12.2.05

A destruição da cultura pela guerra e pelos exércitos(o caso do Iraque )

Um milhão de livros, 10 milhões de documentos e 14.000 peças artísticas perderam-se no Iraque como consequência directa da invasão, ocupação do país pelos Estados Unidos, Grã-Bretanha e exércitos de outros Estados.
Trata-se do maior cataclismo cultural desde que os descendentes de Gengis Khan vandalizaram Bagdad em 1258, nas palavras do investigador venezuelano Fernando Báez.

Ainda hoje há soldados norte-americanos ou polacos que roubam tesouros e os vendem nas fronteiras com a Jordânia ou o Kuwait, onde mercadores de arte sem escrúpulos pagam 57.000 dólares por uma tabuleta suméria, e as relíquias da antiga Mesopotâmia.

O inventário da destruição e a denúncia apresentada contra as tropas norte-americanas de ocupação mostram que estas violaram a Convenção de Haia de 1954 sobre a protecção do património cultural, tendo já custado a Fernando Báez a acusação de difamar os Estado Unidos e a recusa de ingressar neste país. Querem agora impedi-lo de entrar no Iraque para mais investigações. O acusado responde que já é tarde uma vez que possui suficientes provas (filmes, documentos e fotos) que hão-de comprovar com o tempo as atrocidades cometidas.

O autor de livros como «La destruccion cultural de Iraq» e «História Universal da la destrucción de los libros» acusa directamente os Estados Unidos de violarem a Convenção de Haia que obriga os beligerantes a proteger os bens culturais em caso de conflito armado. Tal violação acarreta sanções penais, e certamente por isso é que a Administração de Washington nunca mostrou interesse em assinar aquela Convenção, nem o Protocolo de 1999 que a actualizou. O problema é que não só são os Estados Unidos que a violaram, mas também os outros países que os acompanharam na guerra e ocupação do Iraque, alguns deles subscritores daquela Convenção.

Se é certo que, numa primeira fase, o saque se deveu a civis iraquianos, a verdade é que não só por omissão e negligência como por actos cometidos pelos seus soldados, os Estados Unidos são responsáveis pelos danos incalculáveis sofridos. E tudo isto apesar dos alertas lançados pela Unesco, pela Onu e pelo Instituto Oriental de Chicago ( e do seu principal assessor cultural, Martin Sullivan) para que se protegessem as bibliotecas, os museus e os locais de valor arqueológico.

Em Nassíria, em Maio de 2004, um ano após o fim ooficial das hostilidades, o exéricito norte-americano ao combater a milícia de Muqtada al-Sadr destruiu 40.000 manuscritos sagrados. E em Ur ( no sul do Iraque) os próprios soldados americanos, logo que souberam que Abraham teria nascido no local, resolveram retirar os ladrilhos antiquíssimos que serviam de decoração.

Alguns carabineiros italianos foram apanhados em Maio de 2004 quando tentavam exportar objectos e relíquias culturais roubadas pela fronteira do Kuwait. E também o Museu Britânico demonstrou que os soldados polacos destruira, as ruínas da antiga Babilónia, ao sul de Bagdad.
Mais recentemente descobriu-se que tropas polacas não hesitaram em entrar no Palácio de Nabucodonosor ( século VI antes de Cristo) com camiões pesados, e depois trataram de tapar os danos com areia de uma forma que tornará irrecuperável o piso original. Ainda por cima cavaram trincheiras na porta de Ishtar. Já para não falar dos inúmeros graffitis feitos pelos soldados nas paredes das ruínas e do Palácio proclamando «eu estive aqui» ou «amo Mary»!

Curiosamente um dos efeitos inesperados desta destruição cultural operada pelos exércitos capitaneados pelos Estados Unidos foi o regresso do representante americano à Unesco, que o ex-presidente Reagan decidira abandonar!!! Este regresso deve-se certamente à tentativa americana para ocultar ou atenuar as suas responsabilidades nas destruições já verificadas nos domínios artísticos, históricos e cultural.

Militares norte-americanos têm ajudado, entretanto, a polícia iraquiana a recuperar algumas peças roubadas como a Senhora de Warca, que é considerada a Mona Lisa da Mesopotâmia, um vaso onde se representa, pela 1ª vez na história da arte, o rosto humano com cerca de 5.000 anos de existência. De qualquer forma os prejuízos são incalculáveis. Só para se ter uma pálida ideia do acontecido basta referir que na Biblioteca de Bagdad foram queimados um milhão de livros, entre os quais edições antigas das Mil e Uma Noites, tratados matemáticos de Omar Khayan e obras de filosofia de Avicena e Averróis.

Dá mesmo vontade de dizer:
Os norte-americanos, inventores do livro electrónico, invadiram e ocuparam a antiga Mesopotâmia ( o Iraque actual), onde nasceu o livro, a história e a civilização, para arrasá-la.