14.6.08

Manifesto do Colectivo Anarquista Hipátia


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Declaração de Princípios

Não temos filiação determinada, mas somos irmãos de todos os que desde os alvores da Humanidade sonharam ser livres entre iguais e diferentes, ajudando a que rompesse uma relação de partilha e amizade entre indivíduos e povos, e de harmonia entre os seres e para com a Terra e o Universo.

Somos órfãos, temos que forjar a nossa própria reflexão, crítica e teórica, a partir da observação atenta, do estudo e do diálogo. Nosso. Ainda que ajudados pelos contributos dos que nos antecederam e dos que nos acompanham com esse sentido crítico e utopia a que aspiramos. Disponíveis para o confronto atento e aberto.

É rico o nosso património, espiritual, difuso e amplo. E só nesse sentido nos sentimos herdeiros. Herdeiros da luta camponesa, da revolta esparquista, das aspirações igualitárias dos milenaristas medievais, da luta dos quilombos, da Comuna de Paris, das revoluções cedo esmagadas na Rússia e Alemanha dos conselhos operários, da rebeldia makhnovista, do espírito libertário de Kronstadt, do México de Villa e Zapata, da Espanha das comunas libertárias, das lutas pela liberdade contra os impérios russo e americano, do Maio 68, da libertação anti-colonial em todo o mundo, do 25 de Abril pós-militar, a contemporânea via zapatista e magonista, e do movimento de resistência ao capitalismo em toda a parte.

Herdeiros da luta das mulheres contra a sua opressão milenar, da luta por uma livre identidade, autodeterminação e orientação sexual.

Herdeiros da luta contra a imposição de um modelo civilizacional embrutecedor mas dito superior, tábua rasa da história e organização social de muitos povos, e da luta contra o preconceito xenófobo e racista.

Herdeiros da luta contra a apropriação privada e a destruição da terra, da água, do ar e dos seres vivos que neles coexistem.

Herdeiros da luta contra a apropriação do nosso pensamento e da nossa energia, contra a normalização mediática, massificadora e brutal, contra a tecnologia ao serviço do império, quer se afirma nuclear, genética, digital, vertiginosa.

Herdeiros da luta contra a resignação em vista da recompensa num qualquer longínquo amanhã, seja ele místico ou político.

Não pretendemos trazer atrás de nós seja quem fora, nem sequer indicar o caminho ou um caminho, antes fazer parte de um processo partilhado e construído em comum, com o contributo controverso e sujeito à prova, da nossa ideia e método, assente no debate colectivo, na decisão por consenso, na experimentação.


Somos anarquistas.




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Manifesto - A comunidade

Vindos de experiências geracionais diferentes, alguns de nós tendo participado na criação de colectivos de cariz libertário e anarquista continuados no tempo que se envolveram em publicações alternativas, iniciativas culturais de carácter crítico, intervenção na área da ecologia, e ocupações de casas e sua autogestão, juntamo-nos hoje aqui.


Contra qualquer via de pensamento único, tentamos contribuir para uma relexão radical face ao vigente, porque não entendemos a vida como ela nos é mostrada através de dispositivos de forma(ta)ção de massas, TVmerda, jornais controlados por grandes grupos de acumulação de capital, com a sua publicidade abusiva e invasora que nos empurra para universos de consumo e alienação - essa lavagem automática diária projectando imagens… instaladas já no cérebro de muitos.

O Estado ou qualquer forma de autoridade coerciva enoja-nos. Sentimos que não é legítimo o exercício do poder de uma pessoa em relação à outra.

O capitalismo democrático (ou não) garante uma sociedade hierarquizada que perpetua as desigualdades sociais, e modos estereotipados e aparentes de vida.

O dinheiro tornou-se a religião com mais devotos, onde tudo vale e se torna circular: ora acumulando mais capital especulativo - tornado mercadoria - ora impondo o consumo de bens, fruto este de infinitas pesquisas por parte de conselhos ciêntíficos dos mercados da superprodução…

O consumo tornado Grande Irmão - o novo Deus - obriga a pôr a crédito a própria alma diariamente e a rezar para que o homem do fraque não apareça.


Por outro lado, o tipo de concretizações/desabafos/actividades que propomos tem em vista a melhor percepção da contemporaneidade, dos fenómenos que nos rodeiam mas que mais parecem realidades autónomas e inacessíveis, essa ideia de Estado, Finança, Religião, todas essas formas edificadas à margem do próprio indivíduo.

Pela conjugação feliz das experiências de várias conjunturas históricas dos companheiros, tentamos pensar no modo mais prazeroso e efectivo de actuar nos dias de hoje.