Está anunciada para hoje a estreia em Lisboa, depois de recuperado e restaurado devido à usura do tempo, o filme-documentário Torre Bela do cineasta alemão Thomas Harlan que relata a ocupação de uma herdade no concelho da Azambuja, Ribatejo, por parte de trabalhadores agrícolas e pequenos rendeiros durante o período revolucionário de 1974-75 em Portugal.
A herdade chamava-se Torre Bela, era propriedade do Duque de Lafões, Dom Manuel de Bragança, e estava praticamente ao abandono, sendo utilizada para reserva de caça e proveito exclusivo dos seus donos, apesar da sua grande extensão. O documentário é um importante testemunho histórico dos acontecimentos da época e das contradições que então se viveram.
A ocupação da herdade deu-se a 23 de Abril de 1975 e prolongou-se por alguns anos. Criou-se então uma cooperativa agrícola para organizar a produção e distribuição dos produtos agrícolas das terras que passaram a ser cultivadas, produção que serviu ao longo de alguns meses como fonte de abastecimento aos mercados urbanos limítrofes ( de Lisboa, por exemplo) num circuito que pretendia escapar aos intermediários e à especulação de preços, apostando sobretudo no contacto directo entre produtor e consumidor.
Outro motivo de interesse desta ocupação de terras é que foi realizada à revelia dos aparelhos partidários, nomeadamente do Partido Comunista, e ao contrário da orientação política que dele saía quanto à Reforma Agrária, e que consistia em tentar «legalizar» e «estatizar» as ocupações de terras tornando-as em UCPs (unidades colectivas de produção), na directa dependência do Ministério da Agricultura, a Cooperativa Torre Bela sempre manteve a sua estrutura e gestão em termos cooperativos e autónomos face ao aparelho do Estado. Este facto despertou por isso bastante animosidade por parte das forças hegemónicas da época, e dos sucessivos Governos Provisórios, levando inclusive, na fase descendente da Revolução portuguesa, a uma invasão da Torre Bela por um força dos Comandos militares, sob a chefia de oficiais contra-revolucionários, com o pretexto de haver fortes suspeitas que os trabalhadores ocupantes estivessem armados e possuíssem armamento pesado, o que se veio a revelar ser falso e calunioso, não passando de mais uma manobra de intimidação e chantagem sobre os cooperantes e a Cooperativa Torre Bela.
Mas se a Cooperativa Torre Bela foi objecto de assédio repressivo e vítima da luta pelo poder das forças político-partidárias, ela não deixou de ser, por outro lado, uma referência importante para todos os que dentro e fora de Portugal lutavam pelo avanço da nossa Revolução, tendo-se tornado por isso um local de visita obrigatória para muitos revolucionários que então passaram pelo nosso país, como ainda um destino para onde rumaram muitos jovens portugueses que lutavam pelo avanço das lutas dos trabalhadores e do Poder Popular.
A herdade chamava-se Torre Bela, era propriedade do Duque de Lafões, Dom Manuel de Bragança, e estava praticamente ao abandono, sendo utilizada para reserva de caça e proveito exclusivo dos seus donos, apesar da sua grande extensão. O documentário é um importante testemunho histórico dos acontecimentos da época e das contradições que então se viveram.
A ocupação da herdade deu-se a 23 de Abril de 1975 e prolongou-se por alguns anos. Criou-se então uma cooperativa agrícola para organizar a produção e distribuição dos produtos agrícolas das terras que passaram a ser cultivadas, produção que serviu ao longo de alguns meses como fonte de abastecimento aos mercados urbanos limítrofes ( de Lisboa, por exemplo) num circuito que pretendia escapar aos intermediários e à especulação de preços, apostando sobretudo no contacto directo entre produtor e consumidor.
Outro motivo de interesse desta ocupação de terras é que foi realizada à revelia dos aparelhos partidários, nomeadamente do Partido Comunista, e ao contrário da orientação política que dele saía quanto à Reforma Agrária, e que consistia em tentar «legalizar» e «estatizar» as ocupações de terras tornando-as em UCPs (unidades colectivas de produção), na directa dependência do Ministério da Agricultura, a Cooperativa Torre Bela sempre manteve a sua estrutura e gestão em termos cooperativos e autónomos face ao aparelho do Estado. Este facto despertou por isso bastante animosidade por parte das forças hegemónicas da época, e dos sucessivos Governos Provisórios, levando inclusive, na fase descendente da Revolução portuguesa, a uma invasão da Torre Bela por um força dos Comandos militares, sob a chefia de oficiais contra-revolucionários, com o pretexto de haver fortes suspeitas que os trabalhadores ocupantes estivessem armados e possuíssem armamento pesado, o que se veio a revelar ser falso e calunioso, não passando de mais uma manobra de intimidação e chantagem sobre os cooperantes e a Cooperativa Torre Bela.
Mas se a Cooperativa Torre Bela foi objecto de assédio repressivo e vítima da luta pelo poder das forças político-partidárias, ela não deixou de ser, por outro lado, uma referência importante para todos os que dentro e fora de Portugal lutavam pelo avanço da nossa Revolução, tendo-se tornado por isso um local de visita obrigatória para muitos revolucionários que então passaram pelo nosso país, como ainda um destino para onde rumaram muitos jovens portugueses que lutavam pelo avanço das lutas dos trabalhadores e do Poder Popular.
Não é pois de admirar, e dado até o circunstancialismo histórico em que se vivia, que não eram poucas as dificuldades e as contradições que se viveram durante o tempo de vida da Cooperativa. A câmara do realizador alemão , autor do documentário, mostra justamente algumas dessas contradições então vividas, nomeadamente, a falta de consciência social do sentido e significados das acções e iniciativas em curso por parte de alguns elementos envolvidos na ocupação das terras e na gestão cooperativa, as dificuldades do seu quotidiano, o desespero mas também as esperanças por uma vida melhor.
Curiosa e sintomaticamente, foi um governo do Partido «Socialista» - mais uma vez apostado na recuperação capitalista e na «normalização» da economia do capital - presidido por Mário Soares, e com sociólogo académico António Barreto à cabeça do Ministério da Agricultura que determinou a devolução das terras aos antigos proprietários, dando a machadada final a uma experiência cooperativa.
O filme a exibir, a partir de hoje, tem já uma longa história, com a passagem por vários certames internacionais e ciclos de cinema, sendo um importante contributo para a análise social e histórica do período revolucionário que se viveu em Portugal nos anos de 1974 e 1975. Conta com a participação de músicos como José Afonso, e Francisco Fanhais, e anti-fascistas envolvidos directamente no projecto como Camilo Mortágua, célebre militante da LUAR, organização que lutou contra o regime fascista anterior ao 25 de Abril.
São de Serge Daney, um reputado crítico de cinema, e redactor da conhecida revista Cahiers de Cinema, estas palavras acerca do filme-documentário Torre Bela:
"Raramente se terá visto melhor o fazer e o desfazer de uma colectividade singular, feita ela própria de singularidades, apanhada num processo político em que ela é a verdade cega e o ponto da utopia."
O filme pode ser visto a partir de hoje, 2 de Agosto, na sala de cinema King