CULTURA = LAZER DO CAPITAL
Acção Directa dos “Vadios” no passado Sábado dia 6 de Março no Palacete Pinto Leite, Porto.
“Cinquenta projectos originais portugueses, de áreas como a joalharia, artes plásticas e design de moda, estiveram patentes no antigo edifício do Conservatório de Música Porto, num evento intitulado “Absolut Creative House”. Assim era descrito o evento nos quotidianos da cidade.
O convite que a Gato Vadio recebeu tinha como pretexto mostrarmos os nossos livros. Era mesmo só um pretexto.
Os tais projectos originais mostram a sua pujança criativa, induzem à vitalidade das dinâmicas alternativas, auguram mudanças de mentalidade, abrem portas jamais vislumbradas no horizonte tripeiro, revelam o seu papel vanguardista no desenvolvimento humano, avançam a pulso na conquista de espaços únicos de sublimação, geram riquezas insondáveis, instigam às iniciativas de crédito internacional, copulam aos ouvidos das empresas de rating, seduzem com o seu marketing sofisticado e falsificado os corretores decanos e as casas de correcção municipal, masturbam-se com o vazio de ideias, enfiam o império da mercadoria no clítoris e na próstata, oferecem a rodos experiências contemplativas à geração recibo verde e um absolut spread nominal aos precários entediados que aguentam a sua miséria com a mesma fatídica obediência que a carquejeira que há um século atrás carregava no lombo o carrego para o seu amo, mas agora com a luxúria do Ikea, o mito redentor e burguês da geração “tá-se bem”, e vêm-se todos às 4h da tarde lá onde nada de novo se passa.
Na acção, “Os Vadios” colaram nas paredes de um dos corredores do Palacete os seguintes textos:
CULTURA = LAZER DO CAPITAL
No mundo imaginário, tudo indica que o Palacete Pinto Leite será vendido à iniciativa privada. Por outras palavras, à cultura da especulação e do capital. No mundo real, nos últimos anos a cidade do Porto assistiu ao casamento de compra-e-venda e de várias núpcias entre a actual gestão camarária e a supracitada iniciativa cultural: Mercado do Bom Sucesso, Mercado do Bolhão, Mercado Ferreira Borges, Teatro Rivoli, Palácio do Freixo, Casa das Glicínias, Praça de Lisboa. À boda, acrescenta-se ainda a mais do que provável privatização dos Jardins do Palácio de Cristal.
No caso de ainda não se ter vendido, saia o mais rapidamente possível deste imóvel, ou correrá o risco de ser um bónus para o mercado imobiliário. A cidade e os cidadãos não se responsabilizam pelo comportamento da gestão autárquica.
Nota: O Conservatório de Música do Porto esteve instalado no Palácio Pinto Leite entre 1975 e 2009 formando várias gerações de músicos no país.
Além do texto supracitado, deixámos alguns formulários para preenchimento com o seguinte conteúdo:
Preencha já o seu Formulário!
Por quanto acha que a actual gestão camarária vai vender este edifício?
1 – Por altos interesses do município
2 – Por arrogância
3 – Para fazer uma pista de carros indoor e um museu de pilotos de cera
4 – Por amizade
5 – Por Lazer
6 – Para passar ao “mundo civilizado”
7 – Outros
8 –
Em cima de um pedestal foi colocada uma urna para os transeuntes introduzirem o seu formulário.
Finalmente, no fim e em nota de rodapé, ironia à memória activa e à voracidade crítica do ambiente, indicámos duas questões colaterais…
Notas de rodapé:
Recordamos que o actual presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, emitiu em 2006 um despacho com o fito de cortar os subsídios pecuniários a fundo perdido às instituições culturais e sociais. Os apoios a instituições culturais representavam, em anos anteriores ao supracitado despacho, investimentos entre 150 mil e 200 mil euros anuais. Em 2006 as despesas da actual gestão autárquica com a promoção da sua imagem e do seu presidente ascenderam a meio milhão de euros.
Notinha de rodapézinho:
Finalmente, a actual gestão municipal obriga desde 2006 as entidades culturais a assinar um documento em que se comprometem a não tecer comentários sobre a política autárquica na esfera dos interesses contratados como contrapartida de receberem subsídios. Medida ao bom estilo censório de figuras ímpares da demo-cracia, como Lukashenko, Amhadinejad ou o eterno Castro.
PORTO = CAPITAL DO LAZER
Em escassos minutos, a urna ficou cheia de formulários. 100% de adesão. É uma imagem emblemática de estreiteza pseudo-activa: a consciência crítica ficou arrumada e limpa no gesto de introduzir o seu boletim de voto na urna improvisada. E o resto são cantigas, faducho e vodka absolutista. Metáfora circunstancial da democracia burguesa, do esforço ritual e impotente da maioria fingir à democracia de x em x tempo, julgando que um processo colectivo de criação baseado na democracia começa e acaba num sarcófago.
De realce, foi a expropriação do exemplar solitário da fanzine “Urro – Então e tu Orgasmo, também já és de direita?” colocada na mesa de apoio à nossa acção. Único gesto útil, sincero e livre naquele sábado, surripiando ironicamente o mais gratuito de todos os “objectos” expostos.
O segurança que vigia o edifício não tem nada a guardar de valioso. A criatividade, enquanto memória crítica, força de autonomia e pulsão libertária, há muito que disse adeus ao quarteirão. É por isso que o autarca lá puxa da calculadora para enfiar três tremoços nos miolos da nossa massa crítica.
Acção Directa dos “Vadios” no passado Sábado dia 6 de Março no Palacete Pinto Leite, Porto.
“Cinquenta projectos originais portugueses, de áreas como a joalharia, artes plásticas e design de moda, estiveram patentes no antigo edifício do Conservatório de Música Porto, num evento intitulado “Absolut Creative House”. Assim era descrito o evento nos quotidianos da cidade.
O convite que a Gato Vadio recebeu tinha como pretexto mostrarmos os nossos livros. Era mesmo só um pretexto.
Os tais projectos originais mostram a sua pujança criativa, induzem à vitalidade das dinâmicas alternativas, auguram mudanças de mentalidade, abrem portas jamais vislumbradas no horizonte tripeiro, revelam o seu papel vanguardista no desenvolvimento humano, avançam a pulso na conquista de espaços únicos de sublimação, geram riquezas insondáveis, instigam às iniciativas de crédito internacional, copulam aos ouvidos das empresas de rating, seduzem com o seu marketing sofisticado e falsificado os corretores decanos e as casas de correcção municipal, masturbam-se com o vazio de ideias, enfiam o império da mercadoria no clítoris e na próstata, oferecem a rodos experiências contemplativas à geração recibo verde e um absolut spread nominal aos precários entediados que aguentam a sua miséria com a mesma fatídica obediência que a carquejeira que há um século atrás carregava no lombo o carrego para o seu amo, mas agora com a luxúria do Ikea, o mito redentor e burguês da geração “tá-se bem”, e vêm-se todos às 4h da tarde lá onde nada de novo se passa.
Na acção, “Os Vadios” colaram nas paredes de um dos corredores do Palacete os seguintes textos:
CULTURA = LAZER DO CAPITAL
No mundo imaginário, tudo indica que o Palacete Pinto Leite será vendido à iniciativa privada. Por outras palavras, à cultura da especulação e do capital. No mundo real, nos últimos anos a cidade do Porto assistiu ao casamento de compra-e-venda e de várias núpcias entre a actual gestão camarária e a supracitada iniciativa cultural: Mercado do Bom Sucesso, Mercado do Bolhão, Mercado Ferreira Borges, Teatro Rivoli, Palácio do Freixo, Casa das Glicínias, Praça de Lisboa. À boda, acrescenta-se ainda a mais do que provável privatização dos Jardins do Palácio de Cristal.
No caso de ainda não se ter vendido, saia o mais rapidamente possível deste imóvel, ou correrá o risco de ser um bónus para o mercado imobiliário. A cidade e os cidadãos não se responsabilizam pelo comportamento da gestão autárquica.
Nota: O Conservatório de Música do Porto esteve instalado no Palácio Pinto Leite entre 1975 e 2009 formando várias gerações de músicos no país.
Além do texto supracitado, deixámos alguns formulários para preenchimento com o seguinte conteúdo:
Preencha já o seu Formulário!
Por quanto acha que a actual gestão camarária vai vender este edifício?
1 – Por altos interesses do município
2 – Por arrogância
3 – Para fazer uma pista de carros indoor e um museu de pilotos de cera
4 – Por amizade
5 – Por Lazer
6 – Para passar ao “mundo civilizado”
7 – Outros
8 –
Em cima de um pedestal foi colocada uma urna para os transeuntes introduzirem o seu formulário.
Finalmente, no fim e em nota de rodapé, ironia à memória activa e à voracidade crítica do ambiente, indicámos duas questões colaterais…
Notas de rodapé:
Recordamos que o actual presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, emitiu em 2006 um despacho com o fito de cortar os subsídios pecuniários a fundo perdido às instituições culturais e sociais. Os apoios a instituições culturais representavam, em anos anteriores ao supracitado despacho, investimentos entre 150 mil e 200 mil euros anuais. Em 2006 as despesas da actual gestão autárquica com a promoção da sua imagem e do seu presidente ascenderam a meio milhão de euros.
Notinha de rodapézinho:
Finalmente, a actual gestão municipal obriga desde 2006 as entidades culturais a assinar um documento em que se comprometem a não tecer comentários sobre a política autárquica na esfera dos interesses contratados como contrapartida de receberem subsídios. Medida ao bom estilo censório de figuras ímpares da demo-cracia, como Lukashenko, Amhadinejad ou o eterno Castro.
PORTO = CAPITAL DO LAZER
Em escassos minutos, a urna ficou cheia de formulários. 100% de adesão. É uma imagem emblemática de estreiteza pseudo-activa: a consciência crítica ficou arrumada e limpa no gesto de introduzir o seu boletim de voto na urna improvisada. E o resto são cantigas, faducho e vodka absolutista. Metáfora circunstancial da democracia burguesa, do esforço ritual e impotente da maioria fingir à democracia de x em x tempo, julgando que um processo colectivo de criação baseado na democracia começa e acaba num sarcófago.
De realce, foi a expropriação do exemplar solitário da fanzine “Urro – Então e tu Orgasmo, também já és de direita?” colocada na mesa de apoio à nossa acção. Único gesto útil, sincero e livre naquele sábado, surripiando ironicamente o mais gratuito de todos os “objectos” expostos.
O segurança que vigia o edifício não tem nada a guardar de valioso. A criatividade, enquanto memória crítica, força de autonomia e pulsão libertária, há muito que disse adeus ao quarteirão. É por isso que o autarca lá puxa da calculadora para enfiar três tremoços nos miolos da nossa massa crítica.