13.11.08

A Intoxicação Linguística é o novo livro de Vicente Romano, editado pela Deriva


Depois da conhecida obra «A Formação da Mentalidade Submissa», Vicente Romano tem novo livro traduzido para português, «A Intoxicação Linguística», com edição da Deriva


O livro já está disponível nas livrarias, nomeadamente na
Livraria Utopia
(na Rua da Regeneração,22, no Porto)

Alguns excertos do livro:

Introdução — Jornalismo e Língua

Pela sua própria natureza, a informação é selectiva. Devido às limitações espácio-temporais, aos condicionamentos profissionais, ideológicos, culturais, etc., os jornalistas vêem-se sempre obrigados a seleccionar. Quase nunca dispõem do tempo, do espaço e da autodeterminação suficientes para dizer o que gostariam. Daí que possa afirmar-se que um domínio superior da língua, o seu uso consciente e competente seja uma das qualidades fundamentais do jornalista. Entre os jornalistas, embora sejam raros, podem existir casos de ingenuidade profissional, mas em informação nada há que seja inócuo.
O uso correcto da língua contribui para a eficácia da comunicação, para o aumento do conhecimento, quer dizer, para que a ignorância se reduza e para a ampliação da liberdade humana. Por isso há que cuidar e dominar a língua, os recursos expressivos para a transmissão de informações.
Em tempos de guerra, de incerteza e de angústia social como os actuais, é fácil recorrer ao sensacionalismo, à manipulação orientada da emocionalidade. Sim, os profissionais da informação não podem renunciar à sua sensibilidade ante a dor e a exploração dos seres humanos. As suas reportagens e as suas palavras reflectem a sua posição perante os factos, mesmo quando tentam ocultá-los. Mas não se pode esquecer que estes profissionais são observadores, não actores. E, ainda que a verdade possua muitas caras e seja difícil obtê-la por inteiro, podem, sim, aproximar-se dela.

II

Porém, como dizia o senador norte-americano Hiram Johnson, em 1917, a verdade é a primeira vítima da guerra. Em termos semelhantes se manifestara no seu, Da Guerra, o general prussiano Carl von Clausewitz, cem anos antes: “Uma grande parte das notícias que recebem na guerra é contraditória, outra parte ainda maior é falsa e a maior parte é bastante duvidosa…”. Em suma, concluí Clausewitz, «a maioria das notícias é falsa e o temor dos seres humanos reforça a mentira, não a verdade».
Como demonstraram a II Guerra Mundial, o desmembramento militar da Jugoslávia, a Guerra do Golfo ou as agressões contra o Afeganistão, o Iraque e o Líbano, as palavras do senador norte-americano no princípio do século XX, como as do general prussiano no início do século XIX não perderam validade. Pelo contrário, reforçaram-se mais e mais.
O controlo da informação e difusão de notícias e imagens foi sempre utilizado como uma arma essencial para submeter vontades e conquistar consciências. Por isso, o Pentágono não deixou ver qualquer imagem da Guerra do Golfo, anunciada como a primeira guerra televisionada na História, nem a administração norte-americana mostrou os corpos das vítimas do 11 de Setembro, como não permite, hoje, a difusão de qualquer notícia ou imagem do Afeganistão ou do Iraque que não esteja controlada, isto é, manipulada pela CIA e pelo Pentágono. E, para maior sarcasmo, isto é feito por um governo que proclama aos quatro ventos a liberdade de expressão como um dos pilares da sua organização social.
O objectivo consiste, naturalmente, em que apenas se conheça uma versão dos factos, ou seja, a comunicação unidireccional e unilateral, irreversível. Mas, por definição, a comunicação engloba o elemento da reciprocidade, da dicção e da contradição, da partilha do conhecimento. Por isso é contraditória com a vontade autoritária, a qual recorre à força e à violência física. Reciprocidade significa franqueza, abertura aos outros. Na comunicação aberta são o conhecimento e o raciocínio que se concretizam. A violência, seja esta física seja psicológica, deforma o pensamento, uma vez que não indaga acerca do verdadeiro e do falso. Os meios que se fecham impedem a comunicação. Não são recursos de violência física, não são bombas, mas transformam os seres humanos em coisas e a política que se transmite por seu intermédio não pode senão estar submetida à coacção que os meios exercem sobre os fins (Pross, 1971).

(...)
In, A Intoxicação Linguística, Vicente Romano. Em breve distribuido nas livrarias
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