Todos nós já sabemos que, chegados a certa idade, os nossos pais conduzem-nos até às portas de uma instituição que se vai encarregar de nós. Para alguns já aos 3 anos se torna visível que essa «socialização forçada» não correrá nada bem. Alguns choram, outros fincam os pés, e muitos exprimem uma grande revolta através dos fracos meios que dispõem, sentindo uma raiva a nascer dentro de si e pronta a rebentar.
Depois do infantário entramos no «mundo dos grandes» - pelo menos, é assim que os professores costumam receber os alunos da antiga escola primária, hoje designada por 1º ciclo do ensino básico. Seguem-se, em seguida, os restantes graus de ensino até chegarmos ao ensino secundário e, para alguns, ao ensino superior. Mas em todos eles ressalta uma característica comum: classificar os alunos. E quem não se lembra de apanhar com um cinco ou um nove, ou então de um comentário ou uma observação escrita do tipo «Muito insuficiente» ou, simplesmente, «Medíocre».
Não tendo escolhido a escola, nem as matérias para aprender, nem sequer o método de aprendizagem, acabamos por nos tomar de pânico só com a ideia dos nossos pais receberem a informação de uma avaliação negativa. E não raro a comparação entre as notas mais altas e as mais baixas acabava por ser um verdadeiro golpe na nossa cabeça, em que a vaidade dos melhores contrastava com a vergonha daqueles que eram classiificados com as piores notas. E não faltavam as ocasiões para a instituição lembrar que certo aluno não era tão bom que um seu colega, ou que alguns se encontravam abaixo da média geral.
Com tudo isso o que o sistema, pouco a pouco, pretende é incutir a «virtude» da competição como motor do sucesso social, o grande mito propagandeado de todas as sociedades hierarquizadas. A nossa caderneta escolar serve assim de prelúdio ao nosso futuro currículo profissional, assim como as matérias ensinadas serão uma sombra do emprego que nos calhar na grande lotaria que é o mercado concorrencial.
E tal como sofremos a vergonha das notas abaixo de dez, assim também iremos sofrer a auto-culpabilização de estarmos a receber o salário mínimo ou, pior ainda, ficarmos no desemprego.
A ideia que nos passam e que nos pretendem vender é que sem compreendermos a utilidade das funções exponenciais na matemática, nada feito: sem isso estaremos, o mais certo, destinados ao mais rotundo fracasso.
Mesmo até o exemplo do «self-made man» serve às mil maravilhas para nos convencerem que só a nós próprios devemos o êxito ou o insucesso na vida. Só a nós e a mais ninguém !!! – dizem eles, ocultando o carácter socialmente selectivo do sistema mercantil em que vivemos.
A escola é construída para ser uma espécie de antecâmara em que o objectivo é a formatação dos espíritos, operação que se destina, ao fim e ao cabo, a habituarmo-nos a olhar o outro não como um irmão-companheiro de vida, mas antes como um potencial competidor, aquele que poderá ser sempre o «melhor» ou o «menos bom» que nós próprios, dependendo da capacidade que cada qual revelar em integrar-se num sistema hierárquico e de dominação.
E é essa mesma capacidade - que vai fabricando bons exploradores, para uns, e bons escravos submissos, para outros – que reside a chave-mestra deste sistema abjecto em que vivemos, e que desgraçadamente, nos habituamos acriticamente a subsistir. É por isso que é importante acabar, quanto antes, com ele, para que em vez da competição e da concorrência, possa emergir um mundo onde a regra seja a solidariedade e o apoio mútuos