18.6.06

A revolta dos estudantes negros do Soweto foi há 30 anos




Em 16 de Junho passaram 30 anos da revolta estudantil do Soweto que
Constitui um marco importante no declínio e derrube do sistema de apartheid que então existia na África do Sul e mediante o qual a lei legalizava e institucionalizava a descriminação racial para com as pessoas de cor negra, ainda que estas fossem a esmagadora maioria da população.


Em 16 de junho de 1976, milhares de jovens sul-africanos revoltaram-se no município de Soweto, África do Sul, contra a decisão do governo branco da altura em impor a língua afrikaans como língua obrigatória do ensino, juntamente com o inglês.. Tratava-se de uma medida humilhante e cruel porque o afrikaans não era vista como a língua do opressor", mas ainda porque os estudantes negros falavam pouco ou mal este idioma, surgido do holandês.


"Os alunos não conseguiam aprender em afrikaans e os professores não podiam ensinar nesta língua", explicou Pandor, que vivia no exílio na época da rebelião. "Era uma política estúpida", mediante a qual o governo do apartheid esperava "impor a sua ideologia", acrescentou. Na manhã de 16 de junho de 1976, milhares de estudantes invadiram as ruas de Soweto, em protesto.

A manifestação começou em calma, mas a dada altura a polícia abriu fogo. O primeiro a cair foi Hector Pieterson, de 13 anos. A foto de seu corpo, carregado por um amigo com o rosto coberto de lágrimas, deu a volta ao mundo.

Os estudantes responderam atirando pedras. A polícia e as autoridades responderam então com um verdadeiro massacre de que resultou a morte de mais 500 jovens estudantes negros.


Aquele dia deu origem a uma onda de indignação no exterior e marcou na África do Sul o ponto de partida de uma rebelião que se espalhou por todo o país e em poucas semanas deixou centenas de mortos.

"Os acontecimentos deste dia tiveram repercussões em todos os municípios da África do Sul. Os funerais das vítimas das violências do Estado se tornaram locais de motins nacionais. Subitamente, os jovens sul-africanos assumiram um espírito de protesto e rebelião", escreveu nas suas memórias o ex-presidente sul-africano e Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela.

Embora esta decisão de impor o afrikaans tenha sido um detonador, esta revolta traduziu também um agudo sentimento de frustração e uma profunda cólera. Foi a conseqüência de uma segregação racial sistemática, acentuada por um contexto econômico difícil depois da euforia dos anos 60, cujas conseqüências foram pagas em primeiro lugar pelos negros.

O massacre de Soweto, perpetrado pelo regime racista da África Sul nos subúrbios de Joanesburgo – na cidade-dormitório de Soweto, verdadeira reserva de força de trabalho negro para as minas de ouro foi a resposta do regime racista para a revolta contra as condições infra-humanas em que vivia a sua população, contra a falta de direitos, contra o racismo. Na África do Sul de então a vida de um negro nada significava para o poder político.

O Soweto ficou como símbolo da resistência ao appartheid e tornou-se um estigma que levou ao isolamento dos racistas, à sua condenação, e ao princípio do fim de um regime execrável.