31.10.09

Feira de Trocas no espaço multiusos da Junta de Freguesia de S.Nicolau (à ribeira do Porto) - no Domingo, dia 1 de Novembro, entre as 15h e as 18h.



Feira de Trocas de Novembro!

Dia 1 de Novembro, DOMINGO, das 15h às 18h.

Local: Espaço Multiusos da Junta de Freguesia de S. Nicolau (Rua Nova da Alfândega nº 25), à ribeira do Porto

Nesta feira: banca de livros e cd’s, banca de sabonetes artesanais, banca de brinquedos, banca de ensinar a fazer tricô, entre outras!
Aparece e Participa

Zé da Messa - a gente não se esqueceu de ti

A Associação Política Socialista Revolucionária (APSR) realizou esta sexta-feira, em Lisboa, um concerto de homenagem ao antigo dirigente do PSR José Carvalho, assassinado há duas décadas, à porta da sede do partido, por um grupo de extrema-direita.
José da Conceição Carvalho era conhecido no partido como “Zé da Messa”, por ter sido operário e membro da Comissão de Trabalhadores da Messa, uma empresa de máquinas de escrever do Concelho de Sintra, que encerrou em 1985.


Zé da Messa- a gente não se esqueceu de ti


Conheci o Zé da Messa nos anos oitenta. Eu era então um jovem estudante farto do bafio em que se tinha tornado a militância maiosta na UJCR (União das Juventudes Comunistas Revolucionárias). Talvez tenha sido muito por causa do Zé que fui ficando ali pela Rua da Palma e devagarinho fui entrando na militância do PSR.
O Zé não tinha preconceitos nem ideias feitas sobre as pessoas. Aceitava cada um conforme era e descobria em cada um, o melhor que cada um tinha. O Zé não dividia, conciliava. O Zé não catequizava como os políticos ou os intelectuais que depois foram começando a aparecer por lá. Preferia o convívio compincha e era capaz de ouvir até os mais tristes desabafos. O Zé era um operário.
Foi com o Zé que aprendi a colar cartazes. Tenho muito orgulho em dizê-lo. Recordo com saudade as palavras que me disse quando notou a minha inexperiência em colagem «Olha faz-se assim estás a ver?» enquanto passava a brocha e depois esticava o cartaz. Pouco depois olhando uma parede de mármore bem lisinho disse «Vá experimenta aqui». E colei o primeiro cartaz da minha vida. Foi ali no Martim Moniz.
Colei depois muitos e muitos cartazes com o Zé. As acções de colagem eram momentos onde o inesperado rompia a cada passo. Havia os insultos, os ataques e os arranques sistemáticos dos cartazes por aqueles que odiavam tudo quanto era esquerdista. Convêm não esquecer que, no início dos anos oitenta, o PREC tinha deixado muitas feridas abertas na sociedade. Naquele tempo as colagens eram feitas por militância. O pagamento que recebíamos no fim da noite era a alegria do dever cumprido e o convívio em torno de umas imperiais naqueles lugares que fechavam tarde e que hoje já não subsistem, devorados que foram por discotecas e roulottes de cachorros.
Foi numa dessas primeiras noites de colagens, ali para os lados da Amadora que percebi bem o lado humano do Zé. Colávamos mais à frente e de repente apercebemo-nos de um sururu à porta de um café. Um camarada exaltado discutia com um homem. Tinha sido arrancado um cartaz. Fomos até lá e reparámos logo num miúdito, atrás de uma coluna meio assustado, que presenciava a cena. O Zé percebeu rapidamente o que se tinha passado. A criança por brincadeira arrancara o cartaz. O camarada notou e pediu explicações ao pai que não gostou e respondeu torto. O Zé só disse uma frase: «Deixa lá. Não vês que foi o puto?». E passou a mão pela cabeça da criança. O Zé era assim e por isso eu gostava tanto dele.
«Olha Zé a gente não se esqueceu de ti. Ouviste?». Eu sei que já estás a sorrir como sorrias sempre quando me vias aparecer para as colagens e a pensar lá com os teus botões «Olha onde o rapaz chegou. É doutor e agora até escreve sobre mim».

35º aniversário da Base-Fut vai ser festejado em Coimbra nos próximos dias 7 e 8 de Nov.



No fim de semana de 7/8 de Novembro a Base-FUT vai festejar em Coimbra o seu 35ºAniversário!Foi em Novembro de 1974 que mais de uma centena de militantes de várias origens ,mas predominando os militantes católicos, criaram a Base-Frente Unitária de Trabalhadores nas instalações do Inatel da Costa de Caparica.O sector operário do catolicismo progressista, na sua maioria quadros sindicais, geravam uma corrente organizada e autónoma no nascente movimento sindical livre português.

Com o tempo a Base-FUT transformou-se numa associação/movimento sem a força sindical incicial mas com outras experiencias sociais, nomeadamente no terreno associativo, formativo e cultural.Conseguiu resistir, adaptando-se, à crise das décadas de 80/90 e procura agora até ao seu Congresso de 2011 uma redefinição e actualização do seu projecto político não abandonando a sua inicial inspiração de transformar a sociedade a partir da base, com os que têm pouco ou nenhum poder, trabalhando pela emancipação e autonomia das pessoas e pela vida no nosso Planeta.

Do Programa do Aniversário consta uma Sessão no dia 07 de Novembro sobre um filme-«HOME-A terra é o nosso mundo» e debate sobre o mesmo e uma noite cultural com jantar e música.

No Domingo haverá o almoço de aniversário, com parabéns e intervenções.


Inscreve-te.Participa

Amor e transgressão é o tema do curso orientado por Mário Cláudio no Museu Soares dos Reis a partir de 2 de Novembro


Mário Cláudio orienta o curso “Amor e Transgressão” no Museu Nacional Soares dos Reis, a partir do próximo dia 2 de Novembro. O Clube de Leitura “Amor e transgressão” realizar-se-á quinzenalmente, sempre às segundas-feiras, das 19 às 21 horas, e a participação, limitada a 30 pessoas, está sujeita ao pagamento de 70 euros.
As inscrições para o curso “Amor e transgressão” podem ser feitas através do telefone 226061920.

30.10.09

As abstrações económicas ou o processo de substituição da riqueza pelas suas próprias representações (dinheiro), e a sua crescente imaterialização


O crepúsculo do dinheiro
por John Michael Greer
tradução portuguesa em http://resistir.info/

Comentei antes nestes ensaios que um dos hábitos menos construtivos do pensamento contemporâneo é a sua insistência no carácter único da experiência moderna. É verdade, naturalmente, que os combustíveis fósseis permitiram às sociedades industriais do mundo prosseguirem as suas farras numa escala mais grandiosa do que as de qualquer império do passado, mas as próprias farras têm estreitos paralelos com aquelas das sociedades anteriores e detectar as trajectórias destes exemplos passados é um dos poucos recursos de orientação utilizáveis se quisermos saber para onde nos levam as versões actuais.

A metástase do dinheiro em todos os aspectos da vida no mundo industrial moderno é um bom exemplo. Se bem que nenhuma sociedade do passado, tanto quanto sabemos, tenha levado este processo tão longe, a substituição de riqueza pelas suas próprias representações abstractas não é uma coisa nova. Como já no século XVIII destacou Giambattista Vico , as sociedades complexas movem-se do concreto para o abstracto ao longo dos seus ciclos de vida e isto influencia a vida económica mais do que qualquer outra coisa. Assim como o poder político principia com violência bruta e evolui progressivamente rumo a meios mais subtis de persuasão, a actividade económica principia com a troca directa de riqueza real e evolui através de um processo semelhante de abstracção: primeiro, uma mercadoria apreciada torna-se a medida padrão para todas as outras espécies de riqueza; a seguir, recibos que podem ser trocados por alguma quantia fixa daquela mercadorias tornam-se uma unidade de troca; finalmente, promessas de pagar alguma quantia destes recibos quando solicitados, ou num ponto fixado no futuro, entram em circulação e estas podem em grande medida acabar por substituir os próprios recibos.

Este movimento rumo à abstracção tem vantagens importantes para sociedades complexas, pois abstracções podem ser posicionadas com um investimento de recursos muito menor do que com a mobilização das realidades concretas que lhes estão subjacentes. Poderíamos ter resolvido o debate do ano passado acerca de quem deveria governar os Estados Unidos através do método ultrapassado, fazendo com que McCain e Obama chamassem às armas e os seus apoiantes, marchassem para a guerra e resolvessem a questão em meio a uma saraivada de balas e tiros de canhão numa belo dia de Setembro numa pradaria do Iowa. Contudo, o custo em vidas, dinheiro e danos colaterais teria sido excessivo em relação a eleições. Da mesma forma, as complexidades envolvidas em pagar trabalhadores de escritório em espécie, ou mesmo em cash, fazem uma economia de abstracções muito menos incómoda para todos os afectados.

A ARMADILHA

Ao mesmo tempo, há uma armadilha oculta no conforto das abstracções: quanto mais distante você fica das realidades concretas, maior se torna a probabilidade de que as realidades concretas possam não estar ali quando necessárias. A história está pejada de cadáveres de regimes que deixaram o seu poder tornar-se tão abstracto que já não podiam conter um desafio no nível fundamental da violência bruta; diz-se da história chinesa, e poderia ser dito de qualquer outra civilização, que o seu ritmo básico é a andadura de botas cardadas a subirem degraus, seguida pelos sussurros de chinelos de seda a descerem. Da mesma forma, as abstracções económicas mantêm-se a funcionar só na medida em que existem bens e serviços reais para serem comprados e vendidos e é apenas nas fantasias de economistas que as abstracções garantem a presença dos bens e serviços. Vico argumentou que esta armadilha é uma força condutora central por trás do declínio e queda de civilizações; o movimento rumo à abstracção vai tão longe que as realidades concretas são ignoradas. No fim as realidades escorrem para longe sem serem percebidas, até que um choque de alguma espécie sacode a torre das abstracções construídas em cima de realidades ocas e toda a estrutura desmorona-se.

Estamos desconfortavelmente próximos de tal possibilidade exactamente agora, especialmente nos nossos assuntos económicos. Ao longo do último século, com a assistência da hipercomplexidade económica tornada possível pelos combustíveis fósseis, os países industriais do mundo levaram o processo de abstracção económica mais longe do que qualquer civilização anterior. No topo dos níveis habituais de abstracção – uma mercadoria utilizada para medir valor (ouro), recibos que podiam ser trocados por aquela mercadoria (papel moeda) e promessas de pagar os recibos (cheques e outros papeis financeiros) – as sociedades contemporâneas construíram uma pirâmide extraordinária de abstracções adicionais. Ao contrário das pirâmides do Egipto, além disso, estas assentam no terreno sobre uma base estreita, no seu cerne de bens e serviços reais, e expande-se à medida que sobe.

A consequência de toda esta construção de pirâmides é que não há bastantes bens e serviços sobre a Terra para igualar, aos preços actuais, mais do que uma pequena percentagem do valor facial das acções, títulos, derivativos e outros exotismos financeiros agora em circulação. A vasta maioria da actividade económica no mundo de hoje consiste puramente de permutas entre estas representações de representações de representações de riqueza. Esta é a razão porque a economia real de bens e serviços pode cair numa queda livre como aquela agora em curso, sem ter até então mais do que um modesto impacto sobre uma economia cada vez mais alucinatória de abstracções financeiras.

Mas um impacto haverá, se a queda livre prosseguir suficientemente longe. Este é o ponto de Vico e é uma possibilidade que tem sido considerada de modo demasiado ligeiro tanto pelas classes políticas das sociedades industriais de hoje como pelos seus críticos em ambos os extremos do espectro político. Uma economia de riqueza alucinada depende absolutamente da concordância de todos os participantes em aceitar que as alucinações têm valor real. Quando esta concordância afrouxa, a pretensão pode evaporar-se em tempo recorde. É assim que bolhas financeiras transformam-se em pânicos financeiros: a fantasia colectiva de valor que cercava bolbos de tulipas, ou acções, ou lotes de habitação suburbana, ou qualquer outro veículo especulativo, dissolve-se numa louca corrida para a saída. Esta corrida tem sido pacífica até à data; mas pode não ser sempre assim.

Argumentei em posts anteriores que a era industrial é num certo sentido a bolha especulativa final, uma festa de três séculos de duração conduzida pela fantasia do crescimento económico infinito sobre um planeta finito com ainda mais finitos abastecimentos de energia barata abundante. Mas, chego a pensar que esta mega-bolha gerou uma segunda bolha aproximadamente da mesma escala. O veiculo para esta bolha secundária é o dinheiro – o que significa aqui os conteúdos totais da riqueza que domina a nossa vida económica e quase sufocou a economia real de bens e serviços, para nada dizer da economia primária de sistemas naturais que nos mantém vivos a todos.

CARACTERÍSTICAS DAS BOLHAS

Bolhas especulativas são definidas de vários modos, mas exemplos clássicos – a farra das acções de 1929, digamos, ou a última bolha habitacional – têm certos padrões característicos em comum. Primeiro, o valor de qualquer ítem que esteja no centro da bolha mostra uma ascensão de preço sustentada não justificada por mudanças na economia em geral, ou em qualquer valor concreto que o ítem possa ter. Uma bolha especulativa em dinheiro funciona de um modo um pouco diferente das outras bolhas, porque o veículo especulativo é também a medida do valor; ao invés de um dólar aumentar de valor até que valha dois, um dólar torna-se dois. Quando acções ou lotes habitacionais vão aumentando rapidamente de preço à medida que uma bolha neles se concentra, então, o que ascende numa bolha monetária é o montante total de riqueza de papel em circulação. Foi isto certamente o que aconteceu nas últimas décadas.

Uma segunda característica das bolhas especulativas é que elas absorvem a maior parte do valor fictício que criam, ao invés de espalharem-no outra vez pelo resto da economia. Numa bolha de acções, por exemplo, a maioria do dinheiro que vem de vendas de acções vai directamente outra vez para dentro do mercado; sem este loop de retroalimentação, uma bolha não pode suster-se por muito tempo. Numa bolha monetária, esta mesma regra mantém-se válida; a maior parte dos rendimentos de papel gerados pela bolha acabam por ser reinvestidos em alguma outra forma de riqueza de papel. Aqui, mais uma vez, isto certamente aconteceu; a única razão porque não vimos inflação de milhares por cento em resultado da vasta fabricação de riqueza de papel nas últimas décadas é que a maior parte dele foi utilizada unicamente para comprar ainda mais riqueza de papel recém-fabricada.

Uma terceira característica das bolhas especulativas é que o número de pessoas nelas envolvida aumenta firmemente quando a bolha avança. Em 1929, o mercado de acções foi inundado por investidores amadores que nunca antes haviam comprado uma acção de qualquer coisa; em 2006, centenas de milhares, talvez milhões, de pessoas que anteriormente pensavam de casas apenas como algo para viver chegaram a pensar delas como um bilhete para a riqueza da noite para o dia, e afundaram o seu valor líquido no imobiliário em consequência. A metástase da economia do dinheiro discutida em posts anteriores é outro exemplo do mesmo processo a funcionar.

Finalmente, é claro, as bolhas sempre explodem. Quando isso acontece, o veículo especulativo do dia vem abaixo com estardalhaço, perdendo a maior parte do seu valor assumido, e a massa de investidores amadores, tendo perdido qualquer coisa que tenham ganho e habitualmente um bocado mais, foge do mercado. Isto ainda não aconteceu à actual bolha monetária. Pode ser uma boa ideia começar a pensar acerca do que pode suceder se assim for.

Os efeitos de um pânico monetário estariam centrados desconfortavelmente próximos de casa, suspeito, porque o grosso da hiper-expansão monetária nas últimas décadas centrou-se numa única divisa, o dólar dos EUA. Aquela bomba podia ter sido desarmada se o colapso do ano passado da bolha habitacional tivesse sido permitido seguir o seu curso, porque isto teria eliminado um não pequeno montante de abstracções denominadas em dólar geradas pelos excessos dos últimos anos. Infelizmente, o governo estado-unidense optou ao contrário por tentar re-inflar a bolha da economia gastando dinheiro que ele não tem através de uma orgia de concessões de empréstimos e alguns muito dúbios truques fiscais. Muitos governos estrangeiros estão consequentemente a ficar relutantes em emprestar mais dinheiro aos EUA e pelo menos uma potência em ascensão – a China – tem estado silenciosamente a substituir as suas reservas de dólares por commodities e outras formas de riqueza muito menos abstractas.

Até agora, tem sido do melhor interesse de outros países industriais apoiar os Estados Unidos com um fluxo firme de crédito, de modo a que possa entrar em bancarrota ao cumprir o seu auto-imposto papel de polícia global. Tem sido um arranjo muito confortável, uma vez que outros países não têm de arcar com mais do que uma pequena fracção dos custos de tratar com estados perigosos (rogue), mantendo o Médio Oriente dividido contra si próprio, ou mantendo a hegemonia económica sobre um Terceiro Mundo cada vez mais inquieto, enquanto recebem os benefícios de todas estas políticas. O fim da era do combustível fóssil barato, contudo, lançou uma carta devastadora no jogo. Quando a produção mundial de petróleo vacila, deve ter ocorrido aos líderes dos outros países que se os Estados Unidos deixassem de consumir cerca de um quarto da oferta mundial de combustíveis fósseis haveria um bocado mais para partilhar por todos. A possibilidade de que outros países possam decidir que este ganho potencial pesa mais do que as vantagens de manter os Estados Unidos solventes pode tornar interessante a próxima década, ou pouco mais ou menos, no sentido da famosa maldição chinesa.

No longo prazo, por outro lado, é seguro assumir que a vasta maioria dos activos de papel agora em circulação, qualquer que seja a divisa na qual estão denominados, perderá essencialmente todo o seu valor. Isto pode acontecer rapidamente, ou pode desdobrar-se ao longo de décadas, mas a oferta mundial de representações abstractas de riqueza é tão mais vasta do que a sua oferta de riqueza concreta que alguma coisa tem de acontecer mais cedo ou mais tarde. O crescimento económico futuro não fará diferença; o fim da era do combustível fóssil barato torna o crescimento da economia real de bens e serviços uma coisa do passado, excepto em situações raras e auto-limitantes. Quando os limites do crescimento endurecem e se tornam primeiro barreiras ao crescimento e a seguir condutores da contracção, o encolhimento na economia real torna-se a regra, intensificando o descompasso entre dinheiro e riqueza e aumentando a pressão para depreciar o valor real de activos em papel.

Mais uma vez, seja como for, tudo isto aconteceu antes. Exactamente quando a crescente abstracção económica é uma característica comum da história de sociedades complexas, o descarrilamento daquela abstracção é uma característica comum do seu declínio e queda. Os expedientes desesperados agora a serem perseguidos para expandir a oferta monetária americana numa economia em rápida contracção tem equivalentes exactos, digamos, nas medidas igualmente desesperadas tomadas pelo Império Romano nos seus últimos anos para expandir a sua própria oferta monetária através da degradação da cunhagem. A economia romana atingira níveis muito altos de complexidade e o alcance internacional; os seus prestamistas – poderíamos chamá-los hoje de financeiros – era uma grande força económica, o crédito desempenhava um papel apreciável na vida económica de todos os dias. No declínio e queda do império, tudo isto acabou. Os agricultores que pastoreavam o seu rebanho nas ruínas do fórum de Roma durante a Baixa Idade Média viviam numa economia de permuta e de corte feudal, na qual moedas eram elementos raros e mais frequentemente utilizadas como jóias do que como um meio de troca.

Uma trajectória semelhante quase certamente aguarda-nos no futuro do nosso próprio sistema económico, embora não seja claro que utilização os pastores darão aos vastos maços de Títulos do Tesouro quando levarem as suas manadas a um centro comercial nas futuras ruínas da Washington DC. Como se desenrolará a trajectória é algo que ninguém adivinhou, mas a possibilidade de que possamos muito em breve ver declínios agudos no valor do dólar, e dos activos de papel denominados em dólar, provavelmente não deveria ser ignorada. Converter representações abstractas de riqueza por coisas de valor mais duradouro pode estar no alto da lista de preparações básicas para o futuro.
14/Outubro/2009

Outros trabalhos do autor em resistir.info:
• Pico petrolífero: Fausto e a armadilha do macaco , 27/Mar/07
• As tecnologias de retaguarda , 06/Ago/08
• A economia termodinâmica , 07/Jul/09
• O desrespeito pela entropia , 01/Set/09

O original encontra-se em
http://thearchdruidreport.blogspot.com/ .
Tradução de JF.

Este artigo foi retirado de
http://resistir.info/ .

Pela Justiça climática


Justiça climática: um imperativo civilizacional

texto de Ricardo Coelho retirado do
Ecoblogue

A luta pela justiça ambiental baseia-se na noção de que os problemas sociais e os problemas ambientais estão interligados, reforçando-se mutuamente. Esta luta une indígenas de todo o mundo, comunidades de negros e hispânicos nos EUA, movimentos de agricultores, de sem-terra, de desempregados e precários, em suma, todos os explorados do mundo, no ataque às fundações da degradação ambiental. Superando o discurso politicamente correcto e vazio de conteúdo presente em muitas campanhas promovidas por ONG's fortemente ligadas à indústria, o movimento pela justiça ambiental encontra no capitalismo global a raiz das desigualdades sociais e da destruição do planeta.


A variante mais famosa deste movimento actualmente é a justiça climática. Movimentos agrupados em torno da rede Acção pela Justiça Climática1 estão a mobilizar-se para denunciar a forma como o Protocolo de Quioto nada fez para resolver o problema do aquecimento global, dado que se baseia em mecanismos de mercado. O mercado de carbono permitiu que os maiores poluidores lucrassem com a especulação bolsista, agravou a exploração neo-colonial dos países mais pobres, legitimou a expansão do uso de combustíveis fósseis e está a abrir a porta para a privatização dos recursos naturais em todo o mundo2. Qualquer acordo pós-Quioto baseado num mercado de emissões irá conduzir-nos para um mundo devastado pelas alterações climáticas e agravar as desigualdades sociais.


O movimento pela justiça climática nasce, antes do mais, da necessidade de contrariar a ideia de que as alterações climáticas afectam toda a humanidade da mesma forma. Na realidade, os mais pobres serão mais prejudicados pelos problemas ambientais, exactamente por serem pobres. À medida que a água escasseia, os mais ricos do planeta terão sempre acesso a água potável mas os mais pobres terão de percorrer distâncias cada vez maiores para recolher água num poço poluído. À medida que a erosão dos solos avança, os mais ricos encontrarão novas terras para cultivar, enquanto os mais pobres morrem à fome. À medida que o mar ganha terreno sobre a costa, os mais ricos erguem paredões e ganham tempo, enquanto os mais pobres são forçados a mudar de casa.


Tudo isto parece ser consensual. Afinal, o Protocolo de Quioto reconhece o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas, impondo metas de redução de emissões apenas aos países industrializados. Os líderes globais, como Barack Obama, Gordon Brown, Angela Merkel e Nicholas Sarkozy, reconhecem a necessidade de alcançar um acordo na cimeira de Copenhaga, em Dezembro, que reduza as emissões de gases com efeito de estufa sem prejudicar os mais pobres do planeta. Mas do discurso à prática vai uma grande distância.


Resolver o problema das alterações climáticas implica descarbonizar a sociedade, afrontando os interesses das empresas de combustíveis fósseis. Implica, nomeadamente, investir em transportes públicos, reduzir a utilização do transporte aéreo e marítimo, fechar centrais eléctricas alimentadas com carvão ou gás natural e acabar com a utilização de fertilizantes químicos na agricultura. Implica afrontar o consumismo e o desperdício que reinam nas sociedades ocidentais. Mas nada disto está em cima da mesa nas negociações internacionais.
O que está em cima da mesa então? Está a privatização das florestas mundiais, através da sua inclusão no mercado de carbono3. Está a promoção de desastres ambientais, como os agro-combustíveis, a energia nuclear ou a captura e armazenamento de carbono. Está a exigência de que países em industrialização, como a China e a Índia, empreendam políticas ambientais que os países industrializados nunca aplicaram.


Neste contexto, a luta pela justiça climática assume uma cada vez maior importância. Apenas com movimentos fortes podemos colocar em cima da mesa de negociações o que realmente interessa discutir: deixar os combustíveis fósseis no subsolo, anular a dívida externa dos países mais pobres, reconhecer o papel das comunidades na gestão sustentável da natureza, respeitar os direitos dos indígenas e dos povos das florestas e colocar os sectores energético e de transporte ao serviço das populações. Daí que o Klima Forum4, onde se juntarão milhares de activistas de todo o mundo para coordenar acções pela justiça climática, seja tão importante.
Muitas ONG's ainda não incorporaram os princípios da justiça climática no seu discurso e nas suas acções, ou fizeram-no de forma pouco satisfatória. A campanha “Tck Tck Tck”4, por exemplo, promovida por ONG's como a Greenpeace ou a WWF, lançou uma música pela justiça climática5, onde participam artistas conhecidos. Mas o site da campanha não só não menciona nenhuma das questões levantadas pelos movimentos pela justiça climática como entra em clara contradição com a causa quando diz que todos serão afectados pelas alterações climáticas6. Embora reconheçam o falhanço de Quioto, estas ONG's não se demarcam da origem desse falhanço – o facto de se basear em mecanismos de mercado. Caem assim num discurso vazio de conteúdo, que em nada se distingue da hipócrita campanha promovida pelo governo britânico7, que se pretende posicionar como líder em questões ambientais enquanto promove a expansão do uso de carvão, das auto-estradas e dos aeroportos.


Ao separar o dilema ambiental dos problemas sociais, muitos ambientalistas acabam por alinhar em campanhas que falham o alvo e podem acabar por legitimar falsas soluções para as alterações climáticas. A focalização no discurso científico promovida pelo movimento 3508 é um bom exemplo de como uma campanha realizada com a melhor das intenções corre o risco de servir os interesses dos grandes poluidores, na medida em que desvia as atenções do que é realmente relevante. Ao não discutir as origens sociais das alterações climáticas ou as consequências das políticas propostas para as combater, este movimento corre o risco de se tornar tão ineficaz quanto o “Pobreza zero”.


Foi por isso que movimentos de justiça climática responderam ao apelo do movimento 350 criando uma campanha contra o mercado de carbono que contou com a participação de várias ONG's de todo o mundo9. Esta é uma entre muitas tentativas de politizar a discussão em torno das alterações climáticas, enquadrando a degradação ambiental na globalização capitalista. Toda a nossa solidariedade política deve ir para este tipo de esforços.

1 –
http://www.climate-justice-action.org/
2 – Mais sobre o mercado de carbono no site da Carbon Trade Watch (
http://www.carbontradewatch.org )
3 – A proposta REDD. Ver

www.ecoblogue.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1655&Itemid=41
4 –
http://tcktcktck.org /
5 –
http://www.youtube.com/watch?v=aBTZOg6l6cA
6 – Ver “What is climate justice?” em
http://www.timeforclimatejustice.org/home/whatisclimatejustice
7 – Petição em
http://www.actoncopenhagen.decc.gov.uk/en/
8 – Este movimento foi criado em torno do estudo de cientistas da NASA que conclui que a concentração máxima de CO2 suportável pela atmosfera é de 350 partes por milhão (actualmente já ultrapassamos as 385 partes por milhão). Mais detalhes em
http://www.350.org
9 – Em
http://www.350reasons.org/

29.10.09

Como puderam os economistas errar tanto? (texto de Paul Krugman, Prémio Nobel de Economia, sobre a cegueira dos economistas)

O Rei vai Nú , ou seja, os economistas (e a sua economia neoclássica) não entendem a actual realidade económica nem o capitalismo que era suposto serem os especialistas !!!....


A cegueira dos economistas...

"Poucos economistas perceberam a emergência da crise actual, mas essa falha de previsão foi o menor dos problemas. O mais grave foi a cegueira da profissão face à possibilidade de existência de falhas catastróficas numa economia de mercado. O papel da economia perdeu-se porque os economistas, enquanto grupo, se deixaram ofuscar pela beleza e elegância vistosa da matemática. Porque os economistas da verdade caíram de amores pela antiga e idealizada visão de uma economia em que os indivíduos racionais interagem em mercados perfeitos, guiados por equações extravagantes. Infelizmente, esta visão romântica e idílica da economia levou a maioria dos economistas a ignorar que todas as coisas podem correr mal. Cegaram perante as limitações da racionalidade humana, que conduzem frequentemente às bolhas e aos embustes; aos problemas das instituições que funcionam mal; às imperfeições dos mercados - especialmente dos mercados financeiros - que podem fazer com que o sistema de exploração da economia se submeta a curto-circuitos repentinos, imprevisíveis; e aos perigos que surgem quando os reguladores não acreditam na regulação. Perante o problema tão humano das crises e depressões, os economistas precisam abandonar a solução, pura mas errada, de supor que todos são racionais e que os mercados trabalham perfeitamente."
(Paul Krugman, New York Times de 2 de Setembro).

http://krugman.blogs.nytimes.com/





Como puderam os economistas errar tanto? (How Did Economists Get It So Wrong?)
Texto integral
de Paul Krugman publicado no New York Times


1. Confundindo beleza com verdade
É difícil acreditar agora, mas pouco tempo atrás os economistas estavam parabenizando a si mesmos pelo sucesso da própria profissão.
Este – suposto – sucesso era tanto teórico quanto prático, proporcionando à profissão uma era dourada.
Do ponto de vista teórico, eles pensaram ter resolvido suas disputas internas. Assim, num estudo publicado em 2008 intitulado “O estado da macro” (ou seja, a macroeconomia, o estudo de questões econômicas mais amplas, como as recessões por exemplo), Olivier Blanchard do MIT, atual economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, declarou que teríamos chegado a uma “ampla convergência de visões”.
E no mundo real, os economistas acreditavam ter tudo sob controle: o “problema central da prevenção das depressões foi resolvido”, declarou em 2003 Robert Lucas, da Universidade de Chicago, no seu pronunciamento presidencial endereçado à Associação Econômica Americana. Em 2004, Ben Bernanke, ex-professor de Princeton e atual presidente do Federal Reserve(o BC dos EUA), celebrou a era da Grande Moderação no desempenho econômico durante as duas décadas anteriores, a qual ele atribuiu, em parte, a melhores decisões tomadas na política econômica.
No ano passado, tudo desabou.
Na sequência da crise, as fissuras na profissão dos economistas aumentaram, tornando-se fendas jamais vistas antes. Lucas chamou os planos de estímulo do governo Obama de “charlatanice econômica”, e seu colega de Chicago, John Cochrane, diz que tais planos têm como base “contos de fadas” já descartados. Como resposta, Brad DeLong, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, escreveu sobre o “colapso intelectual” da Escola de Chicago, e eu mesmo já escrevi que os comentários feitos pelos economistas de Chicago são o produto de uma Idade das Trevas da macroeconomia, durante a qual foi esquecido um conhecimento adquirido a um custo muito elevado.
O que houve com a profissão dos economistas? E para onde ela vai a partir do ponto atual?


2. De Smith até Keynes, voltando ao princípio
O nascimento da economia enquanto disciplina costuma ser creditado a Adam Smith, que publicou A riqueza das nações em 1776. Nos 160 anos seguintes, um extenso volume de teorias econômicas foi desenvolvido a partir de uma mensagem central: confie no mercado. Esta era a premissa básica da economia “neoclássica” (batizada a partir dos economistas do fim do século 19 que refinaram os conceitos de seus predecessores “clássicos”).
Esta fé foi, no entanto, esmagada pela Grande Depressão. Ao final, a maioria dos economistas se voltou para as propostas de John Maynard Keynes, tanto para explicar o que acontecera quanto para encontrar uma solução para as depressões futuras.
Apesar do que dizem alguns, Keynes não queria que o governo administrasse a economia. Ele descreveu como “moderadamente conservador em suas implicações” o raciocínio publicado em 1936 na sua obra-prima, Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Keynes queria consertar o capitalismo, e não substituí-lo. Mas ele de fato desafiou a ideia de que as economias de livre mercado possam funcionar na ausência de um zelador. E ele defendeu uma intervenção governamental ativa – imprimir mais dinheiro e, caso necessário, gastar muito com obras públicas – para combater o desemprego durante os períodos de declínio.
A história da economia enquanto disciplina ao longo dos últimos 50 anos é, em boa medida, a história do recuo do keynesianismo e do retorno do neoclassicismo. A retomada neoclássica foi inicialmente liderada por Milton Friedman, da Universidade de Chicago, que afirmou já em 1953 que a ciência econômica neoclássica funciona bastante bem enquanto descrição da maneira pela qual a economia de fato funciona, fazendo desta teoria “ao mesmo tempo extremamente frutífera e merecedora de grande confiança”. Mas e quanto às depressões? O contra-ataque de Friedman a Keynes começou com a doutrina conhecida como monetarista. Os monetaristas não discordavam, em princípio, da ideia de que uma economia de mercado necessite de estabilização deliberada. Entretanto, os monetaristas afirmavam que uma forma bastante limitada e circunscrita de intervenção governamental – qual seja, instruir aos bancos centrais que mantenham em crescimento constante o suprimento de dinheiro do país (a soma do dinheiro em circulação e dos depósitos nos bancos) – seria suficiente para evitar as depressões.
Friedman combateu com grande credibilidade a ideia de iniciativas governamentais deliberadas para empurrar o desemprego até um patamar inferior ao seu nível “natural” (atualmente estimado em 4,8% para os Estados Unidos): de acordo com a previsão dele, medidas excessivamente expansionistas levariam a uma combinação entre inflação e alto desemprego – uma previsão confirmada pela estagflação da década de 1970, a qual contribuiu muito com o aumento da credibilidade do movimento antikeynesiano. Entretanto, a posição de Friedman acabou vista como relativamente moderada em comparação com a de seus sucessores.
Enquanto isso, alguns macroeconomistas enxergaram as recessões como algo positivo, parte do ajuste da economia às mudanças. E mesmo aqueles que não se dispunham a ir tão longe argumentavam que qualquer tentativa de combater um declínio econômico acabaria provocando mais males do que benefícios
Muitos macroeconomistas se tornaram novos keynesianos autoproclamados, que continuaram a acreditar num papel ativo desempenhado pelo governo.
Mas mesmo eles aceitavam a noção de que investidores e consumidores são racionais e os mercados em geral costumam acertar.
É claro, alguns economistas desafiaram o pressuposto do comportamento racional, questionaram a crença na confiabilidade dos mercados financeiros e sublinharam o longo histórico de crises financeiras de consequências econômicas devastadoras. Mas eles não foram capazes de avançar muito contra uma complacência difusa e, retrospectivamente, tola.


3. O cassino das finanças
Na década de 1930, os mercados financeiros, por motivos óbvios, não eram muito respeitados. Keynes considerava péssima ideia permitir que tais mercados – nos quais os investidores gastavam seu tempo correndo uns atrás do rabo dos outros – ditassem importantes decisões de negócios: “Quando o desenvolvimento do capital de um país se torna o subproduto das atividades de um cassino, é provável que o serviço resulte mal feito”.
Entretanto, perto de 1970, os debates sobre a irracionalidade dos investidores, sobre as bolhas e sobre a especulação destrutiva tinham virtualmente desaparecido do discurso acadêmico. A disciplina foi dominada pela “hipótese do mercado eficiente”, promulgada por Eugene Fama, da Universidade de Chicago, teoria que afirma a capacidade dos mercados financeiros de estabelecer com precisão o preço dos ativos exatamente no seu valor intrínseco como produto de todas as informações disponíveis publicamente.
E na década de 1980, os economistas financeiros, principalmente Michael Jensen, da Escola de Administração Harvard, argumentavam que devido ao fato de os mercados financeiros sempre acertarem ao definir os preços, o melhor que os caciques corporativos podem fazer, não apenas pelo seu próprio bem como pelo bem de toda a economia, é maximizar o preço de suas ações. Em outras palavras, os economistas financeiros acreditavam que deveríamos entregar o desenvolvimento do capital do país àquilo que Keynes chamara de “cassino”.
O modelo teórico desenvolvido pelos economistas financeiros ao suporem que cada investidor busca um equilíbrio racional entre o risco e a recompensa – o chamado Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (CAPM, em inglês) – é de uma maravilhosa elegância. E para quem aceita suas premissas, o modelo é também muito útil. O CAPM não apenas ajuda a escolher o portfólio – ele ensina a atribuir preços aos derivativos financeiros, títulos sobre títulos, o que é ainda mais importante do ponto de vista da indústria financeira. A elegância e a aparente utilidade da nova teoria levou seus criadores a receberem uma sequência de prêmios Nobel, e muitos professores da faculdade de administração se tornaram cientistas brilhantes de Wall Street, recebendo cheques dignos deste centro financeiro.
Somos obrigados a reconhecer que os teóricos das finanças produziram boa quantidade de provas estatísticas, o que, de início, pareceu ser uma sólida base de apoio para suas hipóteses. Mas tais provas eram curiosamente limitadas. Os economistas financeiros raramente fizeram a pergunta, aparentemente óbvia (e de resposta difícil), de se os preços dos ativos faziam sentido quando eram levados em consideração fundamentos econômicos do mundo real, como a renda. Em vez disso, eles perguntavam apenas se o preço dos ativos fazia sentido em relação ao preço de outros ativos
Mas os teóricos das finanças continuaram acreditando que seus modelos estavam essencialmente corretos, e o mesmo pensaram muitas pessoas que tomavam decisões no mundo real. Entre estas pessoas estava Alan Greenspan, que na época era presidente do Fed e defensor de longa data da desregulamentação financeira, cuja rejeição dos apelos por um maior controle sobre os empréstimos subprime ou por medidas para combater o inchaço da bolha imobiliária se deveu principalmente à crença de que a ciência econômica financeira moderna tinha tudo sob controle.
Em outubro do ano passado, Greenspan admitia estar em estado de “choque e descrença”, porque “todo o edifício intelectual” tinha “desabado”.


4. Ninguém poderia prever…
Em recentes e pesarosos debates econômicos, “ninguém poderia prever…” se tornou uma das principais frases de efeito multiuso. É o que dizemos em relação a desastres que poderiam ser previstos, deveriam ser previstos e de fato foram previstos por alguns economistas, os quais foram ridicularizados pelo seu esforço.
Tomemos como exemplo a aguda alta e queda no preço dos imóveis. Alguns economistas, principalmente Robert Shiller, de fato identificaram a bolha e alertaram para as dolorosas consequências do seu estouro. Ainda assim, em 2004 Alan Greenspan rejeitou comentários sugerindo que uma bolha imobiliária estivesse em formação: a existência de “uma aguda distorção nacional dos preços”, declarou ele, era “muito improvável”. O aumento no preço dos imóveis, segundo disse Bernanke em 2005, “reflete principalmente a solidez dos fundamentos econômicos”.
Como puderam eles deixar de reparar na bolha? É verdade que as taxas de juros estavam abaixo do normal, o que possivelmente explicaria parte do aumento nos preços. Pode ser também que Greenspan e Bernanke quisessem comemorar o sucesso do Fed em tirar a economia da recessão de 2001; admitir que boa parte deste sucesso se deveu à criação de uma monstruosa bolha teria esfriado as festividades.
Mas havia algo mais acontecendo: uma crença generalizada no princípio de que as bolhas simplesmente não se formam. O mais chocante, ao relermos as garantias de Greenspan, é que elas não foram feitas com base em provas – elas tinham como base a suposição, a priori, de que simplesmente não pode haver uma bolha no mercado imobiliário.
E os teóricos das finanças foram ainda mais inflexíveis neste ponto.
Em entrevista concedida em 2007, Eugene Fama, pai da hipótese do mercado eficiente, declarou que “a palavra ?bolha? me deixa louco”, e na sequência explicou por que podemos confiar no mercado imobiliário: “O mercado imobiliário apresenta menor liquidez, mas as pessoas são muito cuidadosas quando compram casas. Trata-se provavelmente do maior investimento que farão, e portanto elas pesquisam atentamente e comparam preços”.
De fato, os compradores de imóveis costumam comparar cuidadosamente o preço de suas potenciais aquisições com os preços de outras casas. Mas isto não nos diz se o preço dos imóveis se justifica.
Em resumo, a crença nos mercados financeiros eficientes cegou muitos economistas, se não todos, para a emergência da maior bolha financeira já vista. E a teoria do mercado eficiente também desempenhou um papel significativo na criação da bolha em primeiro lugar.
Agora que o verdadeiro risco associado aos ativos supostamente seguros foi revelado, os lares norte-americanos testemunharam a evaporação de US$ 13 trilhões no valor de suas propriedades. Mais de 6 milhões de empregos foram perdidos e a taxa de desemprego parece rumar para o nível mais alto registrado desde 1940. Assim, que tipo de orientação a ciência econômica moderna tem a oferecer diante do nosso apuro atual? Será que podemos confiar nesta orientação?


5. A querela do estímulo
Durante uma recessão normal, o Fed responde por meio da compra de notas do Tesouro – títulos de curto prazo da dívida do governo – que estejam em poder dos bancos. Isto provoca uma redução nas taxas de juros sobre a dívida do governo; investidores em busca de uma maior proporção de retorno procuram outros ativos, provocando uma redução nas demais taxas de juros ; e normalmente estas taxas de juros mais baixas provocam, afinal, uma reversão no declínio econômico. O Fed combateu a recessão que teve início em 1990 derrubando de 9% para 3% as taxas de juros para os títulos de curto prazo. Combateu a recessão que teve início em 2001 cortando as taxas de juros de 6,5% para 1%. E tentou lidar com a recessão atual baixando as taxas de 5,25% para zero.
Mas a taxa zero revelou-se alta demais para pôr fim à recessão. E o Fed não pode reduzir as taxas de juros para menos do que zero já que, com mais taxas próximas do zero, os investidores simplesmente açambarcam o dinheiro em vez de emprestá-lo. Assim, perto do fim de 2008, com as taxas de juros basicamente definidas como aquilo que os macroeconomistas chamam de “patamar menor ou igual a zero” enquanto a recessão continuava a se aprofundar, a política monetária convencional tinha perdido todo o seu poder de tração.
E agora? Esta é a segunda vez que os EUA enfrentam juros menores ou iguais a zero, sendo que a primeira vez foi a Grande Depressão. E foi precisamente a observação de que existe um limite inferior para as taxas de juros o que levou Keynes a defender um maior gasto governamental: quando a política monetária é ineficaz e o setor privado não pode ser convencido a gastar mais, o setor público deve assumir seu lugar no apoio à economia. O estímulo fiscal é a resposta keynesiana para o tipo de situação econômica semelhante a uma depressão – como a que vivemos atualmente.
Tal pensamento keynesiano forma a base das medidas econômicas do governo Obama. Cochrane, da Escola de Chicago, indignado diante da ideia de que os gastos governamentais pudessem aliviar a mais recente recessão, declarou: “Isto não faz parte daquilo que se ensina aos estudantes de economia desde 1960. Elas (ideias keynesianas) são contos de fadas que já foram desacreditadas pelas provas. Em tempos de crise, é muito confortável voltar aos contos de fadas que ouvíamos quando crianças, mas isto não faz deles menos falsos”.
Mas como destacou Brad DeLong, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, a posição atual da escola pode ser resumida também numa rejeição completa das ideias de Milton Friedman. Friedman acreditava que as medidas do Fed – e não as mudanças nos gastos governamentais – deveriam ser usadas para estabilizar a economia, mas nunca afirmou que um aumento no gasto governamental seria incapaz, sob quaisquer circunstâncias, de aumentar o emprego. Na verdade, ao relermos o resumo elaborado por Friedman em 1970 de suas próprias ideias, Contexto teórico para a análise monetária, o que mais impressiona é a aparência keynesiana do seu pensamento.
E Friedman certamente jamais comprou a ideia de que o desemprego em massa represente uma redução voluntária no esforço de trabalho e nem a ideia de que as recessões sejam de fato benéficas para a economia.
Ainda assim, Casey Mulligan, da Escola de Chicago, sugere que o desemprego esteja tão alto porque muitos trabalhadores tem optado por não aceitar empregos. Ele sugeriu, em especial, que os trabalhadores estejam optando por permanecerem desempregados porque isto melhora suas chances de receber a concessão de alívios para suas hipotecas. E Cochrane declara que o alto desemprego é, na verdade, algo positivo: “Precisamos de uma recessão. Pessoas que passam suas vidas martelando pregos em Nevada precisam de algo diferente para fazer.” Particularmente, acho que isto é loucura. Por que seria necessário o desemprego maciço em todo o país para tirar os carpinteiros de Nevada? Será que alguém é capaz de afirmar com seriedade que perdemos 6,7 milhões de empregos porque um número menor de americanos deseja trabalhar? Mas se partirmos do princípio que as pessoas são perfeitamente racionais e os mercados, perfeitamente eficientes, temos de concluir que o desemprego é voluntário e as recessões são desejáveis.


6. Falhas e atritos
A economia, enquanto ciência, enfrentou problemas porque os economistas foram seduzidos pela visão de um sistema de mercado perfeito e desprovido de atrito. Se a profissão almeja a redenção, ela terá de conciliar-se com uma visão menos deslumbrante – a de uma economia de mercado que apresenta muitas virtudes, mas que também está repleta de falhas e atritos.
Já existe um exemplo relativamente desenvolvido do tipo de ciência econômica que tenho em mente: a escola de pensamento conhecida como behaviorismo financeiro. Os adeptos desta abordagem enfatizam duas coisas. Primeiro, muitos investidores do mundo real em pouco se assemelham aos frios e calculistas investidores da teoria do mercado eficiente: eles são bastante sujeitos ao comportamento de manada, a surtos de exuberância irracional e a pânicos injustificados. Segundo, mesmo aqueles que tentam basear suas decisões no cálculo frio com frequência descobrem que não são capazes de fazê-lo, pois problemas de confiança, credibilidade e garantias reais limitadas os obrigam a seguir o restante da manada.
Enquanto isso, como fica a macroeconomia? Acontecimentos recentes refutaram de maneira bastante decisiva a ideia de que as recessões sejam uma resposta ideal à flutuação no ritmo do progresso tecnológico; uma visão mais ou menos keynesiana é a única possível no momento. Ainda assim, os modelos padronizados do novo keynesianismo não deixaram espaço para uma crise como a que estamos vivendo, pois estes modelos aceitaram de maneira geral a visão do setor financeiro promovida pela teoria do mercado eficiente.
Uma linha de pesquisas, cujos pioneiros foram o próprio Ben Bernanke e seu colega Mark Gertler, da Universidade de Nova York, enfatizava a maneira pela qual a falta de garantias reais suficientes pode prejudicar a capacidade das empresas de arrecadar fundos e buscar oportunidades de investimento. Uma linha de pesquisas parecida, em boa parte estabelecida por meu colega de Princeton, Nobuhiro Kiyotaki, em parceria com John Moore, da London School of Economics, argumenta que os preços de ativos como propriedades imobiliárias podem sofrer declínios autoacentuantes que, por sua vez, provocam uma depressão na economia como um todo. Mas até o momento, o impacto das finanças disfuncionais não esteve no centro nem mesmo da ciência econômica keynesiana. Isto, claramente, precisa mudar.


7. Recuperando Keynes
Eis o que acho que os economistas precisam fazer. Primeiro, eles precisam enfrentar a inconveniente realidade de que os mercados financeiros estão muito aquém da perfeição; que eles estão sujeitos a extraordinários delírios e à loucura das multidões. Segundo, eles precisam admitir que a ciência econômica keynesiana ainda é o melhor arcabouço teórico de que dispomos para compreender as recessões e depressões. Terceiro, eles terão de se esforçar ao máximo para incorporar as realidades das finanças à macroeconomia.
A visão que deve emergir conforme a profissão repensa seus fundamentos pode não ser muito clara; certamente não será arrumada; mas temos de manter a esperança de que ela terá a virtude de estar, ao menos, parcialmente correta.

Fonte: aqui

A colheita do milho como motivo de reencontro entre as pessoas

Onde se constroem relações com as pessoas, com tradições e belezas naturais.
Um espaço para viagens no tempo, para colaborações, imaginar e trabalhar com esforço e dedicação, lembrar os antepassados e preparar o terreno para as futuras gerações ... esperamos por si em Covas do Monte!

Mais uma vez a colheita do milho foi motivo de encontro em Covas do Monte.
Para alguns foi o regresso a um local que os marcou, para outros foi uma experiência nova. O interessante é irmos criando uma rede cada vez mais alargada de pessoas comprometidas com o local e as suas gentes.
Desta vez tivemos também a participação de pessoas da Associação "O Direito de Aprender" http://www.direitodeaprender.com.pt que para além de participarem nas actividades estiveram também com o interesse de compreender o processo e fazerem uma reportagem para a sua revista " Aprender ao Longo da Vida".
Na despedida os mais "repetentes" presentearam o mais novo habitande de Covas do Monte com uma cadeira de bébé. Será uma forma de ele começar a descobrir o mundo regressando sempre em segurança.Por mim espero encontrá-lo em Covas do Monte daqui a muitos anos!

Dar corpo a um Movimento Social em torno do Associativismo e da Democracia Participativa (encontro regional em S.Torcato, Guimarães, a 7 de Nov.)





No dia 19 de Setembro de 2009, um grupo de representantes de associações de várias localidades do país reuniu-se em Coimbra para debater o tema do Associativismo. Desta reunião ressaltou a ideia de gerar um movimento social em torno do associativismo e da democracia participativa, incluindo a organização de diversas iniciativas.


Nesta fase, estão a ser organizados encontros regionais com representantes de associações, apontando-se para a realização, em Novembro 2010, do Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa, o qual deverá ter lugar em Tondela.


Brevemente será divulgado um Blog para potenciar a participação em torno deste movimento social.


Vamos dar início à organização de um encontro regional no Minho com representantes de diversas associações para apresentar e debater a ideia do Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa que está previsto para Novembro de 2010, em Tondela

O encontro regional do Minho terá lugar no próximo dia 7 de novembro, pelas 15:00h, no Edifício da Casa do Povo de S. Torcato, Guimarães, sendo anfitriã a ADCL (Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais).

Para mais informações, podem contactar pelo 96 368 74 56 ou 96 586 79 32 ou 96 581 17 90.


O seguinte texto estrutura algumas ideias discutidas nessa reunião, as quais poderão servir de base para reflexão e debate, nos encontros regionais e noutras iniciativas a desenvolver.




texto de Rui D'Espiney

1.A Constituição da Republica Portuguesa contempla, quase diríamos com igual dignidade, a Democracia Representativa e a Democracia Participativa. Dela ressalta com clareza que uma e outra são estruturantes do funcionamento da nossa sociedade.

O Tratamento que lhe é dado, na prática, a cada uma destas formas de democracia é, no entanto, bem distinto:

- À Democracia Representativa são concedidas todas as condições de sustentabilidade suportadas que são, pelo orçamento de Estado, as várias despesas com o seu funcionamento (inclusive as efectuadas em ordem à competição entre concorrentes).

- À Democracia Participativa nenhum meio material é facultado. O Estado não contribui com um cêntimo para a sua viabilização.

Dito de outra forma garante-se a Representação mas não se investe na Participação e porque a Democracia Plena só existe quando uma e outra funcionam pode, de facto, dizer-se que a nossa Democracia está coxa.


2. Promover a Democracia passa, na verdade, por viabilizar as condições de exercício da Democracia Participativa, isto é, passa por proporcionar a sustentabilidade material das iniciativas e estruturas que promovem a participação de entre as quais se destacam as formas organizadas de DP que são as Associações. Não é, no entanto, isso que acontece: longe de serem encaradas como focos de promoção e produção de participação as Associações são tratadas enquanto meras empresas prestadoras de Serviços: apenas pelo que fazem e não pelo que são.

Em boa verdade acabam por ser tratadas pior que as empresas pois, ao contrário do que sucede com estas, o valor dos bens produzidas pelas associações não incorpora as despesas de funcionamento nem tão pouco, com frequência, de trabalho (o calculo do valor da hora do mecânico que nos arranja o automóvel inclui as amortizações e as despesas de logística da oficina; o funcionamento dos projectos desenvolvidos pelas associações não só não as inclui, na maioria das vezes, como exige, quase sempre, uma comparticipação nos gastos).


3. É tendo por propósito possibilitar que a Democracia Participativa se afirme como dimensão estruturante da vivência politica económica da nossa sociedade …

É tendo por propósito impor que o associativismo seja tratado e encarado como forma organizada (promotora e produtora) de Democracia Participativa…

É, enfim, tendo por propósito contribuir para que as associações se conscientizem quanto ao seu papel na promoção e produção de cidadania e na construção de uma sociedade democrática e solidária,

……. que nos parece fazer todo o sentido dar vida a um movimento social que chame a si:

- A clarificação e promoção dos princípios que o devem enformar e informar e que se podem traduzir em algumas palavras chave como: autonomia, participação sociabilidades, solidariedade, rebeldia e politicidade;

- A requalificação da Democracia Representativa que, nascida de movimentos sociais tende hoje a dissociar o politico do social, a incompatibilizar o nacional com o local e a contrapor representação e participação;

- A assumpção do carácter de alternativa social, cultural e económica que caracteriza grande parte das associações e iniciativas congéneres,

- A defesa da sustentabilidade económica do associativismo, enquanto condição necessária ao funcionamento da democracia como um todo.

A realização de um congresso programático do Associativismo e da Democracia Participativa coroará o desenvolvimento deste movimento, se funcionar como espaço de interpelação, de questionamento do poder politico, de auto-questionamento dos comportamentos e de revindicação.


4. Naturalmente, quer-se que este movimento não pense apenas para fora mas também para dentro. Um conjunto de questões endógenas a ele terão de ser, com efeito e necessariamente, objecto de reflexão no congresso e no próprio processo da preparação. Por exemplo:

- O que se entende ao certo por democracia participativa? O que faz dela um projecto e uma prática política e reivindicativa?

- O que é o Associativismo Cidadão? Quando é que este é ou não é componente da democracia participativa (isto, tendo-se presente que grande número de associações tende a mover-se por uma lógica empresarial e que há associações actuando em diferentes domínios que podem, ou não, ser pertinentes para a Democracia Participativa)?

- Como podem as associações aprofundar o exercício da cidadania? Como ultrapassar fenómenos de caciquismo e burocratização?

5. Mas se estas são questões, digamos comportamentais, que importa definir, espera-se que naturalmente do movimento nasçam ideias sobre os aspectos do relacionamento do associativismo com o Estado e a DR, tais como:

- A forma justa de ressarcimento pelos bens de interesse publico que produzem;

- As diferenças que apresentam face ao mundo das empresas e as implicações que daí resultam em termos de financiamento e fiscalidade;

- O lugar que devem ocupar (e não apenas as associações mas também as populações) nas audições politicas, nas concertações sociais e nas políticas orçamentais.


6. O lançamento deste movimento, que agora se inicia, fez-se numa reunião para a qual foi convidada cerca de uma dezena de associações escolhidas por meras razões de proximidade e conhecimento mútuo e tendo por leitmotiv imediato a situação de precariedade em que grande parte delas vive.

O objectivo desta reunião vai, no entanto, muito para além do seu âmbito e das intenções que a motivaram.

Em primeiro lugar, quer-se que ela seja o despoletar de um Movimento amplo e abrangente, procurando-se, nomeadamente, implicar, na promoção, mais regiões e domínios de acção. Nesse sentido as Associações, presentes na reunião havida, são chamadas a animar encontros a nível local/regional em que se impliquem todos os possíveis potenciais interessados.

Em Segundo lugar, quer-se que o movimento funcione como um processo de consciencialização, de definição de linhas de acção e de princípios orientadores: o Congresso deverá surgir como a consagração de uma caminhada.

Em terceiro lugar, quer-se assegurar que o Movimento e as suas propostas ganhem visibilidade, o que passa por um forte investimento na divulgação das suas propostas e dos seus sucessos através, nomeadamente, de um Blog.


7. A utilidade de fixar metas aponta para a necessidade de desde já se agendar a data da realização do Congresso do Associativismo e da Democracia Participativa, sugerindo-se, para tal, a primeira quinzena de Novembro 2010. Deverá ter lugar em Tondela.

A próxima reunião promotora será no ISCTE no dia 21 de Novembro de 2009, a partir das 14h30, reunião onde se deverá contar com mais participantes: In Loco Associação de Chãos, UMAR, …

Até lá, espera-se, serão realizadas as varias reuniões das locais/regionais previstas: em Viseu, promovida pela ACERT, a ADRL e o Olho Vivo; em Gouveia, organizada pelo GAF; no Minho sob a responsabilidade da ADRL e da AJD; em Lisboa/Setúbal, dinamizada pelo ICE; no Porto da Iniciativa da Gesto e em Évora a partir da Pé de Chumbo.

Aguardam-se propostas de associações que assumam a dinamização de reuniões em Trás-os-Montes, no Algarve e no Nordeste Alentejano.

Pode ser um impulso a este processo a oficina que se realizará em Águeda no dia 23 de Novembro e que, prevê-se, se abrirá à participação de associações da Região Centro.


Rui D'Espiney

WORKSHOP sobre Associativismo, Participação, Democracia e Sustentabilidade em Águeda (a 23 de Nov.)

WORKSHOP sobre Associativismo, Participação, Democracia e Sustentabilidade

Data: 23 de Novembro de 2009
Local: Parque Alta Vila (Águeda)
Dinamizador: Dr. Rui D’Espiney (ICE)
Entidade promotora: Centro Social Infantil de Aguada de Baixo e Instituto das Comunidades Educativas (ICE)


PARTICIPAÇÃO GRATUITA

O porquê desta iniciativa:
A maioria esmagadora das associações confrontam-se com uma precariedade permanente, com a dificuldade de conseguir assegurar a sua sustentabilidade. Com esta questão surge o conceito de democracia participativa.
A Constituição da República Portuguesa contempla quase de igual modo a Democracia Representativa e a Democracia Participativa, havendo, no entanto um tratamento bem distinto. Enquanto que na primeira são concedidas todas as condições de sustentabilidade suportadas pelo orçamento de Estado, na segunda nenhum meio material é suportado. No entanto, ambas são estruturantes do funcionamento da nossa sociedade.
Promover a Democracia passa por viabilizar as condições do exercício da Democracia Participativa, isto é, passa por proporcionar a sustentabilidade material das iniciativas e estruturas que promovem a participação, de entre as quais se destacam as Associações. Mas, longe de serem encaradas como focos de promoção e produção de participação, as Associações são tratadas enquanto meras empresas prestadoras de serviços: apenas pelo que fazem e não pelo que são.
É tendo por propósito contribuir para que as associações se conscientizem quanto ao seu papel na promoção e produção de cidadania e na construção de uma sociedade democrática e solidária que surge esta iniciativa.

OBJECTIVOS
Promover a reflexão conjunta sobre princípios-chave para o exercício da cidadania;
Promover a reflexão sobre a requalificação da Democracia Representativa;
Criar movimento social no sentido da conscientização;
Promover a defesa da sustentabilidade económica do associativismo, enquanto condição necessária ao funcionamento da democracia como um todo;
Implicar as associações nos domínios de acção;
Promover o associativismo como espaço de cidadania e forma organizada da democracia participativa;

PROGRAMA
Período da manhã (10h – 13h)
O que se entende por democracia participativa?
O que faz dela um projecto e uma prática política reivindicativa?
Pausa para almoço (13h – 14h30)

Período da tarde (14h30 – 17h30)
O que é o Associativismo Cidadão?
Quando é que este é uma componente da democracia participativa?
Como podem as associações aprofundar o exercício da cidadania?
Plenário


FICHA DE INSCRIÇÃO (Participação gratuita)

Nome: _________________________________ ________________________________________
Profissão: ______________________________ ________________________________________
Instituição/ Serviço:____________________ ________________________________________
Telefone: ______________________________
Telemóvel: _____________________________
E-mail: ________________________________ ________________________________________
Enviar para: Centro Social Infantil de Aguada de Baixo Av. José Augusto Rodrigues Seabra 3750 – 031 Aguada de Baixo Tel: 234 666 590 Fax: 234 667 009
E-mail: censi@portugalmail.pt


Centro Social Infantil de Aguada de Baixo
R. Escolas Aguada de Baixo, AGUADA DE BAIXO, AVEIRO 3750-031
p: 234667009 f: 234667009
Website - não disponível ou em actualização
Email Centro Social Infantil de Aguada de Baixo


Carta de intenções do Centro Social
Objectivos:
Promover a inserção social de pessoas/famílias estigmatizadas, socialmente desfavorecidas e
marginalizadas; promover a igualdade de oportunidades e a inclusão social de crianças e jovens
socialmente desfavorecidos, com dificuldades de aprendizagem e/ou risco de abandono escolar,
prevenindo a marginalidade e marginalização.

Grupo-Alvo:
Famílias/pessoas socialmente desfavorecidas; crianças, adolescentes e jovens provenientes
destas e outras famílias também elas socialmente desfavorecidas; comunidade em geral através
de acções de sensibilização.

28.10.09

Festa de solidariedade, jantar e concerto de Tino Flores para ajudar o espaço Musas ( 31 de Out. a partir das 15h30 no Hostel Andarilho)


Tino Flores participa numa festa de solidariedade com o Espaço Musas (por causa da situação criada pelo incêndio) que se vai realizar no hostal "O Andarilho" ( na Rua Firmeza, no Porto), no próximo sábado, dia 31, a partir das 15h30, embora o concerto possa ocorrer mais tarde.
Depois vai haver um jantar (com opção vegetariana) com o custo de 5 euros, que revertem integralmente para o Musas.



Aparece, fazes-nos falta!

(A entrada é livre, o jantar custa 5€)

Para encontrar o Local da Festa de Solidariedade:
Sair na paragem do bolhão, dirija-se à Rua de Santa Catarina, suba, virando no primeiro cruzamento à direita, entre na rua da Rua da Firmeza e suba, 30 metros sensivelmente. Estamos no topo esquerdo da rua da Firmeza (porta castanha/amarela).
Mapa:

Marketing de guerrilha nas Caldas da Rainha a favor da Campanha de Apoio aos Sem Abrigo


Trabalho para projecto de design gráfico - MARKETING DE GUERRILHA

na ESAD das Caldas da Rainha em Junho de 2009.

A acção foi polémica e causou bastante impacto:
http://www.recortes.pt/V/GazetaCaldas/principal/2009/06/26

Video "A Casa do Zé"





A primeira emissão da Radio Casa Viva vai ser este Sábado a partir das 17h.



http://radiocasaviva.blogspot.com/
http://badmoodradio.blogspot.com/
Vai já ser este sábado, dia 31 a partir das 17hrs, que vai começar a primeira emissão on-line da RADIO CASA VIVA, e será emitida em streaming, através da
BADMOOD RADIO.

O programa vai ser variado, com musica, conversas, informação, noticias, activismo, politica, humor... e tudo o mais que nos apetecer para ouvires a rádio.

Clicka nos links correspondentes ao player de audio que utilizas. (aconselhamos o VLC, pois é o player que melhor funciona) depois há-de aparecer uma janela a perguntar se queres guardar ou abrir o ficheiro. Escolhe abrir com (o teu player de audio) ou guardar para puderes ouvir a rádio sempre que quizeres sem teres que vir ao site clickar nos links...
WINAMP
REAL AUDIO PLAYER
QUICKTIME
WEB PROXY

Podíamos também meter um link para o windows media player... mas a microsoft não nos agrada nada... por isso... se só estiveres a usar o windows media player... não te garantimos que funcione... mas aconselhamos a usares por exemplo o VLC

Greenpeace Portugal vai estar hoje (28 de Out. às 19h.) na Casa da Horta para projectar um filme sobre a destruição dos oceanos, seguindo-se um debate


Desde o dia 16 de Outubro, que a Greenpeace está na estrada para sensibilizar consumidores para as ameaças que os ecossistemas vulneráveis em alto mar enfrentam e pressionar os retalhistas a tomar a liderança e parar de comercializar espécies de peixe de profundidade.

Estão convidados a assistir a este filme que será projectado na Casa da Horta quarta-feira dia 28 de Outubro às 19h. A seguir à projecção teremos um pequeno debate.


Vídeo com Sigourney Weaver alerta para a destruição dos oceanos

“O oceano profundo é o maior ecossistema do planeta, porém, continua amplamente inexplorado. Quanto mais desvendamos os seus mistérios, mais descobrimos o quão único este mundo estranho realmente é”. Sigourney Weaver apoia este vídeo que alerta para a ameaça da pesca industrial a grande profundidade e insta os governos de todo o mundo a adoptar medidas concretas e urgentes que defendam a vida marinha nas profundezas dos oceanos.


Casa da Horta, Associação Cultural e restaurante vegetariano
Rua de São Francisco, 12A
4050-548 Porto
Perto da Igreja de São Francisco e Mercado Ferreira Borges.
Email:
casadahorta@pegada.net
Tel: 222024123 / 965545519
Horário:Terça a Sábado das 12h as 24

27.10.09

Debate sobre o Bio-Poder, antecedida com a projecção do filme Hunger, de Steve McQueen, na livraria-bar Gato Vadio ( dia 31 de Out. às 22h.)


Debate sobre o Bio-Poder, antecedida com a projecção do filme Hunger, de Steve McQueen, na livraria-bar Gato Vadio ( dia 31 de Out. às 22h.)


Apresentação e coordenação da sessão a cargo de Rossana Mendes
Sábado, dia 31 de Outubro, 22h

Rua do rosário, 281 – Porto
telefone: 22 2026016
email:
gatovadio.livraria@gmail.com

http://gatovadiolivraria.blogspot.com/



Vencedor já de inúmero prémios, entre os quais o Caméra d'or em Cannes e Melhor Realizador Estreante nos British Independent Film Awards, “Hunger” é uma experiência visceral, graficamente violento, de uma beleza visual tão desarmante quanto o conteúdo traumático que retrata, um olhar claustrofóbico e arrojado, sem concessões.

O foco de “Hunger” é o relato (mais emocional que factual) dos últimos tempos de vida de Bobby Sands, um activista do IRA que foi preso aos 27 anos por posse de arma e condenado a 14 anos de prisão. Em 1981, iniciou uma greve de fome com o objectivo de melhorar as condições para os prisioneiros do IRA, entre as quais recuperar o estatuto de presos políticos, poderem livremente agrupar-se com outros prisioneiros, terem direito a visitas semanais e envio/recepção de correio e não serem forçados a usar a farda de reclusos. Ao final de 66 dias, a greve de fome reclamou-lhe a vida.

Apesar de ser este o centro e sentido do filme, Sands só surge como protagonista a meio da história. Antes disso, acompanhamos alguns detalhes do quotidiano de um guarda prisional (Stuart Graham), um homem cuja decência parece ficar fechada do lado de fora do estabelecimento prisional Maze em Belfast. Aí acaba de dar entrada um novo recluso, Davey (Brian Milligan), colocado numa cela mínima onde já se encontra Gerry (Liam McMahon), que veste na pele o empenhado no protesto de sujidade ("Blanket and No-Wash Protest") que teve início em 1976.

McQueen faz-nos sentir os odores fétidos dos dejectos, faz-nos escutar o rufar ensurdecedor dos bastões da polícia de intervenção nos escudos, para logo nos fazer sentir na carne as pancadas sobre os presos, quando os arranca brutalmente das celas para os lavar e revistar, violando-os sem misericórdia. McQueen move-se no limite do suportável, ao mesmo tempo que a câmara de Sean Bobbitt capta o abjecto e o belo, confundindo-os numa mesma “tela”. E, de repente, dou por mim a pensar em Guantanamo... O ser humano contra si mesmo. No meio destes guardas, McQueen tem a cuidado de observar um com atenção, acompanhando o seu choro escondido, numa explosão de humanidade. E com uma simples imagem, consegue captar a complexidade do conflito entre a responsabilidade individual e a responsabilidade colectiva.

É então que suavemente e sem alarido, o que quer dizer com violência e sangue, somos apresentados a um Bobby Sands (Michael Fassbender) de límpido e resoluto. O filme, que até aí tinha sido parco em diálogos, privilegiando o aspecto visual, é “interrompido” por um take único de 20 minutos de uma densa conversa entre Sands e um padre (Liam Cunningham). Depois da montagem ritmada que o antecedeu, este é o tempo de respiro e contextualização, do que passou e do que está para vir. Sands está disposto a usar o corpo como a última fortaleza, comprometendo-se com a sua causa como mártir, mas não como vítima. Este diálogo parece continuar muitos outros anteriores, e os dois discutem religião, família e nacionalismo. Apesar do entendimento e respeito mútuo, a recusa do padre em aceitar a greve da fome como uma arma, reduzindo-a a um simples suicídio, abre entre eles um fosso inultrapassável. Este tempo e este espaço, filmado a contra luz, é absorvente e esgotante, ao mesmo tempo.

A terceira parte de “Hunger” centra-se na degradação física de Sands, cujo impacto é tão forte como a resistência do seu espírito é inabalável. E McQueen não pestaneja um único segundo, mostrando-nos tudo sem pudor (temo em pensar naquilo que fica por ver).

McQueen não está interessado nos crimes que Sands terá cometido em nome da causa republicana. Aliás, num outro pequeno detalhe o IRA (Irish Republican Army) é posto num contraponto de equilíbrio com o seu equivalente unionista, o UDA (Ulster Defence Association). Apesar dos apontamentos em voice over de discursos de Margareth Thatcher, “Hunger” não é um filme político, o que interessa a McQueen é a motivação de Sands, a determinação de acreditar em algo até às últimas consequências.

Michael Fassbender entrega-se a este papel da mesma forma que Sands: com um compromisso total. A sua interpretação vai muito além da perda de peso, é sobretudo o seu olhar lúcido e crente que nos ataca e nos comove. Também Liam Cunningham e Stuart Graham estão particularmente fortes, este último misturando iguais doses de inquietude e resignação. É dele o gesto mais pesadamente simbólico deste filme.

A cuidada a encenação deste filme não está desligada da colaboração do dramaturgo irlandês Enda Walsh na escrita do argumento. E se “Hunger” não é de todo um documento histórico, é sem dúvida um documento emocional vestido de imagens poéticas e belíssimas composições. Insuportavelmente bonito.
( texto retirado de
http://cinerama.blogs.sapo.pt/ )

Sessões de cineclube e outras actividades em Viana do Castelo por iniciativa da associação AO NORTE

AO NORTE - Associação de Produção e Animação Audiovisual promove sessões de cineclubismo nos próximos dias 29 e 30 de Outubro, para além de uma exposição e lançamento de um livro de BD:


Dia 29 de Outubro no cinema verde viana ( sempre às quintas-feiras pelas 21h45)

Dia 29 - DUPLO AMOR, de James Gray
(Two Lovers, EUA, 2009, 110', M/12)

Dia 30 de Outubro, lançamento do livro de BD número # 05 da Colecção O Filme da Minha Vida, FITZ…, de Filipe Abranches, inspirado no filme Fitzcaraldo, de Werner Herzog.
14:00h Exibição do filme no Auditório GDCTENVC
17:15h Inauguração de exposição dos desenhos originais, lançamento do livro e encontro com Filipe Abranches.

Dia 30 no Auditório do Grupo Desportivo e cultural dos Trabalhadores dos ENVC
LARGO DAS ALMAS > SEXTAS-FEIRAS > 21h45
ENTRADA LIVRE

Projecção do filme AMARCORD, de Federico Fellini
(Amarcord, Itália/ França, 1973, 118', M/12)


A AO NORTE – Associação de Produção e Animação Audiovisual foi fundada em Dezembro de 1994 e é uma associação sem fins lucrativos. Tem por fim a produção e a divulgação audiovisual, bem como a cooperação para o desenvolvimento, na área do ensino, educação e cultura, designadamente através da divulgação das realidades dos países em vias de desenvolvimento junto da opinião pública.

A sua actividade estrutura-se em três vertentes principais: a divulgação de cinema, a produção de documentários e a formação.

AO NORTE
Associação de Produção e Animação Audiovisual
Praça D. Maria II, 113, R/C
4900-489 Viana do Castelo
Portugal

Tel./ Fax (00351) 258 821 619

ao-norte@nortenet.pt


http://www.ao-norte.com/index.htm