19.11.07

Viver (bem) com menos

Por uma economia baseada nas necesidades sociais e não em função dos interesses do capital, isto é,por uma economia onde se produza o necesário e não o supérfluo


Quanto é o suficiente para se viver bem?
Esta simples pergunta não é nova, mas ganhou uma indiscutível pertinência e actualidade nos nossos dias. Com efeito, para avançarmos em direcção a uma sustentabilidade que não seja pura retórica é indispensável levar a cabo uma estratégia fundada na eficiencia, na coerência (biomímesis) e na suficiência, o que implica o levantamento e a operacionalização do que se deve entender por necesidades humanas, dos modelos antropológicos a seguir, da austeridade voluntária, da definição do conceito de vida boa, e do conteúdo da noção de felicidade.

O capitalismo consumista em que vivemos está a levar o planeta, mediante uma irremediável cegueira furibunda, em direcção ao abismo. Face a essa corrida auto-destrutiva é nosso dever resistir e agir em consequência com base nos princípios da eficiencia ( fazer mais com menos recursos), da coerência (usar tecnologías compatíveis com a naturaza, que aproveitem os ecossistemas sem os destruir) e da suficiência ( se os seres humanos querem preservar a Terra teremos que aprender a viver dentro dos seus limites).

O livro recentemente editado pela editora Icaria, de Barcelona, com o título «Viver (bem) com menos», é constituído por textos de três autores ( Jorge Riechmann, Manfred Linz e Joaquim Sempere), e é extremamente útil para dessacralizar o mito e o conceito de «crescimento económico» contemporâneo.

Para além das críticas certeiras, não deixam de ser apresentadas formas alternativas a esta economia do desperdício consumista.

Defende-se assim o primado do comunitário, políticas energéticas da procura e não do lado da oferta, a construção de uma economia baseada nas necesidades sociais e não em função dos interesses do capital (isto é, producir o necesario e não o supérfluo), a partilha do trabalho.

São textos que partem, pois, da teoria mas não se esquecem de apresentarem propostas tangíveis, com uma ideia comum e presente ao longo de todo o livro:

«O desenvolvimento sustentável foi uma boa ideia (…) Mas agora é demasiado tarde. Do que se trata agora é de organizar a retirada sustentável» e... aprender a viver (bem) com menos.