Puta de fábrica (Putain d'usine), livro de Jean Pierre Levaray
«Todos os dias iguais. Chego ao emprego e algo se precipita sobre mim, uma espécie de vaga de desespero, como um suicídio, como uma pequena morta, a sensação de ardência de uma bala na testa. Um trabalho já bem conhecido, uma sala de controle inundada de luzes – e colegas que, em certos dias, não têm vontade de se encontrarem. Trabalhamos juntos, mas nunca nos habituamos. Acaba-se até por desejar que a fábrica feche. Que seja deslocalizada, ou reestruturada, que aumente a sua produtividade e que baixe os seus custos fixos.
Parar, para quê ? Para não termos mais trabalho, e para que sejamos livres. Livres mas, claro está, com outro tipo de actividades.
Ninguém fala deste mal estar que atinge os operários com mais de 40 anos e que já há muito tempo não estão motivados para um trabalho que os faz sofrer. Mas que é preciso defender porque há a crise, o desemprego. E sempre é uma garantia para continuar a consumir, na falta de condições para viver dignamente.A equipa da tarde está em vias de ser substituída, feliz, por deixar o local. Será, depois, a nossa vez de aí estar durante 8 horas. Sentamo-nos no refeitório à volta das chávenas de café. As colheres giram moles, o estado de espírito de todos é o mesmo, tal como já a fadiga que nos invade frente a esta noite que vai ser longa.»Extracto do livro Puta de fábrica («putain d’usine») de Jean Pierre Levaray, operário numa fábrica de produtos químicos em Rouen e que não esconde o seu esforço para se evadir do mundo que descreve e no qual vive através da escrita.
O livro é uma reedição dos seus escritos de 2002 , revista e aumentada com a crónica «Après la catastrophe», ambos editados pela L’Insomniaque, e ainda o epílogo industrial «Plan Social». A actual edição é das edições Agone.
«Todos os dias iguais. Chego ao emprego e algo se precipita sobre mim, uma espécie de vaga de desespero, como um suicídio, como uma pequena morta, a sensação de ardência de uma bala na testa. Um trabalho já bem conhecido, uma sala de controle inundada de luzes – e colegas que, em certos dias, não têm vontade de se encontrarem. Trabalhamos juntos, mas nunca nos habituamos. Acaba-se até por desejar que a fábrica feche. Que seja deslocalizada, ou reestruturada, que aumente a sua produtividade e que baixe os seus custos fixos.
Parar, para quê ? Para não termos mais trabalho, e para que sejamos livres. Livres mas, claro está, com outro tipo de actividades.
Ninguém fala deste mal estar que atinge os operários com mais de 40 anos e que já há muito tempo não estão motivados para um trabalho que os faz sofrer. Mas que é preciso defender porque há a crise, o desemprego. E sempre é uma garantia para continuar a consumir, na falta de condições para viver dignamente.A equipa da tarde está em vias de ser substituída, feliz, por deixar o local. Será, depois, a nossa vez de aí estar durante 8 horas. Sentamo-nos no refeitório à volta das chávenas de café. As colheres giram moles, o estado de espírito de todos é o mesmo, tal como já a fadiga que nos invade frente a esta noite que vai ser longa.»Extracto do livro Puta de fábrica («putain d’usine») de Jean Pierre Levaray, operário numa fábrica de produtos químicos em Rouen e que não esconde o seu esforço para se evadir do mundo que descreve e no qual vive através da escrita.
O livro é uma reedição dos seus escritos de 2002 , revista e aumentada com a crónica «Après la catastrophe», ambos editados pela L’Insomniaque, e ainda o epílogo industrial «Plan Social». A actual edição é das edições Agone.