7.5.07

A propósito do recém-eleito presidente francês e presumido liquidatário do espírito de Maio de 68

Libelo dirigido ao Sr. Sarkozy recém-eleito presidente francês e presumido liquidatário do espírito de Maio de 68

«Recusamos tornarmo-nos professores ao serviço da selecção escolar de que os filhos da classe operária são as vítimas; sociólogos fabricantes de slogans para as campanhas eleitorais governamentais; psicólogos encarregados de fazer «funcionar» as «equipas de trabalhadores» segundo os interesses dos patrões; cientistas cujo trabalho de investigação seja utilizado para os interesses exclusivos da economia do lucro»

Excerto de um panfleto do "Mouvement du 22 mars" com data de 4 de Maio de 1968.


Nós somos todos filhos do Maio de 68
Quer tenhamos hoje 60, 50, 40, 30 ou 20 anos
Quer tivéssemos, ou não, ficado com os olhos a arder no Quartier latin
Quer tivéssemos cantado, ou não, com a Joan Baez pela paz no Vietname
Quer tivéssemos ocupado, ou não, a Sorbonne
Quer tivéssemos feito, ou não, piquete de greve nas fábricas
Todos os que um dia pediram o impossível
Somos todos filhos de Maio de 68

Quer tivéssemos sido beatnik, hippie, punk, rasta, grunge ou rapper
Quer tivéssemos, ou não,lido Debord, Deleuze, Foucault
Quer sejamos, ou não, franceses de primeira-segunda-terceira geração
Quer tivéssemos sido, depois, camponeses, operários, funcionários, patrões, intelectuais ou políticos
Quer tivéssemos optado pelo assalariamento, pela empresa ou profissão liberal
Quer tivéssemos ido viver para o 16º bairro ou para os bairros periféricos ou mesmo para a província
Quer sejamos hoje ricos, sortudos, precários ou pobres,
Quer sejamos de direita, do centro ou de esquerda
Todos os que um dia tiveram um sonho impossível
Somos todos filhos de Maio de 68


Os acontecimentos deo Maio de 68 francês são a nossa história comum, a nossa memória.
Eles foram um furacão, uma vento de ar fresco necessário, uma sã revolta contra a ordem e a moral rígida, e uma alegre insurreição do pensamento contra uma sociedade em que o deus-dinheiro, a televisão e a publicidade ditam as suas leis.
Tivemos um sonho, uma aventura, uma história para contar, por vezes, uma nostalgia para recordar
Eles são e serão um fragmento de história, uma referência, uma interrogação, uma curiosidade para os que vieram depois.



Maio de 68 é uma realidade e, ao mesmo tempo, um mito. Um espírito que soprou por meio de nós e que influenciou décadas inteiras
O senhor Sarkozy, presidente francês, recém-eleito, disse que pretende erradicar o espírito do Maio de 68
A esse liquidatário nós gritamos alto e bom som: Você nunca matará a nossa história, jamais conseguirá apagar a nossa memória; nunca nos conseguirá impor o seu pensamento, a não ser que nos elimine.
Não sonhe alto demais nem se entregue a delírios assombrados, pois nós nunca o deixaremos.


Os filhos do Maio de 68
(adaptação para português de um texto encontrado na Internet)



A revolta de Maio de 68 em França e o Maio de 69 em Coimbra

(vídeo em português)