Nesta hora de mobilização e exigência de mais unidade em defesa da Escola Pública e defesa da dignidade dos profissionais da educação, é gratificante recorrer a um desabafo de uma docente, a propósito da visita da Ministra a Ovar.
“7 de Maio de 2009, dia do patrono da ES/3 Dr. José Macedo Fragateiro. A Ministra da Educação aproveitou a efeméride para ir à escola entregar diplomas e, supostamente, ver a Escola antes das obras que aí vão ser realizadas. Tudo ocorreu com grande secretismo, mas, no próprio dia, adivinhava-se que a visita ia mesmo acontecer.
Ao final da tarde, no exterior, foram-se juntando professores/as de várias escolas de Ovar, vestidos de luto, que de mãos dadas em silêncio, foram ladeando a porta de entrada da escola, por onde presumivelmente passaria o carro da ministra.
Finalmente chegou, mas “num golpe de rins” o carro guinou para um portão lateral.
Maria de Lurdes Rodrigues teve medo daquele luto e daquele silêncio. A indignação foi tão grande que, espontaneamente, em coro (forte, muito forte) os professores gritaram: "há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!". Foi um momento de grande emoção colectiva.
Dentro da escola os professores também vestiam de luto.
A ministra entrou, falou, entregou diplomas, mas os professores mantiveram-se obstinadamente juntos e silenciosos. Depois o "Canto Décimo", também de luto vestido dedicou o seu canto aos professores portugueses, e à memória de José Fragateiro, evocando a frontalidade democrática que o caracterizava, e que o faria, certamente, estar ao lado dos professores, nestes tempos tão difíceis que estão a passar.
No fim da sessão, um grupo de professores entregou à Ministra um documento de protesto, que deixamos aqui, para que conste. A resistência continua! E a Ministra foi-se embora sem visitar a Escola."
Mas para completar a notícia que em primeira-mão tinha sido divulgada no Movimento Escola Pública, fica aqui agora o texto entregue à responsável pelo Ministério da Educação.
Senhora Ministra da Educação
Excelência
Hoje, dia 7 de Maio de 2009, a nossa Escola – a Escola Secundária com 3.º Ciclo do E.B. José Macedo Fragateiro – está em festa.
Durante todo o dia foi possível verificar, em muitos dos nossos espaços interiores e exteriores, o profissionalismo, a dedicação e empenho dos professores, dos alunos e dos funcionários que integram o conjunto da nossa comunidade escolar.
Ao longo do dia, por entre todas as actividades aqui realizadas, pudemos também perceber e sentir o espírito e a presença do legado que nos deixou o nosso patrono, colega e companheiro de alguns de nós em tempos difíceis do nosso sistema educativo, o Dr. José Macedo Fragateiro
O Dr. Fragateiro foi e continua a ser para nós um modelo de pedagogo que, sem alaridos nem arruaça, soube mostrar-nos (a professores, a alunos e a funcionários) como se deve combater pela liberdade, pela justiça e pela qualidade da escola pública. O Dr. Fragateiro foi e continuará a ser para nós um exemplo de cidadão que não verga a cerviz e não cede a tiques de autoritarismo ou à imposição de quaisquer tipo de mordaça ou inibição da liberdade e autonomia que deve reger o verdadeiro trabalho docente (um magistério!) nem ficaria indiferente perante toda e qualquer manifestação de ataque à dignidade e prestígio da função docente. Se cá estivesse ainda, certamente estaria ao nosso lado e não aceitaria a perda da democracia na gestão das escolas nem alinharia com processos de pseudo-avaliação de desempenho docente nem com a divisão da nossa carreira em diferentes categorias.
Neste dia, portanto, que foi de festa e de alegria, não poderíamos deixar de lhe manifestar – em nome da grande maioria dos professores desta escola – a nossa tristeza e mágoa por tudo o que o seu Ministério nos tem feito e continua a fazer, destruindo a nossa vontade de trabalhar mais e sempre em prol da formação dos nossos alunos como cidadãos livres, críticos e independentes.
A senhora Ministra sabe certamente as razões por que lhe dizemos isto.
Professores da Escola Sec. José Macedo Fragateiro

O saudoso pedagogo, humanista e democrata, combatente das liberdades, politico honesto e tolerante, como foi, José Macedo Fragateiro, falecido em 1991, que já alguns anos viria a ser justamente homenageado como Patrono da Escola Secundária N.º1 em Ovar, em que foi professor e presidente do Conselho Directivo durante onze anos. Não merecia que o Dia do Patrono da Secundária José Macedo Fragateiro, assinalado no dia 7 de Maio, se transformasse num palco de protagonismo para personagens de governantes tão intolerantes para com as gerações actuais de professores, sujeitos às infâmias e arrogâncias dos responsáveis pela Educação neste país, que o viu nascer a 7 de Maio de 1918 em Portel, Alentejo.
Considerado “um idealista e um sonhador” Fragateiro, foi preso pelo regime salazarista e partilhou a cela em Caxias, com figuras, como, Mário Soares e Salgado Zenha. Em Ovar em que se viria a radicar, fundou a primeira célula do Partido Socialista local, e apesar de socialista, ainda que incompreendido até á sua morte, a dignidade do homem íntegro que marcou várias gerações de alunos, exigia que ao seu nome, como Patrono da Secundária, não ficasse associado à imagem de marca da governação Sócrates, como são as propagandeadas Novas Oportunidades, que a Ministra da Educação, veio entregar uns certificados aos alunos.
Felizmente que há quem não se cale e resista, como os professores que junto à escola, com peças de roupa preta, fizeram um simbólico cordão humano, bem como a leitura de um texto feita por uma docente desta Secundária, em que era lembrada a figura do pedagogo, José Macedo Fragateiro, que, não terão dúvidas, estaria ao lado dos seus colegas nos momentos difíceis que estão a viver no quadro actual, e se manifestaria certamente contra a politica de ataque à escola pública que vem sendo desferida, de que resulta o fantasma do medo.
Do “programa” fez ainda parte a actuação do Grupo Coral da própria Secundária José Macedo Fragateiro, Canto Décimo, formado essencialmente por professores, que começou por receber a Ministra com “Conta-me um conto…” de João Lóio, em que fala da “bruxa malvada”, terminando de forma empolgante, com a força musical de, a “Jornada” de Lopes Graça, que fez cantar em coro, “unidos como os dedos da mão…, havemos de chegar ao fim da estrada…”. Uma marcante jornada, que a Ministra não vai esquecer na sua passagem por Ovar, onde foi recebida com “letras” de indignação, em memória do Patrono, José Macedo Fragateiro.
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