Murray Bookchin, um dos mais destacados nomes da esquerda libertária, e provavelmente um dos mais salientes pensadores dos últimos cem anos, morreu no passado dia 30 de Julho de 2006 em Burlington (Vermont), com 85 anos de idade. Foi um dos primeiros divulgadores e promotores das questões e temas ecológicos, sendo por muitos considerado um verdadeiro pioneiro da ecologia, tendo criado e teorizado a chamada ecologia social, uma das principais correntes do ecologismo.
Bookchin é também uma figura destacada do anarquismo contemporâneo, ao fazer uma leitura re-actualizada do pensamento e da prática anarquista, através do chamado municipalismo libertário, apesar de, nos seus últimos anos de vida, se ter mostrado muito crítico para com o movimento anarquista e até a utilidade e oportunidade do termo anarquismo.
Deixa a sua companheira de muitos anos, Janet Biehl, os seus filhos Joseph e Debbie Bookchin, e a sua ex-esposa e grande amiga, Beatrice Bookchin.
Bookchin nasceu em Nova Iorque a14 de Janeiro de 1921. Os seus pais eram revolucionários russos emigrados. Muito cedo juntou-se ao movimento dos jovens comunistas mas, em breve, dele se afastou com críticas ao seu carácter autoritário. Aproxima-se dos trotskistas mas também rompeu com eles, desiludido devido aquele mesmo autoritarismo. Foi operário de fundição e de uma fábrica de automóveis e militou no sindicato L’UAU (United Auto-Workers), tendo tomado parte na grande greve que afectou a General Motor em 1948. Passa a participar em diversas publicações, e envolve-se no movimento contra-cultural da nova esquerda que desponta na sociedade norte-americana logo após a II Grande Guerra. Durante os anos 60 escreveu diversas obras, tendo sido um dos pioneiros no estudo e análise das temáticas ecológicas, apresentando e teorizando sobre a ecologia social revolucionária ( argumentava que só uma sociedade completamente livre a aberta poderia resolver os problemas ambientais, pois o principal problema ecológico são as enormes desigualdades, hierarquias e relações de dominação que estruturam as sociedades humanas), ao mesmo tempo que faz uma crítica profunda ao marxismo tradicional .
Bookchin está na linha de muitos anarquistas e naturalistas, como Kropotkine, para quem a natureza não é esse ambiente hostil, competitivo e terrífico que imaginamos, mas antes a fonte de múltiplas formas inter-activas de vida ( criativas, simbólicas e produtivas). E se a natureza é fonte de liberdade, participação, solidariedade e apoio mútuo, então as estruturas sociais que organizam as sociedades humanas também assim poderiam ser.
Propõe-se então encontrar alternativas às instituições universitárias institucionalizadas para o que cria Universidades Livres e é o co-fundador e director do Instituto da Ecologia social em Vermont, USA.. Ensina de 1974 1984 no Ramapo Collège de New Jersey, ganhando renome internacional pelos seus trabalhos eco-filosóficos sobre ecologia e as alternativas tecnológicas. Em Burlington, onde se instala, ajudou a criar o Partido Verde. As suas teorias são conhecidas sob o nome do Municipalismo Libertário, no qual propõe um tipo de organização social e político, baseado no livre associativismo, na ecologia, e nas críticas às hierarquias institucionalizadas do patriarcado, do Capital, do Estado e do antropocentrismo. É autor prolífico, com diversas obras, muitas delas traduzidas nas mais variadas línguas, inclusive em português, sobre temas como a ecologia, a história, a política, a filosofia e o urbanismo.
As suas concepções são muitas vezes encaradas como vanguardistas e avançadas para a época. Critica ainda a «ecologia profunda» por não valorizar nem atender ao facto dos problemas ecológicos terem raízes nas estruturas e na maneira como a sociedade se organiza. Daí que defenda uma ecologia social como uma via racional e revolucionária que, com a participação e envolvimento dos cidadãos, consiga superar e resolver os problemas ambientais.
O eixo principal do seu pensamento está exposto no seu livro «Post-scarcity anarchism», onde escreve:
«The reason that human beings institute powerful government, with powerful military and police forces, is that we've always been engaged in a struggle for survival, fighting each other for scarce resources. In the modern era, for the first time in human history, we have the capability to eliminate scarcity as a basic part of human life -- to provide the basics of food, clothing, shelter, education and freedom to all. At some point, Bookchin argued (he was forever an optimist) the entire concept of scarcity would be meaningless -- and at that point, the whole idea of a powerful, centralized state would become meaningless, too.»
Bookchin foi um duro crítico das cidades modernas. Entre os seus variados trabalhos escritos sobre a matéria contam-se «Crisis in our cities» (1965) e The Rise of Urbanization and the Decline of Citizenship (1987.) nos quais é feita uma crítica profunda aos padrões da vida urbana.
Há que salientar, no entanto, que Bookchin é alvo de certas críticas que o acusam de se ter mantido colado a um evolucionismo ultrapassado, não tendo prestado atenção às últimas teorizações no domínio epistemológico nem ter questionado muitos conceitos (por ex., o do progresso) herdados do século dezanove. A esta obsolescência teórica haveria a acrescentar algumas propostas altamente discutíveis nos últimos anos como a utilidade de apresentação às eleições municipais através de um partido político libertário…
Para outros o contributo de Bookchin foi grande ao apontar os princípios que devem estruturar uma sociedade naturalmente ecológica: diversidade complementaria, espaços para a espontaneidade, e ausência de hierarquias. Bookchin seria assim o autor mais seguro para uma sociedade anarquista sustentável e realizável.
Mais info:
Deixa a sua companheira de muitos anos, Janet Biehl, os seus filhos Joseph e Debbie Bookchin, e a sua ex-esposa e grande amiga, Beatrice Bookchin.
Bookchin nasceu em Nova Iorque a14 de Janeiro de 1921. Os seus pais eram revolucionários russos emigrados. Muito cedo juntou-se ao movimento dos jovens comunistas mas, em breve, dele se afastou com críticas ao seu carácter autoritário. Aproxima-se dos trotskistas mas também rompeu com eles, desiludido devido aquele mesmo autoritarismo. Foi operário de fundição e de uma fábrica de automóveis e militou no sindicato L’UAU (United Auto-Workers), tendo tomado parte na grande greve que afectou a General Motor em 1948. Passa a participar em diversas publicações, e envolve-se no movimento contra-cultural da nova esquerda que desponta na sociedade norte-americana logo após a II Grande Guerra. Durante os anos 60 escreveu diversas obras, tendo sido um dos pioneiros no estudo e análise das temáticas ecológicas, apresentando e teorizando sobre a ecologia social revolucionária ( argumentava que só uma sociedade completamente livre a aberta poderia resolver os problemas ambientais, pois o principal problema ecológico são as enormes desigualdades, hierarquias e relações de dominação que estruturam as sociedades humanas), ao mesmo tempo que faz uma crítica profunda ao marxismo tradicional .
Bookchin está na linha de muitos anarquistas e naturalistas, como Kropotkine, para quem a natureza não é esse ambiente hostil, competitivo e terrífico que imaginamos, mas antes a fonte de múltiplas formas inter-activas de vida ( criativas, simbólicas e produtivas). E se a natureza é fonte de liberdade, participação, solidariedade e apoio mútuo, então as estruturas sociais que organizam as sociedades humanas também assim poderiam ser.
Propõe-se então encontrar alternativas às instituições universitárias institucionalizadas para o que cria Universidades Livres e é o co-fundador e director do Instituto da Ecologia social em Vermont, USA.. Ensina de 1974 1984 no Ramapo Collège de New Jersey, ganhando renome internacional pelos seus trabalhos eco-filosóficos sobre ecologia e as alternativas tecnológicas. Em Burlington, onde se instala, ajudou a criar o Partido Verde. As suas teorias são conhecidas sob o nome do Municipalismo Libertário, no qual propõe um tipo de organização social e político, baseado no livre associativismo, na ecologia, e nas críticas às hierarquias institucionalizadas do patriarcado, do Capital, do Estado e do antropocentrismo. É autor prolífico, com diversas obras, muitas delas traduzidas nas mais variadas línguas, inclusive em português, sobre temas como a ecologia, a história, a política, a filosofia e o urbanismo.
As suas concepções são muitas vezes encaradas como vanguardistas e avançadas para a época. Critica ainda a «ecologia profunda» por não valorizar nem atender ao facto dos problemas ecológicos terem raízes nas estruturas e na maneira como a sociedade se organiza. Daí que defenda uma ecologia social como uma via racional e revolucionária que, com a participação e envolvimento dos cidadãos, consiga superar e resolver os problemas ambientais.
O eixo principal do seu pensamento está exposto no seu livro «Post-scarcity anarchism», onde escreve:
«The reason that human beings institute powerful government, with powerful military and police forces, is that we've always been engaged in a struggle for survival, fighting each other for scarce resources. In the modern era, for the first time in human history, we have the capability to eliminate scarcity as a basic part of human life -- to provide the basics of food, clothing, shelter, education and freedom to all. At some point, Bookchin argued (he was forever an optimist) the entire concept of scarcity would be meaningless -- and at that point, the whole idea of a powerful, centralized state would become meaningless, too.»
Bookchin foi um duro crítico das cidades modernas. Entre os seus variados trabalhos escritos sobre a matéria contam-se «Crisis in our cities» (1965) e The Rise of Urbanization and the Decline of Citizenship (1987.) nos quais é feita uma crítica profunda aos padrões da vida urbana.
Há que salientar, no entanto, que Bookchin é alvo de certas críticas que o acusam de se ter mantido colado a um evolucionismo ultrapassado, não tendo prestado atenção às últimas teorizações no domínio epistemológico nem ter questionado muitos conceitos (por ex., o do progresso) herdados do século dezanove. A esta obsolescência teórica haveria a acrescentar algumas propostas altamente discutíveis nos últimos anos como a utilidade de apresentação às eleições municipais através de um partido político libertário…
Para outros o contributo de Bookchin foi grande ao apontar os princípios que devem estruturar uma sociedade naturalmente ecológica: diversidade complementaria, espaços para a espontaneidade, e ausência de hierarquias. Bookchin seria assim o autor mais seguro para uma sociedade anarquista sustentável e realizável.
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Obituary by Janet Biehl, for the Burlington Free Press
Murray Bookchin was a left-libertarian social theorist who, in the early 1960s, introduced the concept of ecology into radical politics. A self-described utopian, he sought a decentralized, genuinely democratic society and placed ecology in a humanistic and social framework. He wrote more than two dozen books on ecology, history, politics, philosophy, and urban planning. At all times he upheld reason against the alternatives and sought to bring a lived revolutionary past forward into the future.
He was born on Jan. 14, 1921 in New York City, the only son of Russian Jewish immigrants, Nathan and Rose (Kaluskaya) Bookchin. At nine he joined the Communist youth organization but became disillusioned with the authoritarian character of the international Communist movement and broke with it in 1937. Unable to afford a college education, he worked as a foundryman in New Jersey and as a union organizer for the CIO. He served in the U.S. Army, then returned to civilian life as an autoworker. He participated in the great General Motors strike of 1946, but the strike leaders’ compromises with management caused him to abandon his faith in the industrial proletariat.
His first book, Our Synthetic Environment (written under the pseudonym Lewis Herber), published in 1962, addressed a broad range of ecological issues. Preceding Rachel Carson’s famous SilentSpring by nearly half a year, it called for a decentralized society using alternative energy sources. In this and later writings he developed what he called social ecology, which holds that ecological problems can be remedied only by the creation of a free and democratic society. At a time when “ecology” was an unfamiliar concept to most people, he lectured indefatigably on the subject to countercultural groups throughout the United States. He advanced the concept of postscarcity, holding that advances in technology would make possible a reduction of the workday, thereby providing people with the free time necessary to engage in civic self-management and direct democracy. His 1960s essays were very influential both in the counterculture and in the New Left and were anthologized in Post-Scarcity Anarchism (1971).
During the 1970s Bookchin’s writings and lectures influenced the formation of Green movements in the United States and abroad. Three years after moving to Burlington in 1971, co-founded the Institute for Social Ecology in Plainfield, Vt., becoming its director; the school later acquired an international reputation for its curriculum on social theory, ecophilosophy, and alternative technologies. That same year he began teaching at Ramapo College of New Jersey, where he became a full professor in 1977. He retired from Ramapo in 1981 with emeritus status.
In 1982 he Bookchin published The Ecology of Freedom, which became a classic in social thought. His 1986 The Rise of Urbanization and the Decline of Citizenship (1986) presented his program for direct-democratic politics at the municipal, neighborhood, and town levels. In Burlington Bookchin attempted to put these ideas into practice by working with the Northern Vermont Greens, the Vermont Council for Democracy, and the Burlington Greens, retiring from politics in 1990. His ideas are summarized succinctly in Remaking Society (1989) and The Murray Bookchin Reader (1997).
Bookchin is survived and his passing mourned by his loving family members, all of whom live in Burlington: his longtime companion, Janet Biehl; his daughter, Debbie Bookchin, her husband, James Schumacher, and their daughter, Katya Bookchin Schumacher; his son, Joseph Bookchin; and his ex-wife and longtime friend, Beatrice Bookchin. He will be much missed as well by his many dear friends and by the thousands of people, unknown to him personally, whom he touched during his long and productive life.