17.3.09

0s 100 anos do café Piolho (no Porto) vão ter um ciclo de tertúlias do centenário (dia 21/3, às 17h vai-se falar sobre as lutas estudantis no Porto)

O mítico café Piolho na cidade do Porto, local de convívio e de conspiração dos estudantes e resistentes anti-fascistas, comemora neste ano de 2009 o seu centenário . Por esse motivo estão a ser organizadas várias iniciativas, das quais consta uma tertúlia sobre as lutas estudantis no Porto durante a ditadura fascista, e que se vai realizar no próximo Sábado, dia 21 de Março, a partir das 17h., com a presença de antigos estudantes anti-fascistas, frequentadores na época do café, para contarem histórias e peripécias das lutas estudantis durante o fascismo e que tiveram como cenário o Piolho, a saber: António Graça, Paulo Martins e Pedro Baptista.


O café Piolho é, desgraçadamente, um emblema de traição dos muitos que hoje atraiçoaram o espírito do espaço e os seus ideais quando o frequentaram, e que agora gravitam nas esferas enquistadas ( e mesquinhas) do poder


Oportuno e incisivo,
o escritor Manuel António Pina escreveu ontem, na sua coluna diária do Jornal de Notícias, um curto texto sobre o centenário do Piolho onde qualifica o café como símbolo de fidelidade ( para aqueles que se mantêm fieis aos seus ideais), mas ao mesmo tempo, emblema de traição, tantos são os que por lá passaram, e que hoje são os responsáveis pelo «nosso sujo e mesquinho presente», transformando-se naquilo que justamente combatiam, quando frequentavam o Piolho.


http://www.cafepiolho.com/

http://100anospiolho.blogspot.com/ ( o texto seguinte foi retirado deste blogue)


Café Âncora D’Ouro O “Piolho” - Síntese histórica dos 100 anos de vida (1909-2009)


Local mítico e já ex-líbris da cidade, conhecido nacional e internacionalmente pela simples designação de Café “Piolho”.

Conotado por ser um café de estudantes oriundos de diversas faculdades, sobretudo de Ciências e de Medicina, sendo também frequentado pelos comerciantes da zona, professores universitários e população em geral. Palco de debates e “conspirações” anti-fascistas nos tempos da ditadura, local de reunião de intelectuais e artistas de várias gerações, o “Piolho” acompanhou períodos fundamentais da história da cidade do Porto, como se pode ver pelas inúmeras placas de mármore ou ardósia colocadas nas suas paredes, oferecidas por todo o tipo de clientes. «Quando havia quaisquer manifestações públicas ou arruaças, complicava-se a situação.
Lembro-me, perfeitamente, de uma incursão a que assisti, desta vez, de um guarda da GNR, que entrou a cavalo no café, partindo uma mesa quando correu à pranchada (batimento com a bainha da espada de cavalaria) um contestatário da época» (1). Em 26 de Junho de 1909, Cremilda Reis Lima e Francisco José de Lima, em consonância com um sócio, compraram o Botequim Âncora D’Ouro, na antiga Praça da Rainha que, com a queda da Monarquia, passou a chamar-se Praça de Parada Leitão, nos números 42 a 57. Entretanto, e segundo relatos da época, mas não documentados, nem registados, o Botequim Âncora D’Ouro tinha sido já um misto de Tasca e Barbearia e estaria aberto desde 1880. Mais tarde é trespassado a Francisco José de Lima, antigo empregado de mesa do Botequim «O Martinho» em 1909 (2).

«Nos inícios, o Botequim Âncora D’Ouro funcionava com música ambiente, realizando-se periodicamente serões com cantores que interpretavam árias de óperas, de operetas, canções brejeiras e dançava-se o charleston, o tango, etc. Tudo isto, para encanto da clientela, nos anos loucos de 1920» (3).
Por aqui passaram sucessivas gerações de médicos que “faziam parte do curso às mesas do café”, estudando aqui até altas horas da noite, naquele tão especial ambiente, e quiseram marcar a sua presença, deixando nas paredes placas alusivas à sua passagem. E são muitas dezenas as existentes, havendo até algumas repetidas pelos mesmos, 50 anos depois da formatura dos seus elementos.
Em 1979, foi trespassado à actual gerência, composta por José Martins, José Pires e Edgar Gonçalves que, após algumas vicissitudes, conseguiram, sobretudo a partir dos anos 80, retomar as tradições emblemáticas deste carismático café que, em 2009, faz 100 anos ininterruptos ao serviço da população e serve já como ex-líbris e património histórico do Porto.
Entre muitas e ilustres figuras e personagens de relevo, das Letras às Ciências, do Jornalismo, da Rádio, da Política e da Música, o sócio-gerente José Martins salienta «… ainda me recordo da forma como a famosa fadista e já falecida, Amália Rodrigues, se me dirigiu ao balcão para pedir “um cimbalino” – Deia-me lá uma daquelas coisas que nós em Lisboa chamamos bica…».

Mas é, sobretudo, a partir de 1997 que o “Piolho” volta às suas origens, trazendo ao seu meio mais estudantes, tornando as noites mais quentes – com fados, tertúlias, recitais de poesia e descerramento de placas, enquadradas nas Semanas Culturais dos Estudantes.
O prolongamento do horário de funcionamento actual, até às 4 horas da manhã, provoca uma animação que mexe com todas as gerações do “Piolho”.
Por último, e em síntese dizer que o apelido o “Piolho” tem duas interpretações: uma, dado o movimento do café, das 13 às 15 horas, que era tanto e com tanta confusão, que todos apontavam o ambiente como uma “piolhice”, dada a agitação em que se vivia e daí a alcunha de café “Piolho”; outra, dada a frequência do café pelos alunos universitários e pelos professores deu origem à expressão de “piolhice”, na medida em que a convivência académica era um tanto ou quanto cerimoniosa (4).
Actualmente, e já depois das novas obras em 2006, o mítico café reabriu as portas com tertúlias sobre a cidade do Porto. Nota-se um reavivar de memórias, com um toque de modernidade, mantendo-se as colunas douradas e a velha ventoinha no tecto. Ao canto existe o “Museu do Piolho” com velhas máquinas registadores e de café, usadas “no antigamente”, mesmo ao lado de uma nova televisão de ecrã plano que substituiu o velho aparelho!

Finalmente e no ano em que se comemora os 100 anos do “Piolho”, registamos uma clientela jovem “a geração dos portáteis”, dos MP3, dos jogos de computador, das mensagens SMS enviadas pelos telemóveis, às dezenas para convocar encontros no centenário “Piolho”; ou para a marcação de “Manifes” e de contestações políticas, ambientais e de luta a favor do Património e dos locais de resistência e memória, emblemáticos nesta cidade, tais como o legendário e mítico “Piolho”.

Os namoros e as paixões continuam a marcar presença, na troca de olhares e de beijos sedutores e na mescla internacional, aliada agora ao programa ERASMUS e à multiplicidade e cumplicidade cultural que rompe e transforma o “Piolho”, tornando-o uma “Academia ou até uma das Universidades sui generis do Porto”.

Raul Simões Pinto & Sílvia C. Silva

Porto, 31 de Janeiro de 2009


Notas:

(1) LIMA REIS, Fernando (Dr. e neto do 1º Sócio do “Piolho”);
(2) MARÇAL, Horácio in “Os Antigos Botequins do Porto”;
(3) LIMA REIS, Fernando (Dr. e neto do 1º Sócio do “Piolho”);
(4) FONTE: Curso Médico 1948-1954.



Coffee-house Âncora D’Ouro “Piolho - ”Historical overview of a hundred years (1909-2009)

This coffee-house is a mythical place and an ex-libris of the city of Porto, nationally and internationally known as “Piolho”.
It is considered to be a place attended by students from different universities, mainly Sciences and Medicine, but also by local traders, academics and population in general.
It has been the stage of discussions and “antifascist conspiracies” in the time of the dictatorship, a meeting place for intellectuals and artists from several generations, witnessing crucial periods of the history of the city of Porto, as shown by the numerous plaques of marble or slate placed on its walls, offered by all kinds of customers.
«When public demonstrations or civil riots occurred, things got complicated. I remember perfectly when a guard of GNR (1) entered the coffee riding his horse and breaking a table when he tried to kick out a rioter of the time» (2). On the 26th of June 1909, Cremilda Reis Lima and Francisco José de Lima, within a partnership, bought the coffee-house Âncora D’Ouro, in the former Praça da Rainha which has been called Praça de Parada Leitão, since the fall of the Monarchy, occupying the numbers 42 to 57. Meanwhile and according to stories of the time, still not documented nor recorded, the coffee-house Âncora D’Ouro had already been a Barber’s shop and a Tavern opened since 1880. Later it was conveyed to Francisco José de Lima, a former employee of the coffee-house “O Martinho” in 1909 (3).«In the beginning, one could listen to music in the coffee-house Âncora D’Ouro and evenings were often filled with singers who performed arias of operas, popular songs and people dancing the charleston, the tango, etc., to the joy of the customers in the roaring twenties» (4). This place was attended by successive generations of doctors who “graduated partially at the coffee tables”, studying here until very late at night, in that particular environment, and who wanted to mark their presence, leaving in the wall plaques alluding to their passage. As one can see there are many plaques, some repeated for the same doctors, 50 years after their graduation. In 1979, the coffee was conveyed to the current management, composed by José Martins, José Pires and Edgar Gonçalves who, after some obstacles, were succeeded, in particular since the 80’s, to keep the traditions of this charismatic coffee-house that, in 2009, is celebrating 100 years of uninterrupted service to the population as a symbol of Porto and its historical heritage. Among the many distinguished figures, from the Arts to Sciences, Journalism, Radio, Politics and Music, the managing partner José Martins emphasizes «… I still remember the way the famous and now deceased fado (5) performer, Amália Rodrigues, asked me for a coffee – I want one of those things we in Lisbon call “bica”…» (6). But it is mainly since 1997 that “Piolho” has recovered its roots, bringing more students and warming the nights with fados, literary assemblies, recitals of poetry, in the scope of the students’ cultural weeks.

The extension of its current schedule, until 4 o’clock in the morning, leads to an entertainment that involves all the generations of “Piolho”.Finally, we would like to explain that the nickname “Piolho” has two possible interpretations: one, given the coffee was overcrowded from 1 pm till 3 pm, due to the confusion that some pointed out as being swarmed with lice (“piolhice”); the other, due to the fact that the coffee was mainly attended by university students and teachers whose socialization consisted in a certain ceremony, the expression “piolhice” appeared (7).
Currently, and since the repairs in 2006, the mythical coffee-house reopened with literary assemblies concerning the city of Porto.
It is noticed the revival of memories, with a touch of modernity, keeping the golden columns and the old ceiling fan. At the corner there is the “Museum of Piolho” with old machines used “in the past”, right next to a new flat-screen TV which replaced the old device!
Finally and in the scope of the 100 years of “Piolho”, we emphasize the young clientele as “the generation of the laptops, the several SMS sent by mobile phones to convoke meetings in the coffee-house or planning demonstrations related to political, environmental issues or to fight for causes involving the heritage and the places of resistance and memory, emblematic in this city, such as the legendary and mythical “Piolho”.Flirting and passions are also present in the exchange of glances and through the international scope, allied to the program ERASMUS and its cultural multiplicity, “Piolho” is becoming an “Academy or even one of the most sui generis Colleges of Porto”.

Raul Simões Pinto & Sílvia C. Silva

Porto, 31 January 2009


Notes:

(1) GNR means “Guarda Nacional Republicana”, the Portuguese National Republican Guard.
(2) LIMA REIS, Fernando (Physician and grandson of the first partner of “Piolho”);
(3) MARÇAL, Horácio in “Os Antigos Botequins do Porto”;
(4) LIMA REIS, Fernando (Physician and grandson of the first partner of Piolho”);
(5) Fado is a music genre that can be translated as destiny or fate;
(6) In Portugal there are different terms to ask for a coffee. For instance, in Lisbon it is more usual to say “bica” while in Porto people say coffee or “cimbalino”;
(7) SOURCE: Class of Medicine 1948-1954.


CAFÉ PIOLHO
Praça Parada Leitão nº45, 4050 Porto
Tel: 22 2003749
Email:
geral@cafepiolho.com
Web: http://www.cafepiolho.com/

Percurso pedestre em Benavila – Avis, 22 de Março de 2009, organizado pelo núcleo de Portalegre da Quercus


O Núcleo Regional de Portalegre da Quercus vai organizar em Benavila, concelho de Avis, no próximo dia 22 de Março, um percurso pedestre que visará observação e a compreensão do património natural da zona.

Esta actividade, integrada no projecto “Avis – Um concelho a caminhar” e nas celebrações do “Dia Mundial da Floresta e da Árvore” pretende sensibilizar os participantes para a valorização e conservação dos valores ambientais e paisagísticos, promovendo de igual forma, práticas activas de usufruto sustentável dos mesmos.

Ao longo deste percurso pedestre poderemos tomar contacto com a beleza e diversidade das paisagens existentes nesta zona, assim como identificar um pouco da fauna e flora existentes no local.

O percurso, com uma extensão de cerca de 7 km (dificuldade média/baixa), terá o seu início às 9.00h, e decorrerá na zona de Benavila/Valongo (Sítio de Cabeção – Rede Natura 2000). Durante o mesmo serão abordadas diversas temáticas relacionadas com a fauna e a flora, assim como outras questões de cariz ambiental.

Durante toda a actividade existirá uma presença permanente de elementos da organização, estando o programa sujeito às condições meteorológicas existentes no local. As inscrições, gratuitas, serão abertas a todos os interessados e deverão ser feitas até ao próximo dia 19/03/09.

Para efectivar as inscrições ou solicitar informações adicionais, agradecemos o contacto através dos e-mails “
portalegre@quercus.pt” ou “quercus.portalegre@gmail.com”, telfs.: 96 010 70 80 // 96 020 70 80.



QUERCUS - Associação Nacional de Conservação da Natureza
Núcleo Regional de Portalegre
Apartado 163, 7301-901 PORTALEGRE,
Telefs: 96 010 70 80 / 96 020 70 80
Web page: www.quercus.pt

Sementeira de carvalhos e percurso pedestre em Monsanto (Lisboa) organizado pelo FAPAS para comemorar o Dia da Árvore(22 de Março)


Para comemorar o Dia da Árvore (21 de Março), o Núcleo de Lisboa do FAPAS organiza no próximo domingo, 22 de Março uma actividade no Espaço Monsanto (antigo Parque Ecológico):

SEMENTEIRA de CARVALHOS em Viveiro, e Percurso Pedestre para Interpretação da Vegetação Natural.

Domingo, 22 de Março (15h00-16h30)*

INSCRIÇÕES:
A participação é gratuita, mas de inscrição obrigatória.
Envie uma mensagem com o seu nome e contacto para
fapaslisboa kanguru.pt ou contacte pelo tm 93 8491355 (João Morais), indicando o ponto de encontro e o número de participantes (adultos e crianças).


Descrição da actividade:

1. Pequeno percurso pedestre com cerca de 500 metros em mata de sobreiros e azinheiras na encosta do Parque Florestal de Monsanto, entre a Rua Conde de Almoster e o Espaço Monsanto (desnível: 70 metros). Reconhecimento de algumas espécies da vegetação nativa.

2. Sementeira de Carvalhos-cerquinhos (espécie nativa de Portugal) no viveiro do FAPAS no Espaço Monsanto, para futuras acções de plantação em áreas protegidas. A sementeira consiste na colocação de bolotas germinadas de carvalho-cerquinho em recipientes com terra.

Grau de dificuldade: fácil, acessível a a todas as idades.

Horário, Pontos de Encontro : A caminhada tem início às 15h00 junto ao viaduto para peões situado em frente ao n.80 da R.Conde de Almoster.

A sementeira tem início pelas 15h30 no viveiro do FAPAS no Espaço Monsanto.

Se não participar na caminhada, pode dirigir-se à recepção do Espaço Monsanto a partir daquela hora, para participar na sementeira.

Pontos de Encontro:

14h30: Sete Rios, na paragem do autocarro 758 junto ao muro do Jardim Zoológico, próximo da Estrada de Benfica. (percurso de autocarro até à paragem em S.Domingos de Benfica, na Estrada de Benfica)

15h00: Rua Conde de Almoster, junto ao viaduto pedonal em frente ao número 80.

15h30: Na recepção do Espaço Monsanto (antigo Parque Ecológico), se tiver alguma dificuldade contacte 93 8491355.


15h30 - 16h30: No viveiro do FAPAS no Espaço Monsanto.


Equipamento aconselhado:
O FAPAS e o Espaço Monsanto possuem os utensílios e recipientes necessários para a sementeira. Os participantes poderão, se desejarem, utilizar luvas e vestuários de protecção (bata ou avental).


O FAPAS é uma Associação de defesa da Vida Selvagem com 17 anos de existência, e uma vasta actividade na defesa e estudo da Natureza e Vida Selvagem em Portugal. Sede: Rua Alexandre Herculano, 371-4º Dtº, 4000-055 PORTO (telef.22 200 2472).


http://www.fapas.pt/

Não à associação da ENCE espanhola e a Portucel portuguesa para o projecto de construção de celuloses («papeleras») no Uruguai




“Estamos profundamente preocupados com a possível associação da empresa portuguesa Portucel ao projecto da empresa espanhola ENCE no Uruguai, actualmente suspenso por falta de financiamento” - é o que se lê numa carta aberta à sociedade portuguesa assinada por cerca de 30 organizações e movimentos sociais do Estado espanhol, Portugal e Uruguai, divulgada na semana passada.

Os assinantes destacam os impactos ambientais e sociais, verificados desde há vários anos, dos monocultivos de árvores a grande escala para a indústria da celulosa, especialmente as que a ENCE já detém no Uruguai. Advertem que a aprovação da fábrica de celulose agravará esses impactos e denunciam que a empresa espanhola nem sequer comunicou o seu plano de florestação para alimentar a fábrica.

As organizações e movimentos sociais portugueses, espanhóis e uruguaios entendem que a Portucel Soporcel se apresenta como o possível sócio da empresa espanhola na instalação de uma fábrica de pasta de papel em Punta Pereira, Colónia. De facto, a Portucel já havia manifestado o seu interesse em instalar uma fábrica de pasta no Uruguai e, perante a crise internacional, a ENCE, que havia iniciado as obras para instalar a sua fábrica, apela à empresa portuguesa.

O Uruguai tem cerca de um milhão de hectares florestados com eucalipto e pinho para a indústria da celulose local e estrangeira. O principal impacto ambiental da florestação tem sido a diminuição das fontes de água, ao ponto de secar os poços de água de pequenos produtores de diferentes zonas do país. Só em redor da cidade de Mercedes, no oeste uruguaio, mais de 150 famílias são abastecidas de água por camiões cisterna do governo local para a sua vida diária e produção. Perto desse lugar, no departamento de Colónia, produtores agrícolas dedicados à agricultura, apicultura e produção de lacticínios, alertam que a florestação na zona ameaça sua permanência no meio rural, ao esgotar as suas fontes de água e prejudicar gravemente a qualidade dos seus solos. As entidades sociais assinantes, contestam também os importantes benefícios e discriminações positivas com as quais conta todo o processo florestal-celulósico no país, ao ponto de a fábrica da ENCE e as suas instalações portuárias se terem incorporado no regime de zona franca.

Um dos grandes argumentos do sector industrial e do governo uruguaio a favor da instalação destes empreendimentos foi a geração de mão de obra que implicam, em benefício do desenvolvimento do país. “Uma vez terminado o período de construção da fábrica de celulose, serão unicamente 300 as pessoas empregadas”, asseguram os assinantes da carta. “O fabrico de celulose conduz, além do mais, à ocupação de grandes superfícies de territórios, ocupação de grandes superfícies de territórios, à perda de soberania nacional por causa da concentração da terra em mãos de empresas estrangeiras e à destruição de ecossistemas (no caso uruguaio basicamente de pastagens), deslocando de forma irreversível outras actividades agropecuárias”, acrescentam.

O projecto da ENCE no Uruguai propõe-se produzir mais de um milhão de toneladas por ano, o dobro da pasta de papel que é produzida pela empresa nas suas fábricas instaladas no Estado espanhol. A questão da escala do empreendimento não é menor já que qualquer acidente terá impactos consideráveis na região.

“Por estes motivos, as organizações sociais do Uruguai, Portugal e do Estado espanhol abaixo-asssinadas, opõe-se não só à possibilidade de que a Portucel se associe com a ENCE no Uruguai, como também à sua instalação em qualquer outra zona do país”, concluem os grupos sociais que já haviam realizado acções perante o governo do Estado espanhol contra o empreendimento da ENCE. Anunciam ainda que não irão descansar na luta contra este modelo florestal-celulósico.



Carta aberta à sociedade portuguesa sobre a possível parceria da Portucel com a ENCE no Uruguai


Nós, organizações da sociedade civil que monitorizam os impactos sociais e ambientais vinculados ao modelo florestal e de celulose tanto no Uruguai, como no Estado espanhol e em Portugal, estamos profundamente preocupados com a possível associação da empresa portuguesa Portucel com o projecto da empresa ENCE no Uruguai, actualmente suspenso por falta de financiamento.

Com efeito, entendemos que a Portucel apresenta-se como o possível sócio da empresa espanhola na instalação de uma fábrica de celulose em Punta Pereira (Conchillas, Uruguai) com capacidade de produzir um milhão de toneladas por ano e cerca de um milhão de megawatts hora de energia eléctrica "renovável". Talvez seja desconhecida a oposição que existe por parte da sociedade civil uruguaia em relação a tal projecto devido aos importantes impactos sociais e ambientais que dele resultarão.

Assim, por exemplo, diversas organizações sociais, ambientais e de produtores rurais do Uruguai apresentaram-se no mês de Abril de 2008 a uma Audiência Pública - organizada pelo governo uruguaio para que a empresa espanhola apresentasse o seu projeto à população - para manifestar a sua oposição total à instalação de uma fábrica de celulose. Com efeito, depois de uma análise exaustiva do estudo de impacto ambiental apresentado pela ENCE, as organizações e grupos uruguaios concluiram que este não apenas está incompleto, como ainda conta com graves erros metodológicos, ao levar em conta unicamente aspectos positivos sem avaliar os impactos da florestação (para mais informações, aceder às observações das organizações uruguaias ao Resumo de Estudo de Impacto Ambiental enviadas à Direcção Nacional de Meio Ambiente e a carta apresentada posteriormente, assim que tiveram acesso ao expediente completo da ENCE em: http://www.guayubira.org.uy/celulosa/Ence.html).

De entre os motivos desta oposição, devem mencionar-se os impactos ambientais das monoculturas de árvores em grande escala em geral, e particularmente dos que a ENCE já possui no Uruguai, verificados há já vários anos. A aprovação da fábrica de celulose resultará, sem margem para dúvidas, num aumento destas plantações. Mesmo assim, a empresa ainda não comunicou o plano de florestação necessário para alimentar a fábrica. Este facto inquieta particularmente os produtores rurais do Departamento de Colónia, que se dedicam à agricultura, apicultura e produção de lacticínios. De acordo com os produtores, o projecto de florestação na zona ameaça sua permanência no meio rural, ao esgotar as suas fontes de água e prejudicar gravemente a qualidade dos seus solos. Por outro lado, o número de empregos fixos gerados tão pouco representa possibilidades de desenvolvimento na região, já que depois de finalizado o período de construção da fábrica de celulose esse número será apenas de 300. Além disso, toda a cadeia produtiva beneficia de importantes isenções, tanto assim que a fábrica de celulose e as suas instalações portuárias estarão em zona franca. A produção de pasta de papel conduz ainda à ocupação de grandes superfícies de territórios, à perda de soberania nacional por causa da concentração da terra em mãos de empresas estrangeiras e à destruição de ecossistemas (no caso uruguaio basicamente de pastagens), deslocando de forma irreversível outras actividades agropecuárias.

Estamos diante de um mega-empreendimento industrial que vai produzir mais de um milhão de toneladas por ano, o dobro da pasta de papel que é produzida pela empresa nas suas fábricas instaladas no Estado espanhol. A questão da escala do empreendimento não é menor já que qualquer acidente terá impactos consideráveis na região. Outro dos pontos que preocupa as organizações e produtores uruguaios é a falta de informação sobre a fabricação e manipulação de produtos químicos necessários para a produção de pasta de papel. Por último, a empresa ENCE considera-se - conforme refere o seu site na internet - líder mundial na produção de pasta branqueada com tecnologia TCF (totalmente livre de cloro), mas em contradição com isto, para o Uruguai anuncia que utilizará a tecnologia ECF (apenas livre de cloro elementar) justificando a sua proposta pela procura do mercado e não pelas consequências ambientais das técnicas empregadas.

Por estes motivos, as organizações sociais do Uruguai, Portugal e do Estado espanhol abaixo-asssinadas, opomo-nos não só à possibilidade de que a Portucel se associe com a ENCE no Uruguai, porque isso significaria a viabilização do seu projeto em Conchillas, como também à sua instalação em qualquer outra zona do Uruguai. Somos redes da sociedade civil que vão seguir de perto o possível avanço deste e de outros projetos de celulose, tanto na América do Sul como ao nível europeu. Prova disto é a carta de protesto enviada em Abril de 2008 ao Presidente Zapatero pelo possível apoio da Companhia Espanhola de Seguros de Créditos à Exportação (CESCE) a esse projecto, que foi assinada por 89 organizações dos nossos respectivos países.

É preciso que as sociedades civis estejam alerta perante os avanços de projectos industriais que têm demonstrado ser prejudiciais do ponto de vista social e ambiental. A nossa mobilização pode fazer a diferença.

Atenciosamente,

ASSINAM:

No Uruguai:

Asamblea Ambiental del Callejón de la Universidad

Asociación Agropecuaria de Tarariras (AAT)

Casa Pueblo Arcoiris - Tarariras

CAX Tierra

Comisión de Productores y Vecinos de Conchillas

Comisión Nacional en Defensa del Agua y la Vida

Cotidiano Mujer

Grupo Eco-Tacuarembó

Grupo Guayubira

Grupo Pirí - Grupo de rescate y revalorización de nuestra cultura nativa

Iniciativa Nacional por la Suspensión de la Forestación

Movimiento de Chacreros del Ejido de Mercedes

Movimiento de Productores de Colonia

Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales

MOVITDES (Movimiento Vida, Trabajo y Desarrollo Sustentable)

Rapal-Uruguay (Red de Acción en Plaguicidas en América Latina)

Red Alternativas y Solidaridad

Red Uruguaya de ONGs Ambientalistas

REDES-Amigos de la Tierra Uruguay

REL-UITA (Regional Latinoamericana de la Unión Internacional de Trabajadores de la Alimentación)

Uruguay Natural Multiproductivo (UNAMU)

SERPAJ Uruguay
Em Portugal:

GAIA – Grupo de Acção e Intervenção Ambiental

GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente

Quercus

Solidariedade Imigrante - Associação para a defesa dos direitos dos imigrantes


No Estado espanhol:

ADENEX

Ecologistas en Acción

EHNE – Bizkaia (Euskal Herriko Nekazarien Elkartasuna)

Veterinarios Sin Fronteras

Verdegaia

Xarxa de l’Observatori del Deute en la Globalització



Para saber mais:

Colóquio «A Crise do Capitalismo e o Futuro - Economia da Casino ou Economia Sustentável»? ( dia 21/3 às 15h, organizado pela ATTAC Portugal)



A CRISE DO CAPITALISMO E O FUTURO:
ECONOMIA DE CASINO OU ECONOMIA SUSTENTÁVEL?

Colóquio com os economistas: Carlos Gomes, João Rodrigues, José Castro Caldas, Ricardo Paes Mamede

21 de Março Sábado 15h


Auditório do Metropolitano de Alto dos Moinhos
(Estação de metro de Alto dos Moinhos, linha azul)