4.2.08

Carnaval na Mouraria!

Clicar por cima da imagem para ler em pormenor


Para quem não vai a lado nenhum, para quem não sabe de que se disfarçar, para quem sempre que se disfarça ninguém adivinha de que é, para quem nem sequer sabe o que é carnaval, mas quer aprender, Há Carnaval na Mouraria!

Há jantar (vegan), teatro, oficinas, concerto(s), tanta coisa que não cabe aqui.

Para compreender o afundamento do dólar, da economia norte-americana e a impotência de Bush para resolver a crise financeira

O texto que se segue encontra-se em http://resistir.info/

A armadilha do dólar de Bush

por Dave Lindorff [*]

A primeira resposta do governo ao afundamento da economia dos Estados Unidos foi a negação. Ainda há um mês atrás responsáveis da administração e charlatães da Wall Street diziam-nos que a economia estava robusta e que não haveria uma recessão. Agora dizem-nos que a economia está em perturbação, mas que o governo está a tomar acções decisivas para escorá-la.

Nós vimos quão efectiva era a primeira proposta "decisiva". Bush anunciou um plano para dar a todo contribuinte adulto (não pessoas pobres, obrigado) US$800 em deduções fiscais no próximo mês de Abril. O mercado de acções respondeu a esta ideia caindo uns poucos por cento. A ideia, como escrevi na minha última coluna, era estúpida desde o início porque, com os EUA a já não produzirem muito seja do que for, de qualquer modo todos aqueles bónus de dinheiro emprestado acabariam por ser gastos com bens importados, pouco fazendo para a economia estado-unidense.

Agora o Federal Reserve avançou com um corte de ¾ por cento na taxa dos Fundos Federais. Mesmo considerando que bancos comerciais façam o mesmo, reduzindo a taxa básica (prime lending rate) uns ¾ semelhantes, o mercado de acções mostrou quanto faria tal movimento caindo quase 300 pontos no momento em que tocou o sino de abertura – aproximadamente o mesmo que se esperava acontecer sem um corte na taxa de juro.

Contudo, houve um lugar onde a acção do Fed teve um impacto: o valor de troca do dólar nos mercados estrangeiros de divisas. Mal foi ouvido o anúncio do corte na taxa de juro, o dólar caiu contra as divisas principais como a Libra britânica, o Euro e o Yen japonês.

Aí é que são elas. O Fed está numa armadilha. Ele não pode cortar taxas de juros muito mais sem provocar um colapso no dólar, o qual, devido ao enorme desequilíbrio comercial dos EUA, e todos aqueles bens de consumo e matérias-primas – especialmente petróleo – que são importados – conduziria a uma inflação séria e politicamente perigosa. E há um outro constrangimento com a actual taxa de juro: os EUA agora têm a terceira mais baixa taxa de juro do mundo. Se o Fed fizer um outro corte, como tem sugerido poder fazer em uma ou duas semanas, apenas o Japão teria um ambiente com taxa de juro mais baixa do que os EUA. Isto torna o dólar uma divisa muito indesejável para investidores estrangeiros, o que significa que eles não desejarão possuir dólares e que não desejarão possuir acções estado-unidenses.

Mas se o Fed não cortar ainda mais nas taxas de juro, o mercado de acções continuará a mergulhar, o que mais uma vez desencoraja investidores estrangeiros de despejarem o seu dinheiro para dentro dos EUA, o que por sua vez coloca uma pressão baixista sobre o dólar.

Isto era tudo previsível.

Uma economia que está quase totalmente dependente dos gastos do consumidor, o que é o caso nos EUA, fica em grande perturbação quando os consumidores começam a preocupar-se acerca da segurança dos seus empregos, e quando vêm a inflação a comer o seu rendimento disponível. Eles naturalmente simplesmente param de gastar. E isto também está a acontecer.

Assim, prepare-se para uns tempos económicos difíceis. O próximo passo será inflação ascendente, quando companhias atadas à China, Índia e alhures começarem a aumentar os seus preços para bens despachados para os EUA e pagos em dólares. Então o Fed terá de responder elevando taxas de juro outra vez, num esforço para escorar a divisa. E com aquilo desencadeará recessão mais profunda e um mercado de acções ainda mais baixo.

Os medos de Bush – défices infindáveis tanto quanto se pode ver, e uma derrota militar de US$ 2 milhões de milhões (trillion) sem fim à vista e que está a sugar dinheiro para fora do país como um gigantesco aspirador de pó industrial – começam a concretizar-se. O presidente e o vice-presidente esperavam claramente que pudessem passar a ruína dos seus oito anos no gabinete e correr para o retiro e o status de estadista sénior antes de isto tudo explodir, mas a sua sorte fugiu. A merda económica foi espalhada frente à ventoinha. As probabilidades são de que a guerra que eles tentaram esconder no armário com um "aumento disfarçado" ("surge") de tropas e uma campanha brutal de bombardeamento aéreo também explodirão sobre eles antes que o ano acabe.

Isto é de pouco consolo para todos nós que temos de viver com os desastres a seguir, mas pelo menos – se pudermos vê-los adequadamente impedidos (impeached) e indicíados, e se os Democratas no Congresso não estragarem as coisas de modo a que também possam ser culpabilizados pela confusão – em Janeiro próximo teremos a satisfação de ver Bush e Cheney expulsos da cidade.

[*] Autor de Killing Time: An Investigation into the Death Row Case of Mumia Abu-Jamal , Marketplace Medicine: The Rise of the For-Profit Hospital Chains e "This Can't be Happening!". Seu livro mais recente é The Case for Impeachment: The Legal Argument for Removing President George W. Bush from Office , em co-autoria com Barbara Olshansky.


O original encontra-se em



The Bush Dollar Trap
By DAVE LINDORFF

The first government response to America's sinking economy was denial. We were told as recently as a month ago by administration officials and Wall Street charlatans that the economy was robust and that there would not be a recession. Now we are told that the economy is in trouble, but that the government is taking decisive action to shore it up.
We saw how effective the first "decisive" proposal was. Bush announced a plan to give every adult taxpayer (no poor people, thank you) $800 in a tax rebate this April. The stock market responded to this idea by dropping a few percent. The idea, as I wrote in my last column, was stupid to begin with because, with the US no longer producing much of anything, all that bonus borrowed cash would end up getting spent on imported goods anyhow, doing next to nothing for the US economy.
So now the Federal Reserve has weighed in with a 3/4 percent cut in the Federal Funds rate. Even though commercial banks followed suit, lowering the prime lending rate by a similar 3/4 percent, the stock market showed how much good that move would do, dropping almost 300 points at the opening bell today--about what it had been expected to do even without an interest-rate cut.
There was one place where the Fed's action did have an impact though: the exchange value of the dollar in foreign currency markets. No sooner was word of the interest rate cut announced, than the dollar fell against major currencies like the British Pound, the Euro and the Japanese Yen.
And there's the rub. The Fed is in a trap. It cannot cut interest rates much more without causing a collapse in the dollar, which, because of the huge US trade imbalance, and all those consumer goods and raw materials--especially oil--that are imported--would lead to serious and politically dangerous inflation. And there is another constraint: with the current rate cut, the US now has the third lowest interest rates in the world. If the Fed makes another cut, as it has hinted it might in a week or so, only Japan would have a lower interest rate environment than the US. That makes the dollar a very undesirable currency for foreigner investors, which means they won't want to hold dollars, and they won't want to hold US stocks.
Yet if the Fed doesn't cut interest rates even further, the stock market will continue to plunge, which again discourages foreign investors from pouring their money into the U.S., which in turn puts downward pressure on the dollar.
This was all predictable.
An economy that is almost wholly dependent on consumer spending, which is the case in the US, is in big trouble when consumers start to worry about the security of their jobs, and when they see inflation eating away at their disposable income. They naturally just stop spending. And that is happening, too.
So get ready for some hard economic times. The next step will be soaring inflation, as strapped companies in China, India and elsewere start raising their prices for goods shipped to the US and paid for in dollars. Then the Fed will have to respond by raising interest rates again, in an effort to shore up the currency. And with that will come deeper recession and an even lower stock market.
The Bush chickens--endless deficits as far as the eye can see, and a $2-trillion military debacle that has no end in sight and that is sucking money out of the country like a giant industrial vacuum cleaner--are coming home to roost. The President and Vice President clearly hoped that they could pass the wreckage of their eight years in office on to the next president and run off to retirement and senior stateeman status before it all blew up, but their luck ran out. The economic shit has hit the fan. Chances are that the war that they have tried to tuck away in the closet with a "surge" in troops and a brutal campaign of aerial bombardment, will also blow up on them before the year is out.
That's small consolation for all of us who have to live with the ensuing disasters, but at least--if we can't see them properly impeached and indicted, and if the Democrats in Congress don't manage to screw things up further so they can be blamed for the mess too--we'll have the satisfaction of seeing Bush and Cheney run out of town next January on a rail.

Dave Lindorff is the author of Killing Time: an Investigation into the Death Row Case of Mumia Abu-Jamal. His n book of CounterPunch columns titled "This Can't be Happening!" is published by Common Courage Press. Lindorff's newest book is "The Case for Impeachment", co-authored by Barbara Olshansky.

He can be reached at: dlindorff@yahoo.com

Exibição do filme VICAM - Encontro dos Povos Indigenas das Américas ( no dia 8 de Fevreiro, às 21h. na Fábrica de Braço de Prata)


Exibição do filme VICAM - Encontro dos Povos Indigenas das Américas
Seguido de debate.

Sexta-feira 8 de Fevereiro 21 h

Fábrica de Braço de Prata
Rua da Fábrica do Material de Guerra (junto ao Largo do Poço do Bispo)

Transporte: Autocarros 28, 718, 755 e 210 (saída no Largo do Poço Bispo); Autocarros 81 e 82 (saída Av. Infante D. Henrique)

Sessão organizada pela Tertúlia Liberdade.


Filme inédito em Portugal, realizado no México, em Outubro do ano passado, num encontro no território do povo Yaqui. Testemunhos de luta e resistência cultural. Mensagens da luta por “um mundo sem dominantes nem dominados, um mundo sem capital, um mundo melhor”. Sinais de esperança e rebeldia apelando à resistência global.

http://tertulialiberdade.blogspot.com/

e-mail: tertúlia.liberdade@yahoo.com


Sinopse do filme - Vicam

O filme «Vicam» documenta o Encontro dos Povos Indígenas da América que se realizou em Outubro de 2007 na localidade do mesmo nome, território do povo Yaque, no México. Inédito em Portugal e realizado por um participante que quis permanecer anónimo, o contraponto entre a força das ideias e a simplicidade dos meios, fez nascer um documentário cheio de originalidade e riqueza humana organizado como se de um bloco de apontamentos se tratasse.

Em cerca de hora e meia, desfilam no écran, testemunhos de luta e resistência cultural numa sucessão em que se alternam depoimentos, música e danças tradicionais dos povos, nações e tribos indígenas da América.

A mensagem de luta por «um mundo sem dominantes e dominados, um mundo sem capital, um mundo melhor» marca a parte final do filme, o comício de encerramento do encontro. A leitura das conclusões e o discurso do Subcomandante Insurgente Marcos são sinais de esperança e também de rebeldia apelando à resistência global.

Filme não legendado – falado em castelhano com alguns depoimentos em inglês.

Antígona, a peça de Sófocles, está em cena pelo grupo de teatro A Barraca


Uma peça sobre o conflito que opõe Antígona ao poder autoritário

Ler um texto sobre Antígona já publicado neste blogue: aqui



A profundidade de Sófocles a analisar problemas como a fractura entre a lei natural e a lei do estado. A contradição entre a Justiça e a Lei, a tirania que se serve de decretos casuísticos para fundamentar e apoiar a sua “vontade de poder” e a desobediência de quem se torna intolerante perante o domínio do arbitrário transformado em lei, fazem de Antígona o texto mais exemplar e duradouro da tragédia grega.

Consultar:
www.abarraca.com/info/emcenaantigona.html

Luz de Antígona ( texto de Maria do Céu Guerra)


Vinte e seis séculos depois da sua criação, “Antígona” de Sófocles ainda ilumina o nosso tempo. Estreada no século de Péricles quando em Atenas se inventava e se levava à prática a construção da primeira democracia da História, Antígona é elevada a mito pelo seu autor a partir de meia dúzia de linhas da Ilíada e de Esquilo. Sófocles quis deixar-nos uma história de proveito e exemplo. E por isso deixou-nos nas suas obras do ciclo Tebano o itinerário de Antígona paradigma de amor filial, fraternal, de resistência ao autoritarismo, de cumprimento da Justiça e da lei natural.
Sófocles, como Péricles, como Fídias, como Sólon, quiseram, no seu tempo de vida, deixar claros os fundamentos e a lei com que devia reger-se uma sociedade democrática, equilibrada, feliz e por isso duradoura e resistente. A sua Atenas não era uma utopia, pois, ainda que por pouco tempo, ela existiu. Mas passou a sê-lo para os vindouros. E Sófocles deixou-nos nesta peça-lição, lida diferentemente ao longo dos séculos, o exemplo da cidade negra onde se conflituam, sublimes ou baixos comportamentos, caracteres e destinos a evitar.
Nunca um autor se deixou tão presente distribuindo-se nas personagens do seu drama. Porque Sófocles é Creonte no que ele tem de defensor da cidade, é Antígona no que ela tem de resistente à tirania e arbitrariedade e de defensora da lei que aprendeu a respeitar como justa, e é principalmente Hémon quando este é capaz de confrontar o pai com a discricionariedade com que ele vive o exercício do poder e quando sintetiza em três frases a essência do poder absoluto, e é Tirésias quando antevê a desgraça do que a injustiça de Creonte irá trazer de volta à sua cidade: a Guerra, o Caos. E é também, ainda que a meu ver, menos, o Coro que à maneira ocidental vê, ouve, lê, não ignora, mas aceita viver dentro de parâmetros que o paralisam para além do seu direito de usar a palavra e deixar acontecer.


Ao longo da História Antígona foi lição e luz. No tempo da construção do Estado-Nação, Antígona e Creonte foram vistos como opositores iguais na dicotomia Família / Estado, chegando Hegel a considerar Creonte uma figura da mesma qualidade da sua antagonista. Eram extremos opostos que personificavam um conflito que era preciso superar. Outra leitura faz Brecht que vê nela uma heroína pacifista. E por aí fora Antígona foi paradigma da luta anti-nazi, resistente contra a ocupação, paradigma feminista, reflexão sobre a Lei e a Justiça. Foi à volta desta última leitura que me apeteceu reflectir sobre esta tragédia porque afinal, como é possível vivermos pacífica e passivamente sob o domínio da fractura entre a Justiça (Dike) e a Lei (Nomos) onde todos os dias regulamentar é legislar contra a Lei. Todos os dias se emendam constituições, sempre ao arrepio do bom impulso que as fez nascer. Todos os dias se editam despachos normativos e decretos que corrigem na especificidade leis mais amplas e generosas, porque elas atrapalham o interesse dos mais poderosos. Todos os dias sob a capa dos direitos humanos se impõe ao mundo uma regra de eleições “democráticas” como a única maneira de chegar à legalidade que, depois não serve, quando quem ganha são os “inconvenientes”, caso do Hamas, da Fretilin, etc, etc. Todos os dias milhões de juristas trabalham nessa fractura entre a Justiça e a Lei para, por dinheiro, conseguirem defender os crimes dos seus clientes.


Antígona defende a Justiça (religiosa ou laica) contra um decreto que, publicado no rescaldo de uma guerra, não é mais do que uma demonstração da capacidade de instalar o terror obediente que, segundo Creonte, salvará a cidade. E morre por isso. Última herdeira de uma família maldita (Ismena, a irmã perde, por obediência, a Eternidade), ela nem por um momento, mesmo diante da morte que receia como todos os heróis antes do sacrifício, recua nas suas convicções. Por isso os séculos fizeram dela a heroína. E por isso Sófocles dá o seu nome à peça.


Não me perguntem onde se passa o meu espectáculo. Passa-se num pequeno país injusto chamado Mundo, onde os tempos e as referências se misturam. Onde há militares a usarem da sua força desmedidamente, onde há gente a correr atrás das macas dos seus mortos, e mortos aos milhares sem sepultura, onde há homens assassinados (príncipes enfurecidos) por quererem voltar às suas terras e casas que lhes estão vedadas contra toda a lei. E nós no meio deles. Nós, um coro de bem intencionados, nós que não gostamos de “matar galinhas, mas que gostamos de comer galinha”. Nós de sobretudo, não vá o frio desabrigar-nos, paralisados, porque não queremos incorrer no excesso, mas que, e mais uma vez como a nossa “grega” Sophia escreveu, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Maria do Céu Guerra

Horários:
5ª a sábado às 21h30
Domingo às 16h00
M/12

Ficha Artística e Técnica
Texto de Sófocles
Espectáculo de Maria do Céu Guerra
versão da responsabilidade de Maria do Céu Guerra, a partir da tradução de
Maria Helena da Rocha Pereira
Cenografia de Carlos Amado sob Consultoria de Lagoa Henriques

Elenco: Rita Lello (Antígona), José Medeiros (Creonte), João D’Ávila, Jorge Gomes Ribeiro, Maria do Céu Guerra, Mariana Abrunheiro, Rita Fernandes, Pedro Borges, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Tiago Cadete
Grupo Abadá-Capoeira: Adriano (Sossego), Daniel Botelho (Alf), Diogo Ferrasso (Mister), Geovasio Silva (Dinho), Jadei (Magrão), Rodoval Ruas (Chá Preto), Yuri Buba (Kalu)