24.5.06

Contra a militarização das mulheres




24 de Maio – Dia da Mulher Anti-militarista
International Women's Day for Peace and Disarmament - IWDPD


«As mulheres estão cansadas de parir para a guerra. Desactivemos todos os artefactos da guerra, quer os de ferro quer os que utilizam as palavras para incitarem a fazer a guerra, quer ainda os que produzem o esquecimento…»


As mulheres são algumas das principais vítimas das guerras. Durante os tempos chamados de guerra a violação sistemática de mulheres, quer nas frentes de batalha quer noutras partes do território, convertem as mulheres como algumas das principais vítimas das guerras. Penetrar no corpo das mulheres pertencentes à parte derrotada constitui um sinal mais de conquista e domínio senão mesmo um troféu de guerra. A participação das mulheres no movimento anti-militarista permite trazer contributos importantes na denúncia e acusação contra as mais variadas expressões do militarismo, entre as quais ser este mais um prolongamento do regime patriarcal em que vivemos. Na verdade, o contributo feminista permite ampliar as perspectivas e desocultar a natureza intrínseca da violência e o ódio militar.

Não se pense com isso que vejamos as mulheres como símbolos da tranquilidade e pacíficas por natureza. Não, nada disso. As mulheres são e devem continuar a ser determinadas, firmes nas suas tomadas de posição. Acontece que as mulheres são educadas geralmente a resolver os conflitos sem o uso da força. Ora esse património não se pode, nem se deve perder.
O exército, o militarismo, as guerras supõem uma visão viril da honra, do heroísmo, do patriotismo, da hierarquia e das relações de poder. É contra tudo isso que as mulheres amantes da paz devem levantar-se e fazerem-se ouvir.

A incorporação e o alistamento das mulheres nas forças armadas, com o pretexto da igualdade de direitos, constitui mais uma mistificação que urge desmontar, mostrando até que ponto a hierarquia e os valores militaristas são visceralmente patriarcais e característicos do patriarcado secular que tem dominado as nossas sociedades.

As mulheres não querem ser «iguais» aos homens para matar e torturar, nem muito menos iguais a eles para obedecer aos superiores, pois isso é meio andado para chegar às maiores degradações e humilhações. As mulheres não querem nem desejam ser submissas. Ter direitos iguais não deve significar sujeitamo-nos à hierarquia miltarista do quero, posso e mando. A igualdade de géneros passa pela liberdade e não submissão ou pelo treino militar dentro de um exército.

Desde os inícios dos anos 80 que o dia 24 de Maio é comemorado como o dia Internacional das mulheres pela Paz e pelo Desarmamento como forma de recordar e difundir as múltiplas acções e iniciativas protagonizadas pelas mulheres anti-militaristas e pacifistas ao longo dos tempos. Nos últimos anos tem-se registado uma multiplicação de redes a nível internacional que reúnem um número cada vez mais crescente de mulheres que lutam pela paz e pelo desarmamento. Quer na Grã-Bretanha, Irlanda, Estados Unidos como na América Latina e em África tem-se sucedido várias iniciativas que tem como objectivo despertar a consciência anti-militarista das mulheres e reforçar a sua determinação em lutar, pela paz e pelo desarmamento.

As mulheres têm um importante contributo a dar à luta anti-militarista na medida em que, mais do que ninguém, são as principais agentes humanitárias pela ética para com a vida, são elas que elegem geralmente a comunicação empática e a intermediação como meios privilegiados para a resolução dos conflitos. E ninguém dúvida que são as mulheres que assumem um relevante papel durante e após os conflitos bélicos em varíadissimas áreas sobretudo as que têm a ver com a atenção e a gestão das primeiras necessidades das populações atingidas pelos efeitos das guerras e dos conflitos bélicos em geral.

Neste dia internacional da Mulher pela Paz e pelo Desarmamento as mulheres anti-militaristas de todo o mundo vem-nos recordar a necessidade de uma desmilitarização geral ( dos Estados como das mentes dos indivíduos) e um desarmamento mundial como factor indispensável para o fomento do desenvolvimento humano e social de toda a humanidade.

Não mais exércitos nem investimentos na investigação, produção e comercialização de armas. Estimulemos antes uma política baseada na prevenção dos conflitos actuando, desde logo, a partir da sua raiz e das causas que lhes dão origem.

È preciso superar a ordem mundial bipolar entre o bem e o mal que nos querem impor, e restabeleçamos a confiança por meio de reformas económicas e políticas que garantam uma vida digna à humanidade inteira.

Que se exija aos media e aos sistemas educativos, chaves-mestras da manutenção da militarização social, que invertam as suas orientações no sentido de divulgarem quais são as verdadeiras razões e origens dos conflitos mundiais que atravessam as sociedades contemporâneas. Que a imprensa e o ensino sejam os estimuladores de uma consciência pacifista vivida e sentido por todos.


http://www.peacewomen.org/wpsindex.html

www.womensaynotowar.org

Sandwiched between International Conscientious Objectors' Day (15 May), and International Day for Children as Victims of War (4 June), is another opportunity for action: 24 May, International Women's Day for Peace and Disarmament (IWDPD).
This day began in Europe in the early 1980s, when hundreds of thousands of women organised against nuclear weapons and the arms race. Activists in the then-numerous women's peace groups declared the day in order to stimulate even more women's peace actions. As the anti-nuclear weapons movement declined in Europe, so did activities on the day. A handful of international women peace activists, meeting in the Peace Tent at the 1995 UN World Conference on Women in Beijing, decided to re-vitalise the day, again in order to stimulate women's peace activities, but also to gain more recognition for what women activists are already doing.

Challenging militarism

These two goals remain valid and important. There has been an increase in lip service to the idea that women have an essential role in building peace and challenging militarism. But the reality of sexism, both within peace movements and in the wider world, continues to undermine and block women's full participation.
IWDPD on 24 May is an opportunity to encourage more women to get involved in peace actions, to show concrete solidarity with women working for peace in the midst of conflicts and to celebrate peace women's accomplishments.

Cronologia (incompleta) do movimento das mulheres contra as guerras



1914
A Aliança Internacional de Mulheres pelo Sufrágio apresenta uma petição aos governos da França, Alemanha e Grã-Bretanha para que cessem as hostilidades e se acabe com a guerra

1915
Em Haia é criada a Liga Feminina Internacional pela Paz e a Liberdade como repúdio à I Guerra Mundial
En Berna tem lugar a Conferência Pacifista organizada pelas mulheres socialistas em repúdio pela guerra

1924
No Uruguai surge o Comité Feminino Anti-Militarista para se opor a um projecto de lei do Senado que cria o Serviço Militar Obrigatório

1954
No Japão começa uma campanha contra as armas nucleares que reúne 32 milhões de assinaturas nesse país e 670 milhões de outras provenientes de todo o mundo. Jiratsuka Raichoo, vice-presidente da Federação Internacional de Mulheres Democráticas, faz um apelo a todas as mães do mundo para lutar pela paz.

1955
Na Suíça realiza-se o I Congresso Mundial das Mães opositoras à guerra e que é organizado por Eugene Cotton, conhecida física francesa e presidente da Federação Internacional das Mulheres Democráticas. Assistem mil delegadas de 71 países.

1981
Instala-se o primeiro acampamento feminista de cáracter pacifista em Greenthanam, Inglaterra

1982
O dia 24 de Maio e declarado Dia Internacional das Mulheres pela Paz e pelo Desarmamento em memória das lutas das mulheres britânicas que se opuseram à NATO e à instalação das suas bases militares em território europeu.

1987
É criada em Israel a Rede de Mulheres de Negro e que é integrada por judias, árabes, católicas e palestinianas, iniciativa que visa protestar contra a ocupação israelita da Cisjordânia e de Gaza

1991
Surge em Belgrado a Rede de Mulheres de Negro no contexto dos conflitos da ex-Jugoslávia

1993
11 activistas da Rede de Mulheres para a proibição de ensaios nucleares são condenadas em Londres a pagar multas por terem entrado, em Julho desse ano, no recinto do Buckingham Palace a fim de protestar pelos ensaios nucleares britânicos no deserto do Nevada nos USA

1995
As mulheres de 16 organizações do movimento de mulheres do Equador e do Peru pedem a cessação imediata dos confrontos armados entre ambos países por causa de um conflito territorial. Através de um apelo conjunto exigem aos governos de Lima e de Quito que «recorram ao diáologo e à tolerância, de forma a que as armas se convertam em pão».

O movimento «Mães dos Soldados» (russos) protesta contra a guerra na Tchechenia, levando inclusivamente a cabo algumas acções de boicote à guerra ao viajarem para a zona dos confrontos com o objectivo de encontrarem os seus filhos e levá-los para casa. No balanço final conseguiram que 500 tivessem abandonado os combates.

1996
Durante as negociações de paz entre o governo palestiniano e os Estados Unidos, as feministas palestinianas deslocaram-se a Washington e depois de criarem o seu próprio comité forçaram a direcção palestiniana a aceitá-las como delegação oficial e, assim, a tomarem parte do processo.

1997
Um colectivo de organizações de mulheres do Ruanda recebe o Prémio Unesco-Madanjet Sing para a tolerância e a não violência pelo seu trabalho conjunto na promoção dos direitos das mulheres na construção da paz e na luta contra a injustiça social.

A activista norte-americana Jody William recebe, em nome da organização «Campanha Internacional contra as minas antipessoais» (ICBL, em inglês) o Prémio Nobel da Paz pelo facto de ter criado e impulsionado aquela campanha.
«A maioria do mundo libertou-se do colonialismo, da escravidão e da segregação racial. Já é hora de também começarmos a pensar em declarar ilegal a guerra» Lê-se numa petição pela Paz apresentada por 150 organizações de mulheres de todo o mundo, apoiadas por mais de 100.000 assinatura e entregue neste ano à Assembleia Geral das Nações Unidas.

1998
Cerca de 400 delegadas organizações de mulheres reúnem-se em Belfast tendo como um dos objectivos fundamentais pedir a participação activa das mulheres no processo de paz na Irlanda do Norte

1999
A artista e activista pacifista Sarah Chamberlain exibe durante a Conferência Internacional de ONGs realizada em Haia, sob o lema «Apelo pela Paz», o Muro da Paz das Mulheres que foi construído com 300 quadros de plástico transparente, cada um gravado com a palavra paz e diferentes idiomas

Durante a Conferência Mulheres em situações de recontrução pós-guerra, celebrada em Joanesburgo consolida-se a Coligação de Mulheres Africanas contra a Guerra, cujo objectivo é realizar acções de apoio às mulheres vítimas de conflitos armados. Um dos temas tratados desta reunião foi a violência contra as mulheres antes, durante e depois dos conflitos armados.

Ao longo dos últimos anos, em diversas cidades do mundo, os grupos de mulheres pertencentes à rede internacional Mulheres de Negro têm realizado marchas silenciosas como forma de protesto pela morte e desaparecimento de milhares de pessoas durante os conflitos armados ( ex-Jugoslávia, Ruanda, Palestina, Argélia, Kurdistão, Tchechenia, Iraque, etc)

2003
Mary Kelly, uma mãe e activista pacifista irlandesa de 50 anos, desmonta e danifica ( calcula-se que os danos tivessem sido de 500.000 euros) seriamente um avião e guerra norte-americano estacionado numa base militar da Irlanda
continua...