A Casa da Achada fica em Lisboa, na Mouraria, bairro histórico, pobre e degradado, no sopé da colina do Castelo, na fronteira com a zona da Baixa.
Foi comprada pela família de Mário Dionísio para nela instalar o Centro Mário Dionísio, alojando aí o seu espólio literário e artístico e o seu arquivo pessoal, além da sua biblioteca, de forma a que estes materiais possam ser utilizados, depois de catalogados e/ou digitalizados, e sejam o ponto de partida para actividades culturais permanentes, que farão da Casa da Achada um espaço cultural do bairro e da cidade, entendido como local de convívio, debate e de aprendizagens do que não é fácil aprender.
Está em formação uma biblioteca pública e um serviço de audiovisuais. Exposições de pintura – uma permanente e outras temporárias -, ciclos de cinema, encontros e pequenos espectáculos constam do programa de actividades. É uma associação sem fins lucrativos – à qual documentos, livros, quadros foram cedidos pela família de Mário Dionísio para conservação, tratamento e disponibilização pública – que está a gerir o espaço e a programar as actividades. Os perto de 60 fundadores, de idades muito variadas, são familiares e amigos de Mário Dionísio, ex-alunos, pessoas que escreveram sobre a sua obra ou que simplesmente a conhecem e que estão interessados em pertencer a um colectivo que divulgue e que a torne útil.
Esta associação chama-se Casa da Achada – Centro Mário Dionísio. Espera por apoios institucionais que não chegaram ainda. Só eles poderão garantir o funcionamento da Casa da Achada a tempo inteiro. Mas entretanto começou a organizar o trabalho e a promover algumas iniciativas públicas.
A parte do Centro de Documentação está remodelada e acessível mediante contacto com a Direcção. Um conjunto de voluntários, sócios e não sócios da Associação, iniciou a catalogação da biblioteca. A zona pública está em obras, que durarão três meses. A inauguração do conjunto está prevista para Setembro ou Outubro deste ano.
No sentido de garantir o seu imediato funcionamento e a divulgação deste projecto, realizou-se (Nov. 08), um leilão de obras de arte oferecidas por mais de trinta artistas. Até agora, realizaram-se algumas pequenas actividades, pelo meio das obras e na rua: no último dia do ano de 2008, uma sessão de desenho para as crianças do bairro, que se chamou «Ano Novo, Vida Nova»; uma tarde em que se mostrou a sócios e colaboradores o que estava feito, além de um vídeo de Regina Guimarães sobre a casa onde Mário Dionísio e donde vieram os materiais já disponíveis, e se explicou a quem estava o que era e viria a ser o Centro de Documentação (Fev. 09); um fim de semana, destinado à população da Mouraria, em que o Centro se apresentou, com leituras de textos de Mário Dionísio, canções com letras suas, documentários e a pintura de um mural a partir de uma maquete de Mário Dionísio que nunca tinha sido realizada. A história deste mural, prestes a ser destruído (talvez esta semana?), está contada aqui pelo nosso colaborador Miguel Castro Caldas (Mar. 09).
A grande razão do nascimento da Casa da Achada – Centro Mário Dionísio é a vontade de contrariar o esquecimento a que Mário Dionísio tem sido votado, como aliás tantos outros. Do que ele viveu, defendeu e descobriu, cujo conhecimento ajudaria a intervir hoje, sobretudo no campo cultural.
«Este Centro não vai ser nem a Culturgest, nem o Centro Cultural (ou Comercial) de Belém. Não vai ser uma instituição dessas solenes» – disse Vítor Silva Tavares, editor da &etc e elemento da direcção, na altura do leilão organizado por sócios da Casa da Achada. «Não vamos fazer disto nenhum templo da cultura e da arte, mas sim um centro animado e aberto a iniciativas das quais algumas delas nem podemos fazer ideia, contamos com as pessoas».
Biografia breve
Mário Dionísio nasceu em Lisboa em 1916 e morreu, também em Lisboa, onde sempre viveu, em 1993.
Escritor (de poemas, de contos e de um só romance), crítico literário e de artes plásticas, ensaísta, colaborador de muitos e muitos jornais, pintor, professor (do ensino secundário e do superior depois do 25 de Abril), pedagogo, Mário Dionísio teve um papel importante na implantação da corrente neo-realista nas décadas 40 e 50, tendo sido protagonista de várias polémicas, pondo em causa a separação que habitualmente se faz entre «forma» e «conteúdo».
Militante do PC no início dos anos 40, abandona em 1952 o PC, que diz que o «expulsou» quando ele já tinha saído. Nunca mais se filiou num partido. Continuou sempre a intervir, pela vida fora, sobretudo no campo da cultura e da pedagogia, campos que não distinguia da política. Depois do 25 de Abril, por duas vezes recusou ser Ministro da Cultura.
Organizador das Exposições Gerais de Artes Plásticas, de oposição ao regime salazarista, expositor desde a 2ª Exposição Geral de Artes Plásticas, em 1947, onde lhe foi apreendido um quadro pela PIDE, fez a sua primeira exposição individual de pintura aos 73 anos.
Mário Dionísio foi casado com Maria Letícia Clemente da Silva, sua companheira de sempre, professora do ensino secundário, expulsa do ensino durante 8 anos no tempo de Salazar. O arquivo pessoal de Mário Dionísio é inseparável do de Maria Letícia, que também está depositado na Casa da Achada. E a biblioteca que lá se encontra é dos dois.
Algumas obras de Mário Dionísio:
POESIA - Poemas, 1941. As solicitações e emboscadas, 1945. O riso dissonante, 1950. Memória dum pintor desconhecido, 1965. Poesia incompleta - 1936-1965, 1966. Le feu qui dort, 1967. Terceira Idade, 1982. PROSA - O dia cinzento, 1944. O dia cinzento e outros contos, 1967. Não há morte nem princípio, 1969. Monólogo a duas vozes – Histórias, 1986. Autobiografia, 1987. A morte é para os outros, 1988. ENSAIO - Ficha 14, 1944. O drama de Vicente Van Gogh, 1953. A Paleta e o Mundo, vol I, 1956, vol II, 1962. Introdução à Pintura, 1963. Conflito e Unidade da Arte Contemporânea, 1958. ENTREVISTAS - Encontros em Paris, 1951.
Mário Dionísio nasceu em Lisboa em 1916 e morreu, também em Lisboa, onde sempre viveu, em 1993.
Escritor (de poemas, de contos e de um só romance), crítico literário e de artes plásticas, ensaísta, colaborador de muitos e muitos jornais, pintor, professor (do ensino secundário e do superior depois do 25 de Abril), pedagogo, Mário Dionísio teve um papel importante na implantação da corrente neo-realista nas décadas 40 e 50, tendo sido protagonista de várias polémicas, pondo em causa a separação que habitualmente se faz entre «forma» e «conteúdo».
Militante do PC no início dos anos 40, abandona em 1952 o PC, que diz que o «expulsou» quando ele já tinha saído. Nunca mais se filiou num partido. Continuou sempre a intervir, pela vida fora, sobretudo no campo da cultura e da pedagogia, campos que não distinguia da política. Depois do 25 de Abril, por duas vezes recusou ser Ministro da Cultura.
Organizador das Exposições Gerais de Artes Plásticas, de oposição ao regime salazarista, expositor desde a 2ª Exposição Geral de Artes Plásticas, em 1947, onde lhe foi apreendido um quadro pela PIDE, fez a sua primeira exposição individual de pintura aos 73 anos.
Mário Dionísio foi casado com Maria Letícia Clemente da Silva, sua companheira de sempre, professora do ensino secundário, expulsa do ensino durante 8 anos no tempo de Salazar. O arquivo pessoal de Mário Dionísio é inseparável do de Maria Letícia, que também está depositado na Casa da Achada. E a biblioteca que lá se encontra é dos dois.
Algumas obras de Mário Dionísio:
POESIA - Poemas, 1941. As solicitações e emboscadas, 1945. O riso dissonante, 1950. Memória dum pintor desconhecido, 1965. Poesia incompleta - 1936-1965, 1966. Le feu qui dort, 1967. Terceira Idade, 1982. PROSA - O dia cinzento, 1944. O dia cinzento e outros contos, 1967. Não há morte nem princípio, 1969. Monólogo a duas vozes – Histórias, 1986. Autobiografia, 1987. A morte é para os outros, 1988. ENSAIO - Ficha 14, 1944. O drama de Vicente Van Gogh, 1953. A Paleta e o Mundo, vol I, 1956, vol II, 1962. Introdução à Pintura, 1963. Conflito e Unidade da Arte Contemporânea, 1958. ENTREVISTAS - Encontros em Paris, 1951.
Texto de Eduarda Dionísio em