9.4.10

Oração pelas privatizações



«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos.E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo… e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»
José Saramago – Cadernos de Lanzarote - Diário III – pag. 148

O que é o neoliberalismo? (Por Frei Betto)

O neoliberalismo é o novo carácter do velho capitalismo. Este adquiriu força hegemónica no mundo a partir da Revolução Industrial do século 19. O aprimoramento de máquinas capazes de reproduzir em grande escala o mesmo produto e a descoberta da electricidade possibilitaram à indústria produzir, não em função de necessidades humanas, mas sobretudo visando ao aumento do lucro das empresas.

O excedente da produção e a mercadoria supérflua obtiveram na publicidade a alavanca de que necessitavam para induzir o homem a consumir, a comprar mais do que precisa e a necessitar do que, a rigor, é supérfluo e até mesmo prejudicial à saúde, como alimentos ricos em açúcares e gordura saturada.

O capitalismo é uma religião laica fundada em dogmas que, historicamente, merecem pouca credibilidade. Um deles reza que a economia é regida pela "mão invisible" do mercado. Ora, em muitos períodos o sistema entrou em colapso, obrigando o governo a intervir na economia para regular o mercado.

O fortalecimento do movimento sindical e do socialismo real, sobretudo após a Segunda Guerra Mundial (1940-1945), ameaçou o capitalismo liberal, que tratou de disciplinar o mercado através dos chamados Estados de Bem-Estar Social (previdência, leis trabalhistas, subsídios à saúde e educação etc.).

Esse carácter "social" do capitalismo durou até fins da década de 1970 e início da década seguinte, quando os EUA se deram conta de que era insustentável a conversibilidade do dólar em ouro. Durante a guerra do Vietnam, os EUA emitiram dólares em excesso e isso fez aumentar o preço do petróleo. Tornou-se imperioso para o sistema recuperar a rentabilidade do capital. Em função deste objectivo várias medidas foram adoptadas: golpes de Estado para estancar o avanço de conquistas sociais (caso do Brasil em 1964, quando foi derrubado o governo João Goulart), eleições de governantes conservadores (Reagan), cooptação dos social-democratas (Europa ocidental), fim dos Estado de Bem-Estar Social, utilização da dívida externa como forma de controle dos países periféricos pelos chamados organismos multilaterais (FMI, OMC etc.) e o processo de erosão do socialismo real no Leste europeu.

O socialismo ruiu naquela região por edificar um governo para o povo e não do povo e com o povo. À democracia económica (socialização dos bens e serviços, e distribuição de renda) não se adicionou a democracia política; não nos moldes do Ocidente capitalista, mas fundada na participação activa dos trabalhadores nos rumos da nação.

Nasceu, assim, o neoliberalismo, tendo como parteiro o Consenso de Washington ¬ a globalização do mercado "livre" e, segundo conveniências, do modelo norte-americano de democracia (jamais exigido aos países árabes fornecedores de petróleo e governados por oligarquias favoráveis aos interesses da Casa Branca).

O capitalismo transforma tudo em mercadoria, bens e serviços, incluindo a força de trabalho. O neoliberalismo o reforça, mercantilizando serviços essenciais, como os sistemas de saúde e educação, fornecimento de água e energia, sem poupar os bens simbólicos ¬ a cultura é reduzida a mero entretenimento; a arte passa a valer, não pelo valor estético da obra, mas pela fama do artista; a religião pulverizada em modismos; as singularidades étnicas encaradas como folclore; o controle da dieta alimentar; a manipulação de desejos inconfessáveis; as relações afectivas condicionadas pela glamourização das formas; a busca do elixir da eterna juventude e da imortalidade através de sofisticados recursos tecnocientíficos que prometem saúde perene e beleza exuberante.

Tudo isso restrito a um único espaço: o mercado, equivocadamente adjectivado de "livre". Nem o Estado escapa, reduzido a mero instrumento dos interesses dos sectores dominantes, como tão bem analisou Marx. Sim, certas concessões são feitas às classes média e popular, desde que não afectem as estruturas do sistema e nem reduzam a acumulação da riqueza em mãos de uma minoria. No caso brasileiro, hoje os 10% mais ricos da população ¬ cerca de 18 milhões de pessoas ¬ têm em mãos 44% da riqueza nacional. Na outra ponta, os 10% mais pobres sobrevivem dividindo entre si 1% da renda nacional.

Milhares de pessoas consideram o neoliberalismo estágio avançado de civilização, assim como os contemporâneos de Aristóteles encaravam a escravidão um direito natural e os teólogos medievais consideravam a mulher um ser ontologicamente inferior ao homem. Se houve mudanças, não foi jamais por benevolência do poder.

Autor: Frei Betto.

Ciclo de conversas da PAGAN (plataforma anti-guerra anti-Nato) termina amanhã com uma sessão sobre acção directa não-violenta

A Plataforma Anti-Guerra Anti-NATO (PAGAN) organizou nas últimas semanas um ciclo de conversas no bar 2aoQuadrado, em Sintra, aos sábados, às 17h00, sobre questões relativas ao militarismo e guerra. Amanhã realiza-se a última sessão, dedicada desta vez ao tema da Acção directa não-violenta, pacifismo e anti-militarismo, e que vai ser animada por Manuel Baptista.

Local:
Bar2aoQuadrado
Rua João de Deus, 70, Sintra (atrás da estação de comboios)

http://antinatoportugal.wordpress.com
http://bar2aoquadrado.blogspot.com

Encontro sobre Paisagens Literárias Urbanas na livraria Fabula Urbis ( dia 10, às 18h.)


Encontro
Paisagens Literárias Urbanas
na Fabula Urbis, 18h
10 de Abril
Porquê as paisagens literárias? Que escritores nos falam de Lisboa? O que nos contam da cidade? Que urbe tivemos, temos e queremos? Ana Isabel Queiroz pretende reflectir sobre estas e outras questões, misturando um bocadinho de teoria com algumas boas leituras.
Este encontro serve também de pretexto para divulgar um projecto de investigação sobre paisagens literárias que o IELT está a desenvolver e para constituir uma Comunidade de Leitores dedicada às "Paisagens literárias de Lisboa", com sede na livraria Fabula Urbis

Ana Isabel Queiroz é Bióloga, Mestre em Etologia e Doutorada em Arquitectura Paisagista, Os seus temas de investigação sã "A Literatura e o Ambiente" e "A Literatura e a Ciência". Actualmente, é investigadora do IELT -Instituto de Estudos de Literatura Tradicional da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa (FCSH/UNL) onde coordena o projecto "Atlas das Paisagens Literárias de Portugal Continental".

Recentemente publicou:
Queiroz, A.I., 2009. A Paisagem de Terras do Demo. Esfera do Caos, Lisboa.
Queiroz, A.I., 2009. Gregor Samsa sob o olhar da Biologia. Espéculo, nº43
www.ucm.es/info/especulo/numero43/grsamsa.html



Livraria Fabula Urbis
Rua de Augusto Rosa, 27
1100-058 Lisboa
tel: 351 21 888 50 32
fabula-urbis@fabula-urbis.pt

Encontro sobre Geografias Libertárias na Universidade de São Paulo (12 e 13 de Abril)

Mini-Encontro Geografias Libertárias - História do Pensamento Geográfico

Nos dia 12 e 13 de abril, próximas segunda e terça-feira, ocorrerá um dia aberto para discussão sobre Geografia Libertárias no Departamento de Geografia (DG) da Universidade de São Paulo (USP).

Horário:
Segunda-feira: 14h
Terça-feira: 19h30

Local:
Sala 1 do DG

Programa:
Os encontros se iniciarão com a apresentação de uma pesquisa sobre a vida e a obra do geógrafo francês Élisée Reclus por parte dos alunos da disciplina "História do Pensamento Geográfico", seguido da apresentação de pesquisas e da realização de um debate.

• Élisée Reclus: Vida e Obra: Grupo de alunos de HPG
• Piotr Kropotkin: Anarquismo e Discurso Geográfico: Rafael Florêncio
• Anarquismo e a Guerra Civil Espanhola: Experiências Históricas: Jean Pires de Azevedo
• Geografia e Literatura: Liberdade Negativa em Kafka: Allan de Campos
• Anarquismo e Educação Libertária: Amir El Hakim

Endereço:
Avenida Prof. Lineu Prestes, 338. Cidade Universitária, São Paulo.

Todo/as estão convidado/as!

Fonte: ANA, agência de notícias anarquistas

Tertúlia Liberdade apresenta amanhã (dia 10) em Setúbal o Sindicato dos Camponeses da Andaluzia

Amanhã, sábado, dia 10 de Abril, a partir das 21H, na Cooperativa Prima Folia, em Setúbal, a Tertúlia Liberdade irá proceder à apresentação do SOC - Sindicato dos Camponeses da Andaluzia.

Trata-se de um sindicato diferente, que interessa dar a conhecer em Portugal. Tem 20.000 camponeses associados e luta através da acção directa contra a opressão, pela dignidade dos camponeses, pela terra e pela liberdade.
Não está controlado por nenhuma centra sindical, nem por partidos. Apenas 3 dos seus responsáveis são remunerados, mas sem privilégios, prestando contas às assembleias, que se reúnem regularmente.

Fomentam as cooperativas agrícolas em latifúndios que continuam a ocupar e a habitação boa e barata para os camponeses, geridas também através de cooperativas verdadeiras, em terras próprias ou adquiridas, em que fomentam a auto-construção e a entreajuda

Com estes processos desenvolvem um plano geral de habitação e urbanismo de boa qualidade e promovem um sentido de identidade e cooperação elevado.

Nós apontamos para o início da sessão às 21h. Levaremos uma exposição fotográfica e promoveremos também uma sessão de canto progressista ao vivo, bem como a projecção de fotos e um debate sobre uma realidade que conhecemos.

http://tertulialiberdade.blogspot.com/

http://primafolia.blogspot.com/

Local:
http://primafolia.blogspot.com/2008/03/onde-estamos.html

Curso de pensamento crítico contemporâneo - Estética & Política (de 10 de Abril a 5 de Junho)

Curso Pensamento Crítico Contemporâneo ESTÉTICA & POLÍTICA
Organização: UNIPOP / Fábrica Braço de Prata
Inscrições (no valor de 25 €) através de
pccestetica@gmail.com

De 10 de Abril a 05 de Junho de 2010
Aos sábados, das 18h00 às 20h00

na Fábrica Braço de Prata
Rua da Fábrica do Material de Guerra, n.º 1
1950 LISBOA

Entre política e estética, há uma longa história de mútuas suspeitas, denúncias e incompreensões, que têm coexistido com uma intensa e fértil, ainda que por vezes clandestina, interdependência. Tomamos a ambivalência que marca esta relação como testemunho de um terreno comum que importa revisitar, longe das caricaturas habituais, mas igualmente sem elidir as tensões que o constituem. O espaço para que esta discussão seja pensável de forma simultaneamente esclarecedora e crítica permanece em construção: o objectivo primordial deste curso é, por isso mesmo, o de contribuir para a sua criação, visibilidade e alargamento.

PROGRAMA

10 de Abril
Apresentação do curso por Manuel Deniz Silva e Miguel Cardoso
Kant por Adriana Veríssimo Serrão

17 de Abril
Hegel por Miguel Cardoso
Marx por José Bragança de Miranda

24 de Abril
Nietzsche por Nuno Nabais
Freud por João Peneda

8 de Maio
Oficina de leitura: “O inconsciente político do sublime. Em torno de Lyotard e Rancière”. Orientação: Manuel Deniz Silva

15 de Maio
Walter Benjamin por Pedro Boléo
Theodor W. Adorno por João Pedro Cachopo

22 de Maio
Gilles Deleuze por Catarina Pombo
Guy Debord por Ricardo Noronha

29 de Maio
Jacques Rancière por Vanessa Brito
Giorgio Agamben por António Guerreiro

05 de Junho
Debate de encerramento: “Estética e Política”
Silvina Rodrigues Lopes
Manuel Gusmão
Mário Vieira de Carvalho


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Apresentação do curso:

Entre política e estética, há uma longa história de mútuas suspeitas, denúncias e incompreensões, que têm coexistido com uma intensa e fértil, ainda que por vezes clandestina, interdependência. Tomamos a ambivalência que marca esta relação como testemunho de um terreno comum que importa revisitar, longe das caricaturas habituais, mas igualmente sem elidir as tensões que o constituem.

O espaço para que esta discussão seja pensável de forma simultaneamente esclarecedora e crítica permanece em construção: o objectivo primordial deste curso é, por isso mesmo, o de contribuir para a sua criação, visibilidade e alargamento. Tal trabalho preparatório implica reinscrever a estética na trajectória da nossa modernidade histórica e filosófica, com todas as contradições que isso acarreta, perceber o quanto as categorias políticas que marcam a nossa contemporaneidade devem a conceptualizações estéticas, bem como submeter o campo estético a uma análise crítica, confrontando-o com as suas exclusões e ângulos cegos.

Partimos para estas interrogações com a premissa de que a sociedade em que vivemos é atravessada por divisões e conflitos a que o estético não é imune, mas a que também não pode ser reduzido. Isto implica uma dupla rejeição: da inflação do potencial crítico da obra de arte, assente na ideia de que o estético é por si só emancipador, por um lado; e, por outro, da redução do estético ao ideológico e do recurso à sua explicação sociológica que neutraliza o seu potencial crítico.

De um ponto de vista político, a estética tem sido simultaneamente subestimada e sobrestimada. Sendo plural, contraditória – e inseparável das práticas artísticas a cujo perímetro, porém, não se restringe –, é muitas vezes reduzida ora à apreciação de obras de arte, ora a uma forma de consumo cultural privatizada que constituiria um abrigo imune às intrusões da história, aos constrangimentos do social e à vulgaridade dos interesses. Devemos entender as razões desta cristalização, trazer à luz a forma como um certo discurso filosófico estético institui tais divisões e não meramente as reflecte, e submetê-la a uma crítica feroz.

Contudo, entender a estética a partir desta versão redutora é deixar pelo caminho muitas outras definições e, desse modo, excluir as tensões que a atravessam. O estético é também o espaço que questiona os limites e esquadrias da razão, que confronta uma visão idealista do mundo com o seu substrato material e a sua imanência sensível, que trabalha nas zonas cinzentas em que a nossa experiência e a nossa praxis são ainda órfãs de um conceito que as balize. É ainda o espaço daquilo a que Rancière chamou a ‘partilha do sensível’, ou seja, da ordem que estrutura a nossa inclusão e exclusão num mundo comum, os modos de percepção, os lugares, os limites e os horizontes da nossa visibilidade e participação nele. O espaço, em suma, da nossa mundanidade.
Porque compreender o presente implica perceber a sua densidade histórica, propomos, na primeira parte do curso, um percurso arqueológico através de Kant, Hegel e Marx, Freud e Nietzsche. Partir destas figuras permitirá mapear a emergência de uma campo de reflexão sobre o estético, reconfigurar criticamente a própria noção de estética, bem como procurar pontos de contacto entre o estético e o político em lugares menos habituais. Destes autores emergirá uma constelação de problemáticas que têm estado na base de importantes debates contemporâneas. Pretendemos interrogá-los enveredando, na segunda parte do curso, pelos pensamentos de Benjamin e Adorno, Debord e Deleuze, Agamben e Rancière.