigar como é que, ao nível das interacções entre os indivíduos, são construídas e recriadas de um modo permanente as dicotomias entre o homem e a mulher. Neste domínio, são de salientar os trabalhos da socióloga feminista britânica Dorothy Smith (1987) e da teórica feminista francesa Luce Irgaray (1985), sobre o modo como as linguagens actuais estão dominantemente ancoradas em experiências e conceitos masculinos.
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