Depois de uma batalha legal de 23 anos, professor da Califórnia consegue a divulgação total de relatório dos serviços secretos norte-americanos sobre Lennon
As últimas dez páginas de um longo relatório secreto do FBI sobre John Lennon foram ontem tornadas públicas e mostram que, afinal, não havia nenhum segredo explosivo por revelar.Durante anos, a não divulgação dos documentos alimentou complexas especulações, havendo quem imaginasse que os documentos tinham dados comprometedoras para o ex-Beatle, como o envolvimento directo em organizações revolucionárias.
Agora que o dossier foi divulgado - depois de uma batalha legal de 25 anos -, os documentos confirmam na essência o que já se sabia: Lennon era de esquerda e contra a guerra do Vietname.
Há alguns pormenores novos sobre as suas ligações a grupos de esquerda em Londres no início dos anos 70, mas nada que mostre que o músico era visto pelas autoridades como "uma ameaça séria", disse ao Los Angeles Times o historiador californiano Jon Wiener, da Universidade da Califórnia, que iniciou a batalha jurídica para a divulgação do dossier.
Compiladas em 1971-1972, as notas do FBI dizem que o ex-Beatle teria uma "visão revolucionária" e que as provas estavam nas suas canções. Também mostram que nunca apoiou financeiramente qualquer grupo político, mesmo que tenha sido convidado a fazê-lo e contam que dois "proeminentes militantes de esquerda" britânicos "cortejaram" Lennon na esperança de que ele viesse a financiar uma "livraria de esquerda em Londres", mas que Lennon não lhes deu dinheiro.
"Hoje podemos ver que o argumento da "segurança nacional" que o FBI tem feito nestes 25 anos eram absurdos. O dossier de Lennon no FBI é um caso clássico de excessivo segredo do governo", disse Wiener citado pela Reuters.
Algumas das informações foram expurgadas, sendo ocultadas por tinta preta, uma medida prevista na lei Freedom of Information Act usada para exigir a divulgação dos documentos, explicou ontem o gabinete de imprensa do FBI. As excepções contemplam razões como a segurança nacional, protecção de agentes infiltrados ou identidade de terceiros.
Os documentos confirmam que Lennon foi investigado em 1971-1972 pelos serviços secretos por causa das suas actividades políticas. Jon Wiener dizia ontem, com ironia: "Duvido que o Governo de Tony Blair vá lançar uma iniciativa militar contra os EUA em retaliação."
Em 1980, quando Lennon foi assassinado em Nova Iorque, Wiener começou a sua odisseia judicial. Durante os 20 anos em que o caso esteve na justiça, obteve algumas vitórias. Em 1997, conseguiu a divulgação de mais de 200 páginas dos arquivos, publicadas num livro em 2000, onde, segundo o autor, era atestado que o Presidente americano Richard Nixon pretendia exigir um teste de drogas a Lennon para o deportar e assim travar as suas actividades pacifistas.
Fonte: Publico