26.4.09

Elementos radicais do Estado causam alarmismo social: segundo eles, o actual estado da crise pode ser perturbado por activistas anti-crise

Alguns elementos radicais do Estado, identificados com os corpos armados e de auto-defesa do Estado, estão a servir-se dos órgãos de comunicação social ( ver aqui e aqui) para lançar uma campanha de intoxicação sobre a opinião pública através de notícias que dão conta que nos próximos dias poderão ocorrer graves distúrbios que podem pôr em risco a proverbial tranquilidade e passividade do BOM POVO PORTUGUÊS.

Tais distúrbios poderão traduzir-se pelos seguintes acontecimentos:

- concentrações anormais de pessoas em jardins, ruas e praças públicas ( Nota: não fazer confusões com os magotes ululantes de estudantes em exercícios sado-masoquistas das praxes académicas, porque esses estão, como se sabe, legalizadissimos),

- distribuição de panfletos e manifestos ( Nota: nada de confusões com a vaga de jornais gratuitos distribuídos perigosamente em tudo o que é semáforo e paragens stop da via pública, porque esses não contrariam, como bem se sabe, o Código de Estrada),

- manifestações públicas (Nota: não confundir com as ruidosas noitadas e ajuntamentos no Bairro Alto e zonas urbanas similares, porque essas não são mais que prolongamentos imprevistos e imprevisíveis de reuniões privadas dentro dos bares e discotecas!).

Com efeito, segundo fontes por nós contactadas, aqueles elementos radicais do Estado manifestaram a sua perplexidade perante o crescendo descontentamento social que lavra pelo país fora, e temem pela segurança e certeza do estado a que as coisas chegaram.


Confessam até que não vêem motivos para uma agitação popular, e que esta só pode ter explicação pelo activismo descabelado de agitadores profissionais, pagos a peso de ouro pelo terrorismo internacional que, confessadamente, escolheu o nosso país para destabilizar a crise económica e social que estava a evoluir de modo favorável nos últimos meses com um crescimento sustentado do desemprego, do galopante défice do orçamento público, do incessante encerramento de empresas, e da não menos crescente precariedade social, razões mais que suficientes para garantir uma duradoura continuidade da crise, continuidade essa que não pode nem deve ser prejudicada pela acção dos referidos agitadores que contestam e pretendem manifestar-se não só contra os sintomas e os efeitos da crise, como ainda contra as suas causas profundas, o que é interpretado como mais uma demonstração da mais completa irracionalidade dos tais elementos anti-sistema que não desistem, e pretendem, como perigosos fanáticos que são, manifestarem-se contra a CRISE, o que constitui, obviamente, um atrevimento e um desafio aos poderes constituídos, e poderá servir de precedente para outras veleidades futuras que podem até colocar em crise o próprio estado da crise.


Apesar de algumas objecções levantadas a conclusões tão definitvas por pessoas e observadores mais bem atinados, aqueles elementos radicais da mais poderosa organização armada legal do país persistem no seu alarmismo e declaram não terem dúvidas que o actual estado da crise pode estar em risco com a acção dos grupos e activistas anti-crise.


Nota final: qualquer semelhança desta notícia com a realidade não é mais do que pura e infeliz coincidência que mostra bem a que estado chegamos hoje: o das guerras preventivas, o das acusações preventivas, o das condenações preventivas, etc, etc