24.8.07

A morte das abelhas põe em perigo todo o planeta

Tradução de um texto de Paul Molga, com o título original «La mort des abeilles met la plànete en danger», publicado a 7 de Agosto no jornal económico francês Les echos. Ver o original:
http://www.lesechos.fr/info/energie...


Nota prévia:
Como é suposto que «Les echos», jornal económico e financeiro francês, algo equivalente ao Financial Times inglês, não pode ser acusado de ecologismo ou radicalismo, julgamos útil traduzir para português um artigo que acabou de ser publicado naquela tribuna de imprensa consultada diariamente pelos liberais e capitalistas franceses, constituindo ao mesmo tempo uma pequena contribuição para a desacreditação dos pseudo-ambientalistas (sejam os aprendizes de feiticeiro, sejam os afectados de senilidade mental) e os pseudo-cientistas que, sem escrúpulos, se colocam ao serviço das grandes empresas de biotecnologia e de um modelo de desenvolvimento suicida, em prejuízo de toda a Humanidade e da preservação da vida no planeta.

Que sirva também de pequena homenagem àqueles jovens, e menos jovens, que, com coragem e determinação, lutam pela defesa da natureza e da justiça ambiental no nosso mundo.




A morte das abelhas põe em perigo todo o planeta

As abelhas estão a desaparecer aos milhões em poucos meses. O seu desaparecimento pode ser um sinal de alarme para a sobrevivência da espécie humana

Trata-se de um epidemia inimaginável, de uma violência e amplitude jamais vista, aquela que está a desenrolar-se de colmeia em colmeia pelo planeta fora. Com origem na Florida ela propagou-se à maior parte dos Estados Unidos, depois ao Canada e à Europa, atingindo já em Abril passado Taiwan. Por todo o lado repete-se o mesmo cenário: milhões de abelhas abandonam de um momento para outro os cortiços das colmeias para nunca mais regressarem. Nenhum cadáver nas proximidades, nenhum predador ou potencial pretendente a ocupar o seu espaço foram encontrados e que podiam explicar o seu súbito procedimento.
Em poucos meses entre 60% a 90% das abelhas volatirizaram-se nos Estados Unidos, onde as últimas estimativas calculam que 1,5 milhões de colmeias num total de 2,4 de colónias de abelhas tenham desaparecido em 27 Estados. No Quebeque 40% das colmeias estão vazias.
Na Alemanha segundo a associação nacional dos apicultores um quarto das colónias foi dizimado com perdas que rondam os 80% em certas explorações. O mesmo se passa na Suíça, Itália, Portugal, Grécia, Áustria , Polónia e na Grã-Bretanha, país onde o síndroma foi baptizado com a designação de «fenómeno Maria Celeste», nome de um navio cuja tripulação se volatizou em 1872. Em França onde os aplicultores têm sofrido prejuízos elevados desde 1995 ( 300.000 a 400.000 abelhas por ano) e que levou à interdição do pesticida apontado como responsável nos campos de milho e de tornesol,a epidemia ganhou força com perdas entre 15% a 95%

«Síndroma de derrocada» (« Syndrome d’effondrement »)


Legitimamente inquietos os cientistas encontraram um nome à medida para estas deserções massivas: o «sindroma da derrocada» ou «colony collapse disorder». Não lhe faltam realmenete motivos de preocupação: é que 80% das espécies vegetais têm necessidade das abelhas para se fecundarem. Sem elas,não há polinização nem praticamente frutos e legumes. «Três quartos das culturas que alimentam a humanidade dependem delas», confessa Bernard Vaissière, especialista de polinização no INRA francês (Instituto Nacional de Pesquina Agronómica). Chegadas à Terra cerca de 60 mlhões de anos antes do homem, a Apis mellifera ( abelha de mel) é indispensável não só à sua economia como à sua sobrevivência. Nos Estados Unidos as 90 plantas alimentares que são polinizadas pelas abelhas significam colheitas avaliadas no valor de 14 mil milhões de dólares.
Serão os pesticidas os responsáveis? Um micróbio novo? As emissões electromagnéticas que perturbariam as nanopartículas de magntite existentes no abdómen das abelhas? «Ou será por causa da combinação de todos esses agentes» como diz o professor Joe Cummins da Universidade de Ontário. Num comunicado publicado este Verão pelo instituto Isis (Institute of Science in Society), uma ONG sedeada em Londres, e conhecida pelas suas posições críticas sobre a corrida desenfreada do progresso científico, afirma-se que «indíces sugerem que cogumelos parasitas utilizados na luta biológica e certos pesticidas do grupo das néonicotinóides, interagem entres si e em sinergia para provocae a destruição das abelhas». Para evitar a estrumação incontrolada as novas gerações de insecticidas envolvem as sementes para penetrarem de forma mais sistemática em toda a planta, transmitindo-se ao pólen que as abelhas levam às colmeias que acabam por ficarem envenenadas. Mesmo em concentrações fracas, diz aquele professor, o emprego deste tipo de pesticidas destrói as defensas imunitárias das abelhas. Por efeito de cascada, intoxicadas pelo principal principio activo utilisado – a «imidaclopride» ( admitida na Europa, mas fortemente contestada no outro lado do Atlântico, aquela substância é distribuída pela Bayer sob diferentes designações Gaucho, Merit, Admire, Confidore, Hachikusan, Premise, Advantage...) -, as abelhas tornam-se vulneráveis à actividades insecticida dos agentes patogéneos fungícedas pulverizados em complemento sobre as culturas.

Abelhas apáticas

Como prova, diz aquele investigador, temos os cogumelos parasitas da família dos Nosemas estarem presentes nos enxames de abelhas, apáticas, encontradas infectadas por meio-dúzia de vírus e micróbios.
Geralmente esses cogumelos são incorporados nos pesticidas químicos para combater os gafanhotos( Nosema Locustae), certas traças (Nosema bombycis) ou a pírale do milh (Nosema pyrausta). Mas eles viajam também ao longo das vias abertas pelas trocas mercantis, à imagem da Nosoma ceranae, um parasita transportado pelas abelhas da àsua que contaminou as suas congénres ocidentais que morreram em poucos dias.
É o que acaba de ser demonstrado por um estudo sobre o ADN de várias abelhas conduzido pela equipa de investigação de Mariano Higes em Guadalajara, província a leste de Madrid, conhecida por ser o centro espanhol da indústria de mel. «Esse parasita é o mais perigoso da família, explica. Pode resisitir tanto ao calor como ao frio e infecta um enxame ao fim de doius meses. Pensamos que 50% das nossas colmeias estão contaminadas». Ora a Espanha que conta com 2,3 milhões de colmeias representa um quarto das abelhas domésticas da União Europeia.
O efeito de cascada não pára aí. Ele continua igualmente entre os cogumelos parasitas e os biopesticidas produzidos pelas plantas geneticamente modificadas, assegura o professor Joe Cummins. Ele acaba de demonstrar que as larvas da pirale infectadas pela Nosema Pyrausta apresentam uma sensibilidade quarenta cinco vezes mais elevada que as toxinas das larvas saudáveis.
«As autoridades encarregadas pela regulamentação trataram do declínio das abelhas com uma visão estreita e limitada,ignorando as provas segundo as quais os pesticidas agem em sinergia com outros elementos devastadores», acusa de forma conclusiva. E não é só ele a tocar o sinal de alarme. Sem a interdição maciça dos pesticidas sistémicos, o planeta arrisca-se a assistir a um outro síndroma de derrocada, receiam os cientistas, o síndroma da derriçada da espécie humana.


Há 50 anos Einstein tinha insistido na relação de dependência entre as abelhas e o homem ao dizer: « No dia em que as abelhas desaparecerem do globo, o homem não terá mais que quatro anos de vida»


Tradução de um artigo publicado no jornal económico Les echos
http://www.lesechos.fr/info/energie...