18.4.07

Para ser doutor (ou engenheiro) basta, hoje, saber ler, escrever e contar!!!

Crónica de Manuel António Pina,
publicada no Jornal de Notícas de hoje

A crise da "Independente" é a ponta do "iceberg" da situação a que chegou entre nós o ensino superior, em grande parte alegremente entregue, nas últimas décadas, ao mercantilismo privado.
Uma obra de que tive conhecimento pela Net, apoiada pelo Governo e editada pela Universidade do Minho, dá conta do que a sociedade portuguesa e os empregadores esperam hoje da Universidade. No final da formação, os diplomados devem, pelos vistos, ter 41 "competências transversais", entre elas a "comunicação oral", definida como "capacidade para comunicar ideias através da fala, de forma a que os outros compreendam"; a "comunicação escrita", ou seja, "escrever de forma eficaz"; a "numeracia", ou "capacidade para adicionar, subtrair, multiplicar ou dividir"; a "autonomia", ou "capacidade para resolver problemas (…) sem perguntar a outras pessoas"; e o "autocontrolo", ou "capacidade para controlar os afectos". Planos de estudos de vários cursos superiores enunciam "competências" do mesmo género "persistência", "motivação", "auto-afirmação", "reflexão", "aceitar as ideias dos outros", etc..
O saber e a investigação emigraram de boa parte da Universidade. Aí, para ser doutor ou engenheiro basta saber ler, escrever e contar. Isso e "motivação" e "auto-afirmação".