30.1.06

A não violência

( a propósito do Dia Mundial da Não violência, 30 de Janeiro)

Sobre Gandhi e a não-violência, consultar:
http://pimentanegra.blogspot.com/2005/01/gandhi-e-o-dia-da-no-violncia-30-de.html


O que é a não-violência?

A não-violência é um variado conjunto de meios destinados, em situações de divergência e ou de conflito, a fazer respeitar-se e a fazer respeitar as ideias e os fins que julgamos os mais adequados. Note-se que a não-violência é também um comportamento comunicativo - e de escuta - pelo qual alguém se exprime sem infligir sobre o seu interpelante juízos vexatórios nem humilhantes. ( ver a este propósito o livro de Marshall Rosenberg, «Les mots sont dês Fênetres ( ou bien ce sont dês murs). Initiation à la communication non-violente, Syros, 1999)
A não-violência assenta no pressuposto de que o poder repousa naqueles que são objecto de sujeição e opressão, pelo que, em consequência, a recusa destes em colaborar levará à dissolução daquele mesmo poder.


Qual é a origem do termo?

A génese do termo de não-violência data dos anos 20 do século XX e aparece na língua inglesa graças a Gandhi que a utilizou a partir da palavra do sânscrito «ahimsa» que significa «não fazer mal», tendo passado para o francês por volta de 1924.

Deve-se a Gandhi a noção de não-violência?

Gandhi não criou nem inventou a chamada não-violência. O seu papel consistiu antes em ter conseguido reunir conceitualmente os vários meios e formas de luta não-violenta ( a greve, a desobediência civil) que já eram conhecidos anteriormente e mais ou menos utilizados antes da sua época. Gandhi associou-os à ideia da recusa da violência, teorizando a ideia e a prática da luta não-violenta. Recorde-se no entanto que autores precedentes como La Boétie (Discours sur la servitude volontaire, de 1546), Ralph Waldo Emerson, Henry David Thoreau (n.1817)

É preciso ser uma pessoa excepcional para ter um comportamento não-violento?

Não é preciso ser ou parecer-se com personagens ímpares como Gandhi, nem muito menos partilhar as suas crenças e opiniões para se adoptar comportamentos ou formas de luta não-violenta. Com efeito, muitas outras pessoas vulgares levaram a cabo acções e campanhas não-violentas, o que revela bem que se trata de um método de combate de validade universal e ao alcance de todos e de todas. É certo que algumas das formas de luta não-violenta carecem de uma grande dose de coragem e presença de espírito, mas tais atributos estão ao alcance de todos, inclusivamente das pessoas fisicamente mais fracas e frágeis. Na verdade, enquanto a acção violenta é normalmente apanágio dos homens e dos jovens, a não-violência pode mobilizar os mais variados géneros de pessoas, desde as mais frágeis até às mais atrevidas e ousadas.

Quais foram as principais acções não-violentas, historicamente conhecidas?

Entre as muitas acções de luta não-violenta, destacam-se as seguintes:
- a resistência dos professores noruegueses face ai governo colaboracionista de Quisling e a Hitler (1941-41)
-a resistência dos Búlgaros contra a tentativa dos nazis de deportar os judeus búlgaros, o que permitiu salvar toda essa comunidade de judeus búlgaros, calculada em 50.000 pessoas.
-a resistência civil dos dinamarqueses para defender os judeus da Dinamarca ( 1943)
-a queda da ditadura de Ubico na Guatemala em 1944
- o boicote aos transportes urbanos em Montgomory (Alabama) em 1955 contra a discriminação racial
-A resistência da maior parte dos checos contra a invasão dos tanques soviéticos em Agosto de 1968 contra os negros norte-americanos
- o movimento pelos direitos cívicos e contra as discriminações raciais nos Estados Unidos encabeçada por Martin Luther King e que teve como ponto alto na mega-manifestação em 28 de Agosto de 1963 que reuniu em Washington mais de 250.000 pessoas
- a luta anti-apartheid protagonizada por Nelson Mandela, e largamente inspirada em Gandhi, até 1961, pois a partir desta data o seu movimento aderiu à luta armada
- a resistência dos dissidentes russos durante os anos 70
- a greve de César Chavez e dos chicanos californianos entre 1965 e 1970
-a luta dos camponeses de Larzac (França) contra a extensão de um campo militar (1972-81)
- a luta das mães ( e das avós) da Praça de Maio, na Argentina, sobretudo durante o período ditatorial ( 1977-1983)
- A acção desencadeada pelo sindicato Solidariedade na Polónia ao longo da década de 1980
- derrube do regime de Didier Ratsiraka em Madagáscar em 1991
- a resistência de Aung Suu Kyi na Birmânia desde 1988
- a luta ecologista protagonizada por numerosas associações e activistas, entre as quais a Greenpeace desde 1971
- a acção da maioria dos críticos à globalização capitalista.


Qual é a eficácia da não-violência?

Tal como a violência, as múltiplas formas e lutas não-violentas têm tido desenlaces e resultados contraditórios. Umas vezes com sucesso, outras em fracasso. Mas nunca chega a atingir o número de vítimas que a luta violência gera habitualmente.

Não foram os judeus vítimas da sua própria acção não-violenta contra os nazis?

Excepto alguns casos pontuais de insurreição e de resistência violenta ( por exemplo, a insurreição do gueto da Varsóvia), os Judeus não oefreceram praticamente nenhuma resistência ( seja ela de carácter violento ou não-violento) ao seu genocídio. Houve, todavia, casos de resistência não-violenta à deportação dos judeus pelos Nazis, como aconteceu na Bulgária, que conseguiu os seus objectivos.

A não-violência permite o fraco de defender-se do forte?

Ao contrário da violência, e dos respectivos métodos, onde a parte mais forte e mais preparada e apetrechada consegue impor pela força a sua vontade e os seus objectivos, a não-violência confere à parte mais fraca uma superioridade moral e um ânimo de luta que pode levar à derrota do mais forte.

Quem é geralmente o adversário das lutas não-violentas?

Salvo nas situações de agressão individual ou grupal, as lutas não-violentas dirigem-se, habitualmente, não contra uma pessoa em particular, mas contra todo um sistema político e social, uma autoridade investida com um poder sobre os demais.

A não-violência pretende convencer o adversário?

A acção não-violenta é uma forma de luta. Mais que pretender convencer o adversário, ela tem com finalidade impedir que este atinja os seus objectivos, sem causar danos à sua pessoa ou aos seus representantes e agentes.

Quais são os meios e métodos de acção mais utilizados na acção não-violenta?

Dada vastíssima gama de recursos não-violentos torna-se difícil expor exaustivamente todos eles. Apontam-se por isso tão-só os mais conhecidos:

- a greve ( e muita outras modalidade de greve: greve de zelo; greve de fome; greve ao trabalho, etc,etc)
- a desobediência civil
- a objecção de consciência ( que tem também diversas modalidades como a objecção fiscal)
- a obstrucção civil
- boicotes sociais
- embargos
- a realização de manifestações de rua ou cortejos
- realização de marchas
- realização de assembleias públicas
- sit-ins, sit-down
- ocupações de via públicas ou de certos locais
- a não-cooperação ( legal ou ilegal)
- a mediação
-a discussão e negociação
- a informação
-teatro de rua e representações públicas
- actos públicos simbólicos
- vigílias
- concertos, canções de rua ou actos
- cartas abertas
- petições e abaixo-assinados
- cartazes, panfletos e «pichagens» nas paredes e ruas
- publicações periódicas e não-periódicas
- realização de contra-cimeiras ou de conferências paralelas.
- emigração ou exílio

Etc, etc


Breve bibliografia:

Maurel, Olivier – La non-violence active, 100 questions-réponse pour résister et agir, La Plage éditeur, 2001

Sharp, Gene – The Politics of Nonviolent, Three volumes ( Vol 1 Power and Struggle ; Vol 2 The Methods of Nonviolent Action ; Vol. 3 The Dynamics of Nonviolent Action), ed. Extending Horizon Books, 1998.

Sessão comemorativa do dia mundial da não-violência no Porto (30 de Jan.)

(iniciativa da Campo Aberto e do Gaia-Porto no dia 30 de Jan.)

CAMPANHA PELA PAZ E NÃO-VIOLÊNCIA

Em tempos de guerra, associações ambientalistas assinalam Dia Mundial de Mahatma Gandhi no Porto


No dia 30 de Janeiro assinala-se, um pouco por todo o mundo, o Dia Mundial de Mahatma Gandhi em homenagem a esse grande mentor da Paz e Não-Violência, cujo assassinato ocorreu justamente nesse mesmo dia do ano de 1948.

A Campo Aberto - associação de defesa do ambiente e o GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental, núcleo do Porto, associam-se a essa iniciativa não-governamental, independente, não-partidária, no âmbito mais geral da educação para a paz, a solidariedade e o respeito pelos direitos humanos. Convidam igualmente outras organizações não-governamentais portuguesas, particularmente as de defesa da natureza, da paz e dos direitos humanos, e os cidadãos em geral, a associarem-se a esta comemoração.

Para assinalar a data, a organização convida todos os interessados para a sessão a realizar na sede de trabalho da Associação Campo Aberto (Rua de Santa Catarina, 730-2.º andar direito, já perto do cruzamento com a rua Gonçalo Cristóvão, no Porto), na segunda-feira, 30 de Janeiro, às 21H30. Será projectado um documentário alusivo à questão da paz, seguido de um pequeno debate sobre o tema.

A filosofia e a metodologia da Paz e da Não-Violência, em grande parte inspiradas no exemplo vivo de Gandhi e em outras figuras como Henri David Thoreau, Tolstoi e Martin Luther King, foram, explícita ou implicitamente, adoptadas pela maioria das ONG (organizações não-governamentais) por todo o mundo, nomeadamente muitos dos grupos ecológicos e de defesa da natureza.
À máxima cínica e violenta que norteia a conduta das potências e dos estados («Se queres a paz, prepara a guerra», contrapomos, na esteira de Gandhi, a máxima oposta, que cremos mais realista e justa: «Se queres a paz, cultiva a paz». Paz entre as sociedades e as nações e no interior delas, mas também paz da humanidade com a natureza em vez da guerra sem quartel que actualmente transparece nas agressões das nações fortes contra as fracas e na destruição acelerada da natureza e dos seus sistemas vitais.

Dia Escolar da Não Violência e a Paz (30 de Janeiro) e a Educação para a Paz



O dia Escolar da Não Violência e a Paz, fundado pelo educador e poeta Llorenç/Lorenzo Vidal em 1964 é uma iniciativa pioneira não estatal, não-governamental, não-oficial, independente, livre e voluntária de Educação Não-Violenta e Pacificadora ou também conhecida por Educação na e para a Não-Violência e a Paz. Este dia é seguido em várias escolas de todo o mundo e são convidados a nela participar todos os professores e educadores interessados.
O dia coincide com o dia 30 de Janeiro, data da morte de Gandhi

29.1.06

Conferência da Internacional dos Resistentes à Guerra (WRI)na Alemanha entre 23 e 27 de Julho de 2006


A conhecida organização anti-militarista e pacifista War Resister Internacional ( Internacional dos Resistentes à Guerra) fundada em 1921 está a convocar todos os pacifistas e anti-militaristas para uma grande Conferência Internacional a ser realizada na Alemanha no próximo mês de Julho ( 23 a 27 de Julho).

A IRW existe para promover a acção não-violenta contra as causas da guerra e apoiar e pôr em ligação todos quantos em todo o mundo recusam participar nas guerras e nos seus preparativos. Nesse sentido, a IRW trabalha para um mundo sem guerra. Consiste fundamentalmente numa rede de paciifistas anti-militaristas e activistas não-violentos distribuídos por todos os continentes.


Direcção:
War Resister's International 5 Caledonian Road London N1 9DX Grande Bretagne +44 20 72784040
Para mais informações e registar-se como participante :

Debates :

-analisar a situação actual da globalização económica cultural e política, e observar como a globalização capitalista e o militarismo estão relacionados.

- desenvolver estratégias de resistência não-violentas face às injustiças provocadas pela globalização capitalista

- Pensar e como realizar as alternativas sociais pela não-violência

-Reunir os aletmundialistas, os pacifistas e os antimilitarista, assim como a rede do IRW para torça de ideias e ver as oportunidades de resistência não-violenta

- reforçar as redes e criar novas ligações entre os militantes do mundo inteiro

Temáticas:

1)Globalizar a não-violência

2) Analisar a militarização e a globalização

3) Aprender a fazer a globalização a partir da base

4) Formular um quadro estratégico de não-violência

5) reflectir e analisar as manifestação e as mudanças sociais

Grupos temáticos a constituir:

-sobre o militarismo numa sociedade globalizada
-sobre a presença militar

- sobre as acções e intervenções não-violentas

- sobre a estratégia da não violência

- sobre o direito à recusa a matar

-sobre os beneficiários das guerras

- sobre a formação e educação da não-violência

- sobre a actividade de vídeo dedicada à não-violência

25º aniversário do colectivo de Objecção e antimilitarismo (MOC)


25 anos a criar desobediência civil, educação pela paz, pedagogia anti-autoritária, autogestão, reflexão, comunicação livre e libertadora, redes de solidariedade e de ternura, enfim, 25 anos a gerar alternativas antimilitaristas

Programa de festas

Sábado 4 Febrero, ás 12h.
Paseo de Antimili-turismo
Ruta histórica25 Años de historia antimilitarista en ZaragozaPza. España junto a la DPZ


Às 21h…
F I E S T A
A m b i e n t - d e s o b e d i e n t eActuaciones ::: Teatro Antimilitarista ::: Tapas vegetarianas ::: Talleres (grafitti, chapas...) ::: Sorteos ::: Tarta sorpresa ::: JeJeoficina de Reclutamiento

Centro Laín Entralgo Pº de la Mina, s/n junto Plz. San Miguel
50001Zaragoza
COA/AA. MOC Internacional de resistentes a la guerra

18 de Março, às 12 h.


Ruta del desarmeIII Aniversario Internacional Guerra IrakSalida Plz. España, junto a la DPZ
Inauguración Sala de «cine pobre»

31 de Março, ás 21 h.


«Donde se cuecen las guerras»Los campos de maniobras (Chinchilla de Monte Aragón) 2005Lugar Treziclo, Liñán 8

Talleres de Artivismo Efímero


Risobediencia
17 de febrero

Destruyendo el concepto «enemigo»
24 de febrero

Creacción
24 de marzo

Jejejército
7 de abril

Lugar Treziclo, Liñán 8Los viernes a las 20 h.

Inscripciones976 39 30 08 (Lunes 20 -22h)696 34 35 86

COLECTIVO DE OBJECION Y ANTIMILITARISMO- ALTERNATIVA ANTIMILITARISTA.MOC,

membro daInternacional de Resistentes à Guerra (IRG-WRI)

C/ Lian 8, local dcha. *Treziclo*, 50001 Zaragoza
(*Treziclo* es un espacio compartido en Zaragoza por: Towanda, Os diaples d’Uerba, y COA.MOC)

Tfno.: 976 39 30 08 (lunes de 20,30 a 22h.)Apdo. correos: 1286 (50080) Zaragoza.

Visita: http://www.antimilitaristas.org

Quatro textos de Einstein


Declaração de 1933

Enquanto me for possível viverei num país em que haja liberdade políticas, tolerância e igualdade face à lei. A liberdade política abrange a liberdade de expressar as convicções, assim como o respeito pelas crenças de um indivíduo. Estas condições não são cumpridas pelas pela Alemanha actual. Os homens que se dedicam à causa internacional e alguns destacados artistas são perseguidos. Da mesma maneira que nos indivíduos, os organismo de uma sociedade podem adoecer , sobretudo em tempos difíceis. As nações devem esforçar-se para sobreviver às suas doenças. Espero que a Alemanha depressa recupere, e que num futuro próximo possa elogiar eminências como Kant e Goethe não só de quando em quando mas que a vida oficial e particular de fundamente nas suas obras.



Uma Moral

É curiosa a nossa situação de filhos da terra. Estamos cá numa breve visita e não sabemos com que fim, ainda que por vezes possamos pressenti-lo. Face à vida quotidiana não é preciso reflectir muito: estamos para os outros. Antes de mais para aqueles cujo sorriso e bem estar depende a nossa felicidade; mas também para tantos desconhecidos cujo destino nos vincula uma simpatia. Penso mil vezes ao dia que a minha vida externa e interna se baseia no trabalho de outros homens, vivos ou mortos. Sinto que devo esforçar-me para dar na mesma medida que recebi, e continuo a receber. Sinto-me inclinado à sobriedade, oprimido muitas vezes pela impressão de necessitar do trabalho dos outros. Pois não me parece que as diferenças de classe se justifique,: em última instância, baseiam-se na força. E creio que uma vida exterior modesta e sem pretensões é boa para todos quer para o corpo quer para a alma.


Da riqueza

Não há riqueza capaz de fazer progredir a humanidade nem capaz de a manipular por alguém que assim quisesses. A concepções nobres, nobres acções, só conduz o exemplo altas e puras personalidades. O dinheiro não leva senão ao egoísmo e conduz irremediavelmente ao abuso. Poderemos nós imaginar Moisés, Jesus, Gandhi subvencionados pelos bolsos de Carnegie?


Autêntico Solitário

Há uma contradição entre a minha paixão pela justiça social e a minha completa carência de necessidade de companhia, de homens ou de comunidades humanas. Sou um autêntico solitário. Nunca pertencerei – de todo - ao Estado, à Pátria, ao círculo de amigos nem ainda à família mais próxima. O limite na compenetração com o próximo resulta da experiência. Aceitá-lo é perder parte da inocência, da despreocupação. Mas em troca outorga independência face a opiniões, costumes e juízes alheios, e a capacidade de rejeitar um equilíbrio que se funda sobre bases tão instáveis.

Retirado:
http://www.rebelion.org/noticia.php?id=25877

O Fórum Económico Mundial em Davos discute sexologia!


Segundo notícias veiculadas pelo semanário Le Nouvel Observateur os debates sobre sexologia orientados por Dagmar O’Connor no Fórum Económico Mundial em Davos ( Suiça) atrairam mais pessoas do que as discussões propriamente económicas.
Os grandes patrões, reunidos no Fórum, não deixaram de marcar a sua presença maciça num seminário sobre sexologia, preferindo-o às enfadonhas mesas redondas sobre a crise energética ou mesmo sobre a economia florescente da China.
O seminário da sexóloga nova-iorquina Dagmar O’Connor foi tão concorrido que foi preciso repeti-lo tal foi a afluência registada. «Tive uma grande surpressa ao ver tanta gente desejosa de falar sobre as suas relações íntimas», declarou Dagmar O’Connor, que acrescentou: « O que desconfio é que as pessoas têm uma vida profissional tão absorvente que não têm sequer tempo para o sexo.». Informou inda que na primeira sessão as questões incidiram sobre homossexualidade, os abusos sexuais, a menopausa, a lubrifcação dos órgãos sexuais ou a maneira de segurar uma união. Verificou então que os presentes são como todos os patrões do mundo: todos eles fazem um paralelismo entre ávida profissional e a potência sexual. Satisfeita pelo seu sucesso, ela confessa que gostaria muito de regressar no próximo ano.

27.1.06

Democracia ecológica


A democracia ecológica não deve ser confundida com a democracia representativa nem muito menos com a forma republicana de governar.

A democracia em geral refere-se ao governo do povo, enquanto na democracia ecológica dá-se voz também não só ao povo como ainda à natureza.
Note-se, no entanto, que a democracia ecológica não pode alcançar-se sem uma autêntica democracia participativa de base, nem ainda na ausência de uma consumada democracia económica e social.

Há quem indique como características de uma democracia ecológica os seguintes elementos:

- Sabedoria ecológica
-Responsabilidade pessoal e social
-Valores pós-patriarcais
-Descentralização
-Perspectivas de futuro
-democracia participativa de base
-respeito pela diversidade
-Economia baseada na sociedade
-Não violência
-Responsabilidade mundial


A democracia ecológica não se limita ao processualismo democrático nem à chamada democracia representativa. Envolve quer a democracia económica como ainda a satisfação de necessidades que não sejam meramente físicas.
A este propósito, o sociólogo Manfred Max-Neef aponta fundamentalmente nove necessidades básicas:

-a subsistência
- o afecto
- a compreensão
- a participação
- o ócio
- a criação
- a identidade
- o sentido
- a liberdade


Por seu turno, a conhecida ecologista Wangari Maathai ( Prémio Nobel da Paz de 2004) esboçou alguns princípios da democracia ecológica:

- eliminar a pobreza
- estabelecer um comércio justo e respeituoso com o meio ambiente
-inverter o fluxo líquido dos recursos entre o Sul e o Norte
-reconhecer as responsabilidades do que está a suceder no mundo das indústrias e das grandes empresas
-modificar os modelos de consumo depredadores
-internacionalizar os custos ambientais e sociais dos recursos naturais
-assegurar um acesso equitativo a tecnologias ambientais sãs e aos seus respectivos benefícios
-redireccionar os gastos e as despesas militares para objectivos sociais e ambientais
-democratizar as instituições sociais e as estruturas de tomada de decisões locais, nacionais e internacionais.


( excertos do livro de Franz J. Broswimmer, Ecocídio)

Ecocídio


Ecocídio é o conjunto de acções realizadas com a intenção de perturbar ou destruir, em todo ou em parte, o ecossistema humano.
O ecocídio abrange o uso de armas de destruição maciça, nucleares, bacteriológicas ou químicas; a tentativa de provocar desastres, pretensamente, naturais; a utilização militar de desfolhantes; o uso militar de desfollhantes para alterar a natureza e qualidade dos solos ou então para provocar o risco e o aparecimento artificial de doenças; o arrasamento de bosques e de terrenos de cultivo para efeitos miliatres; ou a tentativa de mudar a meteorologia ou o clima com fins hostis; e, finalmente, a expulsão em grande escala, pela força e de forma permanente, dos seres humanos ou de animais em geral do seu local habitualde residência para facilitar a consecução de objectivos militares ou de outro tipo.
O conceito de ecocídio pode ainda estender-se analiticamente para descrever os modelos destrutivos contemporâneos, bem como a degradação ambiental global e a extinção antropogénica em massa das espécies.

( extraído do livro de Franz J. Broswimmer, Ecocídio)

Sistemas de dominação social e conceitos associados


Há fundamentalmente 5 sistemas de dominação social que organizam de uma ou outra maneira todas as sociedades estratificadas: são os sistemas baseados na classe ( elitismo classista), o sexo ( sexismo), o domínio étnico ( racismo), a idade ( discriminação em função da idade, como por exemplo a gerontocracia), o território ( como o nacionalismo).
As dominações das sociedades humanas sobre as espécies não humanas e sobre a natureza, assim como as respectivas ideologias ( o especismo, e o antropocentrismo) poderiam ainda acrescentar-se àquelas enquanto categorias analíticas suplementares.

Classe social constitui um dos cincos de dominação social que afectam os subsistema de saúde, alojamento, religião, educação, ócio, e auto-estima. Esta definição de classe é completamente distinta da que é utilizada por certos sociólogos que empregam o termo para referir-se ao nível de rendimento ( falando, por exemplo, de classe média) em vez de a referir ao processo de produção.
As críticas que normalmente são dirigidas às sociedades de classe assinalam que esses sistemas de dominação não permitem o controle racional da vida económica mas que, pelo contrário, destorcem as relações sociedade/natureza levando-as gradualmente ao extermínio social.

Estratificação social consiste na desigualdade estruturada entre categorias inteiras de pessoas que têm um acesso diferenciado aos bens ( quer materiais quer imateriais) como resultado da hierarquia social.
A estratificação social também designa o processo pelo qual as pessoas de uma sociedade são dirigidas para posições sociais inferiores ou superiores. As situações de inferioridade afectam a capacidade das pessoas para criar, produzir e integrar-se nas relações sociais, diminuindo o potencial humano tanto de quem está nas camadas sociais inferiores como, em menor medida, nas superiores.
As desigualdades são geralmente em função de classe, raça e sexo

Propriedade privada é um conjunto de direitos que detém o propriedade de um certo bem relativamente a todos os que não o possuem. A palavra «privado» deriva do do latim «privare» que significa literalmente «privar», «desapossar», o que revela e ilustra bem a ideia de que como a propriedade foi, de início, comum.

Sociedade burguesa é um tipo de sociedade em que as relações de intercâmbio substituem as relações sociais, e em os elementos culturais ( por exemplo, as relações sexuais, a medicina, os alimentos, a lealdade, os desportos) e naturais ( ar, água, biodiversidade,etc) se convertem em mercadorias que constantemente se trocam com vista à obtenção do máximo lucro, e nas quais o proveito pessoal constitui o principal critério.

Sociedade igualitária é uma sociedade baseada no princípio segundo o qual todos têm direito a uma tratamento igual, e aos mesmos direitos. O essencial de uma sociedade igualitária não é que todos sejam tratados exactamente da mesma forma ( como num sistema burocrático de massas), mas que a cada individuo é reconhecido um estatuto integral como ser humano capaz de ser criativo e criador de cultura. Numa sociedade igualitária, as pessoas podem desempenhar papéis diferentes e até obter recompensas diferentes, mas ninguém é excluído da participação e da produção dos principais bens sociais.

Acção consiste na capacidade dos indivíduos em mudar as instituições em. que vivem. Os seres humanos fazem a sua própria história, não segundo os seus desejos em abstracto, mas sob determinadas circunstância que têm de enfrentar, e que eles herdaram das gerações anteriores.


( excertos do livro de Franz J. Broswimmer, Ecocídio
)

25.1.06

Arte, Poesia e Vida. Manifesto 2006


Autores: Cristina Castello et Ricardo Dessau

«Porque os homens, Sócrates, esqueceram-se do seu dever de pensar…»
(Miguel Betanzos, in SOCRATE, LE SAGE EMPOISONNÉ)


Nós, poetas do mundo, dizemos «Basta!» e falamos ainda dos «lobos»

«Basta»: uma das mais belas palavras poéticas pronunciadas ou ainda possíveis de pronunciar

«Lobos». Nós poetas, nós somos «lobos das estepes»; nós organizamo-nos como os lobos e não como o homem, enquanto lobo do homem.

«Os lobos sãos e as mulheres sãs …foram perseguidos, cercados e falsamente acusados de serem insaciáveis, pérfidos, demasiado agressivos e, em particular, serem menos respeituosos que os seus detractores. Eles foram o alvo dos que desejavam não só limpar a selva mais ainda queriam ainda eliminar o território mais selvagem do psiquismo, neutralizando o intuitivo até ao ponto de não deixar rasto algum. A depredação exercida contra os lobos e as mulheres por aqueles que não os compreendem é espantosamente afim» ( Clarissa Pinkola Estes, « Mulheres que correm com os lobos»)

Nós, poetas do mundo, nós somos lobos, defensores deste «território selvagem» e sublime que ainda felizmente existe, escondido na sombra desta vida feita à imagem do «Deus Mercado»
Nós, poetas do mundo, uivamos alto e bom som que a Poesia é antagonista, crítica, rebelde e subversiva por natureza

Que a poesia destrói e se destrói num só movimento

Que ele cria e recria permanentemente o mundo. Nietzsche: «Pronuncia a tua palavra e desaparece»

Nós dizemos, tal como os surrealistas, que a Poesia é uma liberdade absoluta. Ela é imaginação. E com o fogo prometaico de Léon Filipe e num grito de anjos, nós uivamos que a Poesia é um sistema luminoso de sinais.

Após o nosso «Basta!», eis o nosso uivo, os nossos sinais. E a nossa tentativa de asas:
1. «Eis o tempo dos assassinos!» escreveu Rimbaud. Esse tempo perdurou até ao século XXI, impôs-se mais que nunca e, finalmente, parece ter ganho para sempre raízes em toda a Terra.

2. Nós, poetas do mundo, nós erguemo-nos contra esse «Tempo dos Assassinos», como sempre fez a Poesia, desde o nascimento do primeiro verso feito pelo primeiro ser humano e desde a primeira marca deixada pelo primeiro ser humano na primeira caverna

3.O Tempo dos Poetas é o das Mães que dão a Vida. « Ah, que delicada é a terra do meu pomar. Tem um perfume de mãe que o torna amoroso» ( Miguel Hernández)

4. Eis o tempo da poesia escrita e cantada no feminino, ainda que a cólera, a dissonância, as aberrações de linguagem ( para os «académicos»), a falta de «decência» ( para os «bem-pensantes»), e a sede angustiada de reparação dominam e nos apontam o dedo como novos rebentos dos velhos «assassinos»

5 Nós, as mulheres e os homens, poetas do século XXI, nós decidimos «matar», através das nossas palavras, os Assassinos armados. Palavras ditas senão pelo próprio poeta. Palavras forjadas apenas pela sua própria fornalha; que não vêm dos Deuses, se bem que o canto possa ser o seu dom, e ainda menos na da linguagem usada ( ou, na realidade, na «não linguagem»), grosseira caricatura da Linguagem Comum e, por isso, da Razão Comum que foram lançados pelos Assassinos ao Povo convertido em massas.

6. As massas não compreendem a poesia; o Povo – ou o que resta dele -, sim.

7. A Ilíada e a Odisseia eram poemas tão belos quanto populares. Nesses tempos longínquos não havia nenhuma diferença entre os gregos, ou os seus predecessores, e os seus poetas. A Grécia foi antes de tudo Poesia e só mais tarde Filosofia. E a Poesia, durante séculos, foi transmitida de boca em boca ( e assim nasceu a tradição oral), e a discutia-se filosofia em plena praça pública, no mercado - em miniatura, pois era só um mercado de ovos e de galinhas. Germinou assim a dialéctica, a discussão razoável, hoje tão repreendida pelo positivismo, pelo pragmatismo ou pela Razão Técnica.

8. O positivismo, o pragmatismo e a Razão Técnica realizaram a «missão» para que nasceram. Eles espoliaram os seres humanos da sua ferramenta principal, a possibilidade de dizer «Não», de criticar, de contradizer. Eles espoliaram-no da sua «negatividade», p atributo humano por excelência, excepção que justamente nos diferencia do resto das criaturas do universo. Eles aprisionaram a rebelião. Em suma, transformaram-no num «Sim» absoluto. Transformaram-nos em máquinas predispostas a consentir, a obedecer, a admitir o «consensus». Em reflexos condicionados. A Humanidade encontra-se à beira de um precipício cujo monstruoso fundo mal antevemos. «Basta!» rugimos, nós, os poetas do mundo.

9. Duas dimensões essenciais nos orientam ( a do «Sim» e a do «Não»), mas só a primeira é permitida, pois insolente e quase que imperceptivelmente nos surripiam a segunda. Daí que os homens são hoje a fiel reprodução desse Homem Unidimensional de que o filósofo Herbert Marcuse nos falou pela primeira vez em 1964.

10. Todavia, a Beleza, a Verdade e o Bem ( valores supremos socráticos e de toda a filosofia que se lhe seguiu) não podem ser entendidos em toda a sua magnificência senão pela via do «Não».

O «Não» nega a comodidade, a facilidade e a vulgaridade do instante imediato, os «factos».
O «Não» é o símbolo da liberdade.

Que a terra gire em volta do sol, e não o contrário; que o «David» de Miguel Ângelo tenha a perfeição que jamais pode ter o autêntico David; que «o outro», o próximo, o eu aqui, constituam revelações , manifestações do Ser, que podem somente ser observado para além dos factos em estado bruto dos sentidos, para além do consentimento ingénuo ( do «Sim» dos Assassinos) que nós damos àquilo que diariamente nos aparece.

11. Nós, poetas do mundo, nós seremos os Poetas do «Não», ou não seremos.

12. Para nós, « a Beleza será convulsiva ou não será» ( Breton)

13. Este «Não» é totalitário no sentido mais nobre do termo, ou melhor, um «Não» totalizador: engloba todos os sujeitos do mundo humano, pois «o inumano é-nos estranho»

Nem o amor, nem o erotismo nem a sexualidade nos são estranhos. Nem a Paixão do Absoluto ( Louis Aragon). Nem aquilo que hoje se chamam as guerras.

«Guerras», são o que se chama às agressões do Império contra os povos mais frágeis da Terra, por mais pequena que seja a sua riqueza que falta ainda pilhar, ou aqueles que têm uma posição estratégica, do ponto de vista da execução do sacrossanto trabalho de pilhagem dos povos que restam ainda relativamente indemnes.

A nós, poetas do mundo, elas não nos deixam indiferentes e perturbam-nos. Somos igualmente sensíveis à iséria «globalizada» que cresce regularmente, à hipocrisia dos também e cada vez mais globalizados « direitos dos homens» que são, na realidade, os «direitos dos dissolventes».

«Direitos dos Homem». Eis uma esquisita associação de palavras. Palavras que temos o dever de defender contra toda a malícia, contra todo o contrabando que possa ocultar ou corromper a verdade.

14. Nós, os poetas do mundo, temos o dever de alumiar as auroras.

O nosso ofício são as palavras e a nossa obrigação, em conjunto com os nossos camaradas criadores da ficção literária, é de desmascarar milhões de termos e de frases evidentemente falas que nos «vendem» como se fossem verdadeiras.

Tal como acontece para com os tão citados «direitos do Homem», o nosso dever moral, subversivo, escandaloso, demencial para o mundo «politicamente correcto» consiste em denunciar a insuportável expansão e normalização «defesa do ambiente». Não! Rejeitamos esta bandeira quando, hoje mais do que nunca, ela é brandida por aqueles mesmos que puseram em saque, de maneira sistemática, o planeta.

Temos igualmente horror aos restos das bandeiras negras dos piratas dos piratas do século XXI. Essas bandeiras não têm já as caveiras com dois ossos entrecruzados. Por um passe de magia, elas exibem agora as caras de jovens raparigas, fascinantes e bonitas. Caras essas com as quais nos tentam vender quer um veículo quer uma crença ingénua, sob o pretexto que o único interesse dos Assassinos Internacionais, multinacionais e nacionais é o nosso bem estar ou a preservação da Natureza, os nossos «direitos do homem» e a nossa benfeitora - ainda que por eles desprezada – Terra Mãe.

Fariseus! Nós, os poetas do mundo, tomamos por exemplo o Cristo dos Evangelhos, e caminharemos ao lado dos Povos quando eles acordarem e gritarem «Basta!», lançando os mercadores para fora do Templo. O Templo do século XXI não se encontra em Jerusalém mas na própria Humanidade, aprisionada e espoliada como hera seca.

«Basta!»: chega de seres humanos condenados e condescendestes, apesar de condenados às trevas.

15. Nós, os poetas do mundo, voltar-nos-emos ao amor

Porque temos a certeza que não se vive mais «O Amor em tempos de Cólera»,mas antes a cólera desprovida de todo o amor. E que por causa do sexo sem alma, nem vida, nem mancha que nos envolve – virtual, incolor, inodoro e insípido – Eros tornou-se num gesto puramente patético que esquece toda a transcendência.

O desejo transpõe-se em objectos de consumo e consome-se neles.

Renuncia às delícias da comunhão dos corpos, das almas e dos espíritos, e transforma o mundo num «não-ligar», privado de todo o erotismo, com homens e mulheres entregues ao consumo da sua própria solidão.

Nós dizemos «Basta!» a esta des-erotização do mundo em que cada «eu» é um mónada sem janela a partir da qual ninguém consegue comunicar com quem quer que seja. Nesta compra-e-venda «global» em que o amor se tornou também numa mercadoria, é preciso dizer – uma vez mais com Marcuse – que a chamada «Revolução Sexual» que nos devia libertar e trazer a Felicidade se metamorfoseou em «Revolução de Negócios»

16. Um mundo sem amor é um mundo sem poesia. Se John Donne, Paul Eluard, Jlio Cortázar, Paul Celan, Garcia Lorca, Miguel Hernández, Nazim Hikmet ou Robert Desnos ressuscitassem neste século eles não escreveriam senão poemas de magnificência pelo amor.
Nós, os poetas do mundo, vivendo a mais dramática passagem entre dois séculos, nós erguemos os seus archotes e tentemos desesperadamente erotizar o mundo, a partir e com a nossa Poesia.

A Beleza é o nosso dever

17. «Não são os restos, são sementes», disse Tencha Bussi junto dos restos mortais do seu homem amado, Salvador Allende.

E nós, poetas do mundo, nós estamos implicados na esperança, na luta celeste e na sementeira. Para um dia poder dizer:

«Nós tomamos a palavra. Nós matamos os Assassinos com as palavras»

«As sementes tornar-se-ão frutos e petrificarão as falsidades dos Assassinos para que nunca mais conheçamos mártires. Nunca. Nunca mais!»

«Eis enfim o tempo dos que amam!»

[« … et bien que le troupeau pourrait vivre bâillonné, bien que certains pourraient tolérer ou encore préférer la discrétion, lui, Socrate, n'imaginait aucunement un monde fait de silences, un monde sans la parole qui réveille, qui excite, qui stimule, un monde dans lequel n'existeraient pas même les vers d'Homère, les tragédies d'Euripide, les histoires d'Hérodote. Il ne pouvait imaginer un monde dépourvu de voix et de mots. Le mot était pareil à l'antique feu que Prométhée déroba aux Dieux ; le mot donnait un sens à l'homme et lui conférait une aura sacrée, quasi divine. Sans ce mot, il était réduit à la plus simple créature sauvage et condamné à errer de par le monde comme une ombre ».]

Cristina Castello et Ricardo Dessau

Para aderir a este manifesto mandar uma mensagem a
manifeste@cristinacastello.com

Desemprego mundial atinge 192 milhões


Os dados do relatório anual da Organização Mundial do Trabalho (OMT), divulgados ontem, mostram que o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial de 4,5% não foi capaz de impedir o aumento do desemprego globalmente, tendo este atingido o número recorde de 191,8 milhões de desempregados no final do ano de 2005

O número apresentado pela OMT no trabalho Tendências Globais do Emprego aponta para um desemprego de 6,3%, para uma força de trabalho calculada em 2,8 biliões de pessoas. Tal percentagem representa um aumento de 2,2 milhões de desempregados no mundo, desde o ano passado
O aumento do desemprego em 2005 interrompe uma tendência de queda havia sido observada em 2004.

O relatório mostra ainda que o crescimento da economia mundial melhorou muito pouco o rendimento da maior parte da população.
Dos mais de 500 milhões de trabalhadores extremamente pobres que havia no mundo no início de 2005, apenas 14,5 milhões tinham conseguido superar a condição no final do ano.

Note-se que a OMT considera trabalhadores extremamente pobres aqueles que ganham o equivalente a 1 dólar por dia, ou seja, um salário equivalente a 30 dólares por mês.
Do total de 2,8 biliões de trabalhadores no mundo, metade ainda ganha menos do que 2 dólares por dia – um número que permanece inalterado nos últimos dez anos.

A maioria dos desempregados no mundo tem entre 15 e 24 anos de idade. O relatório mostra que essa população tem até três vezes mais risco de enfrentar o desemprego do que a população acima dessa idade.
Embora representem metade dos desempregados, eles compõe apenas 25% da força de trabalho.
“Dadas as tendências (actuais), há uma necessidade de reformular as estratégias de crescimento e desenvolvimento (mundiais)”, afirma o relatório

Fonte: BBC

24.1.06

Ruy Luís Gomes, matemático, cientista e revolucionário

Sessão Evocativa do Centenário do seu Nascimento
no dia 25 de Janeiro de 2006 às 18 horas,


no Auditório do Centro de Trabalho da Boavista do PCP

Com
António Machiavelo ( da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)
Manuel Gusmão ( Sector Intelectual de Lisboa do PCP)
Rogério Reis ( Sector Intelectual do Porto do PCP)

Consultar:
http://ruyluisgomes.blogspot.com

http://www.pcp.pt/publica/militant/279/p46.html

http://estudossobrecomunismo.weblog.com.pt/arquivo/216385.php

http://www.upp.pt/homenagemrlg/

Índice Internacional Ambiental


Acaba de ser divulgado o Índice Internacional do Ambiente de 2006 que resulta dos estudos e trabalho conjunto da Universidade de Yale, da Universidade de Columbia, da Comissão Europeia e do Fórum Económico Mundial. O referido índice resulta de uma pesquisa internacional que utilizou 16 indicadores para fazer a análise da situação ambiental em 133 países.
Em 1º lugar ficou a Nova Zelândia, o Reino Unido situou-se no 5º lugar, e Portugal ocupa a 11ª posição do ranking.

Apesar de todas as reservas que nos merecem algumas destas entidades julgamos útil a divulgação e discussão do referido estudo.

Para a leitura do texto integral, consultar:

E ainda:

www.guardian.co.uk/climatechange/story/0,,1693431,00.html

Lista dos países mais amigos do ambiente segundo o referido estudo:

1 New Zealand 88.0
2 Sweden 87.8
3 Finland 87.0
4 Czech Republic 86.0
5 United Kingdom 85.6
6 Austria 85.2
7 Denmark 84.2
8 Canada 84.0
9 Malaysia 83.3
10 Ireland 83.3 ……
28 United States 78.5

Os países em pior situação ambiental

133 Niger 25.7
132 Chad 30.5
131 Mauritania 32.0
130 Mali 33.9
129 Ethiopia 36.7
128 Angola 39.3
127 Pakistan 41.1
126 Burkina Faso 43.2
125 Bangladesh 43.5
124 Sudan 44.0

Os 5 países com melhor saúde ambiental

1 Sweden 99.4
2 France 99.2
3 Australia 99.0
4 United Kingdom 98.9
5 Finland 98.8
………
13 United States 98.3

Top 5 Productive natural resources :

1 Paraguay 100
2 Armenia 100
3 Kazakhstan 100
4 Bolivia 100
5 Zimbabwe 100
………
84 United Kingdom 71.6
124 United States 38.9


Os 5 melhores países em biodiversidade e habitat:

1 Benin 88.0
2 Venezuela 88.0
3 Jamaica 86.1
4 Panama 83.1
5 Cambodia 82.6
…….
33 United States 66.8
52 United Kingdom 58.8

Os 5 melhores países em qualidade do ar

1 Uganda 98.0
2 Gabon 96.1
3 Rwanda 91.1
4 Burundi 90.9
5 Ghana 87.3
…….
42 United Kingdom 61.6
United States 44.7

Top 5 Sustainable energy
1 Uganda 92.4
2 Mali 92.1
3 Democratic Rep of Congo 90.1
4 Laos 89.8
5 Cambodia 89.1
.......
55 United Kingdom 77.8
80 United States 69.7

Os chimpanzés estão mais próximos dos humanos do que dos macacos


Os chimpanzés estão mais próximos dos seres humanos do que alguma vez se pensou. Na realidade, um estudo do DNA dos chimpanzés revelam que 99,4% dos genes humanos e dos chimpanzés são idênticos. Estas conclusões irão certamente obrigar a uma reclassificação dos chimpanzés uma vez que se prova que estes estão muito mais próximos dos seres humanos do que dos macacos, como erroneamente se pensou até à data.

Ver:
http://www.guardian.co.uk/science/story/0,,1693364,00.html

Excerto:

They already use basic tools, have rudimentary language and star in TV commercials, but now scientists have proof that chimpanzees are more closely related to humans than other great apes.

Genetic tests comparing DNA from humans, chimps, gorillas and orang-utans reveal striking similarities in the way chimps and humans evolve that set them apart from the others.
(...)

23.1.06

Um homem sem país ( A man without a country), último livro de Kurt Vonnegut


O escritor norte-americano Kurt Vonnegut (n. 11/11/1922), conhecido também por ser artista gráfico e autor de novelas de ficção científica e de peças satíricas, tem um livro, de carácter memorialístico, «Um homem sem um país» ( com o título original «A Man Without a Country: A Memoir of Life in George W Bush's América), editado pela Bloomsbury no ano passado ( 6 de Fevereiro de 2005) , e onde se assume como um homem sem país.
A obra, que constitui mais uma denúncia pública contra o actual governo norte-americano e toda a estrutura de poder, e respectivas ideias, que o sustenta, reúne os textos e artigos que Vonnegut publicou na revista In these Times.

É o próprio escritor a confessar a sua suspeita de que os Estados Unidos «poderiam ter sido invadidos por marcianos e ladrões». Recorde-se que Vonnegut transformou a ficção científica numa mordaz crítica social, na linha de um Mark Twain, Orwell ou Huxley.

Um dos seus temas predilectos é a televisão, a tele-realidade, onde nunca se vê a morrer os nossos e em que os cadáveres são sempre dos maus, assim como a simplificação grosseira televisiva onde parece que só há duas classes de seres humanos, os liberais ou os conservadores.

É ele próprio que escreve: « Os nossos meios de informação, diários e televisão, são tão pouco observadores em nome dos americanos, tão pouco informativos, que só através dos livros sabemos o que se está a passar». Por isso, Vonnegut crê que os livros e as bibliotecas são resistentes face às pressões morais, políticas, criacionistas, puritanas, etc. que assolam o seu país nos últimos anos. É neles que põe a esperança de um desenlace desta ficção futurista feita presente: « Quero felicitar os bibliotecários por terem resistido com lealdade aos ladrões antidemocráticos que tentaram remover centenas livros das estantes»

Vonnegut escreve: «Os Estados Unidos da América que eu amo ainda existem, mas não na Casa Branca, no Tribunal Supremo, no Senado, na Câmara dos Representantes ou nos media. Os Estados Unidos que eu amo ainda existem nas estantes das nossas bibliotecas públicas».

Algumas das obras:
Player Piano ( 1952) , em que descreve uma distopia de ficção científica em que os trabalhadores humanos são substituídos por máquinas
The Sirens of Titan ( 1959)
Cat’s Cradle ( 1960)
Slaughterhouse-Five (1971)
Breakfast of Champions ( 1973)

Consultar:
http://www.vonnegut.com/
http://www.inthesetimes.com/site/about/author/86 ( os seus textos em In These Times)
http://en.wikipedia.org/wiki/Kurt_Vonnegut#Biography

Texto-excerto retirado de The Guardian :
(
http://books.guardian.co.uk/extracts/story/0,,1691370,00.html)

In this exclusive extract from his forthcoming memoirs, Kurt Vonnegut is horrified by the hypocrisy in contemporary US politics

"Do unto others what you would have them do unto you." A lot of people think Jesus said that, because it is so much the sort of thing Jesus liked to say. But it was actually said by Confucius, a Chinese philosopher, five hundred years before there was that greatest and most humane of human beings, named Jesus Christ.

The Chinese also gave us, via Marco Polo, pasta and the formula for gunpowder. The Chinese were so dumb they only used gunpowder for fireworks. And everybody was so dumb back then that nobody in either hemisphere even knew that there was another one.

We've sure come a long way since then. Sometimes I wish we hadn't. I hate H-bombs and the Jerry Springer Show

But back to people like Confucius and Jesus and my son the doctor, Mark, each of whom have said in their own way how we could behave more humanely and maybe make the world a less painful place. One of my favourite humans is Eugene Debs, from Terre Haute in my native state of Indiana.

Get a load of this. Eugene Debs, who died back in 1926, when I was not yet four, ran five times as the Socialist party candidate for president, winning 900,000 votes, almost 6 percent of the popular vote, in 1912, if you can imagine such a ballot. He had this to say while campaigning:

"As long as there is a lower class, I am in it.
"As long as there is a criminal element, I am of it.
"As long as there is a soul in prison, I am not free."

Doesn't anything socialistic make you want to throw up? Like great public schools, or health insurance for all?

When you get out of bed each morning, with the roosters crowing, wouldn't you like to say.
"As long as there is a lower class, I am in it. As long as there is a criminal element, I am of it. As long as there is a soul in prison, I am not free."

How about Jesus' Sermon on the Mount, the Beatitudes?
Blessed are the meek, for they shall inherit the Earth.
Blessed are the merciful, for they shall obtain mercy.
Blessed are the peacemakers, for they shall be called the children of God.
And so on.

Not exactly planks in a Republican platform. Not exactly George W Bush, Dick Cheney, or Donald Rumsfeld stuff.

For some reason, the most vocal Christians among us never mention the Beatitudes. But, often with tears in their eyes, they demand that the Ten Commandments be posted in public buildings. And of course that's Moses, not Jesus. I haven't heard one of them demand that the Sermon on the Mount, the Beatitudes, be posted anywhere.

"Blessed are the merciful" in a courtroom? "Blessed are the peacemakers" in the Pentagon? Give me a break!

It so happens that idealism enough for anyone is not made of perfumed pink clouds. It is the law! It is the US Constitution.

But I myself feel that our country, for whose Constitution I fought in a just war, might as well have been invaded by Martians and body snatchers. Sometimes I wish it had been. What has happened instead is that it was taken over by means of the sleaziest, low-comedy, Keystone Cops-style coup d'état imaginable.

I was once asked if I had any ideas for a really scary reality TV show. I have one reality show that would really make your hair stand on end: "C-Students from Yale".

George W Bush has gathered around him upper-crust C-students who know no history or geography, plus not-so-closeted white supremacists, aka Christians, and plus, most frighteningly, psychopathic personalities, or PPs, the medical term for smart, personable people who have no consciences.

To say somebody is a PP is to make a perfectly respectable diagnosis, like saying he or she has appendicitis or athlete's foot. The classic medical text on PPs is The Mask of Sanity by Dr Hervey Cleckley, a clinical professor of psychiatry at the Medical College of Georgia, published in 1941. Read it!

Some people are born deaf, some are born blind or whatever, and this book is about congenitally defective human beings of a sort that is making this whole country and many other parts of the planet go completely haywire nowadays. These were people born without consciences, and suddenly they are taking charge of everything.

PPs are presentable, they know full well the suffering their actions may cause others, but they do not care. They cannot care because they are nuts. They have a screw loose!

And what syndrome better describes so many executives at Enron and WorldCom and on and on, who have enriched themselves while ruining their employees and investors and country and who still feel as pure as the driven snow, no matter what anybody may say to or about them? And they are waging a war that is making billionaires out of millionaires, and trillionaires out of billionaires, and they own television, and they bankroll George Bush, and not because he's against gay marriage.

So many of these heartless PPs now hold big jobs in our federal government, as though they were leaders instead of sick. They have taken charge. They have taken charge of communications and the schools, so we might as well be Poland under occupation.

They might have felt that taking our country into an endless war was simply something decisive to do. What has allowed so many PPs to rise so high in corporations, and now in government, is that they are so decisive. They are going to do something every fuckin' day and they are not afraid. Unlike normal people, they are never filled with doubts, for the simple reason that they don't give a fuck what happens next. Simply can't. Do this! Do that! Mobilise the reserves! Privatise the public schools! Attack Iraq! Cut health care! Tap everybody's telephone! Cut taxes on the rich! Build a trillion-dollar missile shield! Fuck habeas corpus and the Sierra Club and In These Times, and kiss my ass!

There is a tragic flaw in our precious Constitution, and I don't know what can be done to fix it. This is it: only nut cases want to be president. This was true even in high school. Only clearly disturbed people ran for class president.

The title of Michael Moore's Fahrenheit 9/11 is a parody of the title of Ray Bradbury's great science-fiction novel Fahrenheit 451. Four hundred and fifty-one degrees Fahrenheit is the combustion point, incidentally, of paper, of which books are composed. The hero of Bradbury's novel is a municipal worker whose job is burning books.

While on the subject of burning books, I want to congratulate librarians, not famous for their physical strength, who, all over this country, have staunchly resisted anti-democratic bullies who have tried to remove certain books from their shelves, and destroyed records rather than have to reveal to thought police the names of persons who have checked out those titles.

So the America I loved still exists, if not in the White House, the Supreme Court, the Senate, the House of Representatives, or the media. The America I loved still exists at the front desks of our public libraries.

And still on the subject of books: our daily news sources, newspapers and TV, are now so craven, so unvigilant on behalf of the American people, so uninformative, that only in books do we learn what's really going on.

I will cite an example: House of Bush, House of Saud by Craig Unger, published in early 2004, that humiliating, shameful, blood-soaked year.

In case you haven't noticed, as the result of a shamelessly rigged election in Florida, in which thousands of African-Americans were arbitrarily disenfranchised, we now present ourselves to the rest of the world as proud, grinning, jut-jawed, pitiless war-lovers with appallingly powerful weaponry - who stand unopposed.

In case you haven't noticed, we are now as feared and hated all over the world as Nazis once were.

And with good reason.

In case you haven't noticed, our unelected leaders have dehumanised millions and millions of human beings simply because of their religion and race. We wound 'em and kill 'em and torture 'em and imprison 'em all we want.

Piece of cake.

In case you haven't noticed, we also dehumanised our own soldiers, not because of their religion or race, but because of their low social class.

Send 'em anywhere. Make 'em do anything.

Piece of cake.

The O'Reilly Factor.

So I am a man without a country, except for the librarians and a Chicago paper called In These Times.

Before we attacked Iraq, the majestic New York Times guaranteed there were weapons of mass destruction there.

Albert Einstein and Mark Twain gave up on the human race at the end of their lives, even though Twain hadn't even seen the first world war. War is now a form of TV entertainment, and what made the first world war so particularly entertaining were two American inventions, barbed wire and the machine gun.

Shrapnel was invented by an Englishman of the same name. Don't you wish you could have something named after you?

Like my distinct betters Einstein and Twain, I now give up on people, too. I am a veteran of the second world war and I have to say this is not the first time I have surrendered to a pitiless war machine.

My last words? "Life is no way to treat an animal, not even a mouse."

Napalm came from Harvard. Veritas

Our president is a Christian? So was Adolf Hitler. What can be said to our young people, now that psychopathic personalities, which is to say persons without consciences, without senses of pity or shame, have taken all the money in the treasuries of our government and corporations, and made it all their own?

Vamos ter que gramar o bolo-rei durante 5 anos!


Houve quem dissesse que as eleições presidenciais servem para se eleger uma jarra para o Palácio de Belém. Não sou especialista em bric-a-brac nem em doçaria, mas cá para mim, dados os resultados eleitorais o que foi eleito não foi uma jarra mas um bolo-rei.
É que o candidato presidencial que se tornou ainda mais conhecido por mastigar um bolo-rei venceu à tangente as eleições. A sua vitória não augura nada de bom. Não me espantava que, agora, os cronistas do costume começassem a torcer por um regime presidencialista.
Sócrates, esse, não deve conter o seu contentamento por tão agradável presente: ter um seu alter-ego na presidência!
Quanto ao povão, esse terá de se contentar com TV, Futebol e agora…bolo-rei de má qualidade!!!

Sessão sobre Emídio Santana em Sintra no próximo Sábado ( 28-1-06)


Vai realizar-se no dia 28-01-06 (sábado), pelas 17 h., no âmbito dasérie anual de palestras promovidas pelo Museu Ferreira de Castro, emSintra, Rua Consiglieri Pedroso, 34 A, uma sessão evocativa de EmídioSantana, (um dos mais eminentes militantes anarco-sindicalistasportugueses) no centenário do seu nascimento.
A palestra está a cargo de Luís Garcia e Silva, membro do Centro de Estudos Libertários e do Colectivo Redactorial A Batalha.

22.1.06

Ibsen, o realismo e a crítica social


A propósito do centenário da morte de Ibsen, notável dramaturgo norueguês que exerceu uma grande influência nos autores e nos activistas sociais do fim do século XIX, aparecerá brevemente no Pimenta Negra um ou mais textos sobre a relação de Ibsen e os teóricos e as ideias libertárias

Ver:
http://www.ibsen2006.no/?id=83
http://www.ibsenworldwide.info/
http://www.noruega.org.pt/ibsen/ em português



Os quatro dramas que Ibsen publicou nos anos de 1877-82, 'Os Pilares da Sociedade', 'Uma Casa de Bonecas', 'Espectros' e 'Um Inimigo do Povo' são caracterizados como dramas realistas contemporâneas ou dramas de problematização social. Basicamente, existem quatro aspectos destas peças que justificam uma tal descrição:

1. Fazem de problemas sociais o tema em debate. 2. Têm uma perspectiva crítica relativamente à sociedade. 3. A acção decorre num ambiente contemporâneo. 4. Apresentam pessoas e situações comuns.

Problemas em debate

O crítico literário dinamarquês Georg Brandes (1842-1927) foi o grande pioneiro do avanço do realismo nos países nórdicos. Em 1871, Brandes realizou uma série de prelecções na Universidade de Copenhaga sob o título 'As Principais Correntes na Literatura do Século XIX' (publicado em seis volumes em 1872-90). Nesta obra, o crítico literário avança com o seguinte manifesto para uma nova forma de literatura que deverá ser de crítica social e realista:
«Que a literatura nos nossos dias está viva é visível pelo facto de apresentar problemas para debate. Assim, por exemplo, George Sand coloca em discussão a relação entre os dois sexos, Byron e Feuerbach a religião, Proudhon e Stuart Mill a propriedade, e Turgenev, Spielhagen e Emile Augier as doenças na sociedade. Que a literatura não apresente nada para debate é igual a estar em vias de perder todo o significado».

Os representantes do realismo de crítica social na Noruega – Ibsen, Bjørnson, Lie, Garborg, Kielland e Skram – receberam inspiração de Brandes. Nos quatro dramas acima mencionados da autoria de Ibsen voltamos a deparar-nos com diversos problemas sociais que Brandes usa como exemplos na citação. A relação entre os sexos é tema de debate em 'Uma Casa de Bonecas' e 'Espectros', e as características problemáticas de males prevalentes na sociedade são debatidos em 'Os Pilares da Sociedade' e 'Um Inimigo do Povo' (moralidade social, tirania da maioria, considerações de índole comercial versus considerações gerais de nível social, considerações ambientais, etc.).

Perspectiva de crítica social

Nestes dramas realistas Ibsen era impiedoso na sua demanda por desmascarar o lado negativo da sociedade, a hipocrisia e a falsidade, o uso da força e o comportamento manipulativo, tendo o autor efectuado exigências incansáveis a favor da sinceridade e da liberdade. A verdade, a emancipação, a realização pessoal e a liberdade do indivíduo são os termos chave. Em 'Os Pilares da Sociedade', Lona Hessel tem a última palavra e conclui dizendo que «o espírito da verdade e o espírito da liberdade – são eles os pilares da sociedade». Em 'Espectros', Ibsen aponta uma luz crítica aos pilares que suportam a sociedade burguesa, o casamento e o Cristianismo, e utiliza tabus típicos, o incesto, as doenças venéreas e a eutanásia. Este facto fez com que o autor e os que partilhavam das suas ideias se tornassem figuras controversas no seu tempo. As suas obras geraram controvérsias violentas ou furor absoluto. A partir de um ponto de vista posterior, é possível observar a enorme importância de algumas destas obras para diversos movimentos sociais. Praticamente não existe, em quase todas as culturas do mundo, uma outra obra literária que tenha significado tanto para a libertação da mulher como 'Uma Casa de Bonecas'.

Perspectiva contemporânea

A acção em todos os dramas que Ibsen escreveu, incluindo 'Os Pilares da Sociedade', decorre na sociedade contemporânea (daí a designação dramas contemporâneos). Os representantes da literatura realista exigiram a si mesmos que deviam ir para o seu próprio tempo e deixar-se marcar por ele. Os dramas históricos no estilo nacional-romântico estavam fora de moda. Os deuses e heróis clássicos, os imperadores romanos e os reis de potências mundiais foram substituídos por pessoas «como nós». O decorrer da acção nestes dramas iria carregar a marca dos tempos.
As primeiras anotações de Ibsen para 'Uma Casa de Bonecas' (datadas de 19 de Outubro de 1878) têm o cabeçalho «Notas para a tragédia contemporânea». O termo «tragédia contemporânea» é expressivo. O projecto de Ibsen nesta peça é aplicar a forma clássica da tragédia a um material moderno. A nível formal, Ibsen não se envolve em experimentações radicais em 'Uma Casa de Bonecas'. Por exemplo, as três unidades clássicas mantêm-se, bem como as unidades de tempo, espaço e acção. O que há de novo é o material de conflito moderno, a temática daquilo que decorre em palco.
Pessoas e situações comunsNuma carta dirigida ao teatrólogo sueco August Lindberg, que estava em vias de encenar 'Espectros' em Agosto de 1883 (a sua representação com estreia em Helsingborg a 22 de Agosto de 1883 foi a primeira nos países nórdicos e na Europa), Ibsen escreveu:
«A linguagem deve soar natural e o modo de expressão tem de ser característico de cada uma das pessoas na peça. Como é evidente, nenhuma pessoa se expressa da mesma maneira que outra. A este respeito muita coisa pode ser corrigida durante os ensaios, que é quando mais facilmente se repara no que não nos soa natural e espontâneo, tendo de ser, portanto, alterado uma e outra vez, até as falas atingirem uma forma de credibilidade e realismo total. O efeito da peça depende, em grande medida, da sensação que o público tenha de que está sentado a ouvir o que se passa na vida real».
Ibsen preocupava-se muito com o facto de que, nos seus dramas contemporâneos, o público no teatro (e os leitores) fosse testemunha de cadeias de eventos que poderiam muito bem ter-se passado na vida de cada um. Esta circunstância requeria que as personagens dos dramas do autor falassem e se comportassem de forma natural e que as situações tivessem o cunho do quotidiano. As personagens já não podiam falar em verso, como em 'Brand' e 'Peer Gynt'. Os monólogos, apartes e modos afectados de falar (como em 'Os Guerreiros de Helgeland') foram postos de parte. O drama realista iria criar a ilusão da realidade reconhecível.

Texto da autoria de Jens-Morten Hanssen / ibsen.net


Cronologia

1828 Henrik Johan Ibsen nasce a 20 de Março em Stockmannsgården, Skien. Pais: Marichen (nascida Altenburg) e Knud Ibsen, comerciante.

1835 O pai tem de desistir do negócio. As propriedades são leiloadas. A família muda-se para Venstøp, uma quinta em Gjerpen.

1843 Crisma na igreja de Gjerpen. A família muda-se para Snipetorp, em Skien.Ibsen sai de casa dos pais a 27 de Dezembro.

1844 Chega a Grimstad a 3 de Janeiro para ser aprendiz de Jens Aarup Reimann, farmacêutico.

1846 Tem um filho ilegítimo com Else Sophie Jensdatter, uma das criadas de Reimann.

1847 Lars Nielsen torna-se proprietário da farmácia, mudando-se para instalações maiores.

1849 Ibsen escreve Catilina.

1850 Vai para Cristiânia estudar para o exame de admissão à universidade. A peça Catilina é publicada sob o pseudónimo Brynjolf Bjarme. Edita o jornal da Associação de Estudantes Samfundsbladet e o semanário satírico Andhrimner.Primeira encenação de uma obra de Ibsen na história. A peça em um acto The Burial Mound é representada no Teatro de Cristiânia a 26 de Setembro.

1852 Muda-se para Bergen para começar a dirigir produções teatrais no Teatro Det norske. Faz uma viagem de estudo a Copenhaga e a Dresden.

1853 Primeira representação de A Noite de São João.

1854 Primeira representação de The Burial Mound numa versão revista.

1855 Primeira representação de Lady Inger.

1856 Primeira representação de The Feast at Solhoug.Fica noivo de Suzannah Thoresen.

1857 Primeira representação de Olaf Liljekrans. É nomeado director artístico do Kristiania Norske Theater.

1858 Casa com Suzannah Thoresen a 18 de Junho. Primeira representação de Os Guerreiros de Helgeland.

1859 Escreve o poema «Paa Vidderne» («Vida nas Terras Altas») e o ciclo de poemas «I illedgalleriet» («Na Galeria de Arte»). Nasce o seu filho Sigurd a 23 de Dezembro.

1860 Escreve Svanhild, um esboço de A Comédia do Amor.

1861 Escreve o poema «Terje Vigen».

1862 O Kristiania Norske Theater vai à falência. Ibsen parte numa viagem de estudo ao vale de Gudbrandsdalen e à região ocidental do país para estudar folclore.A Comédia do Amor é publicada (primeira representação no Teatro de Cristiânia a 24 de Novembro de 1873). É nomeado consultor do Teatro de Cristiânia.

1863 A peça Os Pretendentes é publicada.Escreve o poema «En broder i nød» («Um Irmão em Pobreza»).

1864 Os Pretendentes é representado pela primeira vez no Teatro de Cristiânia. Parte para Itália e vive em Roma durante quatro anos.

1865 Escreve The Epic Brand. Revê o texto, apresentando-o com o título Brand. 1866 Brand é publicado e é um sucesso. É atribuído a Ibsen um dos estipêndios estatais para artistas.

1867 Publica A Comédia do Amor numa versão revista.Escreve e publica Peer Gynt (Primeira representação no Teatro de Cristiânia a 24 de Fevereiro de 1876). 1868 Muda-se para Dresden, onde a família vive durante sete anos. 1869 The League of Youth é publicada e representada pela primeira vez no Teatro de Cristiânia. Ibsen participa numa reunião sobre ortografia escandinava em Estocolmo. Vai para o Egipto e está presente na abertura do Canal do Suez. 1870 Escreve o poema «Ballongbrev til en svensk dame» («Carta balão a uma senhora sueca»).

1871 Publica uma compilação de poemas (Digte) pela primeira e última vez.

1872 É escrita uma grande parte de Imperador e Galileu.

1873 Conclui e publica Imperador e Galileu.Faz parte de um júri internacional de arte na exposição mundial em Viena.

1874 Visita a Noruega (Cristiânia). Vai para Estocolmo.Publica Lady Inger numa nova versão.

1875 Publica Catilina numa nova versão.Muda-se para Munique, onde vive durante três anos.Escreve o poema «Et rimbrev» («Uma carta em rima»). 1877 Escreve Os Pilares da Sociedade, encenado pela primeira vez no Det Kongelige Teater (Teatro Real) em Copenhaga.Recebe um doutoramento honoris causa pela Universidade de Uppsala.

1878 Muda-se de novo para Roma e permanece nessa cidade durante sete anos, com a excepção de diversos tempos de interregno. 1879 Escreve e publica Uma Casa de Bonecas, que é representado pela primeira vez no Det Kongelige Teater (Teatro Real) em Copenhaga.
1881 Escreve e publica Espectros (encenado no teatro Aurora Turner Hall em Chicago a 20 de Maio de 1882).

1882 Escreve e publica Um Inimigo do Povo (primeira representação no Teatro de Cristiânia a 13 de Janeiro de 1883).

1883 Publica The Feast at Solhoug numa nova edição.

1884 Escreve e publica O Pato Bravo (primeira representação no Den Nationale Scene em Bergen a 9 de Janeiro de 1885). 1885 Visita a Noruega (Cristiânia, Trondhjem, Molde e Bergen).Muda-se para Munique e lá permanece durante seis anos.

1886 Escreve e publica Rosmersholm (primeira representação no teatro Den Nationale Scene a 7 de Janeiro de 1887).

1887 Passa o Verão no norte da Jutelândia (em Sæby). Continua para Gotemburgo, Estocolmo e Copenhaga.

1888 Escreve e publica A Dama do Mar (primeira representação realizada no Hoftheater em Weimar e no Teatro de Cristiânia no mesmo dia, 12 de Fevereiro de 1889).

1889 Último Verão em Gossensass. Conhece Emilie Bardach.

1890 Escreve e publica Hedda Gabler (primeira encenação no Residenztheater em Munique a 31 de Janeiro de 1891).

1891 Regressa à Noruega e instala-se em Cristiânia. Conhece Hildur Andersen.

1892 Escreve e publica O Construtor (primeira produção realizada no Lessingtheater em Berlim a 19 de Janeiro de 893). Sigurd Ibsen casa com Bergliot Bjørnson.

1894 Escreve e publica O Pequeno Eyolf (representado pela primeira vez no Deutsches Theater em Berlim a 12 de Janeiro de 1895).

1895 Muda-se para o apartamento na esquina entre Arbiensgate e Drammensveien em Cristiânia e aí permanece pelo resto da vida.

1896 Escreve e publica João Gabriel Borkman (primeira representação simultânea dos teatros Det svenske Teater (Suécia) e Det finske Teater (Finlândia) em Helsingfors a 10 de Janeiro de 1897).

1898 70º aniversário - celebrações em grande escala em Cristiânia, Copenhaga e Estocolmo.

1899 Escreve e publica Quando Despertamos de Entre os Mortos (primeira encenação no Hoftheater em Estugarda a 26 de Janeiro de 1900).

1900 Tem a primeira trombose.

1906 Morre a 23 de Maio.

Texto da autoria de ibsen.net

Fórum Social Mundial de 2006


A sexta edição do Fórum Social Mundial (FSM), que este ano é policêntrico, acabou de abrir as suas portas em Bamako ( Mali), decorrendo entre 19 e 23 de Janeiro, transferindo-se depois a partir do dia 24 para Caracas para terminar no mês de Março em Karachi, uma vez que o sismo de Cachemira abalou profundamente todo o Paquistão, impediu a sequência temporal prevista e forçou ao adiamento da reunião a fim de não prejudicar os esforços de ajuda às vítimas.
Esta diversificação espacial do FSM responde ao duplo objectivo de acentuar a sua vocação como resposta global às grandes questões actuais, além do confessado propósito de reivindicar a especificidade dos problemas e as eventuais soluções nos diversos contextos geopolíticos. Em sintonia com estas preocupações, a reunião de Bamako centar-se-á sobre as questões da migrações e do meio ambiente, em Caracas será a vez da atenção recair sobre o imperialismo e a militarização do planeta, enquanto em Karachi se insistirá na desmontagem do sistema de castas e do patriarcado, na linha do que aconteceu, de resto, há dois anos atrás por ocasião do FSM de Mumbai.
Para além destas metas gerais, o policentrismo do presente Fórum aponta a necessidade de ir mais longe do que da simples área eurolatinoamericana, que tem prevalecido até agora, a fim de realçar a importância de outras regiões e continentes, como a Ásia e a África, em especial esta última que, não obstante as enormes potencialidades que possui, se transformou na terra maldita do planeta – vejam-se os recentes filmes-denúncia como o The Constant Gardener ( O Fiel Jardineiro) sobre a vilania da indústria farmacêutica e o The Lord of War ( que denúncia o tráfico de armas).
O próximo FSM que terá lugar em 2007 em Nairobi ( Quénia) e actual Fórum em Bamako com os seus 30.000 participantes e mais de 2.500 actores colectivos podem e devem contribuir para transformar o destino miserável a que o continente africano tem sido refém.
Claro que a multiplicação dos Fóruns e o seu policentrismo presta-se a algumas acusações como o risco de se tornarem em clubes de viagens políticas ou de Féria internacional de uma sociedade civil circulante como se referem Ignacio Ramonet e Gustave Massiah. Mas a dinamização dos movimentos sociais é a melhor defesa contras as guerras de Bush e o totalitarismo do império norte-americano e das suas multinacionais. Sem esquecer que num momento de re-nacionalização das políticas dos Estados e de demagogias nacionalistas o que faz falta são trincheiras protectoras e causas alternativas.
Quando o fim de trabalho para todos, com a precarização laboral e a desqualificação sindical que arrasta consigo, turvou o horizonte simbólico de uma sociedade mais justa e socialmente mais comprometida, o que há a fazer é procurar outros mitos para enraizar as esperanças colectivas. E se o integralismo nacionalista tem assumido a função referencial para o qual contribuiu a globalização de quase todos os processos mais determinantes, assim como o fenómeno migratório exacerbou a exigência de um pertença grupal, que vai muito para além do territorial até à consagração de solidariedades extraterritoriais com a emergência de comunidades transnacionais, o que há a fazer é encontrar as melhores formas de o defrontarmos.
A rigidez institucional dos sistemas políticos afastou os cidadãos, e sempre que estes querem sair deste jugo da partidocracia ao manifestarem-se nas ruas, são logo taxados de populistas.
Por isso é que é cada vez mais premente encontrarmos alternativas ao mercado das multinacionais e ao sistema da partidocracia, bem como a uma política capitalista de corrupção e depredatória dos recursos naturais, convocando os cidadãos à participação popular.

O FSM do Mali abriu com um multitudinária manifestação que mostrou a força e variedade da sociedade civil do Mali, em especial das populações do Sahra, estando presente muitas e variadas ONGs de todo o mundo.


FSM do Mali-
http://www.fsmmali.org/

FSM -
http://www.wsf2006.org/

FSM de Caracas -
http://www.forosocialmundial.org.ve/

21.1.06

Críticas e alternativas às 5 monoculturas em que assentam as sociedades ocidentais

( teses de Boaventura Sousa Santos)

Nas suas últimas obras, o sociólogo, jurista e activista ( impulsionador da criação dos Fóruns Sociais Mundiais, como o de Porto Alegre) Boaventura Sousa Santos - que tem tentado pensar e reflectir sobre o conteúdo e as formas de uma globalização contra-hegemónica, a partir de baixo, isto é, arrancando dos movimentos sociais - ensaia uma original abordagem sobre o que ele designa por sociologia das ausências e a sociologia das emergências, onde faz uma crítica contundente às cinco monoculturas sobre que assenta as sociedades ocidentais:

- a monocultura do saber que crê que o único tipo de saber é o saber rigoroso ( e que tem levado ao chamado epistemicídio de outros saberes)

- a monocultura do progresso, do tempo linear que entende a história como uma direcção de sentido único

- a monocultura da naturalização das hierarquias fundadas em factores como os da etnia, classe social, género, e que considera os fenómenos como inscritos na natureza das coisas, e por conseguinte, imodificáveis.

- a monocultura do universal como o único critério válido, à margem dos contextos, pelo que se considera que o oposto ao universal – o vernáculo – carece de validade, além de que o global prevaleceria sobre o local

- a monocultura da produtividade que define a realidade humana pelo critério do crescimento económico enquanto objectivo racional inquestionável, e critério esse que se aplica ao trabalho humano, mas também à natureza, encarada como objecto de exploração e depredação. Quem não produzisse estava condenado.


Ora contra estas cinco monoculturas, construções da modernidade ocidental, Boaventura Sousa Santos propõe as correspondentes respostas e alternativas, a saber:

A ) Contra a monocultura do saber científico, propõe a ecologia dos diferentes saberes, através do necessário diálogo e da não menos necessária confrontação entre si


B) Contra a monocultura e a lógica do tempo linear que, no fundo, não passa de uma secularização do judaísmo e do cristianismo, propõe a ecologia das temporalidades, em que se valoriza positivamente as distintas temporalidades como formas de viver a contemporaneidade, sem se estabelecer hierarquias ou juízos de valor sobre elas.

C) Contra a monocultura da classificação social, que tenta identificar diferença com desigualdade, propõe a ecologia dos reconhecimentos, que busca uma nova articulação entre ambas noções que dê lugar às «diferenças iguais»

D) Contra a monocultura do universal, como único critério válido, propõe a ecologia das trans-escalas, que valoriza o local como tal, situando-o fora da globalização hegemónica

E) Contra a monocultura produtivista da ortodoxia capitalista, que dá prioridade aos objectivos da acumulação sobre os da distribuição, propõe a ecologia das produções e das distribuições sociais
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Lutar contra o esquecimento…


Sempre que tenhas uma dúvida, põe em acção o seguinte esquema mental: lembra-te da cara da pessoa mais pobre e débil que tenhas visto ao longo da tua vida e interroga-te se o passo que vais dar será da alguma utilidade para ela.

Maratma Gandhi

A diferença entre os países do Norte e do Sul…


Palavras de um trabalhador de calçado nos Estados Unidos:

- Trabalho dezasseis horas por dia para um dos maiores fabricantes de calçado. E pagam-me 50.000 dólares à semana.


Palavras de um trabalhador de calçado na Indonésia:

- Trabalho dezasseis horas por dia para um dos maiores fabricantes de calçado. E pagam-me 15 dólares à semana.


Comentários, para quê…???
O que é preciso é agir para que as coisas comecem a mudar.
O que é preciso é lutar pela justiça e liberdade, aqui e agora!

O Produto Interno Bruto não mede o mais importante…


O Produto Interno Bruto não mede a saúde das nossas crianças, a qualidade da sua educação, nem a alegria dos seus jogos. Não mede nem a beleza da nossa poesia, nem a força dos nossos casamentos. O PIB é indiferente tanto à decência das nossas fábricas como à segurança das nossas ruas. Não mede o nosso saber nem a nossa educação, nem o nosso talento, nem a nossa coragem, nem a nossa compaixão (...). Na realidade, o PIB mede tudo excepto aquilo que faz com que a vida valha a pena ser vivida..
Robert Kennedy

"Vivemos numa sociedade consumista porque a escola educa para esses valores"

Já saiu o nº de Janeiro do jornal A Página ( jornal dos professores, dedicado a temas educativos e não só…)
Para ver o índice e ler os textos do último jornal A Página:
http://www.apagina.pt/arquivo/FichaDeJornal.asp?ID=152
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Reflectir na escola sobre o consumo responsável

Maria González Reyes tem 28 anos, é professora do ensino secundário e trabalha com o colectivo madrileno “Consume Hasta Morir” (Consome Até Morrer), um grupo que integra a organização não governamental espanhola de âmbito nacional “Ecologistas en Acción”.
Em parceria com os restantes elementos do grupo, divulga pelas escolas espanholas uma iniciativa já com raízes na América do Norte - nomeadamente no Canadá, onde tudo começou – mas ainda pouco conhecida na Europa: a contra-publicidade, isto é, a satirização da publicidade como ferramenta educativa para reflectir sobre o consumo responsável.Nesta entrevista, procuramos saber mais sobre este tema e de que forma pode ser trabalhado na escola. Para uma informação mais completa pode-se consultar o site,
www.consumehastamorir.com


Que papel joga hoje a publicidade na educação das crianças e dos jovens?
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A publicidade constitui actualmente um meio educativo por excelência. Diariamente, entre publicidade televisiva, cartazes nas ruas, anúncios nas rádios ou logótipos nas roupas, visualizamos cerca de três mil impactos publicitários. Isto faz da publicidade uma ferramenta educativa e socializadora indiscutível, cuja linguagem extremamente eficaz, baseada em imagem e texto, nos impele a comprar os mais variados produtos e a formar a actual sociedade de consumo que hoje caracteriza o modelo de desenvolvimento neoliberal.
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Qual é o segredo por trás dessa estratégia?
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A publicidade funciona como uma espécie de metáfora a que chamamos “espelho publicitário”, isto é, como uma mensagem na qual nos vemos reflectidos, onde há sempre algo ou alguém com quem nos identificamos. Desta forma, tendemos a pensar que há sempre alguma coisa que ainda não temos e que nos faz falta.
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Um universo onde as crianças e os jovens serão provavelmente mais influenciáveis do que os adultos…
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A publicidade toca a todos de maneira diferente, já que há estratégias para todo o tipo de públicos. Quando nos perguntam nas escolas qual o tipo de publicidade que consideramos mais perigosa, costumamos dizer que é, sobretudo, aquela que nos agrada. Os adolescentes têm perfeita consciência da influência da publicidade nos seus gostos pessoais, mas assumem que as coisas funcionam assim e que não há volta a dar-lhe. As crianças, porém, já não têm essa capacidade.
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Concorda com a ideia de que hoje em dia a publicidade já não vende tanto os produtos mas sobretudo marcas e modos de vida?
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Sim, e isso acontece sobretudo desde os anos 80, altura em que se passou a distinguir a venda de produtos da criação e do consumo de marcas. Desde essa altura que a estratégia publicitária tem caminhado no sentido de nos sentirmos sentimentalmente identificados com um produto associado a um conceito. Um anúncio da Coca-Cola, por exemplo, já não se limita a vender o produto mas antes de mais um sentimento positivo e uma atitude em relação à vida, ou seja, cria um sentimento e uma identidade de pertença. É através desta estratégia que as crianças e os jovens se sentem desde pequenos identificados com a ideia de uma marca, mantendo-se, em princípio, fiéis a ela ao longo da vida.
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Partindo da sua experiência como professora, de que forma considera que a escola encara esta questão?
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Eu creio que hoje em dia vivemos numa sociedade consumista porque a escola educa para os mesmos valores que se difundem no exterior dela. Por vezes afirma-se que a escola já não tem a mesma função educadora de outrora porque existem meios complementares como a televisão, os meios de comunicação social, a família, que assumem tanto ou mais importância do que a própria escola. Pessoalmente discordo dessa ideia, porque essa é a forma mais fácil de se legitimar o actual sistema socioeconómico. Se os professores tivessem uma formação inicial de carácter mais crítico, que permitisse não apenas transmitir conhecimentos mas educar para o pensamento, estou convencida de que a sociedade poderia evoluir de forma diferente.
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Como pode a escola educar para a contra-publicidade?
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A publicidade é basicamente uma mensagem unidireccional à qual não temos oportunidade de responder. Se algum anúncio ofende a minha condição de mulher ou de professora, por exemplo, eu não tenho qualquer hipótese de contestá-la. A contra-publicidade é uma forma de podermos questionar as mensagens que nos são transmitidas através dos mais diversos meios, e é esse tipo de trabalho que o nosso colectivo tem vindo a trabalhar. Para isso recorremos exactamente o mesmo tipo de estratégia utilizada na publicidade, desmontando o seu conteúdo e fazendo os alunos reflectir sobre ele.
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Como é realizado esse trabalho na sala de aula?
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Em primeiro lugar analisamos os anúncios juntamente com os alunos, procurando saber que tipo de mensagem nos estão a procurar passar. Habitualmente procuramos publicidade cujo conteúdo possa ser percepcionado como manipulador ou que veicule uma mensagem sexista ou classista. Desta forma conseguimos que a publicidade seja vista de uma perspectiva crítica e não passiva, como nos habituamos a vê-la diariamente. É muito importante não iniciar esta primeira fase do trabalho com marcas conhecidas, que eventualmente lhes possam estar próximas, porque dessa forma é muito provável que os alunos não queiram ouvir. A melhor forma de iniciar esta abordagem é através de publicidade com menor impacto, que funcione apenas como meio para que os alunos se apercebam dos seus mecanismos de produção e possam desmontá-lo de forma a abordar os aspectos que os influenciam directamente no consumo.Uma vez analisados os anúncios, os alunos são convidados a realizar contra-anúncios, ou seja, a procurar um determinado elemento ou característica que considerem criticável e a reinventá-lo de forma a satirizar uma determinada mensagem.
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Que meios utilizam para fazer este trabalho?
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A forma mais acessível de chegar às escolas é utilizar recortes de anúncios retirados de jornais ou de revistas e trabalhar a partir deles. É também possível fazê-lo através de anúncios de rádio, utilizando exactamente o mesmo método, mas recorrendo à linguagem sonora e auditiva, o que também resulta bem. Outra possibilidade é o vídeo, mas raramente recorremos a ele porque consideramos que neste tipo de iniciativa devem ser utilizadas ferramentas de trabalho que cheguem ao maior número possível de pessoas.
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A técnica que privilegiam não limitará esta actividade à disciplina de educação visual?
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Não, pelo contrário. Este tipo de trabalho pode ser feito no âmbito de qualquer disciplina. É uma boa forma não só de abordar a educação crítica para o consumo, mas também de aumentar a motivação para os conteúdos das diferentes disciplinas. Pela minha experiência, esta actividade constitui igualmente uma excelente maneira de incluir todo o tipo de alunos, desde os habitualmente participativos aos mais desinteressados.
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Como reagem eles a esta proposta?
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Este tema funciona muito bem com os adolescentes porque a publicidade cativa-os de uma forma particular. Como nesta idade já não gostam que os enganem ou que lhes contem “histórias”, quando se dão conta das subtilezas que estão por trás da publicidade passam a encará-la de um modo diferente. Além disso, atraio-os a oportunidade de conhecer as técnicas que se utiliza na sua realização e de a refazer na sua própria perspectiva.
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E os professores? Qual é habitualmente a sua receptividade?
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Os professores têm, geralmente, uma atitude diferente, porque esta é uma forma de eles próprios questionarem o seu modelo individual de vida, faltando-lhes por vezes uma posição crítica. Muitos deles desenvolvem um trabalho extraordinário, reinventando diariamente a sua profissão, mas falta ainda que reflictam um pouco mais sobre o consumo responsável e a possibilidade de outro modelo de sociedade.
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Entrevista conduzida por Ricardo Jorge Costa


Retirado de:
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=4334