3.4.05

Squa(r)t da Rue de Rivoli, 59, em Paris, vai ser renovado e reaberto



Tornado já num símbolo habitual para os que costumam passar em frente do nº 59 da Rue de Rivoli, em Paris, o squat ali existente vai fechar para sofrer obras de remodelação e, mais tarde, abrir novamente as suas portas à população em geral.
Recorde-se que este squat – mais conhecido por «squart» - é o emblema do colectivo de artistas conhecido por «Chez Robert-Electron libré» que ocupou aquele espaço - propriedade do município parisiense – há 5 anos atrás. Este squat tem constituído um exemplo de uma conseguida ocupação ilegal e um oásis de liberdade artística. O trio que tomou a iniciativa, KGB ( das iniciais dos seus membros, Kalex, Gaspard e Bruno) decidiu em 1999 ocupar o edifício abandonado e em ruínas e transformá-lo em espaço de criação artística anti-elitista e permitir o acesso da população à criação e fruição artística.
O local acabou, entretanto, por ganhar fama mundial e tinha cerca de 40.000 visitantes por ano, tornando-se um dos centros de arte contemporânea mais conhecidos e visitados da capital francesa.

Solidariedade internacional com a jornalista austríaca Sandra Bakutz


A jornalista austríaca e activista pelos direitos humanos Sandra Bakutz foi no passado dia 10 de Fevereiro presa pelas autoridades turcas no aeroporto de Istambul. Após mais de um mês de prisão arbitrária, o tribunal decidiu-se pela concessão de liberdade preventiva no dia 30 de Março a Sandra Bakutz fixando a data do seu julgamento para o próximo dia 1 de Junho.
A acusação que lhe é imputada – pertencer a uma organização política turca ilegal, o DHKP, Partido-Frente revolucionário de libertação do povo – não foi sustentada por nenhuma prova material.
Sandra Bakutz é jornalista da rádio austríaca Orange 94.0 e do semanário alemão Junge Welt.

Steve Kurtz, acusado de bioterrorismo, recebe apoios da comunidade artística internacional



Steve Kurtz, fundador do Critcal Art Ensemble (CAE) e professor de arte na Universidade de Buffalo, assim como Robert Ferrell, professor de genética da Universidade de Pittsburg, são acusados pela polícia norte-americana de bioterrorismo e de fraude postal.

Face à acusação ridícula de que é alvo, não tem faltado apoios a solidariedade dos mais variados quadrantes, em especial, da comunidade de artistas de todo o mundo que têm expressado o seu apoio e oferecido ajudas monetárias a fim de custear as despesas da defesa.

Recorde-se que em Maio de 2004 Kurtz foi incriminado ( com outros membros do CAE) de bioterrorismo devido ao material documental, que foi encontrado na sua posse, e que pertencia aos seus projectos «GenTerra» e «Free Range Grains» e que estavam relaconados com a investigação biotecnológica.

O Júri do tribunal retirou algumas das acusações mas manteve a de fraude postal, que é punido com 20 anos de prisão. É acusado de comprar bactérias (inofensivas) por 256 dólares para os seus projectos!!!

Desde a década de 1990 que Steve Kurtz é conhecido pelo seu trabalho artístico com implicações sociais e políticas através de trabalhos e projectos que combinam investigação, crítica social, perfomance e novas tecnologias

http://caedefensefund.org
www.critical-art.net

Le déserteur (O Desertor)


Le Déserteur
Poema de Boris Vian
Música e voz de Serge Reggiani

Monsieur le Président,
je vous fais une lettre,
que vous lirez peut-être,
si vous avez le temps.

Je viens de recevoir
mes papiers militaires
pour partir à la guerre
avant mercredi soir.

Monsieur le Président
je ne veux pas le faire,
je ne suis pas sur terre
pour tuer de pauvres gens.

C'est pas pour vous fâcher,
il faut que je vous dise,
ma décision est prise,
je m'en vais déserter.

Depuis que je suis né,
j'ai vu mourir mon père,
j'ai vu partir mes frères,
et pleurer mes enfants.

Ma mère a tant souffert,
qu'elle est dedans sa tombe, e
t se moque des bombes,
et se moque des vers.

Quand j'étais prisonnier
on m'a volé ma femme,
on m'a volé mon âme,
et tout mon cher passé.

Demain de bon matin,
je fermerai ma porte
au nez des années mortes
j'irai sur les chemins.

Je mendierai ma vie,
sur les routes de France,
de Bretagne en Provence,
et je crierai aux gens:
refusez d'obéir, refusez de la faire,
n'allez pas à la guerre,
refusez de partir.

S'il faut donner son sang,
allez donner le vôtre,
vous êtes bon apôtre,
monsieur le Président.

Si vous me poursuivez
prévenez vos gendarmes
que je n'aurai pas d'armes
et qu'ils pourront tirer.

------------------------------------

Tradução para português:


Senhor presidente,
escrevo-lhe uma carta,
que talvez vá ler,
se tiver tempo.

Acabei de receber
os meus papéis militares
para partir para a guerra
antes de 4a-feira à noite.

Senhor presidente
não o quero fazer,
eu não estou na terra
para matar pobre gente.

Não é para o aborrecer,
é preciso que lho diga,
mas a minha decisão está tomada,
vou desertar.

Desde que nasci,
vi morrer o meu pai,
vi partir os meus irmãos,
e chorar os meus filhos.


A minha mãe sofreu tanto,
que está na sepultura,
e faz pouco das bombas,
e faz pouco dos versos.

Quando estive prisioneiro
roubaram-me a minha mulher,
roubaram-me a minha alma,
e todo o meu querido passado.

Amanhã de manhã cedo,
fecharei a porta
no nariz dos anos mortos
irei pelos caminhos.

Mendigarei a minha vida,
nas estradas de frança,
da bretanha à provença,
e gritarei às gentes:
recusem-se a obedecer, r
ecusem-se a fazê-la, n
ão vão à guerra,
recusem-se a partir.

Se é preciso dar o sangue,
vá dar o seu,
sois um bom apóstolo,
senhor presidente.


Se me perseguir
previna os seus guardas
que eu não terei armas
e que eles poderão atirar.

Permacultura

O pensamento de Permacultura foi inicialmente concebido por Bill Mollison como um sistema de agricultura ecologicamente sustentável, utilizado em diversos países.
Mollison fundou o Instituto de Pesquisas de Permacultura, na Austália, que desenvolve várias experiências inovadoras voltadas para a restauração e o uso sustentável da terra através da educação ambiental.

Apesar do conceito de Permacultura ter surgido basicamente na agricultura ecológica, ele acabou por ser extrapolado para uma série variada de outras áreas, como o desenho, a composição paisagística, o projecto de casas ecológicas e de estruturas arquitectónicas, o uso eficiente da água através da reciclagem e armazenamento de água da chuva, o uso de depósitos com tecnologia de compostagem, a reciclagem de nutrientes em solos filtrantes, e mais recentemente, o design.

Permacultura quer dizer cultura permanente que aproveita as facilidades e os produtos da natureza sem causar-lhe dano.

A Permacultura trabalha com 4 princípios básicos que funcionam como um processo cíclico: o 1º princípio constitui a observação da natureza; o 2º está no pensamento sobre a observação realizada; o 3º representa a adaptação das técnicas e o desenho de esquemas permaculturais permanentes; o 4º constitui o fazer na prática o que foi pensado. Chega-se então ao ponto inicial de observação para rematar o ciclo.

O conceito de Permacultura está informalmente por toda a parte.

Desde a revolução industrial, a agricultura tradicional tem abusado da monocultura extensiva de espécies únicas. Ora esta prática tem contribuído em muito para o esgotamento dos nutrientes dos solos e a degradação da microbiologia, além de introduzir elementos químicos artificiais no sistema agrícola dentro dos ecossistemas circundantes.


A agricultura permacultural procura desenvolver tecnologias de baixo impacte ambiental através de processos que favoreçam a natureza.

Mas há outras áreas em que se aplicam os princípios da Permacultura:
- gestão participativa
- eco-restauração
- composição paisagística
- utilização de materiais reciclados ou usados para vários fins
- incorporação dos conceitos de moradia ecológica e o desenho das eco-aldeias
- reciclagem de nutrientes no solo através da compostagem e re.uso de água domésticas
- recuperação de áreas degradada
- etc

Permadesign

Permadesign pode ser definido como o desenho de produto funcional, ecologicamente correcto em termos materiais usados e para a função a ser desempenhada, dentro de uma concepção de uso permanente e que seja esteticamente concebido.
Trata-se de um design de objectos que está preocupado com valores ecológicos desde a sua concepção, forma de fabrico, função e materiais empregados, reciclados ou não, e que vem a constituir um novo rumo na indústria artesanal.
Esta nova escola de design constitui um paradigma novo em franca expansão.

As matérias-primas utilizadas dentro deste conceito podem ser variadas, tais como: o papel reciclado, a borracha e os plásticos descartados e reaproveitados, os meais de ferros-velhos, os ladrilhos de demolições para compor mosaicos, os vidros reciclados para fabricar vasos de flores e objectos de decoração, as telas de plástico usadas na construção civil como assento de cadeiras, o papelão, as casacas de árvores, as pedras e as fibras, entre muitos outros materiais que podem ser utilizados para dar largas à criatividade de cada designer.


O permadesign contrapõe-se ao desenho industrial que é o responsável pelos produtos usados na sociedade de consumo, e que tem um impacte negativo no meio ambiente.

William Morris

Em "News from Nowhere, or an Epoch of Rest" (1891), William Morris narra o seu sonho de uma sociedade melhor, transposta para o séc. XXI, e do papel da arte na edificação da mesma. Assim, nessa sua utopia, os habitantes de Londres recuperaram o gosto pela arte e pela beleza, as pessoas são bonitas, saudáveis, alegremente vestidas, e o simples facto de viver na beleza fez redescobrir o prazer e a alegria da criação; a recompensa do trabalho reside, precisamente, na possibilidade de criar. Os mecanismos disciplinares são inexistentes. A abolição da propriedade privada, da escravidão das mulheres e da tirania familiar instaurou uma sociedade de iguais. Portanto, sem código civil nem criminal. E também sem política. A diferença de opiniões já faz parte, como fazia antes, do «jogo dos mestres da política». A maioria procura convencer as minorias. A Inglaterra é agora um jardim. Desapareceram os «distritos industriais», a maquinaria e a grande indústria já não estragam as paisagens. As aldeias, outrora anexos de distritos industriais, foram reabilitadas, e porque os citadinos foram para lá viver, da supressão da diferença entre a cidade e o campo nasceu uma cultura vivificada pelo intercâmbio entre o espírito urbano e a tradição camponesa. As rivalidades entre nações desapareceram. Nem por isso as raças e os países deixaram de conservar as suas características próprias, porque todos estão «empenhados na mesma empresa». Leitor assíduo de Fourier, subscreveu a crítica deste à civilização e ao feudalismo comercial, enquanto que os textos de Marx lhe inspiraram uma análise do feiticismo da mercadoria, uma crítica da alienação e da divisão do trabalho, e uma pintura da sociedade comunista prometida, em que o indivíduo gozará de uma autêntica alegria de viver e reencontrará não uma natureza selvagem, mas uma natureza que ele transformará em jardim. Morris tem atrás de si um combate de artista contra os malefícios da industrialização e os «empecilhos da civilização». Para ele, a vida civilizada não passa de um ersatz, um sucedâneo em comparação com o que devia ser a vida na terra. O seu desejo de produzir coisas belas levou-o a denunciar a pobreza da cultura na sociedade vitoriana, traduzida, sobretudo, nas «pretensas distracções públicas», que tornam os «momentos de descontracção dos citadinos vazios de sentido». Morris é o herdeiro de uma tradição de crítica social que estigmatizou a fé na máquina, uma tradição inaugurada por Thomas Carlyle e que prosseguiu com John Ruskin e Mathew Arnold. Morris foi o primeiro a praticar esta contestação da degenerescência industrial, como arquitecto do grupo pré-rafaelita e fundador de uma empresa de decoração cujos trabalhos anunciam o "modern style", e, posteriormente, a partir das artes tipográficas, lançando uma casa editora; torna-se, ainda, militante activo na Socialist League, a ala esquerda do socialismo inglês. Não se cansa de dizer que «a causa da arte é a causa do povo». O seu percurso estético e político torna a sua obra duplamente premonitória: por um lado, associa o humanismo romântico à causa da classe operária e anula o fosso entre visão poética e prática política, sendo um dos primeiros críticos de um materialismo restritivo que levou ao empobrecimento da sensibilidade e à anulação do imaginário; por outro lado, pela forma como problematiza os efeitos do capitalismo industrial sobre a civilização e a cultura modernas, Morris anuncia debates que, três décadas depois, irão abrir-se em torno da crise da universalidade que se confunde com a crise dos valores universais de que a alta cultura se orgulha. Com ele esboçam-se os contornos de um imaginário contestatário da produção cultural de massa, antes de esta receber tal nome e se desenvolver. E, principalmente, antes de se vislumbrar a pretensão desta cultura mediada pelo mercado e pela técnica, de reger com mão de ferro o relacionamento social universal.