A Carbonária foi a principal dinamizadora do golpe republicano do 5 de Outubro que levou à queda da monarquia em Portugal. Foram elementos seus que cometeram o regicídio contra o rei D. Carlos. Foram eles – a quem hoje facilmente se colaria o qualificativo de «terroristas» - que estiveram na origem do regime republicano e do parlamentarismo republicano. Lutavam pela liberdade e a perfeição da Humanidade.
Vai ser inaugurada hoje, 5 de Outubro, na Galeria do Centro Multimeios de Espinho, a exposição A Carbonária em Portugal, com produção da Biblioteca Museu República e Resistência.
A exposição, em 18 painéis, retrata a vida da sociedade secreta e revolucionária, que desenvolveu alguma actividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Merece destaque óbvio a sua participação e organização do levantamento popular na revolução de 5 de Outubro de 1910.
As visitas são gratuitas e a exposição, que estará patente ao público até ao dia 28 de Outubro, poderá ser visitada de Terça a Sexta-feira das 10,00h às 22,00h e aos Sábados, Domingos e feriados, das 14,00h às 22,00h.
Obs: Há visitas guiadas para as escolas. Para o efeito, as escolas e os professores interessados deverão contactar os seguintes números de telefone: 227335866 ou 227331190.
http://www.multimeios.pt/a-carbonaria
A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que actuou na Itália, França e Espanha no princípio do século XIX. Fundada na Itália por volta de 1810, tinha a ideologia assentada em princípios libertários e que se fazia notar por um marcado anticlericalismo. Participou das revoluções de 1820, 1830-1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia anarquistas e republicanos, nem linha e acção definida, os carbonários (do italiano carbonaro, "carvoeiro") actuavam em toda a Itália. Reuniam-se secretamente nas cabanas dos carvoeiros, derivando daí seu nome. Foram também os inventores do espaguete à carbonara. Inventaram uma escrita codificada, para uso em correspondência, utilizando um alfabeto carbonário
A exposição, em 18 painéis, retrata a vida da sociedade secreta e revolucionária, que desenvolveu alguma actividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Merece destaque óbvio a sua participação e organização do levantamento popular na revolução de 5 de Outubro de 1910.
As visitas são gratuitas e a exposição, que estará patente ao público até ao dia 28 de Outubro, poderá ser visitada de Terça a Sexta-feira das 10,00h às 22,00h e aos Sábados, Domingos e feriados, das 14,00h às 22,00h.
Obs: Há visitas guiadas para as escolas. Para o efeito, as escolas e os professores interessados deverão contactar os seguintes números de telefone: 227335866 ou 227331190.
http://www.multimeios.pt/a-carbonaria
A Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que actuou na Itália, França e Espanha no princípio do século XIX. Fundada na Itália por volta de 1810, tinha a ideologia assentada em princípios libertários e que se fazia notar por um marcado anticlericalismo. Participou das revoluções de 1820, 1830-1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia anarquistas e republicanos, nem linha e acção definida, os carbonários (do italiano carbonaro, "carvoeiro") actuavam em toda a Itália. Reuniam-se secretamente nas cabanas dos carvoeiros, derivando daí seu nome. Foram também os inventores do espaguete à carbonara. Inventaram uma escrita codificada, para uso em correspondência, utilizando um alfabeto carbonário
Em Portugal, a Carbonária foi estabelecida por volta de 1822. Nas suas primeiras décadas, teve um âmbito restrito e, sobretudo, localizado: surgiram várias associações independentes, sem ligação orgânica entre si e com pouca capacidade de intervenção social. De uma maneira geral, estas associações não duraram muito tempo nem tiveram realce histórico.
A Carbonária que teve importância na vida política nacional portuguesa foi fundada em 1896 por Artur Augusto Duarte da Luz de Almeida. Desenvolveu alguma actividade no domínio da educação popular e esteve envolvida em diversas conspirações antimonárquicas. Merece destaque óbvio a sua participação no assassínio do Rei D.Carlos I e do Príncipe Herdeiro Luís Filipe, e na revolução de 5 de Outubro de 1910, em que esteve associada a elementos da Maçonaria e do Partido Republicano
(texto extraído da Wikipedia)
«Aí por 1896 era já conservador da Biblioteca Municipal da Rua do Saco o republicano Feio Terenas. O ajudante era um rapaz magro, baixo, pálido, de poucas falas, sem gestos, sem vivacidade, sempre vestido de negro e com uma grande gravata Lavallière pendente sobre o colete. A casa era um rectângulo vasto de prateleiras enfileiradas, atulhadas de grandes livros que se iam buscar para os domicílios; ao lado ficava a sala de leitura e, no canto da janela que deitava para o largo, tristonho, por detrás de um estore corrido, o ajudante passava os dias lendo, muito compenetrado, com o seu eterno ar sereno, os olhos tão negros como o fato ao erguerem-se, com um ar resignado quando o vinham interromper. Chamava-se Luz de Almeida. Ao lado havia uma escola e, de quando em quando, ouvia-se a gralhada do rapazio no grande pátio vizinho, perturbando o silêncio grave da biblioteca. Todas as manhãs o homem chegava no seu passo moderado e lento, sentava-se à carteira, começava o seu serviço e depois mergulhava na leitura; às quatro da tarde saía, para voltar à noite e de novo, à luz do gás sibilante, continuava a sua tarefa […]. Nós não podíamos imaginar que em plena Lisboa, ali, no fundo daquela biblioteca, na pessoa tristonha daquele pálido rapaz melancólico, estava um organizador como o activo Basard das casas Belford e da Rochella.»
(Rocha Martins, in António Ventura, A Carbonária em Portugal: Lisboa, Biblioteca Museu República e Resistência (CML), 1999)
A Carbonária dos anarquistas e Heliodoro Salgado
Paralelamente à Carbonária Portuguesa, foi fundada igualmente em 1897 a Carbonária Lusitana, sem conhecimento da primeira, também conhecida por Carbonária dos Anarquistas, com uma visão própria: enquanto que para os republicanos a República seria o fim em si mesmo, para os anarquistas "intervencionistas" ela era apenas um meio em direcção à sociedade perfeita, uma utopia em que não seria já necessário governo.
Estes anarquistas "intervencionistas" fundaram a loja maçónica "Obreiros do Futuro", verdadeiro alfobre de conspiradores contra a monarquia.
( este último texto foi retirado de http://expressodalinha.blogspot.com/)
«Paralelamente à Carbonária Portuguesa, fundada em 1897, surgiu outra organização similar, desconhecida dos animadores da primeira, como reconheceu o próprio Luz de Almeida: “Só mais tarde tive conhecimento da existência de um núcleo secreto chamado Bonfim, com sede na Rua 24 de Julho, próximo da Rocha do Conde de Óbidos, ao qual pertenciam os anarquistas intervencionistas […]. Descoberta a sede do núcleo secreto pelos esbirros do juiz Veiga, foi o núcleo dissolvido pelos próprios membros, que fundaram outro de tipo maçónico com uma secção carbonária, relativamente importante, à qual deram o título de Carbonária Lusitana, sendo conhecida nos meios extremistas pela designação de Carbonária dos Anarquistas.” […]Uma das vertentes mais significativas da obra e da acção de Heliodoro Salgado foi a luta anticlerical, travada ao longo de muitos anos, através de inúmeros artigos na imprensa, teses, conferências, livros originais, traduções, e da participação no movimento dos círios civis, chegando a existir um círio com o seu nome onde ocorreu, justamente, a sua terceira prisão […].[…] José Nunes alude à génese da Carbonária Lusitana, datando-a de 1896: “Foi então que apareceu aquele protótipo do organizado, o homem couraçado para todas as bestas, psicólogo, erudito, perfeito conhecedor do seu tempo e do seu meio, Heliodoro Salgado. Conhecedor como poucos de quanto é romântica e impressionável a psique do povo português, e adivinhando que era esse o fraco onde se lhe encontraria o forte, reuniu assim Benjamim Rebelo e Ribeiro de Azevedo, e juntos lançaram as bases de uma associação secreta com iniciações espectaculosas e rigorosíssima escolha dos iniciados. […]”»in António Ventura, A Carbonária em Portugal: Lisboa, Biblioteca Museu República e Resistência (CML), 1999
(texto extraído daqui)
A História da Carbonária
“Sociedade secreta de carácter político-religioso, que exerceu a sua principal actividade desde o fim do sec XVIII a meados do sec. XIX, particularmente em Itália e França. Não se sabe ao certo se nasceu em Itália ou em França. Naquele país os seus membros chamavam-se carbonari (carvoeiros) e, em França, fendeurs (lenhadores) e, nas suas comunicações, usavam de expressões próprias daqueles ofícios. Ao lugar das reuniões chamavam barraca; ao seu interior, choça e aos seus arredores bosque. Tratavam-se por bons primos. A sua acção foi sempre de combate à Igreja católica e, no entanto, os seus filiados veneravam S. Teobaldo, conde de Champagne, morto em 1066, a quem consagraram como seu patrono. Tinha muita analogia com a Maçonaria e, como esta, propunha-se realizar os mais nobres e elevados ideais da Humanidade. Tal como os mações, os carbonários reuniam-se em assembleias e banquetes e usavam uma linguagem convencional. A sua acção consistia em limpar o bosque dos lobos, ou seja destruir os tiranos. Dividiam-se em duas classes: aprendizes e mestres, e havia ritos especiais para a iniciação, que era rigorosíssima. A hierarquia carbonária elevava-se das choças ou barracas para as vendas, que eram as orientadoras daquelas e nomeavam delegados ao conselho supremo, denominado alta-venda, à qual presidia um grã-mestre, escolhido pelos referidos delegados, ou deputados. Havia também barracas de mulheres, que se chamavam jardins, tendo elas o nome de jardineiras. Tinham os carbonários insígnias e sinais secretos e o selo da organização era ornado com a deusa da Liberdade, tendo um dragão aos pés e a legenda Aniquilador do despotismo. Foram organizações carbonárias a Sociedade dos Carvoeiros fundada em Paris em 1821, de carácter revolucionário, e a Sociedade dos Caçadores, do Canadá (1837 e 1838), de tendência anti-inglesa, que alcançou enorme número de filiados chegando a ter núcleos filiais em França. Durante a Restauração, em França, a carbonária teve importância enorme, contando 40 000 filiados sob a presidência de La Fayette. A ela se devem as insurreições de Belfort (1-1-1822), de La Rochelle e Saumur, todas juguladas. Depois da luta contra as ordenanças de Julho de 1830, a Carbonária francesa dissolveu-se. Em Espanha e na Alemanha, também a carbonária teve ramificações importantes. Na Itália, a carbonária lutou contra a invasão francesa e em 1820 contava 600.000 filiados, entre os quais havia muitos altos funcionários e eclesiásticos. Bateram-se contra o Estado Pontifício, a Áustria e seus aliados. O futuro Napoleão III pertenceu à choça de Roma. Em 1821, a associação de Mazzini, “Jovem Itália” absorveu a Carbonária.
Em Portugal, em seguida à guerra civil de 1844, em que o partido progressista foi vencido, organizou-se, pela primeira vez, a Carbonária. Foi o general Joaquim Pereira Marinho quem, em Março de 1848, conseguiu obter de França autorização para poder estabelecer entre nós essa sociedade. Delegou os poderes que lhe haviam conferido no padre António de Jesus Maria da Costa, Ganganelli, que, em 29 de Maio do mesmo ano, instalou em Coimbra, numa casa da rua da Ilha, a Carbonária Lusitana. Procedeu-se, nesse mesmo dia, a eleições, ficando o padre Costa como Supremo Conselheiro da Alta-Venda. Em 1 de Junho seguinte, foram eleitas as comissões encarregadas de regularizar os trabalhos da choça-mãe, ou alta-venda, com as choças filiais. Em Outubro, novas eleições se fizeram em Coselhas, sendo eleito Supremo Conselheiro o dr. Francisco Fernandes da Costa. O padre, despeitado, por ter sido o instalador e assim o alijarem, guardou o livro de matrícula e mais documentos, recusando-se obstinadamente a entregá-los, pelo que foi irradiado. Havia então en Coimbra as barracas Igualdade e União e as choças Fraternidade e Liberdade, que se reuniam numas casas do correio velho, na rua das Fangas, e ainda a 16 de Maio, mais tarde denominada Segredo, que estava instalada numa casa perto do Arco do Colégio. Teve a Carbonária Lusitana barracas e choças noutros pontos, como Figueira da Foz, Soure, Anadia, Cantanhede, Pombal, Ílhavo e Braga. Outras localidades se preparavam para organizar os seus núcleos, mas, em 1850, esta Carbonária dissolveu-se, embora só no distrito de Coimbra tivesse mais de quinhentos filiados, quase todos armados, pois uma das condições para ser iniciado era a de possuir ocultamente uma arma e os competentes cartuchos. Em 1853, o padre Costa pretendeu reorganizar a Carbonária em Coimbra, ainda se constituiu uma choça, com o nome de Kossuth, mas esta tentativa não conseguiu ir por diante. Mais tarde, no ano de 1862, também em Coimbra, novamente se constituiu a Carbonária, estando à sua frente Abílio Roque de Sá Barreto, tendo a alta-venda reunido, pela primeira vez, em 15 de Abril. Não logrou mais do que uns poucos meses de existência, apesar de ter choças e barracas em vários pontos, nomeadamente em Cantanhede e Soure. Em 1864, novo esforço se fez para reorganizar a carbonária, sob a presidência de Abílio Roque de Sá Barreto , mas esta tentativa falhou por completo e até 1907 ninguém mais meteu ombros, em Portugal, à constituição dessa sociedade secreta.
Artur Augusto Duarte da Luz Almeida foi quem organizou a Carbonária Portuguesa, que nada tinha de comum com a já citada Carbonária Lusitana. Teve como auxiliares preciosos o comissário naval Machado Santos e o eng. António Maria da Silva; a Carbonária Portuguesa teve a suas primeiras reuniões no sótão da casa onde morava Luz de Almeida, na rua de Santo António da Glória, em Lisboa, onde se fizeram muitas iniciações e se deram lições de manejo de armas. Foi Luz de Almeida quem , em meados de 1907, elaborou a sua constituição e regulamentos geral e ultra-secreto, este apenas transmitido verbalmente aos filiados, que tinham o dever de o decorar. Havia quatro graus: Rachador, Cavador, Mestre e Mestre-Sublime; aos Carbonários chamavam-se Bons Primos e tratavam-se por tu, sendo obrigados a possuir uma arma de fogo e um punhal. Grão-Mestre foi Luz de Almeida e havia um corpo superior, intitulado Venda Jovem Portugal, que se compunha de um número limitado de Bons Primos decorados com o grau de Mestre Sublime. Esta venda tinha as atribuições de velar pela observância do ritual, nomear os juízes do Tribunal Secreto e constituir-se em Alto Tribunal, quando fosse necessário; escolher os inspectores e os delegados provinciais e as altas vendas (efectiva e substituta), eleger o grão-mestre e o grão-mestre adjunto. Todas as ordens da alta venda deviam ser cumpridas sem discussão. As secções da Carbonária Portuguesa eram representadas por estrelas de diversas grandezas e o conjunto de todas elas constituía o Grande Firmamento, onde se destacava uma estrela de cinco pontas, encimada pelo globo terrestre. Foram carbonários que fundaram o célebre grémio maçónico Montanha, introduzindo assim a Carbonária no Grande Oriente Lusitano. Paralela à carbonária e agindo sob orientação desta, foi necessário fundar outra associação secreta, A Coruja, a fim de agrupar muitos elementos republicanos que não queriam submeter-se às rigorosas fórmulas carbonárias. À frente dela estava José Maria de Sousa, António José dos Santos, Coelho Bastos e Henrique Cordeiro, os quais, depois de recrutarem numerosos adeptos, a dissolveram, integrando estes na Carbonária, o que era, afinal, o fim que se propunham. Desde o início até à proclamação da República, a Carbonária Portuguesa teve seis altas vendas, sendo a existente em 5 de Outubro de 1910 composta por Luz de Almeida, Machado Santos, António Maria da Silva, Henrique Cordeiro, António dos Santos Fonseca e Franklim Lamas. A acção desta associação secreta fez-se sentir de Norte a Sul do país, e dela faziam parte militares e civis de todas as categorias, tendo sido ela que organizou a revolução que implantou a República em Portugal. Depois de proclamado o novo regime, ainda se manteve enquanto houve movimentos monarquistas, até que com a luta dos partidos políticos, que deu a divisão do antigo Partido Republicano, ela se dividiu igualmente e se dissolveu, sem voltar a ser possível, apesar de inúmeras tentativas feitas, reconstituí-la.
(in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa e Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, V. 5, pp. 867-868)
A CARBONÁRIA EM PORTUGAL
1. INTRODUÇÃO
Abordar este tema é uma tarefa complicada, difícil, resultante da escassez de documentos, fruto natural de uma sociedade secreta. Porém, a sua acção deixou marcas profundas na sociedade portuguesa, se atentarmos sobretudo, que a Implantação da República foi fruto da Carbonária, e como em tudo na vida, a causas seguem-se consequências...
Muita gente confunde Maçonaria com Carbonária, ou pelo menos, associa uma destas sociedades à outra. No entanto esta associação não se aparenta assim tão linear e muito menos a Carbonária funcionou como o braço armado da Maçonaria como se tem escrito e falado.
Embora não fossem carbonários todos os maçons, a Carbonária foi muitas vezes uma associação paralela da Maçonaria.
Introduzida em Portugal entre 1822 e 1823, manifestou a sua dinâmica social e política quando do Ultimato inglês em 1890 e de sobremaneira quando do desaire da revolta republicana de 1891 e posteriormente em 1908 quando no Porto foi abortada outra revolta.
O inicio da sua actividade em Portugal, prende-se, sem dúvida, com antecedentes próximos, com o estado de governação despótica exercida pelo marechal britânico Beresford, que colocou a nação a ferro e fogo durante mais de uma década. É bom recordar, que entre as suas vítimas se encontrou o marechal Gomes Freire de Andrade, Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, enforcado no Forte de S. Julião da Barra, junto com outros companheiros, acusados de conspiração com a sua governação.
Efectivamente, desde 1808, data em que por via das invasões francesas a corte procurou refúgio no Brasil, o País passou a colónia brasileira. Porém, a verdade, é que após a ajuda dos exércitos britânicos para a expulsão das tropas napoleónicas, Portugal passou a ser governado pela Inglaterra.
Para parte do povo, vivia-se em estado de orfandade - os soberanos, "os paizinhos" estavam longe... - para outra enorme fatia da população, a monarquia portuguesa encontrava-se desacreditada.
A Carbonária funcionava como uma organização secreta com objectivos políticos e tinha por defesa fundamental, a liberdade pública e a perfeição humana. Era declaradamente anticlerical e adversária das congregações religiosas, o que não significa que os seus membros fossem ateus. Estes homens, procediam maioritariamente das classes baixas, havia no entanto no seu seio, elementos das classes média e alta. Todos eles recebiam treino militar e defendiam o recurso às armas.
A sua extinção surgirá na sequência das divisões verificadas no interior do Partido Republica Português e do triunfo da revolução do 28 de Maio de 1926 que pôs fim à 1ª República.
2. ORIGENS DA CARBONÁRIA EM PORTUGAL
A Carbonária italiana serviu de figurino à Carbonária Portuguesa. Efectivamente foi em Itália que nasceu a Maçonaria Florestal ou Carbonária, onde a primeira foi recolher os seus princípios.
Segundo alguns autores, esta associação secreta remonta ao século XIII, época em que apareceram em Itália os primeiros carbonários, ligando-se à continuação das lutas que se haviam travado na Alemanha entre os Guelfos, partidários do Papa e os Gibelinos, partidários do imperador. Aqueles não queriam a interferência de estrangeiros nos destinos de Itália; estes, defendiam o poder do império germânico. A luta durou até ao século XV. Os Guelfos reuniam no interior das florestas, nas choças dos carvoeiros, daí a designação de carbonários. No entanto, outros autores referem a origem desta sociedade secreta em épocas mais recentes.
A verdade, é que foi em Itália sem dúvida, que a Carbonária ganhou contornos, o rosto de que ouvimos falar, consubstanciada com o aparecimento da "Jovem Itália" de Mazzini, fundada em 1831 em Marselha.
No entanto, apesar dos esforços de Garibaldi, Cavour e Mazzini, a Carbonária não conseguiu proclamar a República, porém, dois enormes trunfos foram alcançados: a unificação da Itália e a abolição do poder temporal do Papa.
Em Portugal, Fernandes Tomás, José Ferreira Borges, Borges Carneiro e Silva Carvalho entre outros, fundaram em 1818 uma sociedade secreta (uma pequena Carbonária) a que chamaram Sinédrio, que preparou e fez eclodir a revolução liberal de 1820. Em 1828, um reduzido número de estudantes da Universidade de Coimbra organizou um núcleo secreto, de cariz carbonária, com o título de "Sociedade dos Divodignos", com a finalidade de combater a monarquia absoluta de D. Miguel.
Denunciados por lentes dessa Universidade, perseguidos pelo rei caceteiro, a maioria acabou tristemente na forca, outros emigrados. Um destes, foi encontrado no Algarve, completamente miserável, transfigurado, exercendo a profissão de caldeireiro ambulante, não se sabendo dele o nome nem o seu fim.
O presidente desta sociedade era um sextanista da faculdade de Direito, que emigrado na Bélgica por lá faleceu. Chamava-se: Francisco Cesário Rodrigues Moacho.
Em 29 de Maio de 1848, fundou-se em Coimbra a Carbonária Lusitana. Foi seu "patrono" António de Jesus Maria da Costa, um padre anti-jesuíta, de nome simbólico Ganganelli. Abrindo as portas e fechando, encerrou-as por longo tempo em 1864.
Por volta de 1850-1851, teve sede em Lisboa uma Carbonária com o nome de "Portuguesa", dividida em secções chamadas choças, ou "lojas-carbonárias". Esta carbonária foi de curta duração.
Pela Segunda metade do século XIX, surge em Portugal a Maçonaria Académica, que se irá transformar em Carbonária. As Lojas Independência, Justiça, Pátria e Futuro passaram a Choças, sendo os seus membros divididos em grupos de vinte. Cada um desses grupos ou choças adoptou um nome diferente. Foram assim criadas vinte choças, presididas por uma Alta Venda provisória.
Em breve, esta Carbonária foi integrada por elementos populares que foram sendo iniciados na antiga rua de S. Roque, 117, último andar, em Lisboa, sede provisória da Carbonária Portuguesa. A primeira Choça popular teve o nome República, seguindo-se a Marselhesa, Companheiros da Independência, Mocidade Operária e Amigos da Verdade entre outras.
As diferentes secções da Carbonária tinham as seguintes denominações: Choças, Barracas, Vendas e Alta Venda.. Os Bons Primos, que pertenciam às Choças, possuíam os graus primeiro e segundo (Rachadores e Carvoeiros) e eram presididos por um carbonário decorado com o terceiro grau; Mestre. Às Barracas e Vendas só pertenciam os Mestres, presidentes dum certo número de Choças ou Barracas.
Na verdade, tanto a Carbonária Lusitana (antiga e moderna) como a Carbonária Portuguesa, foram geradas no seio dos estudantes universitários.
Na Carbonária encontravam-se Primos de todas as classes sociais: médicos, engenheiros, advogados, professores de todos os ramos de ensino, estudantes, oficiais e sargentos das forças armadas, funcionários públicos, proprietários, lavradores, administradores de concelho, actores, lojistas, comerciantes, polícias, operários, etc.. Havia de tudo, de Norte a Sul do País. No Algarve, os núcleos mais importantes encontravam-se em Silves, Faro e Olhão. O seu rosto visível - embora o não fosse aos olhos de profanos - eram os centros republicanos.
Havendo já bastantes Mestres, fundou-se a Venda Jovem Portugal. A Loja maçónica Montanha, fundada por Bons Primos, foi o veículo da Carbonária dentro da Maçonaria. Outras Lojas maçónicas com o mesmo cariz se lhe seguiram.
3. A ORGANIZAÇÃO CARBONÁRIA
Os carbonários ou bons primos, tratavam-se por tu e davam-se a conhecer por meio de sinais de ordem, senhas, contra-senhas, apertos de mão e cumprimentos especiais com o chapéu. Usavam distintivos e possuíam armas de fogo para a sua defesa. - Os rachadores e os carvoeiros usavam uma folha de carvalho na lapela. - Os mestres, cintos com as cores do seu grau em aspa, e punhal. - Os mestres sublimes usavam além do cinto, um colar de moiré e com as cores carbonárias do último grau, tendo pendente um pedaço de carvão cortado em aspa. - O símbolo solar com 32 raios, era o distintivo superior da Ordem, sendo unicamente usado nas várias sessões magnas pelo Grão-Mestre. - A estrela de cinco pontas representava o Bom Primo.
4. A ESTRUTURA DA CARBONÁRIA
Só o Grão-Mestre Sublime e a Alta Venda conheciam toda a organização sem desta serem conhecidos, o que garantia o secretismo desta organização, reforçado pela rígida hierarquia e pelo ritual iniciático que contemplava o uso de balandraus e de capuzes, caveiras, tíbias, etc..
Desde a sua criação até ao seu fim, a Carbonária Portuguesa teve oito Alta Venda, tendo sido seu Grão-Mestre em todas elas, Luz de Almeida.
De todas a mais importante foi a Sexta, pois foram os seus elementos que participaram decisivamente no 5 de Outubro de 1910, na ausência de Luz de Almeida, então exilado em França.
5. A INICIAÇÃO
As iniciações faziam-se nalguns Centros Republicanos - onde, aliás, se encontrava grande parte dos Bons Primos carbonários - mas de preferência em escritórios e casas particulares, quando temporariamente desabitadas, ou ainda, em armazéns, caves e até em cemitérios a altas horas da noite.
Os que presidiam às iniciações vestiam-se de balandrau com orifícios no capuz. O venerável carbonário que presidia era assistido pelos seguintes Bons Primos: primeiro secretário (primo Olmo); o segundo secretário (primo Carvalho); o primeiro vogal (primo Choupo) e o 2º vogal (guarda externo).
Era a este último que incumbia o secretismo das sessões, alertando ao mínimo movimento suspeito nas imediações.
O neófito era vendado à entrada pelo bom primo Choupo, depois do interrogatório e após o juramento, se era aceite, assinava então o seu compromisso de honra, muitas vezes com o próprio sangue, como se segue: "Juro pela minha honra de cidadão livre guardar absoluto segredo dos fins e existência desta sociedade, derramar o meu sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os machados dos rachadores de cada canteiro se ergam contra mim se faltar a este solene juramento".
Quanto ao bom primo Carvalho, lia os estatutos, em que referia que: "...os associados deviam obedecer cegamente às ordens que lhes fossem dadas; guardar segredo tão absoluto que nem às próprias famílias podiam revelar tudo quanto se passasse nas assembleias; que deviam ser astuciosos, perseverantes, intrépidos, corajosos, solidários, destemidos e valentes...".
6. CONCLUSÃO
A Carbonária foi uma sociedade secreta, política, organizada de modo a poder admitir elementos de todas as classes sociais, desde as mais elevadas às mais baixas. Diferia substancialmente da Maçonaria, esta mais tolerante em política e religião, e de carácter burguês.
Sem dúvida que a Carbonária Lusitana e a Maçonaria divergiam substancialmente. Nem todos os Bons Primos eram maçons. A mais importante Loja maçónica que fazia a ponte para a Carbonária era a Loja Montanha. Aliás, esta Loja era uma irradiação da Carbonária, tendo chegado a estar fora da obediência do Grande Oriente.
Embora tivesse favorecido e patrocinado a Revolução Republicana, a Maçonaria não foi a sua alavanca, mas sim a Carbonária. O baluarte da Revolução encontrava-se implantado na zona ribeirinha de Lisboa, muito embora abarcasse todo o País, num total de mais de 40 000 membros. Com a revolução triunfante, a Carbonária dissolve-se em bandos e clientelas políticas, sobretudo na busca de empregos, desfazendo-se assim, o espírito igualitário e fraterno cimentado por anos de luta.
(texto retirado de http://abarracadacarbonaria.blogspot.com/ )
Artur Augusto Duarte da Luz Almeida foi quem organizou a Carbonária Portuguesa, que nada tinha de comum com a já citada Carbonária Lusitana. Teve como auxiliares preciosos o comissário naval Machado Santos e o eng. António Maria da Silva; a Carbonária Portuguesa teve a suas primeiras reuniões no sótão da casa onde morava Luz de Almeida, na rua de Santo António da Glória, em Lisboa, onde se fizeram muitas iniciações e se deram lições de manejo de armas. Foi Luz de Almeida quem , em meados de 1907, elaborou a sua constituição e regulamentos geral e ultra-secreto, este apenas transmitido verbalmente aos filiados, que tinham o dever de o decorar. Havia quatro graus: Rachador, Cavador, Mestre e Mestre-Sublime; aos Carbonários chamavam-se Bons Primos e tratavam-se por tu, sendo obrigados a possuir uma arma de fogo e um punhal. Grão-Mestre foi Luz de Almeida e havia um corpo superior, intitulado Venda Jovem Portugal, que se compunha de um número limitado de Bons Primos decorados com o grau de Mestre Sublime. Esta venda tinha as atribuições de velar pela observância do ritual, nomear os juízes do Tribunal Secreto e constituir-se em Alto Tribunal, quando fosse necessário; escolher os inspectores e os delegados provinciais e as altas vendas (efectiva e substituta), eleger o grão-mestre e o grão-mestre adjunto. Todas as ordens da alta venda deviam ser cumpridas sem discussão. As secções da Carbonária Portuguesa eram representadas por estrelas de diversas grandezas e o conjunto de todas elas constituía o Grande Firmamento, onde se destacava uma estrela de cinco pontas, encimada pelo globo terrestre. Foram carbonários que fundaram o célebre grémio maçónico Montanha, introduzindo assim a Carbonária no Grande Oriente Lusitano. Paralela à carbonária e agindo sob orientação desta, foi necessário fundar outra associação secreta, A Coruja, a fim de agrupar muitos elementos republicanos que não queriam submeter-se às rigorosas fórmulas carbonárias. À frente dela estava José Maria de Sousa, António José dos Santos, Coelho Bastos e Henrique Cordeiro, os quais, depois de recrutarem numerosos adeptos, a dissolveram, integrando estes na Carbonária, o que era, afinal, o fim que se propunham. Desde o início até à proclamação da República, a Carbonária Portuguesa teve seis altas vendas, sendo a existente em 5 de Outubro de 1910 composta por Luz de Almeida, Machado Santos, António Maria da Silva, Henrique Cordeiro, António dos Santos Fonseca e Franklim Lamas. A acção desta associação secreta fez-se sentir de Norte a Sul do país, e dela faziam parte militares e civis de todas as categorias, tendo sido ela que organizou a revolução que implantou a República em Portugal. Depois de proclamado o novo regime, ainda se manteve enquanto houve movimentos monarquistas, até que com a luta dos partidos políticos, que deu a divisão do antigo Partido Republicano, ela se dividiu igualmente e se dissolveu, sem voltar a ser possível, apesar de inúmeras tentativas feitas, reconstituí-la.
(in Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa e Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, V. 5, pp. 867-868)
A CARBONÁRIA EM PORTUGAL
1. INTRODUÇÃO
Abordar este tema é uma tarefa complicada, difícil, resultante da escassez de documentos, fruto natural de uma sociedade secreta. Porém, a sua acção deixou marcas profundas na sociedade portuguesa, se atentarmos sobretudo, que a Implantação da República foi fruto da Carbonária, e como em tudo na vida, a causas seguem-se consequências...
Muita gente confunde Maçonaria com Carbonária, ou pelo menos, associa uma destas sociedades à outra. No entanto esta associação não se aparenta assim tão linear e muito menos a Carbonária funcionou como o braço armado da Maçonaria como se tem escrito e falado.
Embora não fossem carbonários todos os maçons, a Carbonária foi muitas vezes uma associação paralela da Maçonaria.
Introduzida em Portugal entre 1822 e 1823, manifestou a sua dinâmica social e política quando do Ultimato inglês em 1890 e de sobremaneira quando do desaire da revolta republicana de 1891 e posteriormente em 1908 quando no Porto foi abortada outra revolta.
O inicio da sua actividade em Portugal, prende-se, sem dúvida, com antecedentes próximos, com o estado de governação despótica exercida pelo marechal britânico Beresford, que colocou a nação a ferro e fogo durante mais de uma década. É bom recordar, que entre as suas vítimas se encontrou o marechal Gomes Freire de Andrade, Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, enforcado no Forte de S. Julião da Barra, junto com outros companheiros, acusados de conspiração com a sua governação.
Efectivamente, desde 1808, data em que por via das invasões francesas a corte procurou refúgio no Brasil, o País passou a colónia brasileira. Porém, a verdade, é que após a ajuda dos exércitos britânicos para a expulsão das tropas napoleónicas, Portugal passou a ser governado pela Inglaterra.
Para parte do povo, vivia-se em estado de orfandade - os soberanos, "os paizinhos" estavam longe... - para outra enorme fatia da população, a monarquia portuguesa encontrava-se desacreditada.
A Carbonária funcionava como uma organização secreta com objectivos políticos e tinha por defesa fundamental, a liberdade pública e a perfeição humana. Era declaradamente anticlerical e adversária das congregações religiosas, o que não significa que os seus membros fossem ateus. Estes homens, procediam maioritariamente das classes baixas, havia no entanto no seu seio, elementos das classes média e alta. Todos eles recebiam treino militar e defendiam o recurso às armas.
A sua extinção surgirá na sequência das divisões verificadas no interior do Partido Republica Português e do triunfo da revolução do 28 de Maio de 1926 que pôs fim à 1ª República.
2. ORIGENS DA CARBONÁRIA EM PORTUGAL
A Carbonária italiana serviu de figurino à Carbonária Portuguesa. Efectivamente foi em Itália que nasceu a Maçonaria Florestal ou Carbonária, onde a primeira foi recolher os seus princípios.
Segundo alguns autores, esta associação secreta remonta ao século XIII, época em que apareceram em Itália os primeiros carbonários, ligando-se à continuação das lutas que se haviam travado na Alemanha entre os Guelfos, partidários do Papa e os Gibelinos, partidários do imperador. Aqueles não queriam a interferência de estrangeiros nos destinos de Itália; estes, defendiam o poder do império germânico. A luta durou até ao século XV. Os Guelfos reuniam no interior das florestas, nas choças dos carvoeiros, daí a designação de carbonários. No entanto, outros autores referem a origem desta sociedade secreta em épocas mais recentes.
A verdade, é que foi em Itália sem dúvida, que a Carbonária ganhou contornos, o rosto de que ouvimos falar, consubstanciada com o aparecimento da "Jovem Itália" de Mazzini, fundada em 1831 em Marselha.
No entanto, apesar dos esforços de Garibaldi, Cavour e Mazzini, a Carbonária não conseguiu proclamar a República, porém, dois enormes trunfos foram alcançados: a unificação da Itália e a abolição do poder temporal do Papa.
Em Portugal, Fernandes Tomás, José Ferreira Borges, Borges Carneiro e Silva Carvalho entre outros, fundaram em 1818 uma sociedade secreta (uma pequena Carbonária) a que chamaram Sinédrio, que preparou e fez eclodir a revolução liberal de 1820. Em 1828, um reduzido número de estudantes da Universidade de Coimbra organizou um núcleo secreto, de cariz carbonária, com o título de "Sociedade dos Divodignos", com a finalidade de combater a monarquia absoluta de D. Miguel.
Denunciados por lentes dessa Universidade, perseguidos pelo rei caceteiro, a maioria acabou tristemente na forca, outros emigrados. Um destes, foi encontrado no Algarve, completamente miserável, transfigurado, exercendo a profissão de caldeireiro ambulante, não se sabendo dele o nome nem o seu fim.
O presidente desta sociedade era um sextanista da faculdade de Direito, que emigrado na Bélgica por lá faleceu. Chamava-se: Francisco Cesário Rodrigues Moacho.
Em 29 de Maio de 1848, fundou-se em Coimbra a Carbonária Lusitana. Foi seu "patrono" António de Jesus Maria da Costa, um padre anti-jesuíta, de nome simbólico Ganganelli. Abrindo as portas e fechando, encerrou-as por longo tempo em 1864.
Por volta de 1850-1851, teve sede em Lisboa uma Carbonária com o nome de "Portuguesa", dividida em secções chamadas choças, ou "lojas-carbonárias". Esta carbonária foi de curta duração.
Pela Segunda metade do século XIX, surge em Portugal a Maçonaria Académica, que se irá transformar em Carbonária. As Lojas Independência, Justiça, Pátria e Futuro passaram a Choças, sendo os seus membros divididos em grupos de vinte. Cada um desses grupos ou choças adoptou um nome diferente. Foram assim criadas vinte choças, presididas por uma Alta Venda provisória.
Em breve, esta Carbonária foi integrada por elementos populares que foram sendo iniciados na antiga rua de S. Roque, 117, último andar, em Lisboa, sede provisória da Carbonária Portuguesa. A primeira Choça popular teve o nome República, seguindo-se a Marselhesa, Companheiros da Independência, Mocidade Operária e Amigos da Verdade entre outras.
As diferentes secções da Carbonária tinham as seguintes denominações: Choças, Barracas, Vendas e Alta Venda.. Os Bons Primos, que pertenciam às Choças, possuíam os graus primeiro e segundo (Rachadores e Carvoeiros) e eram presididos por um carbonário decorado com o terceiro grau; Mestre. Às Barracas e Vendas só pertenciam os Mestres, presidentes dum certo número de Choças ou Barracas.
Na verdade, tanto a Carbonária Lusitana (antiga e moderna) como a Carbonária Portuguesa, foram geradas no seio dos estudantes universitários.
Na Carbonária encontravam-se Primos de todas as classes sociais: médicos, engenheiros, advogados, professores de todos os ramos de ensino, estudantes, oficiais e sargentos das forças armadas, funcionários públicos, proprietários, lavradores, administradores de concelho, actores, lojistas, comerciantes, polícias, operários, etc.. Havia de tudo, de Norte a Sul do País. No Algarve, os núcleos mais importantes encontravam-se em Silves, Faro e Olhão. O seu rosto visível - embora o não fosse aos olhos de profanos - eram os centros republicanos.
Havendo já bastantes Mestres, fundou-se a Venda Jovem Portugal. A Loja maçónica Montanha, fundada por Bons Primos, foi o veículo da Carbonária dentro da Maçonaria. Outras Lojas maçónicas com o mesmo cariz se lhe seguiram.
3. A ORGANIZAÇÃO CARBONÁRIA
Os carbonários ou bons primos, tratavam-se por tu e davam-se a conhecer por meio de sinais de ordem, senhas, contra-senhas, apertos de mão e cumprimentos especiais com o chapéu. Usavam distintivos e possuíam armas de fogo para a sua defesa. - Os rachadores e os carvoeiros usavam uma folha de carvalho na lapela. - Os mestres, cintos com as cores do seu grau em aspa, e punhal. - Os mestres sublimes usavam além do cinto, um colar de moiré e com as cores carbonárias do último grau, tendo pendente um pedaço de carvão cortado em aspa. - O símbolo solar com 32 raios, era o distintivo superior da Ordem, sendo unicamente usado nas várias sessões magnas pelo Grão-Mestre. - A estrela de cinco pontas representava o Bom Primo.
4. A ESTRUTURA DA CARBONÁRIA
Só o Grão-Mestre Sublime e a Alta Venda conheciam toda a organização sem desta serem conhecidos, o que garantia o secretismo desta organização, reforçado pela rígida hierarquia e pelo ritual iniciático que contemplava o uso de balandraus e de capuzes, caveiras, tíbias, etc..
Desde a sua criação até ao seu fim, a Carbonária Portuguesa teve oito Alta Venda, tendo sido seu Grão-Mestre em todas elas, Luz de Almeida.
De todas a mais importante foi a Sexta, pois foram os seus elementos que participaram decisivamente no 5 de Outubro de 1910, na ausência de Luz de Almeida, então exilado em França.
5. A INICIAÇÃO
As iniciações faziam-se nalguns Centros Republicanos - onde, aliás, se encontrava grande parte dos Bons Primos carbonários - mas de preferência em escritórios e casas particulares, quando temporariamente desabitadas, ou ainda, em armazéns, caves e até em cemitérios a altas horas da noite.
Os que presidiam às iniciações vestiam-se de balandrau com orifícios no capuz. O venerável carbonário que presidia era assistido pelos seguintes Bons Primos: primeiro secretário (primo Olmo); o segundo secretário (primo Carvalho); o primeiro vogal (primo Choupo) e o 2º vogal (guarda externo).
Era a este último que incumbia o secretismo das sessões, alertando ao mínimo movimento suspeito nas imediações.
O neófito era vendado à entrada pelo bom primo Choupo, depois do interrogatório e após o juramento, se era aceite, assinava então o seu compromisso de honra, muitas vezes com o próprio sangue, como se segue: "Juro pela minha honra de cidadão livre guardar absoluto segredo dos fins e existência desta sociedade, derramar o meu sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os machados dos rachadores de cada canteiro se ergam contra mim se faltar a este solene juramento".
Quanto ao bom primo Carvalho, lia os estatutos, em que referia que: "...os associados deviam obedecer cegamente às ordens que lhes fossem dadas; guardar segredo tão absoluto que nem às próprias famílias podiam revelar tudo quanto se passasse nas assembleias; que deviam ser astuciosos, perseverantes, intrépidos, corajosos, solidários, destemidos e valentes...".
6. CONCLUSÃO
A Carbonária foi uma sociedade secreta, política, organizada de modo a poder admitir elementos de todas as classes sociais, desde as mais elevadas às mais baixas. Diferia substancialmente da Maçonaria, esta mais tolerante em política e religião, e de carácter burguês.
Sem dúvida que a Carbonária Lusitana e a Maçonaria divergiam substancialmente. Nem todos os Bons Primos eram maçons. A mais importante Loja maçónica que fazia a ponte para a Carbonária era a Loja Montanha. Aliás, esta Loja era uma irradiação da Carbonária, tendo chegado a estar fora da obediência do Grande Oriente.
Embora tivesse favorecido e patrocinado a Revolução Republicana, a Maçonaria não foi a sua alavanca, mas sim a Carbonária. O baluarte da Revolução encontrava-se implantado na zona ribeirinha de Lisboa, muito embora abarcasse todo o País, num total de mais de 40 000 membros. Com a revolução triunfante, a Carbonária dissolve-se em bandos e clientelas políticas, sobretudo na busca de empregos, desfazendo-se assim, o espírito igualitário e fraterno cimentado por anos de luta.
(texto retirado de http://abarracadacarbonaria.blogspot.com/ )