19.7.09

Olhares nómadas na Ásia (projecto audiovisual social) para olhar desde dentro das realidades

http://olharesnomadas.blog.com/


Muitas realidades gritam por uma existência comunicativa mais ampla.
Realidades invisíveis, abandonadas, exploradas ou ignoradas.

A compreensão da multiplicidade na sociedade humana precisa de olhar e escutar desde dentro das realidades.

Num esforço de alargar o espectro de entendimento dentro e entre as comunidades e culturas.


8 filmes documentários em Ásia

Introdução

Durante oito meses (Julho 2007 - Fevereiro 2008) o meu projecto de vida foi viajar do Japão até a Índia, registando com a câmara as diferentes realidades nas quais encontrei uma vontade de comunicar histórias, necessidades e problemáticas, assim como de partilhar a alegria e percepção do mundo.

De bicicleta, de camioneta, de comboio, a pé, á boleia, de canoa, de ferry… ao encontro de comunidades, tribos, mosteiros, ong´s, aldeias, grandes cidades...
integrando o meu processo criativo no quotidiano das pessoas.

Do material filmado surge esta proposta: a criação de 8 peças audiovisuais onde iremos conviver com os seus protagonistas no seu encontro com a câmara.


Apresentação

Este projecto de oito filmes, propõe ir ao encontro de oito realidades do continente Asiático, sem recorrer a um registro de reportagem.
Iremo-nos aproximar camada por camada das questões que levantam estas realidades frágeis e marginais. Comunidades isoladas do resto da sociedade, que habitam numa fenda entre as suas tradições/raízes e o avanço violento do progresso; num processo de desagregação da sua identidade.

Como é que se reflecte a historia de um país no quotidiano de cada pessoa?

Como as relações de poder sócio-políticas transformam o tecido das relações humanas?

O não entendimento destas comunidades fragmenta este tecido.
Como tornar possível o encontro (relação) sincero, pessoal e íntimo com estas pessoas, indo ao encontro pelo próprio encontro, sem ideias preconcebidas?
Fazendo da relação directa, a forma de me relacionar, explorando contrastes e riquezas particulares/específicos de cada lugar.
Como lidar com realidades extremas e aparentemente exóticas, confrontando-nos com a nossa própia identidade e forma de ver ao outro?
Como desmistificar os tópicos? Partilhando o dia a dia, estando no seu quotidiano, participando, implicando-me.

A exploração de uma comunidade (tibete, nomad roots), a solidão, a incomunicação (Mr Ann), o espaço interior e exterior ...
Qual é o espaço de comunicação/intimidade e qual o espaço público, tentar quebrar as fronteiras entre as realidades percorrendo elas e

O encontro na intimidade, o tempo das coisas, a distancia.
Levados numa pulsão pela partilha
O acontecer em frente da câmara e não ir a procura

... ate estarmos mesmo dentro com as pessoas, em confronto.

Falling the live of the film

Filmando, fotografando, escrevendo, falando, aportando ideias, propostas, ao microfone, em performance, na música...

Nesta era da super informação na que as nossas realidades cada vez estão mais dominadas pelo “virtual”, corremos o risco de perder a relação directa entre as pessoas.

A mesma tecnologia que fragmenta a comunicação pode ser uma ferramenta para conectar realidades.

situação.
Nos submergiremos no quotidiano de cada comunidade, numa poesia comunicante das suas necessidades.

O primeiro (Nomad roots) já está editado (em fase de pós-produção).
Os 7 restantes estão em fase de edição. Todos pertencem a uma mesma lógica de visão, cada um é uma peça independente. Podem ser apresentados em conjunto ou independentemente




Nomad roots (Trailer)








O grande atractivo do norte de Tailândia são as comunidades indígenas, obrigadas a manter a sua tradição para a mostrar perante as câmaras do turista, que vem encaminhado num pacote de quatro tribos, dois cataratas e um visionamento de elefantes no mesmo dia. Estas comunidades arrastam uma identidade letargiada e aprisionada.

Há duas décadas que chegaram desde a Birmânia, fugindo da violência e exploração extremas que a junta militar birmanesa exerce sobre o seu povo.
O governo Tailandês acolhe-os como refugiados e pouco depois da se conta que pode tirar benefícios e da lhe alguns privilégios numa terra a parte, que acaba por funcionar como jardim zoológico humano.

Este filme surgiu como proposta do projecto “olhares nómadas”, que propõe a pessoas de diferentes realidades participarem no processo de criação audiovisual, tornando-se protagonistas (autores, produtores…) na criação dum olhar sobre a sua realidade, desde dentro, um olhar colectivo.

Não quiseram filmar mas tinham ideias, Sarah diz-me o que filmar, propôs e organizou as pessoas para criarem este filme.

Depois das filmagens, fiz a montagem na cidade mais perto, em dois dias e uma noite, na oficina de um jovem tailandês freelancer, que ganha a vida a mandar faxes, passar fotos pára CD, vídeos para DVD, fazer copias, impressões... que gentilmente me deixou ocupar a sua oficina.
Voltei para lhes mostrar e oferecer.

Filmado na aldeia kayan tayah_mãe hong son_Tailândia









Fendas de Silêncio (cracks of silence ), 10´18´´min. Tibete







Sinopse:
Duas viagens pelo Tibete. Na primeira fomos de Este a Oeste, à boleia em camiões, numa imensidão sem estradas, ás vezes até sem caminhos. Foi um encontro com o Tibete e também com a fotografia. Na segunda, oito anos depois, fui de Beijing até Lhasa de comboio e daí até ao Vietnam. Este último percurso está marcado pela construção da estrada, reflexo forte da transformação chinesa imposta, num dos últimos lugares civilizados onde as pessoas tinham dado prioridade a viver com a natureza, em vez de a explorar inconscientemente. A maior parte do material filmado durante esta viagem foi retido ilegalmente pelas autoridades chinesas. Do material que sobreviveu e das relações que fui mantendo pela internet, surge este filme.
Da urgência de gritar pela liberdade de uma terra imersa numa violação mundialmente consentida. A violação do seu próprio silêncio penetrado pelo medo e pelo "progresso". No avesso deste silêncio, estão histórias de tibetanos e tibetanas como árvores secas de esperança, com as raízes a nutrir-se ainda de humildade.

“Lhasa, a capital, é realmente
o coração de Tibete,
o pulmão onde todos vão
em peregrinação,
desde as outras cidades,
bem como os nómadas
dos lugares mais remotos,
percorrendo, às vezes a pé,
distâncias de ate 2.000km” *


(*) Monge no norte do Tibete.


Uma afluência crescente de turistas de todo o mundo e homens de negócios chineses estão transformando Lhasa. Esta cidade tem agora uma ligação directa com Beijing, por causa da construção da nova linha ferroviária que une as duas cidades. Lhasa está em crescimento e assemelha-se cada vez mais a uma cidade chinesa.

Com este comboio, os minerais das montanhas sagradas as quais estão a esburacar, podem ser facilmente transportados. Quase todas as estações desta linha são cidades militares onde não são permitidos os estrangeiros, assim como noutras partes do Tibete.

A arquitectura, cultura e religião tibetana ficou restringida ao mercado Barkhor, a volta do "Jokham", o Templo onde este coração pulsa ainda. Embora muito controlado pela polícia, o fluxo de pessoas de todo lugar do Tibete percorre em circulo constantemente este templo, numa respiração colectiva e silenciosa.

Outro monge contou-me a história de como foram presos pela polícia chinesa no seu próprio mosteiro, durante duas semanas. No mesmo mosteiro, dois meses depois começaram os incidentes de protesto perante os jogos olímpicos, brutalmente silenciados.

Há muitas brutalidades que acontecem no Tibete que ninguém conhece. Não vi nem ouvi falar de nenhum filme feito que trate este tema na actualidade. Há uma grande dificuldade e risco em estar em certos lugares do Tibete e ainda mais a filmar. Esta dificuldade faz parte dum sofrimento que é constantemente silenciado e a única voz que se ouve é a do Dalai Lama, que há muito tempo está relativamente distante da realidade que os cidadãos estão a viver dentro do Tibete, já que a paranóia de serem castigados lhes obriga de novo a não falar ou a se manifestar de nenhuma forma, já que como se reafirmou nos jogos olímpicos, se houver manifestações de qualquer tipo será brutalmente anulada.

Fora do Tibete não se sabe quase nada do que acontece dentro. Esta parte do mundo é um grande ponto estratégico militar devido à sua altitude, nem sabemos o que o governo chinês está a pensar fazer mas o que é certo é que de lá se podem mandar mísseis ou bombas atómicas até muito longe. Ao mesmo tempo é um terreno de enorme riqueza mineral ainda sem explorar, com grandes reservas de urânio.

Nenhum governo excepto os Estado Unidos ( apenas simbolicamente, entregando prémios ao Dailai Lama) está a confrontar realmente esta questão já que a China é uma grande potencia económica e existe uma grande dependência do seu mercado.

Às pessoas, pelo menos, temos que dar- lhes a oportunidade de conhecer a realidade que se está a viver lá. Uma violência de mais de cinco décadas por interesses comerciais e militares exercida sobre um povo extremamente pacífico.

O filme terá não só uma forte componente política más também poética e pessoal, pretende-se que os espectadores vivam a realidade das pessoas a través da pele e a paisagem, a música e as palavras.



No hia ma (to meet you/ encontrar-te) , 9´43´´ Lao








Os Akha são uma tribo indígena originalmente da Mongólia. Gráficos Genealógicos mostram 70 gerações Akha, colocando o início da sua civilização, pelo menos 1500 anos atrás. A agitação civil levou-os a migrar praticamente toda a sua existência, embora eles acabaram sitiados em Yunan, província do sudoeste da China, durante um período significativo de tempo. A influência chinesa e tibetana redefiniu a sua cultura. A guerra, uma vez mais, levou-os a viajar para o sul, deixando vestígios da civilização Akha na Birmânia, Tailândia, Laos e Vietname. O nomadismo tornou-se parte do seu problema inerente, já que estes países não aceitam facilmente esses refugiados, e isto conduz a uma ruptura na cultura e linguagem. Phongsaly é o extremo norte de Laos, fronteira com Yunan. Tribos originárias da china, Tibete e Birmânia convergem cã, longe do circuito turístico, da electricidade, os hospitais e as estradas. A situação deste povo esta a mudar drasticamente, as autoridades estão a fazer um plano que visa congregar varias aldeias em núcleos, abandonando os remotos lugares nos que agora vivem, tendo maior acesso a médicos, agua, electricidade … mas deixando a questão de identidade de cada etnia em perigo, ao mesmo tempo que surgem novos problemas como a malaria.

Som Thone é um rapaz akha, que a os 22 anos foi estudar a capital, Vientianne. Acabados seus estudos vai trabalhar na oficina de turismo de Phongsaly, onde nos conhecemos e decidimos ir juntos até a sua aldeia natal. Uma hora de camioneta e outra de canoa ate chegar a primeira comunidade, onde vivem as tribos que gostam de viver perto do rio. Seis horas de caminhada ate o topo da montanha e encontramos antigos vizinhos dele que nos levam ate a sua aldeia. Montes de crianças com triciclos de madeira sobem e descem.

A aldeia esta por acima das primeiras nuvens que nascem com o sol. O dia começa bem cedo para as mulheres que já estão a limpar, dar de comer aos porcos e as galinhas , moer o grão, cozinhar e ir trabalhar a terra (elas tratam de quase tudo) Eu convido a eles a filmarem mas não querem, escolhem o seu local preferido para eu fazer lhes uma fotografia e é então que este filme se torna uma viagem-conto-onirico sobre o encontro. O encontro entre mi e Som Thone e a aldeia Akha. O encontro de som Thone e a familia Akha com a camara, como uma forma de viajar a outra realidade, como um espelho nele que te ves pela primeira vez. Assim, este filme reflecte como os encontros são leiçoes de vida nas que todos somo guias dos outros pela simpleza de sermos diferentes.
"As vezes eu serei o teu guia, as vezes tu serás o meu guia" Som thone



A torre dos trabalhadores irregulares , 3´23´´ Seul-Coreia do sul








Há uma torre de 50 metros a frente da bolsa da Coreia do sul, onde alguém esta em jejum. Uma torre feita com as suas mãos, assim como fizeram tudo o acampamento, com plásticos, metais e madeiras recicladas.

Eles são os trabalhadores irregulares de Koscom, o distribuidor oficial de dados de mercado para a bolsa. 500 trabalhadores irregulares de um total de 970 empregados, e são pagos 75% menos que os regulares, fazendo o mesmo trabalho e o mesmo horário.

Este filme foca no dia a dia da mais jovem lutadora do sindicato, uma das líderes. Ela acaba por relevar ao seu colega na torre, depois de ele ser levado ao hospital após 24 dias de jejum. A mesma madrugada, antes do sol assomar-se na capital Coreana, os trabalhadores, que estavam em folga, acampados frente ao seu local de trabalho durante esses mesmos 24 dias, conseguiram entrar dentro da oficina do director da Koscom. As suas reivindicações e petições não foram ouvidas, pelo contrario, foram abatidos e levados , bem ao hospital, bem a comissária de policia. As duas semanas anteriores estiveram cheias de manifestações e acções a traves da cidade, numa luta já antiga na Coreia do sul.