Na obra de cada letrista do rock subjaz uma poética: um modo próprio de ver a realidade, uma linguagem pessoal, uma maneira de contar as coisas. Neste sentido, a poética de um autor está feita de obsessões, mas também de silêncios. Ambas lhe permitem construir um mundo dentro do mundo.
Oscar Conde
Apesar de noutros países o pop e o rock terem começado a ter um lugar nas universidades – movimento de que o livro de Christopher Ricks, Dylan’s Visions of Sin (2004), constitui um sintoma privilegiado –, nas academias portuguesas estes géneros continuam a ser relegados de jure para o estatuto difuso da cultura de massa, quando não lhes é negada de facto a possibilidade de uma existência singular.
Tratar o texto de uma canção como literatura, assimilar a produção do pop e do rock à poesia, não é uma mera provocação sem conteúdo. Tal como sublinha Oscar Conde (2007), nas comunidades urbanas só uma minoria consome livros e é ínfima a percentagem de gente que, dentro dessa minoria, lê poesia; no entanto, a maior parte da população consome poesia todo o tempo através das canções que ouve na rádio ou na televisão, em CD’s e concertos. Mas o rock é também poesia em acto e nessa medida suscita inquirições acerca da dimensão performativa das palavras cantadas.
O colóquio, Poéticas do rock em Portugal, propõe-se, neste sentido, abrir um espaço para o estudo das principais vozes do rock em Portugal e o exame particular das suas obras. Procura propiciar a análise de traços temáticos, retóricos, estilísticos e composicionais de um autor ou de um movimento, assim como também avaliar as visões do mundo que transparecem nas suas letras, naquilo que têm de singular, isto é, naquilo que as fazem diferenciarem-se entre si, mas também naquilo que as tornam diferentes, outras – por exemplo – do rock anglo-saxónico.
É um facto que o rock é um género onde a poesia é indissociável da música – trata-se de textos para ser ouvidos. Contudo, acreditamos que esta poesia podia ser abordada independentemente da música, e neste sentido retomamos uma das tradições mais antigas da crítica literária (a do estudo da tragédia grega, um género de poesia para ser cantada, do qual só herdamos os textos).
Falar de poéticas do rock supõe, por fim, uma simplificação metodológica. Do blues ao hip-hop, do pop ao reggae, passando inclusive pela canção popular portuguesa, as fronteiras são lábeis e muitas vezes difíceis de determinar. Em vez de restringir as possibilidades da análise, portanto, com esta denominação genérica pretendemos apontar para um plano de variação sobre o que a poesia encontra – inesperadamente – a possibilidade dum outro jogo.
Tópicos de intervenção
A - Poéticas autorais:
Autores fundamentais do rock em Portugal
Precursores, influências, contaminações
O cânone e as margens do rock
B - O tratamento da língua:
Apropriação e inovação no português cantado
O inglês no rock português
Variações do português: crioulo, portunglish, etc.
C - Figuras, Temas, Géneros:
Metáforas recorrentes
Temáticas geracionais
Lírica, Narrativa, Dramaturgia, Nonsense
D - As letras contextualizadas:
Letra e música
Letra e imagem
Letra e estéticas existenciais
Performance e arte da imagem
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Poéticas do Rock em Portugal 2009 , Perspectivas críticas de uma literatura menor
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Anfiteatro III
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Anfiteatro III
Programa
6 de Abril
10h- 11h
Greil Marcus
Digging Up the Ground: Bob Dylan on and Off the Page
Greil Marcus
Digging Up the Ground: Bob Dylan on and Off the Page
# Intervalo para café
11h15 – 13h
Américo António Lindeza Diogo
Rock, new wave, pós-punk em português: músicas entre letras e poesia.
Osvaldo Silvestre
A «língua materna» no rock, numa situação periférica com a portuguesa
14h – 15h45
Alexandre Felipe Fiuza
Nas margens do rock: a censura estatal e a canção popular portuguesa.
João Carlos Callixto
As Transversalidades do Rock na Obra de José Cid (1966-1979)
Jorge Louraço
Ficções de três estrofes: as canções teatrais de Carlos Tê
# Intervalo para café
16h – 18h
Natália Maria Lopes Nunes
Jorge Palma – O mito de uma geração?
Ana Bigotte Vieira e Pedro Cerejo
Que é do futuro?
Gonçalo Zagalo e João Diogo Zagalo
“Na pandra bomba ainda jinga a hidra samba” –
A revolução sintáctica dos Mler Ife Dada.
21h30 Cinemateca/ Sessão com Greil Marcus e Anna da Palma
Lisbon calling, Anna da Palma (curta)
Great Rock’n Roll Swindle, Julien Temple
7 de Abril
10h- 11h
Michka Assayas
La possession par les voix
# Intervalo para café
11h15 – 13h
Isabel Ermida
O nonsense que faz sentido(s): neologismos e jogos de palavras em Rui Reininho.
Pedro Félix
Ulisses, a academia e os Xutos & Pontapés. O lugar da «letra da canção» no estudo da «popular music»
14h – 15h45
Eduardo Jorge de Oliveira
Distorcer o cânone
Susana Chicó
SAGA. Ópera extravagante: Encontros improváveis
Raquel Guerra
Mão Morta e “Maldoror”ou os Cantos do Recreio em Poema
Bruno Béu
Certo intrigante transmorfismo e belle rue em Pop dell’Arte
# Intervalo para café
16h – 18h
Rita Bénis
Os anos 80 e as “tribos musicais” do Rock Rendez Vous.
Antonio Alías
A Glória será não esquecer. O acontecimento português num devir-Joy Division
Duarte Braga
Sétima Legião e a mitopoética da cultura portuguesa
Marisa Mourinha
“Filhos de Rimbaud” – heranças, bagagens, viagens – de Charlevile a Lisboa
18h Mesa redonda: Rock e Literatura
Moderadores: Patrícia Leal e Fernando Pinto do Amaral
Convidados: JP Simões, Fernando Ribeiro, Adolfo Luxúria Canibal, Jorge Ferraz, Gonçalo Tocha
22h Concerto Cabaret Maxime
8 de Abril
10h- 11h30
Luís Trindade
Sai prá Rua
Rui Pina Coelho
Da garagem da adolescência ao supermercado pós-moderno
# Intervalo para café
11h45 – 13h
Luís Filipe Cristóvão
A intervenção divina no Rock Português – um caminho do punk à poesia
André Simões
A raposa
14h – 15h45
Rita Grácio e Cristina Néry
“I sing the body electric”: a disfonia dos pulsos e o silêncio como pauta literária
Emanuel Amorim
Rap Português: A liberdade de quem se faz ouvir
Piroska Felkai
É fácil de (re)entender? O tom alternativo dos The Gift e as suas manifestações artísticas na música portuguesa
Filipa Teles
Visões da Música Pop em Portugal
# Intervalo para café
16h – 17h45
Fernando Guerreiro
Da Bar da Morgue a Turbina e Moça: o cabaret-circo futuro-dadá de Rui Reininho
Vitorino Almeida Ventura
As Letras como Poesia
Golgona Anghel
Belle Chase Hotel – contra o destino, contra a personagem principal, a contratempo
17h45 Mesa redonda: Rock nas Artes
Moderador: Mário Jorge Torres
Convidados: João Pedro Rodrigues, Tiago Guillul, João Garcia Miguel, Paulo Furtado, Armando Teixeira, Manuel João Vieira, Manuel Mozos, Luís Futre
22h Concerto Cabaret Maxime
Ciclo de Cinema na Cinemateca Portuguesa – de 1 a 8 de Abril
Sessão de abertura – 1 de Abril, 21h30
Com a participação de Victor Gomes, Daniel Bacelar, João Pedro Rodrigues, João Guerra da Mata, Nuno Galopim
Sessão com Greil Marcus e Anna da Palma – 6 de Abril, 21h30
Ciclo Cinema/Rock na FLUL – de 23 a 26 de Março
Sala Vídeo, 16h -18h, entrada livre
«No Tempo do Gira-Discos: Um Percurso pela
Produção Fonográfica Portuguesa 1960-1980»
Inauguração – 31 de AbMarço, 16h30,
Sala de Exposições da FLUL
Visita guiada com a participação de Rui Nunes,
António Tilly, João Carlos Callixto
Concertos Cabaret Maxime
7 de Abril, 22h: Michka Assayas, Tiago Guillul (8 €)
8 de Abril, 22h: Jorge Ferraz, Ana Deus, Nuno Moura (8 €)
Inscrições:
estudantes 5 euros
geral 15 euros
Comissão científica:
Maria João Brilhante, Fernando Guerreiro, Patrícia Leal, Golgona Anghel
Comissão organizadora:
Fernando Guerreiro, Golgona Anghel, Simão Valente, Sebastião Cerqueira
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Sala 67 1600-214 Lisboa
tel. [+351] 21 792 00 86 estudos.teatro@fl.ul.pt