5.8.05

Breve história das armas radioactivas

no 60º aniversário do crime de Hiroshima


Breve resumo da história do armamento nuclear, onde se mostra como o planeta está sendo sujeito a uma radioactividade artificial com terríveis consequências para a saúde humana e todo o nosso património genético.

O texto, cujo autor é Alfredo Embid, foi publicado no nº22 ( Júlio-Agosto-Septiembre de 2005) da edição castelhana da revista The Ecologist.


A primeira proposta de utilizar armas radioactivas tem data de 30 de Outubro de 1943. Encontra-se num memorando secreto do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, hoje desclassificado. Estava dirigido ao director do Projecto Mannhattan, general Leslie R. Groves, por 3 dos físicos mais importantes do projecto, Dr. James B. Conan, A.H. Compton e H.C. Urey, que apresentaram as suas recomendações enquanto membros do subcomité executivo S-1, sobre o «uso da materiais radioactivos como arma militar».
Propunham utilizar aerossóis de urânio na guerra contra a Alemanha nas zonas em que se pretendia que ficassem inabitáveis, assim como para dizimar as tropas inimigas. Reconheciam que as partículas atravessariam as máscaras anti-gás, além de irem contaminar o ar, a água e os alimentos. O documento referia-se ainda à toxicidade e afirmava que não haveria forma de eliminar, ou de tratar as doenças que provocaria.
As primeiras bombas atómicas foram o resultado do projecto secreto que recebeu o nome de Manhattan. Nele participaram empresas como Dupont, Westinghouse, Union Carbide, Tenesse Eastman, etc. O seu objectivo inicial, servir de arma de dissuasão ao nazismo, perdeu-se com a capitulação da Alemanha em 12 de Maio de 1945, mas a verdade é que o projecto prosseguiu.

Rendição Inicial

Em Junho de 1945, ao dia seguinte da queda de Okinawa, o imperador japonês pedia ao governo soviético para receber o princípe Konoye em Moscovo a fim de tratar da rendição incondicional do Japão. O próprio general McArthur reconhecia, à época, que «os japoneses estão exaustos, que o imperador do Japão pretende assinar um armistício e que o golpe final se poderia produzir num prazo de semanas por via de armas convencionais.»
Apesar do Japão se preparar para declarar a sua rendição incondicional, os Estados Unidos decidem lançar dois tipos de bombas atómicas:
- em 6 de Agosto sobre Hiroshima (uma bomba com urânio 235), provocando 200.000 vítimas
-em 9 de Agosto sobre Nagasaki ( uma bomba de plutónio) com 100.000 vítimas.

Existem 3 razões que explicam este comportamento criminoso, desnecessário, para ganhar uma guerra que, naquele momento, já estava ganha. Em primeiro lugar, servia para rentabilizar um projecto de havia custado dois biliões de dólares e que mobilizou 150.000. Em segundo lugar, para experimentar novos tipos de armas (por isso mesmo, foram lançados dois diferentes tipos de bombas). Em terceiro, servir de ameaça para os então «aliados» russos, assim como para todo o mundo.

O chefe dos serviços de Saúde norte-americanos declarou que os efeitos radiológicos da bomba desapareceriam após 24 horas, mas a verdade é que ainda hoje eles persistem!
Einstein qualificou a iniciativa de «suicídio cósmico»

Em 1946 iniciaram-se os ensaios nucleares norte-americanos nas ilhas Bikini.
A então recém-criada CEA (Comissão de Energia Atómica dos Estados Unidos) veio a público dizer que tal não era motivo de preocupação. Segundo eles, « a radioactividade era completamente inofensiva para as pessoas, pois ficaria localizada num zona e os resíduos seriam lançados para a estratosfera pela força da explosão e nela permaneceriam até se perder a sua perigosidade.»
Certamente que a explosão leva as partículas para a estratosfera…mas para estendê-las por todo o planeta. E quanto à perigosidade, ou seja, à radioactividade, essa perde-se ao cabo de um certo tempo…de milhões de anos.

Alguns dos mais prestigiados cientistas que trabalharam para a Comissão de Energia Atómica norte-americana, John FGofman, Karl Morgan, THomas Mancuso e Alice Stewart foram, inclusivamente, ameaçados, quando decidiram demonstrar que a agência governamental mentia, uma vez que as baixas doses de radiação não deixam de ser perigosas.

Bombas veneno

Em 1950 é anunciada a produção de bombas-veneno, explosivos convencionais com partículas radioactivas muito finas, o que constitui a continuação do projecto de 1943 e um antecedente das modernas armas radioactivas.
No dia 1 de Março de 1954, no Pacífico, realizou-se uma explosão de uma bomba de 15 megatoneladas de hidrógeneo, chamada Bravo, equivalente a 1.000 bombas de Hiroshima. Os habitantes das ilhas Bikini não foram evacuados, pelo que hoje em dia continuam a sofrer os seus efeitos, como demonstra um estudo que recentemente se publicou do Instituto Nacional do Cancro, onde se reconhece que os cancros duplicaram mais de 50 anos depois dos ensaios nucleares.
Em 1955 realiza-se em Genebra a primeira conferência mundial sobre «os átomos para a paz», propondo-se a produção de energia civil «barata» para alimentar a indústria militar, tal como tinha sido sugerido por Monsanto. As explosões militares passam a chamaram-se «explosões pacíficas».

Em 1957 é formada a Fundação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) como extensão do lobby nuclear militar-industrial.
Em 1957 é assinado um acordo entre a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a AIEA, no qual a OMS se compromete a não fazer estudos, nem publicar relatórios ou conclusões sobre temas relacionados com a contaminação radioactiva sem o acordo (isto é, a autorização) da AIEA que, não contente com isto, impõe a presença de elementos da sua máxima confiança nos comissões da OMS.
Em 30 de Outubro de 1961 dá-se a mais poderosa explosão provocada pelo homem, equivalente a 3.000 bombas de Hiroshima.

Durante as décadas seguintes foram realizados testes e ensaios a céu aberto por vários países, entre os quais os Estados Unidos e a Rússia.
Curiosamente o clube dos países com armas nucleares era constituído, de início, por Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, França e China, que são também os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A este sinistro grupo juntou-se-lhes mais tarde países como a Índia, o Paquistão, a África do Sul e Israel, não obstante este último nunca ter reconhecido que possuía este tipo de armas.
O país que, entretanto, renunciou às armas nucleares foi a África do Sul, que teve o mérito de as desmantelar, e que nem por isso foi alguma vez atacada, o que só demonstra como o desarmamento unilateral é possível.
Dos 511 ensaios nucleares realizados na atmosfera, estratosfera e debaixo da água foram libertados 100.000 quilos de plutónio 238,239, 240 e 241 entre os anos de 1945 e 1980.
Mas, na realidade, o número de testes e ensaios foi muito maior se tivermos em conta os ensaios subterrâneos. Calcula-se cerca de 2.055 o seu número total entre os anos de 1945 e 1998.
Note-se ainda que dos elementos libertados pelas explosões, o plutónio é apenas um deles.

Urânio empobrecido

O termo urânio empobrecido (UE) foi inventado pelo lobby militar-industrial a fim de sugerir que não é perigoso.
As munições levam cabeças radioactivas, que não são só de urânio empobrecido.
Só nos Estados Unidos o departamento de Energia reconhecia ter nos anos 90 um stock de 720.000 toneladas de UE armazenadas, sem saber muito bem o que fazer delas…a não ser reciclá-las em armamento ou para servir de contrapeso aos aviões.
Trata-se de um material muito duro, pelo que as munições que o utilizam acabam por se aguçar à medida que penetram nos objectivos para onde são lançadas.
Além disso, são altamente inflamáveis, originando temperaturas de 1.00 a 3.000 graus.
Em suma, uma autêntica maravilha para destruir tanques, bunkers e literalmente «queimarem» vivos os seus alvos humanos.
São conhecidos os casos de vítimas iraquianas que, pura e simplesmente, foram volatilizadas, dentro dos refúgios civis em Bagdad por efeito de bombas apetrechadas com urânio empobrecido.
Acontece que estas «maravilhosas» armas têm um pequeno problema: são radioactivas.
Após as explosões, transformam-se em aerossóis, em invisíveis partículas da ordem dos micra ( uma milésima de milímetro). Em projécteis relativamente pequenos, calcula-se que entre uns 40 a 70% do urânio se vaporiza. O resto converte-se em fragmentos que se corroem, libertando mais lentamente o urânio no meio envolvente. Mas nas bombas e mísseis 100% do urânio vaporiza-se com o impacto, o que pode significar 1,5 toneladas nas bombas maiores. O tamanho das partículas faz com que sejam respiráveis, e que seja impossível limpá-las. Pior ainda, que possam vogar no ar indefinidamente.

Máscaras, para quê?

A especialista em mineralogia Leuren Moret confirma que as máscaras não protegem os soldados uma vez que deixam passar as partículas mais finas de urânio. O intenso calor gerado converte-as em partículas cerâmicas insolúveis. Acumulam-se nos tecidos e excretam-se lentamente na urina ou permanecem para sempre no corpo. Emitem radiações alfa ( para além de radiações beta e gama) muito perigosas quando bombardeiam as células a partir de dentro dos tecidos.
Os efeitos nocivos desta irradiação interna já estão descritos no manual de protecção nuclear desde os anos 50 de autoria do comandante Maurice Eugene André, especialista do exército belga em guerra nuclear.
Foram, entretanto, publicados dezenas de trabalhos científicos posteriores que confirmam estes perigos para a saúde dos seres humanos. Realizaram-se testes destas armas desde os anos 70 em Porto Rico, Okinawa, Coreia do Sul, Grécia, Turquia, Canada, Inglaterra, Alemanha, França, Estados Unidos. Os primeiros testes destas armas de combate não foram feitos no Iraque em 1991, mas sim em 1973. o exército israelita utilizou secretamente armas com urânio empobrecido, fornecidas pelos Estados Unidos, na guerra do Sinai contra o Egipto, segundo o que afirma Frank Sauer, sargento do exército norte-americano e observador militar da ONU em Israel. Em 1974, o exército norte-americano reconheceu oficialmente que utilizava urânio empobrecido nas suas munições.
Em 1990 um relatório da Autoridade da Energia Atómica do Reino Unido (UKAEA) enviado ao governo britânico advertia:«Se 50 toneladas de poeira residual de UE ficarem na região do Iraque poderiam registar-se meio milhão de cancros adicionais até ao final do século (2000)».

Adeus ao tabu

Em 1991 o tabu da utilização de armas radioactivas foi definitivamente desmontado com o ataque ao Iraque. Reconheceu-se, oficialmente, o seu uso:
- nos aviões A10, conhecidos por «assassinos de carros»
-nos helicópteros Apache
-Tanques Abrahams M1
-Falanx CIWS e os M60 da Marinha
Assim como nos carros de outros países, tais como:
- nos A1MA ( da Grã-Bretanha)
-nos AMX10, e AMX30 ( da França)
Estas munições contêm como máximo 4,8 kg de UE ( nos tanques M1)
Recordemos que nada justificava a guerra, já que os iraquianos se mostraram dispostos a sair do Kuwait, e, no final, até saíam incondicionalmente. Mas, tal como em Hiroshima, havia que testar as novas armas. As quantidades de UE utilizadas no Iraque vão das 325 toneladas admitidas pelo Pentágono …às 900 toneladas, segundo a opinião de alguns cientistas. Posteriormente, os fabricantes de armas promoveram-nas graças às imagens da guerra conseguindo vendê-las a, pelo menos, 29 países.
O Dr. Gunther, presidente da associação humanitária da Cruz Amarela e ex-colaborador do Prémio Nobel da Paz Albert Sweitzer, teve o mérito de ter sido o primeiro a alertar sobre os perigos das munições designadas falsamente de urânio empobrecido. Por isso é que foi detido. O crime de que foi acusado era o de ter enviado para a Alemanha um par de casquilhos dos milhares com que as crianças iraquianas brincavam. Quando me encontrei com ele no Congresso de Hamburgo, Gunther padecia de cancro mas não desistia de lutar, denunciando aqueles crimes durante a Conferência. Em 1992, a pedido do ex-procurador e ex-ministro de Justiça dos Estados Unidos, Ramsey Clark, formou-se um tribunal que condenou os principais políticos e militares responsáveis pela Guerra do Golfo de 1991 por crimes de guerra contra a Humanidade.

Sem informações sobre os riscos

Todos os militares afectados, que conheci, coincidem que não receberam informações sobre os riscos que corriam. Foi o caso, por exemplo, de Hervé Desplats do exército francês, como a sargento-enfermeira do exército norte-americano Carol Picou que costumava conduzir um camião-hospital; como o oficial-médico britânico Ray Bristow que nem sequer pôs os pés no Iraque; como o comandante Doug Rokke, que foi encarregado de retirar do Iraque os veículos atingidos por «tiros amigos», e cujos resultados de análises lhe foram ocultados durante dois anos…
- em 1993 utilizaram-se armas radioactivas na Somália segundo o Centro da Informação berlinense para a Segurança Transatlântica, BITS. Um telex de Washington aos médicos militares norte-americanos alertava-los para o facto
- em 1994 utilizaram-se na Bósnia, Jugoslávia, mas ainda não foi reconhecido o seu uso
- em 1996 foi votada uma resolução por uma comissão da ONU durante a sua sessão nº 48, condenando o uso de armas com urânio empobrecido.
- em 1999 no Kosovo, utilizaram-se 34 toneladas de urânio, disparadas fundamentalmente por aviões A-10, apesar de tal uso não ser oficialmente reconhecido.

Baixas depois da guerra

Nos finais de 1999 começaram a morrer soldados espanhóis que tinham estado na Jugoslávia. Durante os anos seguintes à Guerra do Golfo as provas dos veteranos daquela guerra foram sistematicamente falsificadas. Aos militares doentes era-lhes diagnosticada stress pós-traumático. Os médicos utilizavam métodos fraudulentos para ocultar e não reconhecer que os soldados tinham sido contaminados.
Mas no fim do século passado os soldados afectados pelo Síndroma do Golfo ascendiam a cerca de 250.000. dos quais mais de 11.000 já tinham morrido.
Isto contrastava com a rápida vitória com que se pretendia neutralizar o «síndroma do Vietname»:só tinha havido uma centena de baixas sobre os 700.000 militares envolvidos nas operações.
Para além disso, houve também contaminação da mulheres, uma vez que o urânio também se elimina por via do esperma, produzindo um ardor referido por muitas delas.
E a contaminação estendeu-se aos próprios filhos: um estudo do Governo norte-americano sobre 251 veteranos…informou que 67% apresentavam graves enfermidades ou anomalias congénitas.: ausência de olhos, orelhas, órgãos, más formações e outras disfunções. Noutros estudos demonstrou-se que os veteranos da Guerra do Golfo tinham dois a três vezes mais filhos com deformidades. Por sua vez os estudos do professor de Bioquímica alemão Albrecht Schott acerca dos veteranos das guerras do Golfo, Bósnia e Kosovo… mostrava, que tinham 14 vezes mais anormalidades nos seus cromossomas.
O coronel Asaf Durakovic, doutor em medicina e especialista do Pentágono em contaminação radioactiva, fez o que, como médico, outros colegas não fizeram por estarem obrigados a minimizar o Síndroma do Golfo: atendeu os soldados veteranos, apesar das ameaças de que foi objecto. Assim detectou a presença de radioactividade na urina 9 anos depois do doente ter estado exposto. Mais: detectou U236 na urina e nos órgão dos veteranos da Guerra do Golfo. Trata-se de uma prova inquestionável que as munições utilizadas não continham só urânio empobrecido, já que o urânio 236 não faz parte do urânio empobrecido. Foi ameaçado, sofreu vexames e atentados e acabou por ser expulso do exército, mas, felizmente, criou o Centro de Investigação do Urânio (UMC), e em 26 de Outubro de 2000 apresentou os seus trabalhos e conclusões em Bruxelas.
Em 2001,mais de 40 países tinham munições radioactivas nos seus arsenais. Em 17 de Janeiro de 2001 o Parlamento Europeu votou uma resolução para aprovar uma moratória respeitante às armas de urânio empobrecido. 394 deputados votaram a favor, 60 contra e 106 abstiveram-se. Em Janeiro de 2001 encontrou-se U236no sul do Iraque, 10 anos depois de acabado o primeiro conflito. Em 18 de Janeiro de 2001 o programa da cadeia ARD da TV pública alemã revelou que se havia encontrado plutónio no Kosovo, o demonstra mais uma vez que se usava urânio empobrecido nas munições. O fraudulento atentado de 11 de Setembro de 2001 foi a desculpa para o início de novas guerras radioactivas. Em Outubro começa a guerra contra o Afeganistão ocultando a natureza das munições que estavam a ser utilizadas, ao mesmo que se intoxicava a população com a fraudulenta epidemia de anthráx nos Estados Unidos. E as campanhas prosseguiram em Dezembro. Ao mesmo tempo que nos distraiam com o fraudulento vídeo de Bin Laden, os Estados Unidos saiam unilateralmente do Tratado de Anti- mísseis Balísticos que sempre garantia alguma contenção no uso de armas nucleares desde que fora assinado em 1972 com a ex-URSS.

Sem reconhecimento…

No Afeganistão nunca se reconheceu que se tivesse utilizado o urânio empobrecido. Na Conferência de Praga subordinado ao tema «os factos sobre urânio empobrecido» de 24 e 25 de Novembro de 2001, o investigador Dali Williams apresentou provas de que muito provavelmente se utilizaram mísseis e bomba de grande tonelagem com urânio no Afeganistão. Termos como munições penetrantes, com cabeça munidas de «metal denso» escondem que são munições radioactivas. Em Janeiro de 2002 Rumsfeld admitiu por fim que havia contaminação radioactiva no Afeganistão, mas lançou as culpas para os talibãs, apesar de toda agente saber que não tinham meios para isso. Em Março de 2002 um relatório convencional do programa ambiental das Nações Unidas detectou partículas de plutónio, U236, na Sérvia e Montenegro, reconhecendo que continuava a existir contaminação radioactiva no ar anos depois da guerra na Jugoslávia.
Em Março de 2002 realizou-se em Bagdad um congresso sobre as consequ<~encias da guerra e do embargo ao Iraque. Numerosos trabalhos que foram disponibilizados pela pediatra Collette Moulaert, da Associação belga Médicos para o Terceiro Mundo, demonstravam o aumento de mortes, especialmente de crianças, por doenças malignas, imunitárias e más-formações congénitas.
Em Dezembro de 2002 um primeiro trabalho feito no terreno do UMRC, dirigido pelo coronel Assaf Durakovic, detectava no Afeganistão vapores importantes de radioactividade. Em 2003, sucessivas missões do UMRC, com base em amostras de urina, terra e água…encontraram altíssimos níveis de radioactividade e a presença de U236 em todas as amostras recolhidas naquele país.
No ano de 203 um grupo de 30 cientistas do mais alto nível publicam um importante trabalho sobre os efeitos das baixas doses de radiação e denunciam as insuficiências e os erros dos estudos oficiais num relatório científico muito crítico.
Apesar das massivas manifestações de protesto, os Estados Unidos voltaram a atacar o Iraque em 2003 . Desta vez a contaminação foi muito mais grave por vários motivos: diferentemente da primeira guerra, onde as batalhas se deram no deserto, aqui as munições radioactivas foram despejadas também nos perímetros urbanos. Foram também usadas munições radioactivas nos mísseis como se pode observar no impacte do bombardeamento à TV iraquiana segundo as análises feitas. Nesta guerra de 2003 estima-se que se utilizaram 2.200 toneladas de material radioactivo.

O Vírus da Babilónia

No Verão de 2003 os soldados norte-americanos começaram a padecer de doenças estranhas e a morrer. Atribuiu-se inicialmente a um pretenso vírus da Babilónia. Nalguns, depois de terem sido declarados indemnes de contaminação radioactiva, veio-se a encontrar a radioactividade na urina mediante investigações independentes.
Em Outubro de 2003 o autor deste texto participou na Conferência de Hamburgo sobre as armas de urânio. Particularmente impressionantes foram as intervenções dos médicos iraquianos Dra Jenan Hassan e Dr. Jawad Al Ali, que apresentaram as suas arrepiantes estatísticas que demonstram aumentos exponenciais de cancro e más-formações com abundantes provas gráficas. Nos finais de 2003 os soldados USA repatriados por enfermidade e causas não ligadas aos combates ascendiam a 20.000. Em Dezembro de 2004 realizou-se em Tóquio a última sessão do tribunal popular internacional sobre crimes de guerra no Afeganistão onde os Estados Unidos foram condenados. Em Fevereiro de 2004 o Dr. Keith Baverstock, especialista em radioactividade da OMS, director do relatório sobre contaminação no Iraque na primeira guerra, revelou,10 anos depois, que a OMS tinha censurado o seu trabalho, e denunciou a sua dependência à AIEA e advertiu dos riscos para as gerações futuras. Em Agosto de 2004 celebrou-se em Nova Iorque o tribunal popular presidido pelo ex-procurador geral do estado e ex-ministro de Justiça, Ramsey Clark, contra a administração Bush por crimes de guerra no Iraque, assim como por crimes contra a Humanidade. Nos finais de 2004, dois estudos do UMRC sobre a terra, a água e as pessoas no Iraque demonstram mais uma vez que as armas utilizadas não eram só urânio empobrecido.
À contaminação radioactiva das novas armas há que somar a contaminação dos ensaios nucleares, e ainda a das centrais nucleares civis.

Todos nós devemos estar conscientes que o lobby militar-industrial continua a contaminar-nos radioactivamente desde há 60 anos. Continuam também a ocultar-nos, com a cumplicidade dos organismos sanitários, que uma das principais causas do aumento das doenças como o cancro, alterações imunitárias e outras… é nada mais que a radioactividade artificial. Continuam a deteriorar impunemente o nosso património genético de forma irreversível e para sempre, com o conluio dos meios de comunicação. Espero que não com a tua, amigo leitor.

Alfred Embid

Texto publicado no nº22 ( Júlio-Agosto-Septiembre de 2005) da edição castelhana da revista The Ecologist

O nascimento do puro terror

(reprodução de um artigo publicado na edição de 5 de Agosto de 2005 do jornal britânico The Guardian. O seu autor é Geoffrey Wheatcroft)

The birth of 'mere terror'


Hiroshima wasn't uniquely wicked. It was part of a policy for the mass killing of civilians At the time, there was little immediate sense that something utterly extraordinary had happened, or that life had changed for ever. After August 6 1945, popular newspapers wrote half nervously and half exultantly about the coming of the "atomic age", but the most widespread reaction was mere thankfulness that the war was over.
It was argued then, and still sometimes is, that the bombing of Hiroshima 60 years ago tomorrow, and of Nagasaki three days later, was justified by the Japanese surrender, obviating the need for an invasion of Japan which would have meant huge casualties. That may not even be true, though the debate among military historians remains unresolved.
By the summer of 1945, Japan was already prostrate. Not only were Japanese armies being driven out of the Pacific islands and Burma, American bombers were wrecking the cities of Japan and, in one of the most successful campaigns of the whole war, submarines of the US navy had done to Japan what German U-boats had never managed to do to England, by completely destroying its shipping. Some American admirals believed then and ever after that surrender was a matter of time, and not much of it, and a strong suspicion persists of an ulterior motive by Washington, wanting to end the war with Japan quickly before Soviet Russia joined in.
In any case, that argument begs the profoundest questions of ends and means. In the shadow of the mushroom cloud, few people addressed them, or grasped the enormity of what had been done. Two who did were very remarkable men writing from entirely disparate perspectives: Dwight Macdonald, an American radical atheist, and Monsignor Ronald Knox, a conservative English Catholic.
Once an active Trotskyist, Macdonald was evolving from revolutionary socialism to pacifist anarchism, as reflected in Politics, the brilliant magazine he published from 1944 to 1949. His response to the news from Hiroshima was unequivocal. "This atrocious action places 'us', the defenders of civilisation, on a moral level with 'them', the beasts of Maidanek. And 'we', the American people, are just as much and as little responsible for this horror as 'they', the German people."
After the two cities were destroyed, Knox was about to propose a public declaration that the weapon would not be used again, when he heard the news of the Japanese surrender. Instead he sat down and wrote God and the Atom, an astonishing book, neglected at the time and since, but as important for sceptics as for Christians.
An outrage had been committed in human and divine terms, Knox thought. Hiroshima was an assault on faith, because the splitting of the atom itself meant "an indeterminate element in the heart of things"; on hope, because "the possibilities of evil are increased by an increase in the possibilities of destruction"; and on charity, because - this answers those who still defend the bombing of Hiroshima - "men fighting for a good case have taken, at one particular moment of decision, the easier, not the nobler path".

That was finely put, by both writers, but there was more to it: should Hiroshima really be seen as uniquely wicked or cataclysmic? However horrific, it may be that it was not so very different in degree, or even in kind, from what had gone before.

In 1939 the British government had entered the war with high protestations of virtue. Neville Chamberlain told parliament: "Whatever be the lengths to which others may go, His Majesty's government will never resort to the deliberate attack on women and children, and on other civilians for the purposes of mere terrorism." By the end of the war, the British had resorted to enough "mere terrorism" to destroy most of the cities of Germany and many of their inhabitants, 100,000 of them children.

This grew out of the exigencies of war and was one of those changes that take place without anyone's really reflecting, or even noticing. And yet it was an immense development. If you had told any Englishman a hundred years ago - not only a pacifist but an army officer - that before the century was out warfare would largely consist of killing civilians, he would have thought you were insane.

But that was what happened. During the recent Kosovo "war", a French officer asked bitterly if this was to be the first war in history in which only civilians were killed, and yet we had long since begun to go down just that road. It is sobering to compare the 300,000 British uniformed servicemen who died in 1939-45 with the 600,000 German civilians killed.

Making war on civilians took a further turn in the Far East, and not only because of the Japanese army's own atrocities towards conquered peoples. Before August 1945, very many Japanese had already been killed by "conventional" bombing. On one night in Tokyo in March, American bombers killed 85,000 civilians - more than would die at Nagasaki - and at least 300,000 were incinerated in great fire raids over the following months.

And so it was that, as Evelyn Waugh put it when writing about Knox's book in 1948: "To the practical warrior the atom bomb presented no particular moral or spiritual problem. We were engaged in destroying the enemy, civilians and combatants alike. We always assumed that destruction was roughly proportionate to the labour and material expended. Whether it was more convenient to destroy a city with one bomb or a hundred thousand depended on the relative costs of production." Hiroshima was but one more step.

However noble Macdonald and Knox's may now seem, it is only fair to point out that one was a conscientious objector living in New York and the other a priest living in a country house in Shropshire.

Their consciences might not have been so acute if they had been in uniform, fighting or about to fight against Japan. To put it in personal family terms, apart from one uncle I never knew who had been killed in Bomber Command (and for all Macdonald's rhetorical flourish, I don't think that he, or even the crew of Enola Gay, were war criminals to be compared to death camp guards); two other uncles had recently been released from German prison camps; and my father, a Fleet Air Arm pilot, was training a new squadron destined for the Japanese war where he had already served. I have never asked any of them, but I imagine that their immediate reaction to the news that August was pure relief. I imagine mine would have been in their place.

Where Macdonald was surely right was to say that nuclear weapons - or what President Harry Truman called "the greatest achievement of organised science in history" - had rendered obsolete the very concept of material, scientific "progress". As the great and heroic Simone Weil had said before her death two years earlier, the evil in modern war was now the technical aspect itself rather than political factors. Everything that has happened since has only confirmed that truth.

Geoffrey Wheatcroft's most recent book is The Strange Death of Tory England


Os Estados Unidos têm, fora do seu território, 70.000 pessoas presas



Os Estados Unidos mantêm cerca de 70.000 pessoas presas fora do seu território, acabou de denunciar a Amnistia Internacional que garante que a prisão de Guantánamo não é mais que a ponta do iceberg.
No seu relatório, a AI divulga, em pormenor, os casos de Salah Nasser Salim Ali e de Muhammad Faraj Ahmed Basmillah, dois iemenitas residentes na Indonésia. Em 2003, foram detidos pelos Estados Unidos e mantidos numa prisão secreta na Jordânia durante 18 meses. A AI assinala que, durante esse tempo, os detidos estiveram acorrentados, sem ver a luz solar e sem poder contactar familiares e advogados. Ambos relataram como foram torturados durante 4 dias por agentes secretos jordanos, antes de serem enviados, de avião, para uma prisão subterrânea, onde ficaram durante 6 meses. A seguir foram transferidos para um centro penitenciário gerido por oficiais norte-americanos e onde tinham que ouvir música ocidental durante 24 horas seguidas. Foram, então, interrogados por norte-americanos.
Face aos elementos recolhidos a AI conclui que os Estados Unidos estão a usar «técnicas psicológicas para obter informação»
Não suficiente com tudo isto, aqueles iemenitas acabaram por ser entregues às autoridades do Iémen com a condição de ficarem presos, mesmo sem qualquer acusação.

Fonte: JN de 4/8/2005