19.4.07

Fartos de recibos verdes (FERVE)

Agora há mais precariedade e acaba-se a receber muito menos !!!
A primeira iniciativa do FERVE vai decorrer amanhã, dia 20 de Abril, às 22h00, no espaço "Maria Vai com as Outras", situado na Rua do Almada, 443, no Porto.

Procederemos à projecção de duas curtas-metragens:
- "Precárias à Deriva", 20 minutos. Espanha.
- "A Triste Verdade", 12 minutos. Michael Moore. EUA.

Entre os filmes, decorrerá uma tertúlia.

Contamos com a vossa presença!




O que é o FERVE

O FERVE foi fundado a 5 de Março de 2007

O grupo de trabalho FERVE surge com a intenção de denunciar a utilização imprópria, errada e abusiva dos recibos verdes. Este uso inadequado ocorre sempre que os/as trabalhadores/as deveriam ter direito a um contrato de trabalho, visto serem, de facto, trabalhadores/as por conta de outrem e não trabalhadores/as independentes.


Os recibos verdes devem ser utilizados, única e exclusivamente por trabalhadores/as independentes, ou seja, pessoas que trabalham por conta própria, sem subordinação hierárquica, determinando o seu horário de trabalho e utilizando as suas instalações para exercício da actividade profissional (por exemplo, médicos/as ou dentistas que trabalham no seu consultório).


Visto trabalharem por conta própria, estas pessoas têm ao seu encargo a responsabilidade de pagarem o seu seguro de trabalho anual, fazerem os descontos de IRS (20% no regime normal) e pagarem a segurança social mensalmente (151.58€, no regime normal). Precisamente por trabalharem por conta própria, estas pessoas não auferem subsídio de Natal ou de férias e não têm direito a subsídio de desemprego.


Esta modalidade laboral, perfeitamente legítima para quem trabalha por conta própria, generalizou-se de tal forma que constitui agora a realidade que demasiadas pessoas conhecem aquando da “contratação”, seja por parte de empresas privadas seja por parte do próprio Estado.


Assim, a entidade patronal dirá à pessoa que esta receberá 800€/mês, pelos quais deverá passar um recibo verde. Na prática, isto significa que a pessoa irá receber, líquidos, 488.42€, visto que 160€ vão para o IRS e 151.58€ para Segurança Social!!!!


A “contratação” através de recibo verde é por demais conveniente para as entidades patronais: não há necessidade de contrato de trabalho, não há pagamento de segurança social, de IRS, não há direito a férias e muito menos a reclamações.
O/A trabalhador/a vê-se numa situação de total desprotecção, podendo ser despedido/a a qualquer momento, sem quaisquer regalias ou direitos, vivendo uma situação constante de precariedade e ausência de direitos.


Estas pessoas são mães que são forçadas a voltar ao trabalho duas semanas após o parto.
São pessoas que não têm direito a ficar doentes.
São pessoas que não podem fazer férias.
São pessoas que não podem fazer uma intervenção cirúrgica.


O FERVE não aceita este estado de coisas! Não podemos viver numa sociedade que é conivente com este novo tipo de escravatura laboral, baseada na ameaça de desemprego a qualquer instante, na ausência total de direitos laborais. Não aceitamos que a coação e o medo de perder o trabalho possam ser motivo para a manutenção desta situação de ilegalidade.


Através da sua acção, o FERVE pretende denunciar as empresas privadas e públicas que recorrem aos falsos recibos verdes para a “contratação” dos/as seus trabalhadores/as. Queremos abrir um amplo debate na sociedade sobre a errada utilização dos recibos verdes, juntar pessoas que “passam recibos verdes” e entidades interessadas na mudanças numa plataforma de luta alargada e unida na defesa de direitos laborais.

O FERVE faz sentido porque são demasiadas as pessoas a trabalhar nesta condição de ilegalidade. Trabalharemos até ao fim para denunciar e erradicar esta situação de usurpação de direitos, de canibalismo laboral, de silenciamento dos/as trabalhadores/as. Estamos fartos/as disto.


A luta tem que passar por todos/as junta-te a nós!


www.fartosdestesrecibosverdes.blogspot.com/

Cinema Independente em Lisboa a partir de hoje

A quarta edição do Festival de Cinema Independente de Lisboa começa hoje. Até 29 de Abril vão passar por Lisboa 226 filmes, vindos de quatro continentes: Europa, Ásia, África e América. Estreias mundiais (19) e europeias (10), filmes-concerto, masterclasses, painéis e mesas redondas são apenas alguns dos muitos atractivos desta edição, que se distribui pelo Fórum Lisboa e pelos cinemas São Jorge, Londres e King.

Hoje, pelas 21h30, tem lugar a cerimónia oficial de abertura no Cinema São Jorge, após a qual será exibido o filme “LIFE IN LOOPS - A MEGACITIES REMIX”, de Timo Novotny.

Este ano, o IndieLisboa recebeu um total de 2500 inscrições. Desse universo, foram seleccionados 226 filmes (88 longas-metragens e 138 curtas-metragens), dos quais 19 estreias mundiais (16 curtas e 3 longas), 10 estreias internacionais/europeias (curtas-metragens).
Da Europa (sem contar com Portugal), vieram 109 filmes (36 longas e 77 curtas), da Ásia serão exibidos 38 filmes (22 longas e 13 curtas), dos EUA e Canadá estão representados com 38 filmes (14 longas e 24 curtas), da América Latina serão mostrados 12 filmes (7 longas e 5 curtas) e de África foram seleccionados 3 filmes (1 longa e 2 curtas).
Finalmente, o IndieLisboa irá exibir 20 filmes portugueses (5 longas e 15 curtas).



O INDIELISBOA é um local privilegiado para a descoberta de novos autores e tendências do cinema mundial. O Festival dá especial atenção a obras e cinematografias com menor visibilidade no mercado de distribuição comercial português e integra uma competição de longas e curtas metragens de novos realizadores.

Consultar a Programação: aqui

Nos 100 anos da Greve Académica de 1907

Na greve académica de 1907 em Coimbra destacaram-se muito particularmente os estudantes que defendiam ideais anarquistas como Campos Lima, tal como se pode ver por um excerto de um texto escrito por um fura-greves da altura e que retiramos simpaticamente daqui:

"Nesta quadra de actos, falta em Coimbra o assunto para a carta semanal: porque porêm, nas noites quentes deste Julho, pela alta, à luz da fraca iluminação publica, grupos de estudantes da rua Larga à Couraça, discutem até de madrugada, e anda em móda na academia o anarquismo, que Campos Lima, Gomes da Silva e um novo caloiro [Alfredo] França, lá na baixa, inflamados, declaram ser o regimen do futuro (...)" [Academia Politica, Julho de 1906]


Video sobre o assunto retirado do
blogue Almanaque Republicano





Pinto Quartin

Outra figura envolvida nos acontecimentos de 1907 em Coimbra foi Pinto Quartin, estudante da Faculdade de Direito, e que passou a ser uma das figuras com mais actividade na divulgação das ideias anarquistas ao criar e participar em muitas publicações tal como se pode ler também na
biografia de Pinto Quartin publicada no blogue Almanaque Republicano.

De lá também retiramos a informação sobre o ser espólio:

O espólio de Pinto Quartin, legado à Casa da Imprensa, foi mais tarde depositado no Instituto de Ciências Sociais, no Arquivo de História Social e pode ser consultado online. Nele podem ser encontrados milhares de documentos sobre o movimento sindical e anarquista em Portugal. Para poder analisar os diversos documentos que aí existem deve consultar-se o catálogo da Exposição de Documentos de Pinto Quartin integrado no Seminário "O Movimento Operário em Portugal", organizado pelo Gabinete de Investigações Sociais, com texto de Maria Filomena Mónica, Lisboa, Biblioteca Nacional, 4 a 67 de Maio de 1981.



Remetemos por fim para vários posts do Almanaque Republicano onde se reproduzem relatos da Greve Académica de 1909 da autoria de Pinto Quartin:
1, 2, 3


Café Bom: o café dos anarquistas

Princípio do séc. XX - Na Rua da Betesga, em Lisboa, o Café Bom "onde se reuniam os primeiros anarquistas" portugueses.
(informação e foto igualmente recolhida no excelente blogue Almanaque Republicano)

A palavra é quem mais ordena ( sobre a cultura hip hop e a música rap)

Texto de Manuel Halpern
Retirado do JL(jornal das letras, artes e ideias)

«A poesia está na rua», uma frase de Sophia que se tornou um dos slogans da Revolução de Abril. Erguia-se num cartaz, entre a multidão que celebrava a democracia, no 1.º Primeiro de Maio (mais tarde serviu de mote a Helena Vieira da Silva). A voz do povo ouvia-se nos cantores de intervenção.
Os tempos mudaram, as palavras de ordem do 25 de Abril ficaram esquecidas. A sociedade capitalista vingou perante o conformismo da população. Apesar da insistência e coerência de alguns autores, passou a ouvir-se um rock divertido e quase sempre inócuo. Até que, no final dos anos 80, um novo movimento devolveu a intervenção à música e a poesia às ruas. O novo neo-realismo, a tradução moderna da literatura de cordel, as palavras genuínas da intervenção, o despertar das consciências estão nas vozes dos rappers.

Os pretextos são diferentes, tal como a comunidade. Não cantam de punho erguido, nem mobilizam a sociedade. Não há um empenhamento político e partidário, nem um discurso intelectualizado. Mudar o mundo é uma miragem. A marginalidade é cultivada, quase uma condição. Partem do gueto (real e ou figurado) para o mundo. Mas as questões ideológicas estão presentes e a autenticidade é uma exigência. E a palavra quem mais ordena.

Rap significa Rhythm and Poetry (ritmo e poesia). E assim se define, como a arte de articular o ritmo com as palavras. E, como em nenhum outro estilo musical, as palavras tornam-se a essência. Os MC (mestres de cerimónias) digladiam-se em batalhas de rimas espontâneas, vence aquele que consegue a melhor metáfora. Um caso recente corre na Internet: num dia azarado, Black Mastah, um rapper já veterano e com provas dadas, foi derrotado por Cristal, abalando assim a credibilidade junto de alguns dos seus fãs.
À primeira vista o trabalho do MC pode parecer fácil. Mas a estrutura rítmica de articulação de vocábulos é muitas vezes complexa. Em nenhum outro estilo se dizem tantas palavras por minuto, por faixa, e com um imperativo fonético. Sem nunca esquecer a importância da mensagem. Há de tudo. Os estilistas conseguem resultados sofisticados, através de jogos de palavras. O flow é uma técnica só ao alcance dos mais engenhosos, que consiste em rimar fora da sílaba tónica. Como faz Sam the Kid, em Poetas do Karaoke: «Eu sou Dom Dinis, tu és donde estiveres melhor». Ou o artifício do tema 100 em que o rapper repete cem vezes «cem/sem».
Não há qualquer tipo de preconceito linguístico. Sem barreiras, é usada a linguagem das ruas, dos bairros, com calão e estrangeirismos. Mas tal não impede o uso de palavras mais eruditas. A língua de lés a lés.

A ideia de espontaneidade é uma das regras. Dentro da comunidade, as sessões de improviso são muito apreciadas. Assemelham-se à tradição da desgarrada no fado ou do «lá vai mote» renascentista. Contudo, é óbvio que as letras dos temas gravados são escritas e estudadas: apesar de poder passar a ideia de improviso, tudo está assente no papel.

Ideologicamente, o hip hop de intervenção identifica-se com a esquerda. É a voz das margens da sociedade, dos excluídos. A denúncia das desigualdades sociais e, por vezes, do racismo. Nem todos são tão directos quanto Valete, o Che Guevara do rap, que se afirma de extrema-esquerda. Mas muitos alinham num discurso engajado, como Chullage, Micro, NBC, Black Mastah, MAC ou Sir Scratch.
No seu tema Hip Hop, Boss AC descreve-o assim: «De certa forma Hip Hop é estar na política/ Não aceitar tudo calado/ é desenvolver a consciência crítica».

Todavia nem todo hip hop é de intervenção. Há vários traços que se desenham nos rappers portugueses. Como o combate, a exaltação do ego e a rivalidade com outros MC. Como diz PacMan: «Um gajo para ser rapper, à partida, tem que ter um ganda ego. É uma cena mais ou menos egocêntrica e gabarolas.» Um bom exemplo é o primeiro álbum de Sir Scratch, em que se ouve: «Eu conheci o Sir Scratch em casa do Sam ele tinha 12 anos, já fazia melhor rap que muitos niggers que têm 30, 35 e 40 anos/ o gajo podia ser filho de metade desses rappers e já cuspia melhor que os rappers». Ou esta letra dos MAC, chamada Toma: «Bem podes continuar a treinar frente ao espelho/ se me chegas aos calcanhares não me passas do joelho». Por vezes, os rappers descrevem o que vêem ou têm intuitos pedagógicos, alertando para os perigos da droga, da sida, da violência ou da gravidez adolescente. Noutros casos, os textos são meramente biográficos.


História em movimento

O hip hop tal como o conhecemos nasceu no Bronx, em Nova Iorque, nos anos 70, com a chamada Zulu Nation, de Afrika Bombataa. As suas origens, segundo algumas teorias, estão na Jamaica, nos sound systems: carrinhas que percorriam o país a passar reggae. Antes dos espectáculos, o locutor fazia uma apresentação, numa fala ritmada, com tal talento, que passou a ser tão cativante quanto a música em si. Mas podem adivinhar-se origens mais remotas, no spoken word da beat generation, na verborreia de algumas canções folk de Woodie Guthrie, ou mesmo nos vendedores de feiras, nos apresentadores do circo e nos locutores desportivos.

Tal como apareceu no Bronx, o movimento divide-se em três vertentes: a música dos MC e DJ, as artes plásticas dos graffiters e a dança dos breakdancers. No início teve a positiva função de apaziguar as rivalidades entre negros e porto-riquenhos nos guetos. Em vez de lutas físicas, passaram a batalhar através da arte. Vários grupos se destacaram internacionalmente, desde o início dos anos 80, como Run DMC, Public Enemy ou Afrika Bobataa.

Em Portugal começou por se adaptar o movimento americano à realidade suburbana de Lisboa e do Porto. António Concorda Contador e Emanuel Lemos Ferreira, no seu livro Ritmo e Poesia, afirmam: «Miratejo está para o rap português, como o Bronx está para o rap americano.»

1994 foi o ano em que o rap português saiu dos bairros. O país ficou a saber da sua existência. Para tal foi determinante o lançamento da colectânea Rapública, que incluía o hit dos Black Company, Nadar – um tema que esquecia a intervenção e defendia o lado festivo do hip hop.
No mesmo ano, saíram os marcantes primeiros álbuns dos Da Weasel e General D. Para rappar em português foi igualmente importante o sucesso do brasileiro Gabriel, o Pensador. No início, houve quem associasse Pedro Abrunhosa & Bandemónio ao movimento, embora seja óbvio que é um parentesco muito afastado. O músico do Porto enquadra-se mais no soul funk, na herança de James Brown.

Dinamizadores importantes do hip hop foram os DJ Bomberjack e Cruzfader. Desde 1996 que Bomberjack grava mixtapes, onde compila talentos. De início vendia directamente nas lojas. Agora formou a sua própria editora, a Footmovin’, e distribuidora, a Sóhiphop. Estas empresas, a que se dedica a tempo inteiro, são grandes divulgadoras. Só em 2006, lançaram mais de 20 títulos. «Não há mercado para tudo – explica –, a partir de agora teremos de ser mais selectivos.» Bomberjack defende uma música de temática plural: «Nem todos têm que ser interventivos, é bom que haja vários estilos». Reconhece que o género é maioritariamente procurado por «adolescentes», mas que a regra tende a mudar. Aliás, os nomes que têm surgido nos últimos tempos são de MC mais velhos. E chama a atenção: «Hoje a cena é mais individual, já não há tanto aquela coisa dos grupos e dos bairros.»


Verdade, orgulho e preconceito

Tal como no fado, em que puristas e inovadores facilmente entram em conflito, o hip hop, que é um estilo musical com regras definidas, também tem as suas bipolaridades. A primeira é a «Old School» e a «New School». Está sobretudo ligada à componente musical. As bandas fundadoras usavam apenas samplers, gira-discos, caixa de ritmos ou, em alternativa, o beat-box – instrumentação vocal feita com a ajuda das mãos. Essa simplicidade permitiu que o movimento emergisse na rua, nos bairros mais pobres, sem recursos para instrumentos caros. Com o tempo, foram aparecendo novas tendências, que usam instrumentos e se afastam destes cânones. E até mesmo sub-estilos, muito apreciados, como o hip hop estratosférico ou trip hop.

Underground versus comercial é uma discussão permanente. Nos Estados Unidos é totalmente justificada. Vários são os grupos ou MC que desvirtuam os princípios do hip hop com objectivos comerciais. E o rap tem como regra de ouro a autenticidade. O rapper tem que acreditar no que diz. Em Portugal, não há grandes exemplos de ‘Gangsta Rap’ (que apelam ao crime, à violência e ao machismo, como é o caso de 50 cent), quem mais se aproxima é Halloween. Obviamente, uns têm mais sucesso do que outros. Mas vender bem não é sinónimo de traição. Como explica Sam the Kid: «Então de que lado é que eu estou? Aceito que me chamem comercial, porque os meus discos estão nas lojas. E aceito que me chamem undergound porque nunca traí os meus princípios».

É um lugar comum nos álbuns de hip hop português apontar o dedo àqueles que se vendem. É, por exemplo, o que faz Valete em Pela Música: «Vais da glória ao fracasso corrido ao pontapé/ E a história nem guardará para ti um rodapé/ Se vives de joelhos nem te vale a camisa do Che/ Eu estou na horizontal mas hei-de morrer de pé».

O cenário do hip-hop nacional está em constante mutação. Nos últimos anos houve um boom de artistas. Poucos deles chegam aos discos. E alguns limitam-se a edições de autor de circulação restrita. Mas os sucessos de Sam the Kid, Valete, Da Weasel e Boss AC alargaram o espectro de forma transversal na sociedade: definitivamente já não é uma cena do bairro.
Em termos geográficos, os subúrbios de Lisboa e do Porto continuam a ter grande protagonismo: bairros como Chelas, Odivelas, Damaia, Miratejo ou Matosinhos. Quarteira, no Algarve, pode considerar-se já um pólo relevante, graças ao dinamismo do MC e produtor Twism. Mas um pouco por todo o lado, de Norte a Sul, aparecem movimentos. Observe-se o caso do Alentejo, uma das regiões mais pobres, desertificadas e envelhecidas da Europa. Por ali existem núcleos. Em Sines a cena é particularmente forte. Mas nas cidades do interior tal também acontece. É o caso de Beja, onde mora o rapper e produtor Suarez, que se prepara para lançar o seu primeiro disco com distribuição nacional. «Comecei em 1999, fui um dos pioneiros no distrito, mas agora já foi formado um circuito na região, com o hip hop em todas as suas vertentes.» Chegou a participar em algumas colectâneas e a lançar um disco de distribuição local. A distância das grandes urbes marcam a diferença no discurso: «Falo do que vivo, das discrepâncias que há no país, do desemprego e da falta de patriotismo.»

O universo do hip hop é dominado por homens. O que talvez se explique por uma certa ideia de virilidade dominante nas suas origens, nos despiques entre gangs. Em Portugal, a ausência de mulheres é flagrante. Dama Bete, que se prepara para editar o primeiro álbum, com produção e arranjos de Filipe Larsen, é uma das raras excepções. «O hip hop é um movimento machista, as mulheres continuam a ser reprimidas» – diz. Desde os 16 anos que se interessa pelo estilo. Oriunda da linha de Sintra, integrou vários grupos femininos. «Muitas vezes éramos convidadas para concertos pela curiosidade de sermos mulheres, e não pela validade do projecto em si. Diziam: ‘para rapariga está bom’». Sam the Kid, em conversa com o JL, também sustentou: «Infelizmente, ainda não apareceu nenhuma em que dissesse mais do que essa coisa horrível: ‘para mulher não está mal’». As letras de Dama Bete, falam de injustiças sociais. Em Dama no Rap, refere-se a essa discriminação: «Ser dama no rap é antes de abrir a boca ser ignorada/ Ser logo posta de parte por pensarem “n’ sabe nada”/ É subir no palco e olharem-me como se fosse E.T./ Começar uma actuação, ouvir “vens fazer o quê?”/ É a todo momento ouvir, porque não cantas R&B?». Pode ser que este disco, com beats do seu irmão (Macaco Simão), ajude a abolir o preconceito.
A abertura ao hip hop feminino é uma possível saída para um estilo em expansão, que em Portugal pode vir a entrar num impasse criativo e ideológico. E cada vez mais se afirma no mainstream. Seguindo o exemplo americano, corre o risco de se institucionalizar. Só que, ao contrário da música pop, o verdadeiro hip hop nunca poderá ser dominante, sob a pena de trair os seus princípios. Abandonando as margens, abandona-se a si próprio. Confundindo-se com o poder, ficará corrompido. De forma triste e irremediável.

Mindelo é primeira freguesia a aderir à Agenda 21 local

Ver:www.agenda21local.info/index.php


As preocupações com o Ambiente e a Qualidade de Vida têm, em Mindelo, Vila do Conde, uma importância incontornável pelas especificidades locais. A Associação Amigos do Mindelo está a desenvolver um processo de Agenda 21 local que pretende ser uma referência nacional.

O desenvolvimento sustentável é o ‘sonho’ dos habitantes da freguesia de Mindelo, Vila do Conde, a primeira a desenvolver em Portugal um processo de Agenda 21 Local (A21L), numa iniciativa que pretende ser exemplo a nível nacional.

O processo, lançado pela Associação dos Amigos do Mindelo para a Defesa do Ambiente, visa tornar, a longo prazo, esta freguesia num exemplo nacional do ponto de vista do desenvolvimento sustentável e da cidadania ambiental.
“Em termos de desenvolvimento sustentável, Mindelo ainda não será um exemplo nacional, mas, na área da cidadania, tem assegurado uma disseminação efectiva de boas práticas, onde se destaca a Agenda 21 Local”, refere um documento elaborado pela associação ambientalista.

A primeira freguesia a desenvolver o processo

A freguesia do Mindelo iniciou o processo de A21L em Outubro de 2003, sendo a primeira, em Portugal, a desenvolver este tipo de projecto, criado na Conferência do Rio de 1992 para promover o desenvolvimento sustentado ao nível local.
“A A21L demonstrou ser uma ferramenta essencial para reunir consensos e os primeiros resultados começam a surgir”, salienta o documento, que frisa ainda que “o desenvolvimento de parcerias com autarquias, empresas e outras organizações tem permitido encontrar os recursos necessários para os projectos”.

Mindelo é uma freguesia do concelho de Vila do Conde, situada na zona costeira, a cerca de 20 quilómetros do Porto. Localizada numa zona que mantém fortes características rurais, a freguesia, que se caracteriza pelas praias e pinhais, tem actualmente cerca de 3.500 habitantes distribuídos por uma área com cerca de 570 hectares. As qualidades ambientais e a proximidade com a cidade do Porto tornaram Mindelo, ao longo dos anos 70 e 80 do século passado, num local privilegiado para a construção de segundas habitações, ocupadas apenas durante a época balnear. Mais recentemente, Mindelo começou a transformar-se numa zona dormitório do Porto, situação favorecida pela construção de novas ligações rodoviárias e pela extensão da rede de Metro do Porto.

Preocupações

“O aumento da construção gerou uma significativa perda de espaços agrícolas e florestais”, alerta o documento. Sustenta ainda que a freguesia “corre o risco de perder a sua identidade, com a destruição acelerada do património natural, factor diferenciador e potenciador de qualidade de vida na freguesia”.
O combate contra este perigo passa também pelo desenvolvimento do processo A21L, através da apresentação de propostas de acções prioritárias que permitam contribuir para o desenvolvimento sustentável da freguesia.
A água, o ordenamento do território, a biodiversidade e os resíduos sólidos urbanos foram definidos como os quatro eixos fundamentais de actuação no quadro do Plano de Acção e Monitorização, elaborado na sequência das contribuições apresentadas pela população e entidades locais.
“O facto de ser um processo independente do poder político, criou logo uma grande proximidade com a população. A credibilidade e a isenção tornaram-se inquestionáveis por não existir nenhum partido político, órgão governativo ou grupo a beneficiar do sucesso da Agenda 21 em detrimento de outros”, salienta o documento, frisando que “o sucesso do projecto é um sucesso da população como um todo”.
Nesse sentido, refere que “o facto dos residentes de Mindelo perceberem que estão a discutir o desenvolvimento de tudo o que faz parte do seu dia-a-dia tornou-se um trunfo para o projecto”.

Desenvolvimento sustentável na agenda

Este projecto inovador a nível nacional teve o mérito de colocar o tema do desenvolvimento sustentável da freguesia no centro das atenções, gerando uma discussão que permitiu atingir um consenso generalizado sobre o que se pretende que Mindelo seja no futuro.
É esse sonho que Mindelo quer que venha a ser um exemplo nacional.

Fonte: jornal Primeiro de Janeiro

Consultar ainda:
www.amigosdomindelo.pt/

Para saber mais da Reserva Ornitológica do Mindelo:
aqui

José Luís Peixoto hoje nas Quintas de Leitura

As «Quintas de Leitura» do TCA ( Teatro do Campo Alegre, no Porto) recebem hoje o poeta José Luís Peixoto que vai revelar uma vintena de poemas inéditos, fragmentos do seu novo livro de poesia, a editar até ao final deste ano. A sessão, intitulada «Unicórnios e Farmácias Abandonadas» – verso de um dos novos poemas - , está marcada para as 22h00.
O espectáculo assina ainda a estreia absoluta em Portugal do pianista, vocalista, compositor e improvisador norte-americano Thollen McDonas, que actuará na segunda parte, numa excursão pelas ideias que resumem o seu pensamento musical - «Ler nas entrelinhas e tocar fora delas».
Os poemas de José Luís Peixoto serão lidos pelo próprio autor e ainda pelos recitadores Sandra Salomé, Susana Menezes, Isaque Ferreira e Isabel Guimarães, que se estreia nas «Quintas de Leitura».
Ao longo de todo o espectáculo, o fotógrafo Nelson D’Aires mostrará uma série de imagens inspiradas no universo poético de Peixoto. Nelson D’Aires acaba de ganhar o prémio Reportagem do prestigiado Prémio de Fotojornalismo Visão/BES 2007.

Biografia:

José Luís Peixoto nasceu em 1974 (Galveias, Ponte de Sor). Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas (Inglês e Alemão) pela Universidade Nova de Lisboa. Tem publicado poesia e prosa. Recebeu o Prémio Jovens Criadores (área de literatura) nos anos 97, 98 e 2000. Em 2001, o seu romance «Nenhum Olhar» recebeu o Prémio Literário José Saramago. Está representado em diversas antologias de prosa e de poesia nacionais e estrangeiras. É colaborador de diversas publicações nacionais e estrangeiras. Em 2005, escreveu as peças de teatro «Anathema» (estreada no Theatre de la Bastille, Paris) e «À Manhã» (estreado no Teatro São Luiz, Lisboa). Os seus romances estão publicados em França, Itália, Bulgária, Turquia, Finlândia, Holanda, Espanha, República Checa, Croácia, Bielo-Rússia e Brasil. Estando actualmente em preparação edições no Reino Unido, Hungria e Japão.



Bibliografia:
Morreste-me (ficção, 2000)
Nenhum Olhar (romance, 2000)
A Criança em Ruínas (poesia, 2001)
Uma Casa na Escuridão (romance, 2002)
A Casa, a Escuridão (poesia, 2002)
Antídoto (ficção, 2003)
Cemitério de Pianos (romance, 2006)

http://quintasdeleitura.blogspot.com/

http://joseluispeixoto.net/