6.11.07

Como viver sem fazer compras e sem venerar o deus Dinheiro

Dia sem compras - 24 de Novembro de 2007
Os países ricos consomem 80% dos recursos
do nosso planeta

Os nossos hábitos de fazer compras de forma desmedida ameaçam seriamente o planeta. Todavia está em curso uma revolução silenciosa protagonizada por aqueles que, em vez de comprarem, preferem reciclar e partilhar. Aqueles que se empenham em viver sem o deus Dinheiro.


Trata-se provavelmente da mais recente revolução pacífica, aquela que está em curso em diversos países. Na verdade, mais do que discursos e teorias sobre as mudanças sociais, importa revolucionar atitudes e comportamentos e, com efeito, se o consumismo se traduz numa atitude que se funda num modelo económico ambientalmente insustentável, então comprar menos ou, pura e simplesmente, não comprar, são estratégias adequadas, mais directas e imediatas, para que as coisas mudem.


Foi com esta ideia que um grupo de residentes da baía da São Francisco ( na Califórnia) decidiu unir esforços, depois de um animado debate interno nos finais de 2005, e tomaram a firme resolução entre si de nada comprarem ao longo do ano seguinte ( 2006). Viveriam de forma simples, ajustando entre si as necessidades, efectuando trocas e intercâmbio de bens e serviços, e recorrendo em última instância, sempre que necessário, ao mercado de segunda mão para adquirir bens que não poderiam dispensar. O grupo era formado por professores, engenheiros, estudantes e alguns profissionais, e em breve, ganhou renome mundial graças à Internet, sob o nome de The Compact. A experiência constituiu um êxito, pelo que decidiram repetir a sua experiência de abstinência consumista no ano de 2007.Actualmente contam com um blogue muito visitado e o seu newsgroup na Yahoo já tem 3.000 inscritos que trocam ideias e experiências como viver sem dinheiro e sem ir às compras.

A ideia do grupo The Compact já vêm do ideário histórico da contracultura e de alguns movimentos alternativos que despontaram nas últimas décadas nos países capitalistas desenvolvidos, mas a novidade está no facto de ter envolvidos pessoas que até ali estavam bem integradas, social e profissionalmente, nos seus meios sociais. Note-se que os aderentes à experiência do grupo The Compact tinham previamente estabelecido um limite temporal para a sua experiência, a partir do qual cada elementos era livre de regressar aos seus anteriores hábitos consumistas.

Alicia é uma ex-estudante de Belas Artes de 24 anos, actualmente okupa numa casa em Barcelona, que se converteu entretanto numa especialista de reciclagem e de uma maneira de viver alternativa que é viver sem dinheiro. É também autora de um guia, único no género na Catalunha, de recursos gratuitos, onde é possível encontrar a lista dos locais onde se poder gratuitamente, navegar na net sem gastar um tostão, adquirir mobiliário e certos acessórios sem dinheiro, assim como locais para viver e trocar coisas e conhecimentos…

Segundo as suas próprias palavras trata-se de um guia para se viver de outra maneira, e romper com as cadeias que nos prendem ao consumismo.

« É um crime continuar a comprar comida quando há todos os dias há imensas sobras que são deitadas fora. Para que vou comprar pão numa padaria, se cada dia me dão 10 regueifas de bom pão das sobras, na hora do fecho do estabelecimento?» interroga-se Alicia.
Uma atitude como esta pode ser vista como penosa para quem tiver uma mentalidade convencional, mas é considerado o comportamento mais lógico e racional para os activistas dos movimentos alternativos. Aliás, um estudo realizado por Timothy Jones, professor da Universidade do Arizona, confirma essa ideia: a metade dos alimentos produzidos nos Estados Unidos da América vão parar aos contentores de lixo, o que supõe um desperdício de 100.000 milhões de dólares ao ano. Na Europa, as coisas não são diferentes.

O objectivo da Alicia é ajudar as pessoas mais pobres e fracas da grande cidade e lutar para desestruturar as bases do capitalismo e criar um mundo mais sustentável: «não quero fazer nada que leve a mais produção, que reforce o mercado ou que seja cúmplice do sistema repressivo».

O sistema a que Alicia se refere é o capitalismo dominante de que os Estados Unidos da América é a potência hegemónica, e que um dos principais símbolos é o Mayflower Compact, um documento escrito e assinado em 1620 pelos passageiros do barco Mayflower aquando da sua chegada à costa leste e que está na origem dos Estados Unidos da América. Quatro séculos é a esse mesmo contrato social fundacional que alude o nome do grupo The Compact,só que desta vez o seu sentido é diferente pois o que se pretende é de refundar uma sociedade onde não haja necessidade de fazer comprar nem venerar o deus Dinheiro.

«Somos pessoas para quem reciclar não basta», afirma John Perry, um dos membros do grupo The Compact, que acrescenta: «Tentamos sair da prisão em que o consumismo nos encerra, porque consideramos que a cultura e a sociedade do consumo está a destruir o mundo. A única maneira de sair da crise ecológica e socio-económica em que estamos mergulhados é deixar de comprar. Enquanto as massas invadem os centros comerciais os membros compacteros exercitam-se em vários ofícios. Visitam ainda as lojas de segunda mão ou os mercados de trocas e, quando não encontram o que procuram, recorrem aos outros membros do grupo. Matt e Sarah precisavam de uma cortina de banho, por exemplo. Perguntaram primeiro ao grupo se havia necessidade de a comprar. Como a resposta foi «não», fizeram então um apelo ao grupo, e apareceu alguém a quem sobrava uma cortina e a ofereceu a eles.

The Compact não é só um local de trocas e de intercâmbio. É sobretudo um grupo de apoio mútuo e uma semente para os movimentos sociais. Os seus membros partilham conhecimentos, aconselham-se reciprocamente e oferecem apoio moral o que permite compensar as gratificações psicológicas que normalmente o consumo está associado. Para Kate Boyd, professor de teatro, a sua nova forma de vida, livre do consumismo, é, em todos os sentidos, mais tranquila:«tenho mais tempo e já não sinto aquela pressão para estar sempre a fazer compras de todo o tipo, e que em geral não tenho necessidade.»

O acto de comprar tem profundas implicações sociais, culturais e até espirituais. Nas nossas sociedades consumistas os objectos que encontramos à venda não são apenas coisas, mas também símbolos que transmite toda uma série de mensagens acerca do ideal de vida, as relações entre os sexos, o status social, etc. O consumidor vai construindo uma identidade mediante as coisas que vai comprando. Uma identidade banal e alienada. Se no século passado os filósofos interrogavam-se sobre se trabalhávamos para viver ou vivíamos para trabalhar, hoje em dia a questão é saber se consumimos para viver ou se vivemos para consumir.

Peter Sealey, professor na Escola de Negócios Haas da Universidade de Berkeley, crê que o fenómeno do grupo The Compact representa um movimento mais geral que consiste num estilo e num modo de viver mais amigo do planeta, e de que farão parte também os edifícios verdesm os alimentos naturais, o consumo responsável e ético, apesar de duvidar sobre a sua viabilidade numa sociedade de mercado, uma vez que um tal movimento ataca directamente as bases do sistema. De qualquer modo, sempre é uma chamada de atenção para as consequências sociais e ecológicas do consumismo.

Runa Bjorg, de origem islandesa, e membros do grupo The Compact está consciente das limitações do projecto, tanto mais que não está nos propósitos do grupo influir sobre a vontade dos fabricantes nem das massas de consumidores. Mesmo assim, considera que a iniciativa pode contribuir e ajudar à consciencialização sobre o impacto ambiental de produzir muitas coisas que, em pouco tempo, se tornarão em lixo. Ele confessa: « As sensações mais agradáveis que senti, desde que formo parte do grupo, foi quando tivemos de tomar decisões acerca da necessidade de comprar ou não comprar, sem nos deixarmos arrastar pela publicidade e pelas campanhas sugestivas dos vendedores. Senti aí uma vitória pessoal.»

Os elementos do grupo The Compact apostam na capacidade de cada qual controlar a saber orientar a sua própria vida, um bocado à imagem do ideal dos anarquistas que pretendem abolir o dinheiro.

Múltiplas iniciativas se multiplicam um pouco por todo o lado nos países desenvolvidos para escapar ao modelo reinante do todo-poderoso dinheiro e do não menos perigoso consumismo. Os grupos de troca, por exemplo, vão proliferando aqui e ali, permitindo não só fazer face a dificuldades financeiras, como reforçar os laços sociais e criar novas relações sociais baseadas na cooperação, face a uma lógica hostil como é a competitividade capitalista. Os sistemas trocais ajudam a economia familiar, a aproximação entre os consumidores, e abrem uma quantidade de portas como o estabelecimento de pontes entre produtores e consumidores.

O website www.freecycle.org é um conhecido meio comunitário de doações mútuas e conta hoje com 3,5 milhões usuários em todo o mundo, registando cerca de 4.000 grupos locais. Uma única norma foi fixada: que tudo o que é oferecido o seja legal e gratuitamente.

Os sistemas trocais são tão antigos como a humanidade, se bem que a sua versão mais moderna tenha nascido em Counterbary ( Canadá) por volta de 1983 como resposta à crise que atingiu aquela região, e daí se expandiu para os Estados Unidos e para a Europa. Já não são apenas nos mercados que se efectuam trocas recíprocas, também a Internet passou a ser um meio fundamental para facilitar esses sistemas de troca directa entre os interessados em viver de forma não-dependente do deus dinheiro.

O grupo The Compact reúne pessoas das mais variadas origens que se constituíram como rede anti-consumo e que levam a sério uma declaração de princípios que os seus aderentes se comprometem a respeitar e que consistem fundamentalmente em evitar as compras desnecessárias. O objectivo é lutar contra o consumismo reinante, resistir ao poder invasor das grandes empresas multinacionais, e apoiar o comércio e a agricultura local, para o que não basta cultivar e desenvolver a cultura da reciclagem. Outros objectivos são reduzir a quantidade descomunal de resíduos de todo o género e simplificar a vida, escapando à competitividade individualista que impera nas sociedades e economias capitalistas.


Não comprar nada de novo – eis a primeira e a principal regra do grupo The Compact. Em vez disso, admite-se a aquisição de bens em segunda mão, a troca e os empréstimos. Todavia, esta regra admite excepções: pode-se comprar novos bens alimentares, bebidas, medicinas, material de higiene e roupa interior.
Quanto aos serviços a regra é para se recorrer aos profissionais mais próximos. Presentes pessoais são aceites desde que não sejam usados como gratificação.


Consultar:

http://sfcompact.blogspot.com/

http://groups.yahoo.com/group/thecompact/

http://www.freecycle.org/

http://noimpactman.typepad.com/blog/

http://www.revbilly.com/blog/



The Compact has several aims (more or less prioritized below):


1) to go beyond recycling in trying to counteract the negative global environmental and socioeconomic impacts of U.S. consumer culture, to resist global corporatism, and to support local businesses, farms, etc;


2) to reduce clutter and waste in our homes (as in trash Compact-er);


3) to simplify our lives (as in Calm-pact)



So, here goes for the rules:

• First principle - don't buy new products of any kind (from stores, web sites, etc.)

• Second principle - borrow or buy used.

• A few exceptions - using the "fair and reasonable person" standard -- i.e., you'll know in your heart when you're rationalizing a violation:
• food, drink, and necessary medicine (no elective treatments like Viagra or Botox)
• necessary cleaning products, but not equipment (don't go out and buy the Dyson Animal, for example).
• socks and underwear (utilitarian--non-couture or ornamental)
• pajamas for the children
• Utilitarian services (plumbers, electricians, auto mechanics, veterinarians, dog/house-sitters, fire/paramedics, dry cleaners, house cleaners, etc.) -- Support local and encourage used parts (rebuilt transmission, salvaged headlight unit, etc.)
• Recreational services (massage, etc.) & local artisanal items - Good sources for gifts, but should not be over-indulged in for personal gratification
• Charitable contributions (Seva, Heifer, and the like) - an even better source for gifts
• Plants and cut flowers - Whenever possible, cultivate from free cuttings or seeds. Ok in extreme moderation (yo, incoming oxy) when purchased from local businesses (i.e., not the Target Garden Shop)--and again, within reason
• Art supplies - First line of attack: SCRAP. When absolutely necessary (for the professionals and talented amateurs in the group), from local businesses
• Magazines, newspapers, Netflix - renewals only, no new subscriptions. Even better to consume online
• Video rentals and downloadable music files (non-material) -- freely shared and legal, please



For fresh produce:


Terra Firma (like The Box, but community supported agriculture, entirely sourced from Yolo County farms.)


For secondhand purchases and for recycling/donating:
http://www.craigslist.org/ (classifieds, free section, forums for local business leads, etc.)
freecycle (join the SF chapter)
Green Apple, Red Hill, etc.
SF Public Library (rediscover)
Building REsources

For spiritual support and guidance
Rev. Billy and the Church of Stop Shopping (we're still looking for a private audience with the Reverend. A puptent meeting, if you will.)