Quanto maior é a cidade onde se vive, mais dinheiro se ganha, mas também mais se gasta. E isto é verdade para todas as cidades do mundo. O mesmo se passa com muitas outras dinâmicas, como por exemplo a velocidade a que se caminha: à medida que as zonas urbanas vão crescendo, as pessoas apressam-se cada vez mais. É velha a ideia que a vida é mais rápida nas grandes cidades, mas agora os cientistas confirmam e explicam porquê.Num artigo publicado na revista científica norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences, uma equipa de investigadores liderados pelo português Luís Bettencourt, radicado nos EUA, conclui-se que as cidades são todas semelhantes nos seus ritmos, mesmo que não tenham nada a ver umas com as outras.
O assunto assume hoje uma maior importância, uma vez que, pela primeira vez na História, a humanidade está maioritariamente a viver em cidades. Estas são culpabilizadas pelo aumento do crime ou das pressões sobre o ambiente. Problemas reais, ninguém nega. Mas também há um outro lado.
"A produtividade económica aumenta dez a 15 por cento per capita quando duplica o tamanho da cidade, o número de registo de patentes também cresce, assim como tudo o que está ligado à criatividade", explica ao PÚBLICO Luís Bettencourt, numa entrevista telefónica. Os cientistas analisaram indicadores como a produtividade económica, a inovação, a demografia, o crime, a saúde pública, as infra-estruturas e alguns padrões de comportamento humano. Para concluir que a nível das infra-estruturas como as estradas, os cabos, os fios eléctricos, entre outros, há uma poupança devido ao aumento da densidade populacional que permite reduzir os custos per capita.
Outras variáveis mantiveram-se neutras em relação ao tamanho da cidade, como é o caso da habitação, do emprego ou do consumo de água. Mas "o que realmente aumenta com o crescimento das cidades são as variáveis sociais, tanto positivas - como é a propensão para a criação -, como as negativas, que é o caso do crime", adianta o investigador. A saúde pública já depende muito de cada cidade. Porém, no caso da sida, há um aumento na mesma proporção do crescimento urbano.
Uma das novidades desta investigação é concluir que, quer se esteja em Xangai ou em Nova Iorque, as cidades são estruturas sociais muito semelhantes. "Há uma dinâmica espontânea comum", diz Bettencourt. A diferente forma como as cidades se organizam - na Europa, quanto mais longe do centro, mais se desce na escala social e o inverso ocorre nos EUA - acaba por ser irrelevante.
"Todas as cidades são diferentes geograficamente mas o que descobrimos é que são todas semelhantes nos seus ritmos de vida, nas suas dinâmicas, na forma como se interage." Luís Bettencourt é fruto da geração Erasmus, o programa europeu que permite o intercâmbio de alunos entre universidades europeias. Depois de terminar Engenharia Física no Instituto Superior Técnico em 1992, partiu para o Imperial College, em Londres, onde se doutorou em Física Teórica. Fez pós-doutoramentos em Heidelberg, na Alemanha, no Laboratório Nacional de Los Alamos, nos EUA, e no MIT. Está há quatro anos como investigador em Los Alamos.
Fonte: jornal Público