7.11.10

Movimentos católicos ( LOC, Liga Operária Católica, e JOC, Juventude Operária Católica) condenam as políticas neo-liberais


A Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos e a Juventude Operária Católica consideram «inadmissível que sejam os bancos e o poder económico a impor as regras dos financiamentos das dívidas públicas e privadas com as incertezas e as especulações que continuamos a assistir»

Os Movimentos Católicos condenam ainda as »políticas neo-liberais que visam o emagrecimento do Estado através dos cortes nas despesas sociais»

E acrescentam:

«Apesar das realidades, dos fazedores de opinião pública e das estruturas do poder nos fazerem crer que não há outro caminho, nós reafirmamos com convicção que é possível e viável outro modelo de desenvolvimento mais justo que visa em primeiro lugar a dignidade da pessoa e não o lucro. Provam-no a história do movimento operário, o contributo dos trabalhadores ...»





Comunicado da LOC/MTC – Liga Operária Católica Movimento de Trabalhadores Cristãos e da JOC – Juventude Operária Católica, sobre a conjuntura económica e social actual.


O momento que vivemos marcado principalmente: pelo trabalho precário e desemprego estruturante, geradores de muitas angústias e incertezas na vida dos trabalhadores, dos jovens e das famílias; pela situação económica e social e as políticas neoliberais que visam o emagrecimento do estado através dos cortes nas despesas sociais, motivaram uma reflexão conjunta da JOC – Juventude Operária Católica e da LOC/MTC – Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos, a qual tornamos pública.


Vivendo num tempo de grande evolução tecnológica e científica, com algum progresso económico e social, constatamos o acentuar escandaloso das desigualdades, que tem provocado um aumento da pobreza e da exclusão social. Sublinha-se ainda a baixa produtividade, a corrupção e a economia paralela como factores que agravam ainda mais a situação. Deste modo continuamos a assistir a um desenvolvimento económico sem regras nem ética, onde muita da riqueza criada vem da especulação financeira.


Constantemente é questionado o estado social e diminuídos os apoios, quando estes foram uma solução imediata para muitos homens e mulheres que, ao fim de muitos anos de trabalho produtivo e criador de riqueza se viram sem trabalho. Para milhares de trabalhadores e de outros cidadãos mais pobres, são o subsídio de desemprego ou o precário rendimento de inserção social que lhes permite continuar a sobreviver nesta sociedade.


Sentimo-nos indignados porque cresce na União Europeia da liberdade, da democracia e da carta social a ideia de que a imigração é também causa dos problemas económicos e do aumento dos conflitos sociais, levando a um crescente sentimento xenófobo, quando as realidades e as estatísticas comprovam o grande contributo dos imigrantes no desenvolvimento económico, no crescimento demográfico e na riqueza da diversidade cultural.


É inadmissível que sejam os bancos e o poder económico a impor as regras dos financiamentos das dívidas públicas e privadas com as incertezas e as especulações que continuamos a assistir. As principais vítimas destes usurpadores de riqueza não produtiva e insustentável, são os países que enfrentam actualmente dificuldades financeiras, com défices orçamentais e dívida pública, mas os mais sacrificados são os trabalhadores e as populações mais pobres.


Apesar das realidades, dos fazedores de opinião pública e das estruturas do poder nos fazerem crer que não há outro caminho, nós reafirmamos com convicção que é possível e viável outro modelo de desenvolvimento mais justo que visa em primeiro lugar a dignidade da pessoa e não o lucro. Provam-no a história do movimento operário, o contributo dos trabalhadores e a nossa fé sustentada no projecto de Deus para a humanidade.


Para alterar o actual modelo de desenvolvimento e criar uma nova ordem mundial, como referiu o papa Bento XVI aquando do despoletar da crise económica, necessitamos:

• De uma União Europeia forte, que aposte no desenvolvimento democrático, social e equitativo, como sempre foram os seus princípios; que crie regulamentação e vigilância sobre os capitais e as offshore; que se revejam também os altos salários e as reformas dos cargos públicos e privados.

• De concretizar uma democracia mais participativa, principalmente nas autarquias e nas comunidades, de forma a serem encontradas respostas concretas e eficazes para as dificuldades e pobreza com que nos confrontamos.

• De rever urgentemente os nossos níveis de consumo, tanto do estado, como dos privados e principalmente das famílias. Por isso reprovamos a medida tomada, que incentiva a abertura dos estabelecimentos comerciais ao Domingo.

Como movimentos operários cristãos propomo-nos:

• Incentivar as comunidades cristãs a terem mais presente na sua reflexão e acção pastoral aquilo que são as angústias e anseios dos trabalhadores, dos jovens e desempregados a fim de contribuírem, à luz do Evangelho e do Ensino Social da Igreja, para uma sociedade mais humanizada.

• Apelar aos militantes dos movimentos operários cristãos para participar nas estruturas sindicais, sociais e eclesiais, no sentido de fazer destes, espaços de denúncia e busca de propostas de acção que levem a uma transformação fazendo renascer a esperança dos trabalhadores.

• Sensibilizar os trabalhadores, jovens, desempregados e reformados a viverem efectivamente a sua cidadania em todas as possíveis expressões que contribuam para a dignificação da pessoa.

Lisboa, 29 de Outubro de 2010 As equipas executivas da JOC e da LOC/MTC