25.10.07

O interesse pelos livros libertários nunca foi tão grande como agora

Acerca da Livraria Público




fotografia do interior da conhecida livraria anarquista de Paris


A livraria PUBLICO (Publicações Libertárias Cooperativas) foi criada e registrada no Registo Público de Comércio em 1959. É uma Cooperativa de Consumo com capital e pessoal misto. Desde 1981, a sede da livraria é no endereço: 145, rue Amelot, Paris, no 11º bairro adminsitrativo. A livraria é especializada em livros e revistas novas. O seu propósito é fornecer um amplo leque de publicações de ficção e documentais, numa tentativa de introduzir na reflexão o olhar libertário do pensamento. Algumas secções são específicas como a "Literatura Proletária", a "Comuna de Paris", a "Revolução espanhola de 1936". Outras são mais gerais como "Literatura", "Romances Policiais", "Pedagogia", "Poesias e Canções", e dão lugar a um espaço de escolha de autores de espírito libertário, que vão de Albert Camus a Michel Ragon, de Jean-Bernard Pouy a Jean Amila, de Paul Robin a Célestin Freinet, de Georges Brassens a Léo Ferré… A livraria emprega dois assalariados. A seguir, uma pequena entrevista com Jean Claude Richard, da livraria e do Grupo Henry Poulaille da FA (Federação Anarquista), que nos conta um pouco mais deste projesto libertário.

Agência de Notícias Anarquistas - Poderia nos contar como chegou a Federação Anarquista? A anarquia...

Jean Claude Richard - Tenho 60 anos e descobri o pensamento libertário em princípios da década de 1970. Nasci, de pais trabalhadores, em uma cidade governada pelo Partido Comunista. Os valores marxistas não me convenciam, buscava outras correntes ideológicas e evidentemente o pensamento libertário me seduziu por completo. Desde o ponto de vista da organização, escolhi a Federação Anarquista, porque sua organização me parece que é a estrutura mais "séria" em termos de funcionamento e de futuro. O fato de que ela ainda esteja presente, 35 anos depois de minha primeira adesão confirma este sentimento de juventude.
Desde um ponto de vista mais teórico, me reivindico como "comunista libertário", mas sem excluir aos demais, já que valorizo as contribuições do anarquismo individualista e do anarco-sindicalismo, como necessários na expressão de um anarquismo social.

ANA - Quem são os que visitam a livraria?

JCR - Nestes dias, a livraria PUBLICO está aberta e recebe a visita de militantes e simpatizantes de diversas tendências revolucionárias e sociais. Dado que a ideologia marxista está em franca descrença, somos (com a livraria libertária QUILOMBO) a única livraria "política" de Paris.

ANA - Quantos títulos possuem a livraria na atualidade?

JCR - Temos 5.000 artigos, dos quais 4.200 são livros. A diferença está representada pelos CDs, os DVDs, as camisetas (T-Shirt) e outros acessórios.

ANA - Que critérios são aplicados na escolha dos livros?

JCR - Desde o ponto de vista de fundos anarquistas, colocamos a venda todas as produções (livros, revistas, folhetos...) ainda que estejam em desacordo com as posições teóricas da Federação Anarquista. O único critério de recusa, dado ao administrador por nossos congressos, é a presença de textos "caluniosos ou mentirosos" com respeito a Federação.
No espaço para a literatura, nosso princípio é que as obras sejam de escritores/as que se considerem de pensamento libertário, e isto independentemente da qualidade literária.
Com respeito às seções: "Internacionalismo", "Direitos Humanos", "Religiões", "Feminismo", "Sindicalismo e Movimentos Sociais" etc… O critério de escolha é essencialmente qualitativo.

ANA - Há algum "best- sellers" anarquista?

JCR - A melhor venda é da novela de nosso companheiro Michel Ragon, "La mémoire des vaincus" (A memória dos vencidos) foram vendidos 918 exemplares.
Nessa novela, o comunismo, o anarquismo, o fascismo aparecem em sua complexidade, com suas lutas ferozes, por meio do "herói", Fred Barthélemy, de personagens históricos e também por meio de homens e mulheres menos conhecidos, obscuros, eternos vencidos por um poder onipotente, continuamente atacados e sempre renascendo.
Sobre a base de uma documentação excepcional, essa novela veiculariza a memória política do século.

ANA - A venda de livros anarquistas têm aumentado ultimamente na França? É um "mercado" em expansão?

JCR - O interesse do público pelo livro libertário nunca foi tão forte. Os editores burgueses têm se dado conta, já que editam ou re-editam numerosos textos libertários.
Simultâneamente, e isso é o mais importante, numerosos militantes se lançaram a edição. As Edições do Mundo Libertário (FA) é claro, com 65 títulos, mas também existem as Edições Libertárias, com 52 títulos. As Edições da CNT-RP com 32 títulos. As Edições ACL com 71 títulos. As Edições TOPS-TRINQUIER com 32 títulos. As Edições de INSOMNIAQUE com 44 títulos. As Edições ACRATIE com 21 títulos. E muitas outras com pequenas estruturas…
Muitos editores trabalham com um distribuidor nacional, o que permite uma melhor distribuição aos livros libertários. A título informativo, a seção "anarquismo" de nossa livraria tem 385 títulos.
Por outra lado, em 2002 foi organizado um salão do livro libertário. Outra maneira de encontrar-se com o público. A última edição, em 2006, na cidade de ciências e indústria de Paris, registrou entre 3.000 e 4.000 visitantes. (sítio http://salonlivrelibertaire.radio-libertaire.org/).

ANA - Lêem muito os anarquistas franceses?

JCR - Em geral, os anarquistas lêem muito, mas nossa clientela é muito mais ampla que o círculo libertário. A partir de 2000, temos registrado a primeira visita de mais de 10.000 pessoas. Nosso catálogo de novidades, bimensal, chega a mais de 2.000 pessoas.

ANA - Já sofreram ataques das autoridades, de grupos fascistas?

JCR - A livraria PUBLICO, juridicamente é totalmente independente da Federação Anarquista. É uma cooperativa de consumo, portanto é uma empresa, e por essa condição não pode sofrer ataques especiais por parte do poder.
No plano político, no passado sofremos ataques da extrema direita fascista. Desde já fazem uns vinte anos, os dissensos se expressam por meio de grafites ou de outras inscrições na vitrine.

ANA - Há outras livrarias como a PUBLICO em Paris?

JCR - Fazem 5 anos existe a livraria QUILOMBO, no 11º distrito de Paris, que nos acompanha. Isto é algo bom, já que este desenvolvimento comprova o crescente interesse do público pelas idéias libertárias.
Desde princípios de 2007, já coordenei quatro encontros com pessoas que têm projetos de abrir uma livraria libertária em Paris ou na província… Em conseqüência disso, são boas as notícias para o ideal libertário no hexágono (Paris).

ANA - Que livro anarquista você gostaria que fosse transformado em filme?

JCR - Sem dúvida, o livro de nosso companheiro Michel Ragon, La mémoire des vaincus.


Librairie du Monde libertaire (PUBLICO)

145 rue Amelot

Métro République

75011 - Paris-França