19.1.06

Carta da Ecopedagogia


Os princípios orientadores da ecopedagogia:

1 – O planeta é encarado como uma única comunidade

2 – A Terra é tratada como uma mãe e um organismo vivo em evolução

3 – A necessidade de uma nova consciência que saiba o que é sustentável, apropriado e que faça sentido para a nossa existência.

4 – Desenvolver a ternura para com essa casa. O nosso endereço é a Terra.

5 – Defende a justiça socio-económica. A Terra é um grande pobre, o maior de todos os pobres.

6 - A ecopedagogia é uma pedagogia biófila que promove a vida, e fomenta que as pessoas se envolvam, se comuniquem, compartilhem entre si, problematizem, relacionem-se e entusiasmem-se

7 – Supõe uma concepção de conhecimento que só admite ser integral na condição de ser compartilhado

8 - Apela ao caminhar com sentido ( na vida quotidiana)

9 – Inspira-se numa racionalidade intuitiva e comunicativa, isto é, afectiva e não meramente instrumental

10 – Preconiza uma cultura da sustentabilidade através da ecofirmação, apontando uma exigência: ampliar o nosso ponto de vista.


( o movimento pela ecopedagogia apareceu com o 1º Encontro Internacional da Carta da Terra na perspectiva da Educação, organizado pelo Instituto Paulo Freire em 23-26 de Agosto de 1999 na cidade de São Paulo, Brasil, assim como do I Fórum Internacional sobre Ecopedagogia que teve lugar na Faculdade de Psicologia e das ciências da Educação da Universidade do Porto entre os dias 24 e 26 de Março de 2000)

Consultar:
http://www.ufmt.br/revista/arquivo/rev21/moacir_gadotti.htm



Ecopedagogia – o que é?

Trata-se de uma pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida quotidiana, tendo como objectivo a promoção de sociedades sustentáveis.
O conceito de ecopedagogia, criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire na Costa Rica, segue os princípios da “Carta da Terra”, adoptado pela ONU com o mesmo valor da “Declaração dos Direitos Humanos”. A “Carta da Terra” foi aprovada por um fórum da sociedade civil, com representantes de todos os povos, e, por isso, conseguiu o status de documento da “cidadania planetária”.
A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa “cidadania planetária” cuja ideia é dar sentido para a acção dos homens enquanto seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta Terra. Ou seja, constitui-se um verdadeiro movimento político e educativo cujo projecto é mudar as actuais relações humanas, sociais e ambientais. A promoção das sociedades sustentáveis e a preservação do meio ambiente depende, de acordo com a ecopedagogia, de uma consciência ecológica e a formação dessa consciência depende da educação


Universidades Populares


Herdeiras da tradição do movimento operário, as universidades populares vão reaparecendo um pouco por todo o lado, com essa designação ou outra qualquer. Assumem normalmente uma dupla missão: oferecer uma formação a todos, em especial àqueles que não puderam aceder ao ensino superior, assim como construir um saber crítico contra as ideias dominantes.
Uma das suas limitações prende-se com o facto dos seus frequentadores serem actualmente elementos das classes médias e serem poucos os que provêem das camadas mais exploradas e oprimidas das sociedades capitalistas.

Em França as Universidades Populares estão a atravessar um momento de autêntico renascimento senão mesmo de florescimento de tal modo que podemos encontrá-los nas principais cidades francesas. Todas, ou quase, oferecem cursos gratuitos ou por montantes extraordinariamente módicos a todos os interessados. Calcula-se que sejam cerca de 100 o número de Universidades Populares actualmente existentes em França, as quais envolvem por volta de 110.000 pessoas.

O filósofo Michel Onfray contribuiu decisivamente para esta nova vaga das Universidades Populares ao criar em 2002 a Universidade Popular de Caen, em que tenta retomar o espírito das Universidades Populares, aproveitando ainda das experiências recentes dos chamados café-filosóficos.

Pretende-se, segundo aquele autor, propor um saber alternativo ao «pensamento único neoliberal».

O aumento de interesse e a demonstração de um desejo para se cultivar, sem ter a pretensão em adquirir qualquer diploma, explica o sucesso e o impacte das Universidades Populares.

A Associação das Universidades populares de França (AUPF) faz parte da Associação Europeia de Educação de Adultos (EAE, em inglês) e abrange associações de 35 países europeus, totalizando 45 milhões de auditores.
Ver:
www.u-p.asso.fr

Algumas direcções de Universidades Populares em França:

UP du Berry : www.upberry.org

UP de Romans-sur-Isère : http://accesromans.com

UP de l’agglomération valentinoise : upaval@wanadoo.fr

UP Savoie Mont-Blanc : www.upsavoie-mb.fr

UP de Gennevilliers : http://universite-populaire92.org

UP du Rhin (Mulhouse) : www.u-p.asso.fr

UP de Belfort : www.ideeup.org

L’UP de Bretagne occidentale : www.univ-brest.fr/fc/ep

Les universités d’Attac : www.local.attac.org

Le Secours populaire : www.secourspopulaire.fr

L’Université pop du Lieu unique à Nantes : www.lelieuunique.com

A rede da Universidades Populares em que participa Michel Onfray:

UP d’Avignon : www.upavignon.org

UP de la région Picardie : http://unipop.pic.free.fr

A criminologia anarquista



O anarquismo é uma das correntes do pensamento político mais difíceis de definir e conceptualizar por várias razões, uma das quais é a não existência de uma ideologia anarquista sistematizada e uniforme, a que se deve acrescentar o facto do anarquismo ser frequentemente objecto de permanentes deformações pelos seus opositores. Daí que se prefira concebê-lo mais como um movimento onde convergem um certo número de filosofias, algumas convicções e práticas de acção que emergiram como reacção ao aparecimento e consolidação do Estado-Nação e do capitalismo ao longo dos últimos séculos, se bem que num passado remoto já tenham surgido autores e pensamentos de natureza anarquista.
Um dos traços comuns a todos os anarquistas é a afirmação de que o Estado é uma entidade coerciva, punitiva, opressiva, corruptora e destrutiva. Formas de vida alternativas como o apoio mútuo, a cooperação voluntária segundo formas não-autoritárias, não-coactivas, não-hierárquicas são normalmente preconizadas e promovidas pelos autores anarquistas.

Algumas das principais ideias anarquistas foram desenvolvidos por autores como Max Stirner (1806-1856), Proudhon ( 1814-1876), Bakunine (1814-1876), Kropotkine (1842-1921) e Emma Godman (1869-1940).
Em geral, os princípios por eles defendidos não conceptualizam nenhuma sociedade caótica e desordenada, mas antes uma forma de aprofundamento e expansão da ordem social que passa por dispensar a presença ( e a omnipotência ) do Estado. Uma tal ordem social maximizará as liberdades individuais, encorajando ainda o associativismo voluntário e a auto-regulação. Outro dos traços importantes do pensamento anarquista é a ideia da substituição das formas monopolísticas do capitalismo e da propriedade privada pela posse colectiva dos bens.

Segundo criminologistas de filiação anarquista, como Jeff Ferrell, não se pode falar de uma criminologia anarquista propriamente dita pois tal seria uma contradição nos termos. Todavia, os escritos de Pete Kropotkine sobre a lei e o Estado constituem referências-chave para a construção de uma criminologia anarquista.
Kropotkine sustenta que as leis são inúteis e nocivas, provocando a criminalidade em massa e várias patologias sociais. As leis que protegem a propriedade privada e os interesses do Estado são responsáveis por dois terços a três quartos de todos os crimes. O principal objectivo da legislação criminal, que é punir e prevenir os crimes, acaba por não conseguir o seu objectivo e, pior que isso, degrada a sociedade ao alimentar os piores instintos humanos como a obediência, o conformismo passivo e o reforço vicioso da dominação estatal.
Kropotkine insiste que a maioria dos crimes desaparecerão no dia em que deixar de existir a propriedade privada, e ainda quando as necessidades humanas e a cooperação substituírem a ânsia do lucro e a competição concorrencial como princípios organizadores da vida social.. Formas alternativas de relacionamento social como a solidariedade social, a justiça e a inclusão social mostram-se mais adequadas do que o sistema estatal de justiça criminal ou o chamado «primado da lei» para responder e contrariar os comportamentos anti-sociais.

Jeff Ferrell, um autor que se tem dedicado a estas matérias, escreve a propósito da existência de uma criminologia anarquista:

«At its best, anarchism and the process of justice that flows from it constitute a sort of dance that we make up as we go along, na emerging swirl of ambiguity, uncertainty, and pleasure. Once you dive into the complex rhythms of human interaction and the steps that you and others invent in response. So, if you want centainty or authority, you might want to sit this one out. As for the rest os us: start the music.»
Jeff Ferrell, in «Anarchy against discipline»,
in Journal of Criminal Justice and Popular Culture, 3 (4)


Em suma, a teoria anarquista consiste:
- numa profunda crítica à lei, ao poder e ao estado
- na defesa de relações sociais não-coercivas
- em formas alternativas de resolução de conflitos como a auto-composição de interesses e que não passem tanto quanto possível pela intervenção de entidades terceiras, estranhas à disputa
- em intervenções de carácter político que se mostrem adequadas para um mundo complexo e fragmentado

Para mais informação:

Ferrell, Jeff (1995) «Anarchy against discipline», in JOurnal of Criminal Justice and Popular Culture, 3 (4)

Ferrel, K. (1999) «Anarchist criminology and social justice», in B.A. Arrigo (ed.) Social Justice/Criminal Justice. Belmont, CA, Wadsworth

Kropotkine, P (1996) «Law and Authority», in J. Muncie, E. McLaughlin and M. Langam (eds), Criminological Perspectives: a Reader. London, Sage

Tifft, L.L. (1979) «The coming re-defitions of crime: Ana anarchist perspective», Social Problems, 26