Autora: Paula Fuertes (1º Bach. F)
Fonte: www.mujerpalabra.net
Aqueles dias eram os piores do ano – diziam os reis magos. Havia muito trabalho e as primeiras cartas começaram a chegar logo pelo dia 20.
Bonecas, carrinhos, jogos…
O tipo de brinquedos pedidos era sempre o mesmo só com a diferença que cada ano os seus custos aumentavam de forma incrível.
Baltasar mexia num monte de cartas. Ainda bem que a natalidade está a diminuir – dizia ele para si – sim, porque as crianças de hoje em dia são cada vez mais caprichosas…
De repente encontrou uma carta sem remetente. Pegou nela. Estava escrita em papel reciclado, e com letras cuidadosamente escritas
Abriu-a cuidadosamente, para não a estragar.
Dizia assim:
Queridos Reis Magos:
Este ano não foi um ano bom para mim. Esta Primavera, uns senhores de uniforme ocuparam o nosso país. Guiavam uns carros muito estranhos. No início, estavam só para ali, e nós perguntávamos porquê. Sempre pensei que o meu pai sabia responder, mas ele nunca disse nada. Em certas noites ouvia a minha mãe a chorar silenciosamente no quarto.
Certo dia começaram a ouvir-se sirenes e bolas de fogo começaram a cair do céu sem parar. Eu tive medo e sai da escola a correr para casa.
Quando cheguei a minha mãe chorava, mas desta vez o seu choro não ficava só no seu quarto, pois espalhava-se por toda acasa. O meu pai tinha morrido. Foi atingido por uma daquelas bolas de fogo que arrasavam tudo à volta.
Desde aquele momento nasceu dentro de mim um sentimento que me devora todos os dias, e palavras como VINGANÇA ou JUSTIÇA soam permanentemente nos meus ouvidos doridos. E ecoam com mais força que o barulho das sirenes, e é mais forte que as explosões.
Não queria sentir isso, porque só gostava de viver em paz e meu desejo é que tudo voltasse a ser como antes. Queria ver o meu pai quando voltasse da escola; queria jogar futebol com ele, e que me ajudasse quando eu começasse a namorar…
Mas nada será assim porque o meu pai nunca mais regressará por ter sido morto pela ambição dos ricos.
É assim, queridos reis Magos, que só lhes peço que toda a dor, todo o horror, medo e impotência que senti, ou que ainda sinto, seja também experimentada por aqueles que qualificaram esta guerra como justa e necessária.
Com carinho e – quem sabe – até ao próximo ano.
Amed.
Baltasar, depois de ler a carta , lançou-a para o fogo da lareira, ao mesmo tempo que olhava para Gaspar que o interrogava:
- O que foi? Mais um a pedir coisas impossíveis?
Ao que Baltasar replicou:
- Pois claro! As crianças, hoje em, dia têm cá cada capricho!