Organizada pela Câmara Municipal de Peniche, com a participação da URAP – União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, está patente desde o dia 3 de Janeiro uma exposição em Peniche que tem como objectivos lembrar o negro aproveitamento que o regime do Estado Novo fez do monumento do Forte de Peniche e prestar homenagem a todos o que ficaram privados da liberdade para que hoje tenhamos a liberdade de apreciar, criticar, louvar…
A Fortaleza de Peniche constitui uma infra-estrutura que assenta num longo processo histórico que é possível dividir em três períodos distintos.
Num primeiro período, entre a edificação do Baluarte Redondo por sugestão de D. Afonso de Ataíde, senhor de Atouguia no final do reinado de D. João III (1521-1557) e o início das invasões francesas em 1807, a Fortaleza consagrou-se como estrutura militar no reinado de D. Sebastião (1557-1578), sendo comandado por D. Luís de Ataíde, conde de Atouguia.26.Dezembro.2008
A segunda etapa da história da Fortaleza, entre os anos das invasões francesas e da permanência britânica em Portugal, nos alvores do século XIX, e a sua projectada utilização como sanatório de internamento de doentes tuberculosos em 1908. Durante essa segunda etapa da sua história, a Fortaleza iniciou uma alteração na sua função primordial, pois durante as incursões militares francesas em território nacional passou a cumprir objectivos de presídio, característica que aprofundou aquando das Guerras Liberais (1832-1834).
Neste período conhece outra especialização, quando serve de refúgio para os boers fugidos ao domínio britânico na África do Sul (1880-1881; 1899-1902).
Entretanto, a Fortaleza começa a ser utilizada como Prisão com fins políticos, uma vez que logo após o golpe militar de 28 de Maio de 1926 foram ali detidos vários antifascistas, segundo depoimentos recolhidos junto de antigos presos
A partir de 1934 a Fortaleza de Peniche passa a ser referenciado como Depósito de Presos, a partir dos registos oficiais a cargo da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais do Ministério do Interior. Estavam oficialmente contabilizados 13 detidos em Peniche em 1934, sendo que em 1935 já as listas da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais avançam com 42 presos políticos em Peniche.
São utilizadas 3 casernas ou salas, predominando nesses primeiros anos de detenção os jovens, sobretudo membros da classe operária. Também muitos operários agrícolas do Sul, ferroviários, estudantes, empregados de serviços, alguns militares e intelectuais.
Na Prisão-Fortaleza estava estacionado um destacamento do Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, montando guarda à Fortaleza soldados da Guarda Nacional Republicana (GNR), sendo um sargento o chefe da secretaria.
O contacto com os presos e a sua guarda era mantido a cargo de agentes da PSP comandados pelo respectivo chefe.
Só a 27 de Abril de 1974, após dois dias sobre a Revolução do 25 de Abril, se deu cumprimento à libertação dos presos políticos mantidos em Peniche, encerrando o período que agora se evoca. A partir da segunda metade dos anos de 1950 a Fortaleza recebeu obras no sentido do reforço da sua segurança, procurando obstar a fugas ocorridas entretanto, como a de Dias Lourenço em 1954, se voltassem a repetir, comprovando o quão decisivo o regime fascista considerava impedir a libertação dos resistentes antifascistas.
Sobre as antigas casernas militares, entretanto demolidas, foram construídos três blocos prisionais, conhecidos como Pavilhões “A”, ”B” e “C”, sendo neste último que, a partir de 1956, começaram a ser encarcerados em celas individuais os resistentes que mais se distinguiam no combate à ditadura.
No dia 3 de Janeiro de 1960 deu-se a fuga mais espectacular da prisão: Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme da Costa Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e José Jorge Alves, guarda da GNR.
A exposição é composta por 27 PAINÉIS (pdf), incide sobre o período de prisão política.
O objectivo é preparar o projecto de instalação de um Museu da Resistência e da luta pela Liberdade.
A cerimónia de inauguração da Exposição decorreu no passado dia 3 de Janeiro no Salão Nobre da Fortaleza de Peniche, contando com a presença de vários ex-presos políticos antifascistas, seus familiares e amigos, para além de habitantes de Peniche.
No final da cerimónia, Jorge Amador convidou os presentes a deslocarem-se ao Pavilhão C e às celas onde foram simbolicamente franqueadas as suas portas por ex-presos políticos presentes, tal como por seus familiares, inaugurando a Exposição.
Posteriormente, e assinalando os 49 anos da fuga de 3 de Janeiro de 1960 protagonizada por 10 antifascistas da Fortaleza de Peniche, os presentes percorreram o trajecto realizado pelos protagonistas dessa fuga, alcançando a muralha de onde foi lançado um conjunto de lençóis recordando a actuação ocorrida nesse dia pelos dez lutadores pela Liberdade.
Nesse local foi colocada uma placa assinalando esse facto, contendo os seus nomes: Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Carlos Costa, Jaime Serra, Francisco Miguel, José Carlos, Guilherme Carvalho, Pedro Soares, Rogério de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues, para além do guarda prisional Jorge Alves. Estava realizada esta singela homenagem aos resistentes antifascistas que conheceram o encarceramento em Peniche, particularizada no triunfo de uma das mais valorosas fugas daquela Prisão Política, permitindo que a luta prosseguisse para que pudesse ser hoje livre o caminho que trilhamos.
A Exposição estará patente durante todo o ano de 2009 na Fortaleza de Peniche, estando planeadas outras actividades que evocarão momentos particularmente marcantes da história da luta pela Liberdade em Peniche e no País.
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