26.5.09

Apresentação do livro Andanças para a Liberdade, de Camilo Mortágua (dia 28, no Porto, pelas 18h30)

Pelas 18h 30m, do próximo dia 28 de Maio de 2009, será lançado no Porto, na Cooperativa Árvore, o Volume I do livro de Camilo Mortágua "Andanças para a Liberdade", editado pela Esfera do Caos


[…]
A planificação e preparação do assalto ao Santa Maria foi feita neste clima de exacerbação e desconfiança entre afectos à Junta Patriótica Portuguesa e ao “Grupo Galvão”, grupo este que só viria a ter outra designação após o acordo com os espanhóis para a constituição do DRIL,[i] feito pelo Galvão na qualidade de Secretário-geral do Movimento Nacional Independente. Esta representação deixava-nos (aos membros deste grupo) algumas interrogações, já que, segundo informações que circulavam abertamente em Caracas, o general Delgado continuaria, ao mesmo tempo, a manter ligações com a Junta Patriótica.

Aqui chegados, um esclarecimento se impõe:
Ao começar a “andar” com as ditas e tantas vezes auto-proclamadas “altas individualidades políticas”, a apreciação destas “andanças” deve ter em consideração que aquilo que vos conto não pretende ser a narrativa de “uma qualquer verdade histórica” destes tempos e acontecimentos. Longe disso. Não pretendo transmitir-vos resultados de pesquisas realizadas ou de sistemática e ponderada análise às inter-relações do conjunto dos factos narrados. Não sou historiador. Tenho-me a mim mesmo como um razoável contador de histórias vividas.
O que vos conto é aquilo que a minha memória reteve da forma como compreendi, vi e senti os acontecimentos narrados e que nela permaneceram sem alterações. Sempre que não resista a um outro comentário, como é óbvio, ele é feito à luz de uma visão retrospectiva, ou por razões que o desenrolar dos acontecimentos posteriores assim aconselhe. São resenhas da interpretação actual do vivido-recordado, e nada mais. Mas é, ao mesmo tempo, a afirmação de que a nenhum outro protagonista, nem sequer a Henrique Galvão, companheiro de algumas das próximas “andanças”, reconheço o direito de reivindicar o privilégio a uma qualquer verdade incontestável.
Partilho da convicção de que só o cruzamento sistemático de diferentes testemunhos nos pode aproximar da melhor compreensão global das particularidades de cada caso.
[…]
Lamento não dispor de meios e oportunidade para relembrar as muitas centenas de anónimos “dadores de sangue” à causa da luta pela LIBERDADE encontrados ao longo destas “andanças”.
A História contemporânea de Portugal e dos portugueses, vai-se fazendo… também com os contributos daqueles que, com ou sem razão, julgam ter dela feito parte.
Que essa História não venha, mais uma vez, a ser apenas configurada obedecendo ao critério da relativa “altura” mitificada das individualidades mencionadas, ou por desejos de promoção pessoal ou de auto-elogio familiar, e não pela excepcionalidade e exemplaridade da entrega de tempos de vida e vidas, a causas comuns, é um dos motivos do relato destas “andanças”, de discretas mas exemplares individualidades de que mais ninguém provavelmente falará.
Por último, desejo sublinhar que, como qualquer outro, estou consciente de padecer, e ainda bem, das subjectividades inerentes à condição humana, susceptíveis de influenciar, num ou noutro sentido, as apreciações e descrições destas “andanças”.
O que daqui para a frente for dito, repito, não deve ser tomado como pretensão a julgar as/os combatentes com quem me fui cruzando, tão só e apenas, dar e pedir testemunhos de diferentes visões dos acontecimentos relatados, coisa que não foi possível obter na quantidade e diversidade desejadas para este primeiro volume das “andanças”, mas que espero conseguir para o próximo. Pela minha parte, a idade adquirida e o que ainda espero da vida, incitam-me a tudo dizer sem a pretensão de julgar, mas, sem medo, até, de errar! Sem os medos cuja ausência permite afastar de mim o “cálice paralisante” da incerteza no futuro. Quanto ao resto, caberá ao tempo e aos investigadores da História, atribuir-lhes a sua utilidade.

Camilo Mortágua, in Andanças para a Liberdade (Vol. I)

________________________________
[i] Directório Revolucionário Ibérico de Libertação


-------------------------------



Quem é Camilo Mortágua

Entre os inimigos de Salazar que lutaram de armas na mão contra o Estado Novo destacam-se dois homens: Camilo Mortágua e Hermínio da Palma Inácio ― os últimos revolucionários românticos. A eles se devem os golpes mais espectaculares que abalaram a ditadura. Mas a história da acção directa contra o regime há-de reservar a Camilo Mortágua um capítulo muito especial: participou na Operação Dulcineia, em Janeiro de 1961, comandada pelo capitão Henrique Galvão e inspirada pelo general Humberto Delgado ― o desvio do paquete português «Santa Maria», que seria o primeiro acto de pirataria dos tempos modernos. Mais tarde, com Palma Inácio e outros companheiros, fundaria a LUAR.
Nos últimos anos tem trabalhado na concepção e implementação de programas e projectos de desenvolvimento local, assim como na mobilização de pessoas e grupos socialmente desprotegidos e na animação e organização de comunidades em risco de exclusão.
Presidente da DELOS Constellation, Association International pour le Developpement Local Soutenable (1994-2002). Presidente da APURE, Associação para as Universidades Rurais Europeias. Grande Oficial da Ordem da Liberdade da República Por
tuguesa.



Retirado do blogue: http://luardejaneiro.blogs.sapo.pt/