15.10.08

Sessões de poesia no bar-livraria Gato Vadio dedicadas a António José Forte ( no dia 18, Sábado, às 23h.) e a Álvaro de Campos (no dia 19, às 18h)


“Dente por dente: a boca no coração do sangue: escolher a tempo a nossa morte e amá-la.”, António José Forte


António José Forte, Com Uma Faca nos Dentes

Pressente-se, mais do que noutros poetas do surrealismo português, que António José Forte (1937 – 1988) escreve de credo na boca:

“não há dinheiro para partir de vez
não há espaço de mais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar”


O lirismo presente na poesia de Forte – surrealizado-insuflado na obra dos mais “visíveis” surrealistas portugueses, como Mário Cesariny ou Cruzeiro Seixas – não atenua a insurgência existencial, mas corre ao lado da raiva, da revolta, da violência com que Forte trata tudo aquilo que espezinha a liberdade e precariza a criação do indivíduo. Nesse confronto consciente e (solitário) do sujeito “criar-se” contra o mundo, Forte traz a faca no dentes:

“Aos dezoito anos, aos vinte e oito, a vida posta à prova da raiva e do amor, os olhos postos à prova do nojo. Entrar de costas no festival das letras, abrir passagem a golpes de fígado para a saída do escarro. (…) No meu reino apenas palavras provisórias, ódio breve e escarlate. Nem um gesto de paciência: o sonho ao nível de todos os perigos. Pelo meu relógio são horas de matar, de chamar o amor para a mesa dos sanguinários.”

Insurge-se, por isso, não contra (ou só) a realidade medíocre do fascismo salazarento, mas contra todas as formas possíveis da peste do espírito e do tempo. O horizonte de revolta e realização existencial de Forte supera as fronteiras do tempo e espaço. Ele próprio diz sobre a poesia: “a arte de traduzir em palavras a possibilidade do absoluto.”
E vai ainda mais longe, onde poucos que escrevem arriscam chegar, pois sabe que o gume do risco e o eixo da liberdade começa e acaba dentro de cada um e nem sempre se cumpre essa passagem sagrada-infernal sem ter pronto um esgar de sublevação contra o hediondo que espreita em nós.

“O mais belo espectáculo de horror somos nós. Este rosto com que amamos, com que morremos, não é nosso; nem estas cicatrizes frescas todas as manhãs, nem estas palavras que envelhecem no curto espaço de um dia. (…) Só a custo, perigosamente, os nossos sonhos largam a pele e aparecem à luz diurna e implacável. A nossa miséria vive entre as quatro paredes, cada vez mais apertadas, do nosso desespero. E essa miséria, ela sim verdadeiramente nossa, não encontra maneira de estoirar as paredes. Emparedados, sem possibilidade de comunicação, limitados no nosso ódio e no nosso amor, assim vivemos. Procuramos a saída – a real, a única – e damos com a cabeça nas paredes. Há então os que ganham a ira, os que perdem o amor.”

O Gato Vadio orgulha-se de poder dizer a poesia de António José Forte, já que de credo na boca andamos há muito tempo.


António José Forte
Sessão de Poesia
Por Nuno Meireles e Júlio Gomes
Sábado, 18 de Outubro, 23h


Local:
Livraria-bar Gato Vadio

Rua do rosário, 281 – Porto

tel. 220131894



Entrada livre

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No Domingo, dia 19 de Outubro, às 18h.:


Sessão de poesia dedicada a Álvaro de Campos - "Que náusea de vida..."



Vimos por este meio fazer saber que o Ex.mo Sr. Engenheiro Naval Álvaro de Campos (por Glasgow), autor de várias poesias e auto-designado escritor Sensacionista, será ora homenageado com leituras de vários dos seus textos poéticos por ocasião (tardia) do seu aniversário, celebrado a dia 15 do corrente mês.

Muito nos honraria com a sua presença

A administração,


Sessão de Poesia
Por Nuno Meireles e Júlio Gomes
Domingo, 19 de Outubro, 18h