O Anjo da História
Walter Benjamin
Editora: Assírio & Alvim
"Onde aparece para nós uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma única catástrofe que continua a amontoar destroços sobre destroços e os arroja a seus pés. O anjo gostaria de se deter, despertar os mortos e reunir o que foi despedaçado, mas está soprando uma tempestade no paraíso que o impele irresistivelmente para o futuro a que volta suas costas, enquanto à sua frente o monte de ruínas cresce em direção ao céu. O que chamamos de "Progresso" é justamente esta tempestade"
Walter Benjamin
Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas.O anjo da história deve ter este aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de factos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e lhas lança aos pés.
Ora, um dos pontos mais polémicos da nossa época envolve justamente a questão do progressismo vago, sem finalidades humanas. Todos aplaudem os avanços tecnológicos, poucos param para pensar no elevadíssimo preço humano pago para se chegar a tais conquistas...
Quando Walter Benjamin analisou o Angelus Novus, tela de Paul Klee, imediatamente os seus próprios companheiros, marxistas apontaram falhas para a sua análise considerada "não dialética": "Como? De costas para o futuro? Benjamin está politicamente errado!"
O progresso invade lares, desagrega famílias, transforma e transtorna a sociedade, traz desemprego, polui, tortura e mata os seres humanos. Apesar disso é sublimado constantemente pelos media e pela ideologia dominante.
Neste sentido, compreende-se o anjo, face torturada, observando a pilha de escombros a acumular-se à sua frente sem que nada possa fazer a respeito simplesmente por causa da "tempestade" chamada progresso.
Dá mesmo vontade de sabotar as engrenagens das máquinas frias, de paralisar o progresso para salvar o humano perdido na tempestade.
É então que ergue-se a acção política e a necessidade de incomodar os cultores do progressismo, tanto à esquerda quanto à direita quando bradamos indignados: "Mais humanidade e menos progresso!
Que a máquina sirva ao humano, e não que se sirva dele!
Realiza-se amanhã mais uma sessão «A cidade e a escrita» no Instituto alemão de Lisboa, cujo tema é precisamente Walter Benjamin e o seu Anjo da História, com a presença do tradutor dos textos daquele autor alemão e que foram publicados pela editora Assírio e Alvim
Encontros Literários
Dia 29.11.2010, às 18h30
Goethe-Institut, Campo dos Mártires da Pátria, 37, Lisboa
Entrada livre
Passaram 70 anos sobre a morte de um dos pensadores mais incontornáveis do século XX: Walter Benjamin. O pretexto para esta sessão da "Cidade e a Escrita", em que, a partir da tradução de João Barrento, O Anjo da História, em que o autor lança mão dos seus textos mais emblemáticos sobre a visão da história de Walter Benjamin.
Com a presença deste prestigiado investigador e tradutor, que traduziu o que de melhor a literatura alemã nos poderia legar, poderemos reunir e falar da importância de Walter Benjamin, da tradução da sua obra em Portugal, retomando questões que são ou mais pregnantes ainda hoje, como a falência do modelo capitalista, a crise da história e da narração, o fetiche do consumismo e a necessidade de repensar novos modelos sociais e políticos, com urgência.
Com a participação de Maria João Cantinho e João Barrento.
Com a participação de Maria João Cantinho e João Barrento.