6.9.10

Activismo social através da convivialidade comensal: comida e política numa zona temporária vegana


Tese de Mestrado sobre Activismo social através da convivialidade comensal: comida e política numa zona temporária vegana (Activism through Commensality: Food and Politics in the Temporary Vegan Zone)

Para consultar a tese de Mestrado: ver AQUI


Excerto inicial de apresentação da tese escrita:

Os problemas actuais do sistema alimentar global de produção, distribuição e consumo industrial de carne e o seu impacto nocivo no meio ambiente levaram investigadores e instituições como a FAO a concluir que a ingestão de menos carne e a adopção de uma dieta alimentar vegetariana – ou mesmo «vegana»1 – reduziria o impacto das emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE).

Do ponto de vista temático, o presente estudo etnográfico/dissertação tem como base o trabalho de campo que efectuei em 2009, observando e participando, ao longo de quatro meses, nas actividades de um grupo de activistas ambientais sediado em Lisboa. O estudo teve como objecto o «Jantar Popular»2 (JP) que o GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, uma ONGA3 – faculta todas as quintas-feiras, à excepção do mês de Agosto.

Esta organização pretende a mudança social através de «acções directas», de que o JP é exemplo, propondo a alternativa de uma dieta alimentar «vegana» como estratégia política para contrariar as pressões do sistema alimentar global corporativo relativamente à nossa dieta alimentar. No JP, o GAIA encontrou a ferramenta perfeita para exercer activismo político através da comensalidade. Quando as pessoas comem juntas, comungam em torno da comida.
Ora, quando a comida servida se relaciona com as tendências económicas, políticas e sociais ao nível global, a refeição torna-se um ritual de consumo, o qual, por sua vez, se torna um acto político. Por outras palavras, durante o JP, o «comedor»4 estabelece laços e cria afinidades com os outros através da comida. Embora óbvia, nem sempre se tem consciência desta função de comensalidade, mas a verdade é que o mero acto de comer em conjunto é a ferramenta ideal para pôr em prática políticas alimentares ambientais.

Paralelamente, o JP torna-se uma Zona Vegana Temporária (ZVT), na senda da «communitas» de Victor Turner, ou seja, como lugar onde as pessoas podem transcender a sua experiência quotidiana da alimentação.

Em suma, esta dissertação aborda o Jantar Popular na sua vertente de refeição ritualizada em que a comida exprime as escolhas políticas e culturais em termos de dieta alimentar dos participantes, desenvolvendo e reforçando simultaneamente a noção de que estes comungam de uma mesma crença.

O termo «vegano/a», traduzido directamente do Inglês (vegan) refere-se a um estilo de vida e a uma dieta alimentar que implica o não consumo de produtos ou alimentos provenientes de animais vivos ou mortos (carne, lã, pele, mel, leite, ovos, por exemplo). Apesar de a palavra não ter sido ainda oficialmente adaptada à grafia e à fonética portuguesas, optou-se pelo termo que a organização objecto de estudo neste trabalho (GAIA) utiliza .