6.9.05

A poesia como resistência

O filósofo francês Jean-Luc Nancy lançou há já alguns meses atrás um pequeno livro intitulado «Resistência da poesia», no qual se pode ler a dado passo:

«É preciso contar com a poesia. É preciso contar com ela em tudo o que fazemos e pensamos fazer, nos discursos, no pensamento, na prosa e na arte em geral. O que quer que haja atrás desta palavra, e mesmo supondo que não haja nada que não seja datado, terminado, deslocado, eliminado, mesmo assim resta a palavra. Uma palavra com a qual há que contar porque assim ela exige. Podemos suprimir o «poético», o «poema» e o «poeta» sem grandes prejuízos ( talvez). Mas com a poesia com toda a indeterminação do seu sentido, e não obstante toda essa indeterminação, não há nada a fazer. Ela lá está, e sempre estará mesmo que a rejeitemos, que desconfiemos dela e que a detestemos (p23/3)

No original:


"il faut compter avec la poésie. Il faut compter avec elle en tout ce que nous faisons et pensons devoir faire, en discours, en pensée, en prose et en 'art' en général. Quoi qu'il y ait sous ce mot, et à supposer même qu'il n'y ait là plus rien qui ne soit daté, fini, délogé, arasé, il reste ce mot. Il reste un mot avec lequel il faut compter parce qu'il demande son dû. Nous pouvons supprimer le 'poétique', le 'poème' et le 'poète' sans beaucoup de dommages (peut-être). Mais avec 'la poésie', dans tout l'indéterminé de son sens et malgré toute cette indétermination, il n'y a rien à faire. Elle est là, et elle est là alors même que nous la récusons, la suspectons, la détestons. " (p.23/23)