31.7.05

Uma escola libertária e elitista para todos


Entrevista com o filósofo Michel Onfray


Demissionário do sistema de educação do Ministério da Educação Nacional francês, o filósofo Michel Onfray decidiu fundar, entretanto, a Universidade popular de Caen, como forma de criar um novo Jardim de Epicuro, mas fora das paredes, lançando as bases para uma autêntica «comunidade filosófica» contra o mercantilismo dos saberes.

Nesta entrevista Michel Onfray defende o poder emancipador da pedagogia libertária.

A miséria social e moral das nossas sociedades impõe a necessidade de ensinar a todos um saber alternativo e crítico, até porque muitos intelectuais deixaram de se preocupar em tornar popular, o saber filosófico.

Le Monde de L’Éducation – Na sua obra «La Communauté philosophique» (Galilée, 2004) você escreve que «o pedagogo libertário trabalha para o seu apagamento pessoal, e cultiva o poder interrogativo de toda a subjectividade». Porque é que este poder se encontra esgotado no aparelho escolar, quando ainda existem certos professores que conseguem despertar e responder ao desejo de saber dos alunos?

Michel Onfray – A instituição escolar é esquizofrénica: ela tem um discurso, mas leva a cabo uma prática nos antípodas daquele discurso. O discurso é este: a escola forma a inteligência, constrói indivíduos cultivados cujo saber lhes permitiria desenvolver juízos esclarecidos, ensina a ler, a escrever, a fazer contas, a pensar, ela formaria o cidadão ao educá-lo para a liberdade. Mas, a verdade, é que na prática ela negligencia a inteligência para privilegiar o exercício da memória e da repetição calibrado em função de um programa feito para isso. A educação nacional ensina sobretudo a submissão, a docilidade, a hipocrisia, o artificial. Só assim se pode explicar que num curso de 7 anos de inglês se consiga fazer tão poucos jovens bilingues. O que é que se aprende durante aquelas intermináveis horas de aprendizagem de línguas senão a arte de bem funcionar dentro da máquina que permita a passagem para o ensino superior, e a produção de diplomas úteis para o mundo da integração social.

Le Monde de L’Éducation – Qual é a genealogia dessa pedagogia libertária que você defende? Estaria no prosseguimento de uma linha que vai de Epicuro a Freinet?

Michel Onfray – Se o termo libertário significar «o que educa a liberdade», ou «o que faz da liberdade o bem supremo», sem dúvida, que poderíamos começar com Sócrates e a sua maiêutica, a sua arte de desenvolver as potencialidades de cada qual e torná-las em realidades tangíveis, podemos depois continuar com Diógenes e os filósofos cínicos que usam um bastão para mandar embora os que procuram um mestre e a submissão. Prosseguimos com Erasmo, o grande e imenso Erasmo, e, certamente, Montaigne, que tanto lhe deve, para falar de várias matérias, como a Educação e tantas outras. Passamos depois para Nietzsche que ensina que um bom mestre é aquele que aprende aquilo que se desprende de si. Seria preciso ainda de falar , com certeza, dos autores libertários, que a história conheceu, como Max Stirner e o seu «Falso Princípio da Nossa Educação», Sébastien Faure, que aplicou o seu método em La Ruche, mas ainda A.S. Neill e os seus « Jovens livres de Summerhill» que me fizeram desejar tornar-me professor antes de me desiludir na Escola Superior de Educação. Seria ainda preciso acrescentar o excelente livro «Advertência aos estudantes e liceais» de Raoul Vaneigem.


Le Monde de L’Éducation – Uma certa concepção da pedagogia libertária – nomeadamente a que defende a espontaneidade do aluno – não fará o jogo do «novo espírito do capitalismo» que pretende apoiar a participação dos «actores»? Não contribuirá ela para o idiota útil do «neoliberalismo»?

Michel Onfray – Tem razão…Eu sou um ardente defensor de Maio de 68 e do espírito de Maio, que se definia por uma revolução metafísica anti-autoritária. Os dominados punham em causa os dominantes. Os pares tradicionais – mulheres/homens, jovens/velhos, empregados/patrões, esposas/maridos – deixaram de ter um estatuto divino. E tudo isso foi uma coisa boa. Mas à negação dos velhos valores não se seguiu uma positividade. Destruir é bom se, e somente se, propusermos a seguir uma reconstrução. Os valores libertários, por exemplo, mereceriam mais que os simples elogios da indolência, da espontaneidade, do natural, do porreirismo generalizado por via da desvalorização do rigor que se mostrou tão pouco democrático quanto demagógico. Porque esta renúncia à memória, ao esforço, ao trabalho, à cronologia, e todas essas categorias consideradas reaccionárias fizeram efectivamente o jogo do poder, que prefere ter um rebanho de inculto embrutecidos que indivíduos apetrechados com o saber e a cultura. A pedagogia libertária não é a pedagogia liberal pós-anos 60 que deixa o jovem livre na turma, e que dá plenos poderes à competição entre classes sociais, e que é, ela própria, geradora de reprodução social…

Le Monde de l’éducation - «Passamos de um ensino autoritário a um ensino clientelar», escreve Raoul Vaneigem num texto recente sob o título «Modeste propositions aux grévistes» ( Verticales,2004). «O endoutrinamento suscitava, ao menos, a revolta, a propaganda estimulava o seu oposto, o desejo de pensar de outra forma.O feiticismo do dinheiro enfraqueceu o pensamento que ruge e incomoda.» Concorda com esta análise?

Michel Onfray – Vaneigem é um amigo que me estimula – ele acaba por me ultrapassar pela esquerda! – mas não partilho o seu optimismo que está, de resto, na génese do seu radicalismo político: no meu entender, a autoridade produz uma submissão massiva, pois o medo, o temor e o desejo de servidão voluntária são grandes. A revolta não é gerada pela ditadura – se assim fosse, seria preciso desejarmos a ditadura enquanto momento dialéctico das revoltas lógicas… - mas por temperamentos rebeldes, revoltados, insubmissos gerados por razões existenciais que só uma psicanálise à maneira sartriana – descobrir o projecto original – permitiria compreender. Conheci períodos da minha vida – nomeadamente os 7 anos de pensionato, 4 dos quais no orfanato dos salesianos – que fizeram de mim aquilo que sou hoje, mas que também fizeram uma multidão de indivíduos castrados da vida e orgulhosos de o ser. Uma mesma causa não produz felizmente os mesmos efeitos em todos nós. É preciso levar em consideração o prazer de estar submetido, tal como existe com tantas pessoas…

Le Monde de L’éducation – É procurando retomar o que há de melhor nos cafés-filosóficos e nas Universidades ( a liberdade dos primeiros e a seriedade da segunda), ao mesmo tempo que rejeita o que há de pior em cada qual (o extavasamento de um lado e a securra do outro), que você decidiu fundar a Universidade Popular de Caen. Mas também com o objectivo de retomar e prosseguir o ideal nascido no tempo da questão Dreyfus. Em que medida é ela um meio de lutar contra a situação de crise por que a França atravessa: miséria social, racismo, bloqueios nacionais-populistas, etc?


Michel Onfray – O saber é um poder. Posto isto, é preciso um saber específico susceptível de permitir a libertação e não a alienação.A filosofia não é de facto um instrumento de libertação: ensinar as ideias platónicas, falar da Cidade de Deus de S. Agostinho, das teses tomistas, da aposta de Pascal, do ocasionalismo de Malebranche, da angústia de Kierkegaard e de tantas outras matérias da história da filosofia ajudam mais a manter o poder instalado e permitir o domínio do cristianismo do que a emancipar o aprendiz em filosofia…Daí o interesse em ensinar quer um saber alternativo, quer um saber clássico, mas de maneira alternativa, isto é, crítica. A subversão cínica, o hedonismo cirenaico, a libertação epicurista, a alegria gnóstica, só para ficar na Antiguidade, são ilustrações de saberes alternativos; ou então, falar dos saberes clássicos mas de maneira alternativa: mostrar que o conceito erróneo de pré-socrático, desvalorizando o predecessores socráticos, pressupõe uma escrita platónica da história da filosofia, explicar as razões da evicção do materialismo de Demócrito( cuja obra completa Platão queria queimar em auto-da-fé…). Estes saberes permitem construir uma inteligência crítica, mas também realizar um trabalho sobre outras matérias, nomeadamente as que estão associadas a essa crise que referiu.


Le Monde de l’éducation – Você costuma recordar que intelectuais como Alain, Péguy, Bergson e tantos outros, frequentaram e animaram cursos de educação popular, lançados pelo tipógrafo anarquista Georges Deherme. Os intelectuais dos anos 2000 esqueceram o seu papel de educadores e a ideia de tornar popular, a filosofia?

Michel Onfray – A nossa época mediática produziu dois tipos de intelectuais: o primeiro especializou-se na miséria limpa, uma miséria longínqua que permita uma postura declamatória à maneira teatral, reproduzida logo de imediato pelos media. Tendente a ser mediatizada, e não precisando de nenhum outro compromisso que não seja o verbo, a carta postal ou a consulta de um livro, ela permite tocar o trompete dos grandes princípios maiúsculos: a Humanidade, a Liberdade, os Direitos do Homem, etc. O segundo ocupa-se antes da miséria suja, a que envolve os explorados, os operários, os miseráveis e os excluídos do sistema, as vítimas e outros dejectos do liberalismo, a ideologia defendida pela maior parte dos primeiros. Os intelectuais dos anos 2000 não cuidam da educação popular nem de tornar popular a filosofia: o seu saber é utilizado para fins financeiros, traduzíveis em moedas reais ou simbólicas, mas nunca com o objectivo de uma crítica social.

Le Monde de L’Éducation -Um curso magistral pode ser libertário?

Michel Onfray – Sim, se o magistério do curso magistral for aquele que indiquei ainda há pouco: um mestre libertário que cuida antes de tudo em cartografar e de identificar o conjunto das situações que estão em jogo, fornecendo depois um bússola e o seu modo de emprego, isto é, convidar cada qual a fazer a sua própria viagem.

Le Monde de l’éducation – A Universidade popular histórica acabou por desaparecer antes da Primeira Guerra Mundial em razão de causas e desinteligências internas. A Universidade popular tem tido um grande sucesso. Como evitar os perigos?

Michel Onfray – A Universidade popular é um organismo vivo e, como tal, mortal. Os três anos da sua existência já permitem identificar alguns vírus, erros e ataques. Tudo normal…A Universidade popular tem tido efectivamente um grande sucesso público e popular, gerou uma verdadeira energia alternativa, propõe um intelectual colectivo – para usar a fórmula de Bourdieu – eficaz, que logo perturba e incomoda. É normal que a nossa aventura atraia invejas e revele os medíocres, os invejosos, e outras figuras de ressentimento que não existem e não vivem senão por, e para a destruição. Mas nós somos uma comunidade de amigos, no sentido epicurista, que vamos experimentando o verdadeiro poder da amizade epicurista. E, depois, sejamos nietzscheanos, o que não mata fortalece-nos. Para o resto, só o Deus das Universidades populares poderá dizer se a experiência desaparecerá – sim, porque ela sempre desaparecerá -, seja como vítima do síndroma do recém-nascido ou do catarro dos velhos, seja por suicídio próprio na flor da idade ou por um esgotamento centenário…

Le Monde de L’Éducation – Uma educação «elitista para todos». Esta fórmula do dramaturgo Antoine Vitez adaptada à educação mantém-se actual?

Michel Onfray – Mais actual do que nunca. Gosto mesmo do oximoro, uma figura de estilo que, associando dois termos aparentemente contraditórios, gera um sentido novo: universidade popular é realmente um oximoro espantoso! O elitismo para todos, também. Percebe-se que, para além da pura e simples justaposição verbal, para além do simples jogo de palavras, uma nova significação emerge à luz do dia. A expressão elitismo para todos supõe uma outra definição de cada uma dos termos; trata-se de dar o melhor ao maior número, porque o melhor existe, sem dúvida, mas normalmente só é dado aos melhores, pelos menos, aqueles que assim são qualificados pela máquina social. Quando é destinado a todos, ao maior número – é essa a minha definição de popular, e também a de Michelet – o elitismo brilha com outra clareza, que muitos se têm esquecido, e que é a da luz do iluminismo.

(Tradução para português da entrevista com Michel Onfray publicada no nº 338, Juillet-Août 2005 do Le Monde de L’Education)

www.lemonde.fr/mde/

29.7.05

75º aniversário de A Selva, de Ferreira de Castro,



Por ocasião do 75º aniversário da publicação de A SELVA, está o Centro de Estudos Ferreira de Castro a promover um Congresso Internacional para assinalar esta efeméride, de 28 a 30 de Julho de 2005, em Ossela e Oliveira de Azeméis, terra natal e sede de concelho de Ferreira de Castro.
(Ver http://www.ceferreiradecastro.org/module.php?p=congresso)

Recorde-se que Ferreira de Castro (1898-1974) foi um escritor-operário que defendia o ideário anarco-sindicalista e um dos escritores portugueses mais lidos de todos os tempos. Para além disso, a sua escrita faz a ponte entre um naturalismo ecologista e o neo-realismo social.
Recusava-se também a ser mais um patrioteiro, Numa carta com data de 1953 escrevia:
"(..) a verdade é que, por cima da condição de europeu, de latino e de português, sinto na minha alma uma grande identidade com a alma de todos os outros povos."
Já noutro momento o escritor declarara:
"Eu não sou bairrista, não sou regionalista, não sou nacionalista; amo Portugal inteiro, a Europa inteira, o mundo inteiro; amo profundamente o povo do nosso país, mas amo também toda a Humanidade."
Esse amor pela Humanidade passava por compreender e amar o semelhante pelo que tem de positivo e negativo, de sucesso ou de insucesso, ou seja, pelo seu todo, e pelo que intrinsecamente é. Passava, finalmente, também, por "compreender e fraternizar com os homens (...) de todas as cidades e de todas as aldeias de todos os países da Terra, por cima de todas as fronteiras e de todas as pátrias."




Cronologia de Ferreira de Castro


1898 – Nasce em Salgueiros, Ossela, concelho de Oliveira de Azeméis (24 de Maio), filho de José Eustáquio Ferreira de Castro e Maria Rosa de Castro, camponeses.

1903 – Nasce Roberto Nobre, ensaísta e crítico de cinema, artista gráfico, um dos maiores amigos do escritor.

1904 – Inicia os estudos na escola de Ossela.

1906 – Morte do pai.

1910 – Faz o exame da instrução primária (22 de Agosto). Tira o passaporte para o Brasil (6 de Dezembro).

1911 – Parte de Ossela (6 de Janeiro) com destino a Leixões, embarca (7 de Janeiro) no vapor inglês “Jerôme” rumo a Belém do Pará, cidade que vivia ainda do fausto proporcionado pela borracha. Durante 28 dias fica em casa dum conhecido da família que, não o protegendo como se esperava, despacha-o a bordo do “Justo Chermont” para o seringal «Paraíso», nas margens do rio Madeira, braço do Amazonas.

1912 / 1913 – Vive em plena selva, trabalhando como caixeiro. Escreve os primeiros contos e crónicas enviando-os para jornais do Brasil e de Portugal. Redige o romance O Amor de Simão, título que virá a modificar mais tarde para Criminoso por Ambição.

1914 – O dono do seringal perdoa-lhe a dívida, permitindo-lhe deixar o «Paraíso» (28 de Outubro) para regressar a Belém do Pará, levando consigo o manuscrito do seu primeiro romance.

1915 – Período de grandes dificuldades. Cola cartazes em Belém, trabalha como embarcadiço num navio de cabotagem que faz a carreira do Oiapoque, o “Cassiporé”, entre aquela cidade e a Guiana Francesa. Redige então umas Impressões de Viagens. Começa a colaborar no Jornal dos Novos. Tira o primeiro retrato.

1916 – Edita Criminoso por Ambição (“Sensacional romance expurgado de phantasia”), impresso em fascículos. Publica a peça em dois actos Alma Lusitana, tendo como pano de fundo o conflito luso-alemão de Naulila.

1917 – Funda e dirige com outro emigrante, João Pinto Monteiro, o semanário Portugal (Março), destinado à comunidade lusa de Belém do Pará.

1918 – Ganha notoriedade como jornalista. É homenageado pela comunidade portuguesa de Manaus. A peça O Rapto (inédita) é representada no «Teatro-Bar Paraense» (Agosto). O Portugal publica em folhetim o romance Rugas Sociais, que ficou inacabado.

1919 – Viagem a S. Paulo e Rio de Janeiro. Regressa a Portugal (9 de Setembro) a bordo do “Desna”, com quatrocentos escudos no bolso. Breve estada com a família em Ossela. Decide-se de novo a enveredar pelo jornalismo, em Lisboa, sem qualquer conhecimento no meio. Funda O Luso, com a intenção de promover a aproximação luso-brasileira, jornal que dura poucos meses. Novo período de penúria, em que chega a passar fome.

1921 – Publica o Mas…, ensaios e ficção. Colabora no jornal Imprensa Livre, do publicista libertário Campos Lima. Intervém no «Comício dos Novos», no Chiado Terrasse.

1922 – Funda A Hora, “revista panfleto de arte, actualidades e questões sociais”. Colabora, entre muitos outros periódicos, na revista A. B. C., dirigida por RochaMartins. É premiada num concurso promovido pelo Teatro Nacional a peça O Mais Forte (inédita). Publica a novela Carne Faminta (Outubro).

1923 – Publica O Êxito Fácil e Sangue Negro.

1924 – Publica A Boca da Esfinge, de parceria com Eduardo Frias, e A Metamorfose. Edição espanhola de O Êxito Fácil (trad. por J. Andrés Vázquez.).

1925 – É admitido como sócio do Sindicato dos Profissionais da Imprensa de Lisboa (30 de Abril). Publica A Morte Redimida e Sendas de Lirismo e de Amor (contos) e, sob o pseudónimo «Silvestre Valente», A Ditadura Feminista, texto satírico. Assegura grande parte da colaboração no «Suplemento Literário» do diário A Batalha e da revista Renovação, ambos da Confederação Geral do Trabalho (CGT), anarco-sindicalista.

1926 – É eleito presidente do Sindicato. Desinteligências com os seus camaradas sobre a forma de protesto contra a instauração da censura, que pretendia mais enérgica. Publica A Peregrina do Mundo Novo, A Epopeia do Trabalho (com ilustrações de Roberto Nobre) e O Drama da Sombra.

1927 – A jornalista e escritora Diana de Lis (Maria Eugénia Haas da Costa Ramos, n. 1892) torna-se sua companheira. Publica os volumes de contos A Casa dos Móveis Dourados e O Voo nas Trevas. Integra os quadros de O Século, coordenando a área internacional. Inicia Emigrantes.

1928 – Publica o romance Emigrantes (24ª ed., 1988), que marca um ponto de viragem na sua obra e no romance português. Funda e dirige a revista Civilização, com Campos Monteiro.

1929 – Primeira visita a Paris e viagem a Andorra com Diana de Lis. Começa a escrever A Selva. Co-dirige, com António Ferro, a «Página Portuguesa» da Gaceta Literaria, de Gimenez Caballero.

1930 – Publica A Selva (38ª ed., 1991). Morte de Diana de Lis (30 de Maio). Viagem pela Europa (Espanha, Inglaterra, Irlanda). Abandona a Civilização. Emigrantes editado em Espanha (trad. por Luis Diaz Amado Herrero e Antonio Rodríguez de Léon).

1931 – Organiza e prefacia o livro póstumo de Diana de Lis Pedras Falsas. Faz a reportagem para O Século das Constituintes da II República espanhola, da Revolta da Andaluzia e do plebiscito sobre a autonomia da Catalunha (Julho/Agosto). Gravemente doente com uma septicemia tenta o suicídio (3 de Novembro). É assistido por Reinaldo dos Santos. Publica-se um in memoriam gorado: Ferreira de Castro e a Sua Obra, volume colectivo organizado por Jaime Brasil incluindo páginas inéditas de memórias. Publica-se em Espanha a tradução de A Selva, por Amado Herrero e Rodríguez de Léon.

1932 – Convalesce na Madeira. Publica novo livro póstumo de Diana de Lis, Memórias duma Mulher da Época.

1933 – Publica Eternidade (14ª ed., 1989). Longas estadas no Barroso, onde colhe elementos para Terra Fria, cuja publicação se inicia em folhetim n’O Século. Tradução de A Selva na Alemanha por Richard A. Bermann, amigo de Stefan Zweig, que concita a atenção internacional para o romance e o seu autor. Prefacia a tradução portuguesa do livro da feminista e diplomata russa Alexandra Kolontai, A Mulher Moderna e a Moral Sexual.

1934 – Publica Terra Fria (13ª ed., 1990), “Prémio Ricardo Malheiros” da Academia das Ciências (júri: Eugénio de Castro, Queirós Veloso, Barbosa de Magalhães, Alfredo da Cunha e Joaquim Leitão). Viagem à Córsega a serviço do seu jornal. Começa a escrever O Intervalo, com base na experiência vivida na Andaluzia, em 1931. Abandona, no final do ano, o jornalismo em Portugal, desgastado pela acção da censura. Traduções de A Selva em Itália (G. de Medici e G. Beccari) e na Checoslováquia (em checo, por Milada Fliederová).

1935 – Viaja pelo Mediterrâneo, visitando o Egipto, Palestina, Rodes, Malta, Cartago e Tunis, Pompeia e Nápoles e Maiorca, périplo de que resultaria o seu primeiro livro de viagens. Assume as funções de director de O Diabo por dois escassos meses (8 de Setembro a 10 de Novembro). Edição de A Selva no Brasil, prefaciada por Afrânio Peixoto, e em Inglaterra e Estados Unidos (trad. por Charles Duff). Morte de Reinaldo Ferreira (n. 1897), o «Repórter X», grande camarada do jornalismo.

1936 – É editada a conferência Canções da Córsega (2ªed., 1994). Termina O Intervalo e a peça Sim, Uma Dúvida Basta, sobre o caso Hauptmann-Lindbergh, escrita para o Teatro Nacional a pedido de Robles Monteiro, censurada por despacho governamental (4 de Março). Conhece no Estoril a pintora espanhola Elena Muriel. Tradução sueca de A Selva por Aslög Davidson.

1937 – Inicia-se a publicação em fascículos de Pequenos Mundos e Velhas Civilizações. Nova edição de A Selva no Brasil. Tradução italiana de Emigrantes por A. R. Ferrarin.

1938 – Casa-se com Elena Muriel, em Paris (9 de Agosto). A serviço do jornal carioca A Noite visita a Escandinávia e a Checoslováquia, assistindo à invasão da região dos Sudetas. Publicação de A Selva em França, (trad. por Blaise Cendrars, primeira de inúmeras edições que o romance conheceu neste país, onde continua a ser editado pela Grasset), e na Jugoslávia (em croata, por Dragutín Biscan). Edição ilustrada do romance amazónico por Alberto de Sousa, António Soares, Carlos Reis, Dórdio Gomes, Jorge Barradas, Manuel Lapa, Manuel Lima e Martins Barata. Dá a conhecer a sua intenção de escrever uma biografia do doutrinário anarquista russo Kropotkine.

1939 – Faz uma viagem à volta do mundo, na companhia de sua mulher.

1940 – Publica A Tempestade (10ª ed., 1980). Sai o primeiro estudo crítico, de largo fôlego, sobre o escritor, da autoria de Alexandre Cabral: Ferreira de Castro – O Seu Drama e a Sua Obra.

1941 – Escreve, até 1944, A Volta ao Mundo, cuja primeira edição atinge a tiragem de 25 mil exemplares. Publicação de Eternidade no Brasil e nova edição de A Selva na língua checa.

1944 – Traduções de A Selva na Roménia (Al. Popescu-Telega), e de Terra Fria (em checo, por Milada Fliederová).

1945 – Nasce a sua filha, Elsa Beatriz. Numa entrevista histórica ao Diário de Lisboa (17 de Novembro) denuncia os efeitos nefastos da censura sobre os escritores portugueses. Integra a Comissão Consultiva e a Comissão de Escritores Jornalistas e Artistas do Movimento da Unidade Democrática (MUD). Em Maio sai a 10ª edição de A Selva, atingindo o meio milhão de exemplares em todo o mundo, dos quais 42 mil em Portugal. É um dos fiadores literários do volume III do Guia de Portugal, com Afonso Lopes Vieira, Aquilino Ribeiro, António Sérgio, Câmara Reis, Raul Lino e Samuel Maia. Prolongadas estadas na Serra da Estrela, preparando o próximo romance. Jaime Brasil publica opúsculo Os Novos Escritores e o Movimento Chamado «Neo-Realismo», reivindicando para Ferreira de Castro a condição de iniciador – e não apenas precursor – do realismo social na literatura.

1946 – É homenageado pelos conterrâneos (5 de Maio). Participa na sessão do MUD na Voz do Operário (30 de Novembro), onde se lê uma vibrante «Mensagem» pela Liberdade e contra o Estado Novo. Publicação de A Selva na Bélgica (em francês) e na Suíça (em alemão, por R. Caltofen); nova tradução castelhana de Emigrantes e primeira de Terra Fria, por Eugenia Serrano.

1947 – Publica A Lã e a Neve (15ª ed., 1990). Traduções de Terra Fria em França e na Bélgica, por Louise Delapierre, e de Eternidade na Checoslováquia, por Milada Fliederová. Em Pont-Aven (Bretanha) escreve grande parte de A Curva da Estrada.

1948 – É homenageado em Paris pela Societé des Gens de Lettres (Maio). Les Lettres Françaises, dirigido por Claude Morgan, publica Le Patron des Navigateurs (O Senhor dos Navegantes). Edição em França de Emigrantes (trad. por A. K. Valère). A Selva vertido para o eslovaco por Stefan Jamsky.

1949 – A editora Guimarães inicia a publicação das suas “Obras Completas”, que serão ilustradas por Manuel Ribeiro de Pavia, Carlos Botelho, Bernardo Marques, Júlio Pomar, Keil do Amaral, Sarah Affonso, Artur Bual e João Abel Manta, entre outros. Recusa a proposta – e a oferta de trezentos contos – do editor para incluir as obras da primeira fase, anteriores a Emigrantes. Apoia activamente a candidatura de Norton de Matos à presidência da República. Tradução eslovaca de Emigrantes por Stefan Kiska.

1950 – Publica A Curva da Estrada (11ª ed., 1985). Escreve A Missão. Tradução francesa de A Lã e a Neve, por Louise Delapierre.

1951 – O académico dinamarquês Holger Sten propõe a candidatura do escritor ao Prémio Nobel (Fevereiro), sendo secundado em Portugal por João de Barros, Jaime Brasil e Roberto Nobre. Morte da mãe (25 de Dezembro). Escreve A Experiência. Tradução polaca de Emigrantes, por Aleksandry Oledzkiej.

1952 – Nova tradução alemã de A Selva (por Hans Plischke). Traduções de A Lã e a Neve na Argentina (por Raul Navarro), Checoslováquia (por Jakub Frey, em checo, com um posfácio de Jorge Amado) e Hungria (por Janós Csatlós, prefaciada também por Jorge Amado). Edição parcial de Pequenos Mundos no Brasil, intitulada Terras de Sonho.

1953 – Uma grave doença hepática põe a sua vida em risco. Mensagem nacional com milhares de assinaturas assinala o 25º aniversário da publicação de Emigrantes, entretanto editado na Áustria (trad. por Herbert e Waltraut Furreg) e na Checoslováquia (trad. por Jakub Frey), bem como A Selva na Noruega (por Leif Sletsjoe) e A Curva da Estrada em França (por Renée Gahisto).

1954 – Publica A Missão (8ª ed., 1980), que inclui «A Experiência» e «O Senhor dos Navegantes». Edições de A Lã e a Neve no Brasil (numa colecção dirigida por Jorge Amado, na Editorial Vitória), Alemanha (trad. por Elfried Kaut), Bélgica (em flamengo, por L. Roelandt), Checoslováquia (em eslovaco, por Vladimir Oleriny) e Roménia (Dan Botta).

1955 – 25º aniversário de A Selva assinalado com uma edição ilustrada por Cândido Portinari que inclui o texto memorialístico «Pequena história de “A Selva”». Inicia As Maravilhas Artísticas do Mundo, ocupando-o nos oito anos que se seguem. Tradução alemã de Terra Fria (por Elfried Kaut) e nova edição de A Lã e a Neve na Hungria.

1956 – Mensagem aos Democratas de Aveiro, opúsculo editado pela comissão das comemorações de 31 de Janeiro, por iniciativa de Mário Sacramento. Depõe a favor de 52 jovens num julgamento político no Porto. Tradução de A Experiência na Argentina (por Carmen Alfaya), enquanto que em Espanha a Aguilar publica as suas Novelas Escogidas em papel bíblia, traduzidas por José Ares e Eugenia Serrano.

1957 – Traduções de A Selva na Bélgica (em flamengo, por L. Roelandt) e de A Missão em França (L. Delapierre e R. Gahisto).

1958 – Armindo Rodrigues e Orlando Gonçalves dão voz a um grupo de oposicionistas, convidando-o a candidatar-se à presidência da República, convite que declina, tal como recusa integrar a comissão de honra da candidatura de Delgado, numa atitude crítica à divisão da Oposição. Arlindo Vicente, o outro candidato, era um dos seus grandes amigos. Tradução de Emigrantes na Hungria (por Ferenc Kordás) e 3ª edição de A Lã e a Neve. A versão francesa de A Missão é publicada na Suiça. Judith Navarro, Ferreira de Castro e o Amazonas, biografia romanceada destinada aos jovens.

1959 – Visita o Brasil (2-28 de Outubro), 40 anos após o regresso a Portugal, a convite da União Brasileira de Escritores. É apoteoticamente recebido, as sessões de homenagem multiplicam-se. É feito cidadão honorário do Rio de Janeiro, que lhe entrega a chave da cidade. Com Juscelino Kubitschek, Presidente da República, visita Brasília. Inicia a publicação de As Maravilhas Artísticas do Mundo ou a Prodigiosa Aventura do Homem Através da Arte. Tradução russa de A Lã e a Neve, por A. Torres e A. Ferreira (existe uma versão de Emigrantes feita por David Vigodsky, desconhecida entre nós). Grava para a discográfica Orfeu «O Senhor dos Navegantes». Alberto Moreira, Ferreira de Castro Antes da Glória, estudo biográfico sobre a juventude do escritor.

1960 – O Porto assiste à maior homenagem prestada a um escritor até então, com um colóquio, uma exposição bibliográfica e duas concorridas sessões de autógrafos nas livrarias Divulgação e Latina (4-6 de Fevereiro). Prefacia a primeira edição portuguesa de Gabriela, Cravo e Canela, de Jorge Amado. Publicação de A Curva da Estrada no Brasil. Traduções húngara de Eternidade (por Sándor Szalay) e italiana de A Lã e a Neve (por António Fiorillo). Morre João de Barros (n. 1881), padrinho de Elsa Ferreira de Castro.

1961 – São editados no Brasil os três volumes das suas Obras Completas, em papel bíblia. Jaime Brasil, Ferreira de Castro, biografia e antologia.

1962 – É eleito por unanimidade presidente da Sociedade Portuguesa de Escritores, da qual é o sócio nº2 e Aquilino o nº1. Toma posse a 5 de Fevereiro, presidindo até 1964 a uma direcção de que fazem parte João José Cochofel, Manuel Ferreira, Manuel da Fonseca e Matilde Rosa Araújo. Edições norte americanas de Emigrantes (trad. por Dorothy Ball), e A Missão (trad. por Ann Stevens).

1963 – Conclui As Maravilhas Artísticas do Mundo. Edição de A Missão no Reino Unido; primeira edição de bolso de A Selva em França.

1965 – A Academia de Belas Artes de Paris atribui o “Prémio Catenacci” às Maravilhas Artísticas. Apoia a atribuição do prémio de novelística da SPE a Luuanda, de Luandino Vieira.

1966 – Assinalam-se os 50 anos da sua vida literária. Na Sociedade Nacional de Belas Artes realiza-se uma grande exposição bibliográfica e iconográfica. Edições especiais, com posfácios do autor, de Emigrantes, ilustrada por Júlio Pomar, e Terra Fria, com desenhos de Bernardo Marques, além dum volume colectivo, o Livro do Cinquentenário da Vida Literária de Ferreira de Castro. Numa praça de Oliveira de Azeméis é inaugurado um monumento à sua obra (30 de Dezembro).Morre Jaime Brasil (n. 1896).

1967 – Escreve O Instinto Supremo. Nova edição brasileira de A Selva, ilustrada por Poty. Doa a casa onde nasceu ao povo de Oliveira de Azeméis (30 Dez.).

1968 – A União Brasileira de Escritores apresenta a candidatura conjunta de Ferreira de Castro e Jorge Amado ao Prémio Nobel da Literatura. Publica O Instinto Supremo (6ª ed., 1988) simultaneamente em Portugal e no Brasil. Tradução húngara de A Missão por Sándor Szalay.

1969 – Escreve os textos evocativos Historial da Velha Mina e A Aldeia Nativa. “Homenagem a João de Barros” (opúsculo). Mensagem de adesão ao II Congresso Republicano de Aveiro. Morte de Roberto Nobre.

1970 – Recebe o grande prémio “Águia de Ouro Internacional” no Festival do Livro de Nice (28 de Maio), atribuído por unanimidade por um júri presidido por Isaac Bashevis Singer, de que fazem parte, entre outros, André Chamson, Gore Vidal, Hervé Bazin, Jacques Chastenet, Joaquim Paço d’Arcos e Miguel-Angel Asturias. Eram também candidatos Konstantin Simonov e Lawrence Durrrel. Faz o primeiro pedido às autoridades do seu país (25 de Fevereiro): «ficar sepultado à beira duma dessas poéticas veredas que dão acesso ao Castelo dos Mouros», na Serra de Sintra

1971 – Nova visita ao Brasil com inúmeras homenagens. O seu nome é dado a um troço da Transamazónica. Em Paris, a Academia do Mundo Latino atribui o “Prémio da Latinidade” a Ferreira de Castro, Jorge Amado e Eugenio Montale.

1972 – Revê e prepara para edição O Intervalo, antecedido do texto memorialístico «Origem de “O Intervalo”». Chamou-se João de Deus Ramos, Exactamente o Nome Paterno (opúsculo). Jorge Amado prefacia nova edição brasileira de A Selva. Tradução polaca de A Missão por Florian Smieja.

1973 – A UNESCO anuncia que A Selva está entre os dez romances mais lidos em todo o mundo. Doa ao povo de Sintra, vila onde passou largas temporadas, a maior parte do seu espólio (Abril). Comemora-se o seu 75º aniversário com uma nova edição ilustrada do grande romance, desta vez ilustrado por Júlio Pomar. Entrevista a Álvaro Salema gravada pela Sassetti. Tradução japonesa de A Selva por Kikuo Furano. Álvaro Salema, Ferreira de Castro – A Sua Vida, a Sua Personalidade, a Sua Obra (estudo e antologia).

1974 – Acolhe o 25 de Abril com grande emoção, participando euforicamente no primeiro 1º de Maio. Em 5 de Junho sofre um acidente vascular-cerebral em Macieira de Cambra. Morre no Hospital de Santo António, no Porto (29 de Junho). Publica-se Os Fragmentos – Um Romance e Algumas Evocações. Nova edição de A Lã e a Neve na Hungria.

1975 – Os restos mortais de Ferreira de Castro são inumados numa encosta da Serra de Sintra, a caminho do Castelo dos Mouros (31 de Maio), cumprindo-se a vontade do escritor. A Lello edita as Obras Completas de Ferreira de Castro em papel bíblia (quatro volumes). Morre Assis Esperança (n. 1892), um dos seus companheiros de sempre.

1994 – Publica-se a peça Sim, Uma Dúvida Basta, inédita durante sessenta anos, e a Correspondência com Roberto Nobre, assinalando-se o 20º aniversário da sua morte

Uma Declaração de Direitos para as Gerações Futuras

(A Bill of Rights For Future Generations)


Nós, o povo do futuro, tal como as 20 mil gerações que nos antecederam, temos o direito de respirar ar puro, com aromas naturais e cheiros agradáveis, beber água fresca e pura, nadar em águas boas para a saúde, e cultivar a nossa alimentação em terras favoráveis para o seu crescimento.

Nós temos o direito de herdar um mundo limpo de químicos tóxicos, de lixo nuclear, e de poluição genética. Nós temos o direito de caminhar pela natureza selvagem e sentir receio quando encaramos, de repente, com um animal feroz.

Pedimos pois ao povo do tempo presente: não deixeis os restos do vosso repasto para nós os limpar; não adopteis riscos tecnológicos, por muito pequenos que sejam, que possam ter consequências catastróficas no futuro. Tal como vos pedimos para não nos sobrecarregarem com as vossas dívidas a longo prazo, nem com os vossos depauperados planos de pensões, também exigimos o nosso direito de partilhar da saúde ecológica do planeta Terra em que todos vivemos. Não o consumam todo, por favor.

Nós, pela nossa parte, comprometemo-nos a fazer o mesmo. Transmitiremos estes mesmos direitos e privilégios às gerações que viverão depois de nós; confiantes que o espírito humano viverá para sempre.

Maldita seja a geração que ignore ( e desrespeite) esta declaração.


(tradução de um texto publicado na revista Adbuster # 60 Jul/Aug 2005)

Manifesto da Economia Autêntica ( ou de custos fiáveis)



Nós, abaixo-assinados, acusamos pública e solenemente os professores da economia neoclássica, assim como os estudantes que eles ensinaram, de terem produzido uma gigantesca fraude sobre todo o mundo.

Quiseram que todos acreditassem que vocês trabalhavam numa ciência exacta e com leis certas, mas a vossa ciência é, na verdade, uma ciência social com toda a fragilidade e incerteza que isso significa. Acusámo-vos pois de quererem ser aquilo que não o são.

Vocês escondem-se atrás dos vossos gabinetes, protegidos pelo vosso jargão, enquanto ao mesmo tempo, as florestas do mundo inteiro são dizimadas, espécies de animais desaparecem, e vidas humanas são arruinadas e perdidas para sempre. Nós acusamo-vos de negligência grosseira e de gestão danosa sobre todo o património planetário.

Desde o início, vocês sempre souberam que a medida do progresso económico que utilizais, o Produto Interno Bruto, é, na sua essência, um indicador defeituoso e incompleto e, mesmo assim, começaram a utilizá-lo por todo o lado, tornando-o uma medida-padrão universal, que é utilizado, dia após dia, pelos media. Nós acusámo-vos de manter de forma irreflectida e leviana a ilusão de progresso à custa da saúde da humanidade e do planeta.

Vocês tendes provocado enormes prejuízos, mas o vosso tempo está a chegar ao fim. A revolução da economia já começou, determinada e confiante como outra qualquer. Não demorará muito para se dar o choque entre ambos os paradigmas, e soará a hora da verdade, emergindo então uma nova economia – aberta, holística e à medida do ser humano.

De universidade em universidade os velhos objectivos e ditames económicos serão derrubados. E nos meses e anos que lhes seguirão poderemos então começar a re-programar a máquina do tempo da história.

Assinar o Manifesto em

.adbusters.org/metas/eco/truecosteconomics/manifesto/index.jhtml


www.truecosteconomics.org




(tradução de um texto publicado na revista Adbuster # 60 Jul/Aug 2005)

Obras de música clássica a ouvir…antes de ficar surdo com a cacofonia citadina


=Beethoven, Ludwig van :
Sinfonia nº 9, com coro
Sinfonia nº5
Sinfonia nº7
Sinfoniaº6, «Pastoral»
Sinfonia nº3, «A Heróica»
Concerto para piano nº 5
Concerto para violino
Quarteto de cordas nº 14 op 131
Quarteto de cordas nº15 op.132
Sonata para piano nº 32 op.111




=Stravinsky, Igor:
A sagração da Primavera



=Mozart, Wolfgang Amadeus:
Requiem
A Flauta encantada
As bodas de Fígaro
Concerto para piano nº21
Concerto para clarinete
Cosi Fan Tutte
Don Giovanni



=Dvorák, Antonín:
Sinfonia nº9
Concerto para violino

=Bach, Johann Sebastian:
Paixão segundo S. Mateus
Variações Goldberg
Paixão segundo S. João
Suite para violino
Concertos Brandeburgueses


=Strauss, Richard:
Os 4 últimos lieder


=Berlioz, Hector:
Sinfonia Fantástica


=Ravel, Maurice:
Concerto para piano e orquestra em sol maior
Daphnis et Chloé
Bolero



=Debussy, Claude:
O Mar
Prelúdio a tarde de um fauno


=Mendelssohn, Félix:
Concerto para violino nº 2




=Fauré, Gabriel:

Requiem
Quarteto de cordas



=Schubert, Franz:
Sinfonia nº 9, «A Grande»
Quinteto com dois violinos D 956
Sinfonia º 8, «Inacabada»
Viagem de Inverno
Quarteto de cordas nº 14 « A morte e a donzela»



=Tchaikovski, Piotr Ilitch:

Sinfonia nº 6, Patética
Concerto para violino e orquestra
Concerto para piano nº1



=Brahms, Johannes:
Concerto para violino e orquestra
Um Requiem alemão
Sinfonia nº1
Sinfonia nº4
Sinfonia nº 3
Variações sobre um tema de Haendel



=Debussy, Claude:
Pelléas e Mélisande


=Chopin, Frédéric:
Nocturnosnº1
Concerto para piano
Concerto para piano nº 2



=Wagner, Richard:

Tristão e Isolda
Parsifal

=Verdi:

La traviata
Requiem



=Saint-Saens:
Sinfonia nº 3 com órgão



=Puccini:
Tosca


=Bizet:
Carmen



=Gustav Mahler:
O Canto da Terra
Sinfonia nº2, «Ressurreição»
Sinfonia nº 6



=Orff:
Carmina Burana




=Vivaldi:
As 4 Estações




=Bruckner:
Sinfonia nº8
Sinfonia nº7



=Schumann:
Concerto para piano


=Pergolèse:
Stabat Mater


=Desprez, Josquin:
Missa «Pange Língua»



=Puccini:
Madame Butterfly




=Janácek:

La petit Renarde rusée



=Berg:
Wozzeck


=Scarlatti:
Sonata em fá menor K 466


=Haydn:
A Criação



=Sibelius:

Sinfonia nº 6

Alguns discos de música clássica: a escutar…



=Benjamin Britten – Peter Grimes – Jon Vickers, Heather Harper, Orquestra de Covent Garden de Londres, sob a direcção de Collin Davis. Philips-Universal


=Claude Debussy – Pelléas et Mélisande – Frederica von Stade, José van Dam, Orquestra Filarmónica de Berlim, sob a direcção de Herbert von Karajan. EMI

=Alban Berg – Lulu – Teresa Stratas, Franz Mazura. Orquestra da Ópera de Paris, sob a direcção de Pierre Boulez. DG-Universal

=Wolfgang Amadeus Mozart – Idoménée – Werner Hollweg, Felicity Palmer, Orquetsra da Ópera de Zurich, sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt. Teldec-Warner

=Johann Sebastien Bach- Suites para violoncelo – Anner Bylsma. Sony

=Johann Sebastien Bach – Variações Goldberg – Glenn Gould. Sony

=Chopin – Sonata para piano nº 2 – Prelúdio op.42 – Scherzo op 39 – Nocturno op. 55 nº 2, etc – por Ivo Pogorelich ao piano. DG-Universal

=Richard Wagner – Tristão e Isolda –Margaret Price; René Kollo, Staataskapelle de Dresden, sob a direcção de Clarlos Kleiber.DG-Universal

=Giovanni Battista Pergolesi – Stabat Mater – Sebastien Hennig, René Jacobs, Concerto vocale. Harmonia Mundi

=Hildegard Von Bingen – Ordo Virtutum – Ensemble Sequentia. Deutsche Harmonia Mundi-BMG

=Gioacchino Rossini –A Viagem a Reims – K.Ricciarelli, R. Raimondi, Orquestra de Câmara da Europa, sob a direcção de Cláudio Abbado. DG-Universal

=Jean_Baptiste Lully – Atys – Guy DE Mey, Guillemette Laurens, pelo grupo Les Arts Florissants, sob a direcção de William Christie. Harmonia Mundi

=Steve Reich – Differents Trains – Quatuor Kronos. Nonesuch-Warner


=Domenico Scarlatti – 555 sonatas para cravo – Scott Ross. Erato-Warner ( são 34 cds)

=Hector Berlioz – Sinfonia Fantástica – pela London Classical Players, sob a direcção de Roger Norrington. Virgin Classics-EMI


=Ludwig van Beethoven – Sinfonia nº 9 – sob s direcção de Leonard Bernstein. DG-Universal


=Os 3 temores, Roma 1990. Luciano Pavarotti, José Carreras, Plácido Domingo. Orquestra do Maio musicalflorentino, Orquestra da Ópera de Roma, sob a direcção de Zubin Mehta. Decca-Universal.


=Wolfgang Amadeus Mozart – integral das sonatas para piano – por Paul Badura. Astrée-Naive

=Marin Maria – Peças de viola ( de gamba) - Jordi Savall. Astrée-Naive

=António Vivaldi – As 4 estações – pelo grupo Europa Galante, sob a direcção de Fábio Biondi Opus 111-Naive

=Henryk Gorecki – Sinfonia nº 3, « Sinfonia dos Cantos de Luto» - Dawn Upshaw, pela London Sinfonietta, sob a direcção de David Zinman. Nonesuch-Warner

=Ludwig van Beethoven – As nove sinfonias –pela Orquestra de Câmara da Europa, sob a direcção de Nikolaus Harnoncourt. Teldec-Warner

=Modeste Moussorgski – Boris Godounov – Anatoli Kotcherga, Sergei Larin, Orquestra Filarmónica de Berlim, sob a direcção de Cláudio Abbado. Sony

=Domenico Zipoli – Missa San Ignacio – pelo Ensemble Elyma, sob a direcção de Gabriel Garrido – K617-Harmonia Mundi

=Ligeti – edição integral, volume 1: quartetos e duos – Quarteto Arditti. Sony

=«The Vivaldo Álbum»:trechos de óperas –pela soprano Cecília Barolli. Il Giardino Armonico. Decca-Harmonico


=A Colecção « Referências» da EMI


=A Colecção »Grandes Pianistas do Século XX» (100 cds) da Philips-Universal


=A Colecção «Entartete Musik», da Decca-Universal ( as músicas declaradas pelos nazis)

28.7.05

Abolicionismo penal


A história passada e do presente tem-se encarregado de mostrar que o direito penal não consegue resolver as questões para as quais foi criado, envolvendo-se antes numa espiral que tem contribuído não só para alimentar o círculo vicioso da violência e da delinquência social, como se transformou num puro instrumento do poder arbitrário sem qualquer outra finalidade que não seja a materialização da política conjuntural do poder instituído.
Preocupando-se exclusivamente com o autor do delito, e sua punição, o direito e o actual sistema penal ignora todas as outras pessoas, incluindo a própria vítima, que deveria merecer antes toda a atenção. Apresentando-se como pacificador e preventivo, e um meio para garantir a segurança das pessoas, a verdade é que o direito e o sistema penal modernos não poucas vezes tornaram-se num agente da própria violência e incerteza.
Aliás, um dos argumentos dos defensores do abolicionismo penal é mostrar que nas nossas sociedades já se prescinde do sistema penal tal como está actualmente configurado. Com efeito, um número cada vez maior de pessoas procuram encontrar soluções pacíficas para litígios através de mecanismos de conciliação e de carácter compensatório, sem recorrerem à máquina punitiva do sistema penal do Estado.
Por outro lado, está provado que o direito penal não alcança muitíssimas situações sociais que, de outro modo, seriam penalmente tuteladas: falamos das chamadas «cifras negras» que traduzem numa infinidade de delitos que não entram sequer no sistema penal, ficando os seus intervenientes sem qualquer tutela penal. Este facto mostra, se necessário fosse, a crescente desadequação do tradicional direito penal - especialmente na sua vertente de direito criminal, com o uso e abuso das penas privativas de liberdade - às realidades sociais dos nossos dias.
Por mais reformas que sejam introduzidas, por mais descriminalizações que sejam decididas, o que realmente está em xeque é toda a filosofia que serve de base ao direito penal e ao sistema que ele materializa, tal como o conhecemos desde o século XVIII.
Só a abolição do direito penal, e não simplesmente a simples descriminalização, permitirá às ciências criminais uma abordagem multidisciplinar do fenómeno, assim como a substituição do primado da punição sobre o delinquente pela consequente valorização e intervenção das vítimas e de todo a comunidade no sentido de garantir a justiça compensatória que o delito praticado venha a determinar e exigir.
Pouco a pouco emerge um novo paradigma de justiça social diametralmente diverso daquele que tem existido, e que teve no aparelho repressivo do Estado o seu principal esteio e na pena privativa de liberdade a sua penalidade de eleição, com todo o cortejo de perversões e contra-sensos que tem acompanhado o sistema penitenciário e as prisões em geral.
À medida que o aparelho de Estado vai declinando, depois de ter preenchido as suas funções históricas que lhe foram atribuídas ao longo da modernidade capitalista dos últimos três séculos, assiste-se também ao naufrágio dos fundamentos que originaram o sistema penal estatal, com os seus códigos, as suas perseguições policiais, as suas prisões, e todas as instituições que lhe sobrevieram para o materializar naquilo que hoje todos nós conhecemos.
Não é, por acaso, que os próprios profissionais forenses (magistrados, juízes, advogados e juristas em geral) fogem instintivamente dele, tal é o descrédito em que, já há muito tempo, o sistema jus-criminalista e o seu direito penal caiu.
O paradigma emergente da justiça penal valoriza mais a vítima que o delinquente, a justiça compensatória mais que a ideia de punição em termos de privação da liberdade, a intervenção comunitária e social em vez do sistema punitivo estatal.

A lenta agonia do direito penal e da penologia



O direito penal ou, mais exactamente, aquilo que se convencionou chamar direito criminal está em franco descrédito. O facto não é surpreendente, pois do que se trata ainda é de um vestígio residual de épocas passadas, uma disciplina indelevelmente ligada ao tempo histórico pretérito. Os criminalistas insistem, no entanto, em manter os seus ilógicos conceitos, no meio de todos os estertores a que vimos assistindo que lhe vão retirando toda e qualquer credibilidade e, apesar da sua morte anunciada, teimam em travar o passo, e impedem, por todas as formas, as mais insidiosas, o avanço dos criminólogos, e o seu enorme e continuado labor, que pretendem demonstrar os seus assertos e investigar as causas da delinquência por via da criminogenia.

Para o desenvolvimento da criminologia não faltam, por conseguinte, resistências e obstáculos, tal como se passou, de resto, com Pasteur, Freud e muitos mais cientistas e investigadores. A Pasteur foi-se ao ponto de lhe ser recusado o título de médico, não obstante as suas descobertas - contra os santuários intocáveis erigidos a favor das verdades absolutas – terem sido determinantes para a evolução da Humanidade. Contra a ciência oficial também Freud se levantou ao demonstrar que «a histeria não era uma doença exclusiva da mulher, mas que também existe nos homens», conclusão que não foi sequer tolerada pelos seus opositores, firmes e convencidos como estavam, que a histeria era, única e exclusivamente, uma enfermidade do sexo feminino.

Face aos desenvolvimentos da genética, neurobiologia, neurofisiologia, sociologia, antropologia e tantas outras disciplinas que têm materializado importantes descobertas para entender o comportamento humano, o direito penal mostra-se cada vez mais anacrónico e passadista. Na realidade, ao passo que o direito criminal é uma disciplina normativa, fria, dogmática, já a criminologia, por sua vez, se mostra como uma área de saber relativamente sistematizada, explicativa e causal. A diferença que vai entre a ficção abstracta e a dogmática da penologia até ao território objectivo e experimental da criminologia é bem nítida e esclarecedora.

O direito penal para funcionar requer certos pressupostos como, por exemplo, a livre determinação do sujeito. A criminologia, pelo contrário, procura os factos e as circunstâncias concretas, tangíveis, que constituam a conexão entre o efeito – o delito – e as causas que o gerou. A criminologia não só se interroga sobre «o que é o delito», mas investiga ainda as próprias raízes da questão «porque é que, certo facto, é um delito» . A criminologia entranha-se nas razões mais profundas de natureza biológica, psicológica e social que levaram e se reflectiram na conduta delinquente.

O direito criminal começou há muito a perder qualquer credibilidade, pois deixou de ser o depositário de qualquer verdade incontroversa, passando a exibir a sua verdadeira natureza como simples instrumento vingativo de uma classe, cujos interesses protege, através de normas rígidas e das suas consequentes perseguições. Para o seu descrédito não foi alheio também o facto de se abster em conhecer o próprio ser humano, na sua complexidade individual e social, para o colocar antes num terreno etéreo do bem e do mal, isto é, no plano da pura moral, quando não está mesmo ao serviço dos próprios interesses conjunturais do Estado e dos governos e respectivas políticas criminais.

Tanto na substância como no plano procedimental as questões penais deveriam estar entregues a cientistas das ciências humanas ( psiquiatria, psicologia, sociologia, etc, etc) e não a simples juristas que pouco entendem para além dos preceitos frios e inertes, elaborados por legisladores, para valerem com regra geral.

Já se preconizou que a chamada justiça penal fosse substituída pela «clínica penal», e que a pena desse lugar a tratamentos adequados à conduta e às circunstâncias do delinquente. No dia em que o direito penal for substituído pelas várias ciências criminais que estudam o fenómeno criminal desde várias perspectivas, nesse dia começará o crepúsculo dos códigos penais, que deixarão de ser penais para se transformarem em terapêutica para condutas antisociais, antes mesmo que se produza o delito propriamente dito. Bem ao contrário do direito penal, fundado na arbitrariedade da política penal do Estado, a criminologia tende e assume-se cada vez mais como uma ciência que conhece as causas e o desencadear de todo o processo causal que leva à delinquência.

Mais a mais, a criminologia não vê o delinquente como alguém desprezível. Vê-o antes como um indivíduo afectado por diversos factores que urge conhecer e reparar, e que justifica a sua intervenção.

A enorme quantidade de falhanços e erros da máquina jurídico-penal, que provocaram a morte e a punição de tantos inocentes, justifica em absoluto toda uma nova abordagem com recurso à multidisciplinaridade das ciências criminais. Recordemos os casos dos fuzilados em Liège, Bélgica, de 1891 a 1892; do trabalhador mexicano Emiliano Benavides, electrocutado em Huntsville em Agosto de 1942; de Hauptmann a quem acusaram do assassinato do jovem Lindbergh; dos dirigentes operários da greve de Chicago em Maio de 1886 que pagaram com as suas vidas a provocação policial que lançou uma bomba sobre a multidão; a Joseph Majczek cuja inocência ficou provada quando o acusado estava em vias de ser passado pelas armas; os casos de Tom Mconey, Sacco e Vanzetti, de Stielow, dos negros de Scottsboro; em França, os casos de Figaud; na Inglaterra, os de Robert Drake, de Violeta van der Elst, e Tomthy Evan (em 955); na Itália, o caso de Pacuale Ferrini; etc, etc. Todos eles põem de manifesto a inoperância do direito penal, que mais parece um ordenamento fossilizado, para não dizer instrumentalizado, e que está longe de se mostrar apropriado para prevenir e punir a delinquência.
Diz o axioma jurídico romano que as leis desajustadas às necessidades da comunidade são ela próprias que motivam a delinquência («leges ineptas criminum causa») e todos os precedentes, tal como os acontecimentos mais recentes, só confirmam essa grande verdade vinda do fundo dos séculos.

( texto elaborado a partir de um artigo publicado no jornal Tierra y Libertad, de Diciembre de 1978)

Anarquia e Direito

Texto de Alfredo Gaspar sobre a teoria anarquista do direito, publicado na revista Ideia nº42/43 de Novembro de 1986

(Alfredo Gaspar foi um ilustre jurista e ex-candidato a Bastonário da Ordem dos Advogados; faleceu há cerca de cinco anos atrás)


1.A questão que se põe é a de saber se a anarquia e o direito são compatíveis, e, no caso afirmativo, em que termos.
Tais valores culturais excluir-se-iam, logicamente, pela aplicação do princípio da identidade ou da não-contradição: seria impossível, ao mesmo tempo, viver sem regras (anarquia) e com regras (direito). Mas não é assim; as relações entre a ideia anarquista e a realidade normativa – que, de resto, têm vindo a ser reabilitadas nos últimos anos - permitem esboçar uma concepção libertária do direito. É o que se vai tentar mostrar nas linhas que seguem.

2. No plano das prevenções metodológicas, a única que se mostra indispensável é a que obriga a delimitar previamente os conceitos em apreço, sabido como é que o anarquismo e o direito nem sempre são objecto do mesmo tratamento – e, em particular, quando se trata de apurar a extensão de cada um deles. Como categorias sociais que são, porém, correspondem-lhes pelo menos estas características:
a) a anarquia ( ou o anarquismo) é o tipo de sociedade que assenta na relacionação livre, espontânea e solidária entre os indivíduos que a compõem, os quais se associam entre si com independência e autonomia, prescindindo do recurso á autoridade e ao poder que resultam da distinção governantes/governados
b) o direito é o sistema ou conjunto organizado de normas, ou regras de conduta, que regulam as relações humanas em sociedade (sentido objectivo), compreendendo ainda as situações jurídicas particulares, ou concretas, de cada indivíduo ( sentido subjectivo).
Não são, evidentemente, noções exaustivas, nem é pacífica a aceitação delas; contudo, e sem prejuízo do seu ulterior esclarecimento, servem como hipóteses de trabalho – mais a mais neste apontamento, que não passa de uma modesta reflexão.

3. Duas realidades, de facto, são incontroversas: a de que os indivíduos vivem em sociedade e a de que as suas condutas se ordenam com um dado sentido – no caso da anarquia, para a satisfação das necessidades e das aspirações próprias de cada indivíduo.
Ora, a coordenação de tais condutas – sem a qual as liberdade individuais se sacrificariam umas às outras – vem a ser precisamente o ojecto do direito. Logo, a anarquia não é incompatível com o direito, e nem seuqer pode dispensá-lo, para não dizer até que fica reforçada com ele: com o direito libertário, como adiante se dirá melhor.

4. Mas qual é o direito que convém á anarquia?
Faz sentido a pergunta, se se atentar nos processos de formação e de revelação do direito, ou fontes do direito, como também se lhes chama.
A primeira dessas fontes - a mais comum na actualidade – é a lei escrita, quer dizer, as disposições genéricas e imperativas emanadas dos órgãos estaduais com competência para legislar. Tais leis, todavia, a anarquia não as admite, pela mesma razão que condena a existência do estado: são manifestações de autoridade e de poder, que repugnam absolutamente ao livre e harmonioso desenvolvimento das relações individuais. É, no fundo, a vontade de uma ficção jurídica – o Estado – a sobrepôr-se à vontade de cada indivíduo; e ainda que se faça apelo á soberania do povo – outra ficção -, para o anarquismo a soberania reside sempre no indivíduo. Em conclusão: é da natureza da anarquia o repúdio da lei escrita ( no sentido de lei definida autoritariamente) como fonte do direito; e trata-se mesmo de uma inferência necessária, porque tem como premissa uma organização política que não se ajusta ao antiestatismo que identifica a anarquia.

5. Os únicos princípios normativos que se impõem aos anarquistas sem o concurso da vontade destes são os que decorrem, por assim dizer, da ordem natural das coisas. Neste sentido, parece legítimo falar do direito natural, ou da lei natural, como fonte do direito libertário. Regras como a da legítima defesa ou a de que os contratos devem ser cumpridos, só é possível justificar a indiscutida validade delas pela obediência a uma ordem de necessidade: sem a observância de tais princípios, dissolver-se-iam os fundamentos da vida em sociedade.
Dir-se-á que tais regras de direito natural estão reduzidas a escrito, e que, ao menos em parte, o direito positivo não seria assim tão contestável. Simplesmente, a essência delas está na própria natureza das coisas, e não na circunstância de o legislador as ter transformado em direito positivo, o que significa que valeriam sempre, como valem ainda que não fossem reduzidas a escrito.

6. É certo que suscita algumas dificuldades o problema de saber quais as normas que, na anarquia, e pela natureza mesma dessas normas e da própria anarquia, a vontade individual não deve contrariar. Se se tratar, todavia, de princípios necessários – isto é, impostos pela natureza das coisas, razoáveis (quer dizer, conformes à razão) e, por fim, especificamente libertários, ou seja, inspirados na liberdade individual e animados do espírito de solidariedade anarquista -, eles afirmar-se-ão naturalmente, sem ofensa da liberdade dos indivíduos, cuja existência e salvaguarda se destinam justamente a garantir.

7. Fora desses princípios – os quais, como se disse, decorrem da própria natureza da vida em sociedade -, os anarquistas só aceitam as regras de conduta em cuja elaboração tenham participado, e que sejam, assim, imputáveis à vontade deles. Apenas satisfazem aos anarquistas, portanto, aquelas das normas de que sejam eles próprios os autores materiais –e em termos de participação directa, individual, sem recursos a mandatos de representação que não sejam imperativos. Compreende-se porquê: autorizar um indivíduo que outro indivíduo tome decisões e seu lugar ( a chamada delegação) é uma acto ou figura que se compatibiliza mal com o espírito da anarquia, para a qual a vontade e a liberdade individuais são inalienáveis. Ou, se se quiser, e por outras palavras: o único direito que pode ser cumprido na anarquia é aquele que é fixado pelos próprios indivíduos – quando muito, por representantes investidos em mandato imperativo ( aquele em que o mandatário se limita a transmitir a vontade do mandante, sem tomar quaisquer decisões por ele) -, relacionando-se entre si com liberdade, com autonomia e com independência.

8.Preenche esses requisitos a prática ou actividade dos anarquistas, tacitamente concertada, e que se traduz numa série de actos ou omissões repetidos e uniformes com que são reguladas certas situações e relações jurídicas - ou o chamado costume (extensivo aos usos e às praxes, porventura a eventuais ritos9, desde que a prática dele seja acompanhada da convicção da sua obrigatoriedade.
A importância do costume acha-se hoje muito diminuída, masm mesmo nos Estados de mais forte tradição legislativa (que o subordinam inteiramente à lei), ele nunca deixa de se manifestar, e muitas vezes contra a própria lei (por exemplo, a incapacidade de menores para contratar não impede a sua intervenção em muitos actos do comércio jurídico).
Na anarquia, porém, o costume é quase a fonte exclusiva do direito ( em sentido objectivo), porque resulta de um consenso generalizado – há-de corresponder, como se disse, a uma prática habitual e constante -, quer quanto à coerência da regra, quer quanto à consciência de que é obrigatória (por ser essa a motivação psicológica de cada um).

9. Chegados aqui, coloca-se o problema de discutir a eventual utilidade da codificação das normas consuetudinárias –isto é, saber se vale a pena reduzir o costume libertário a escrito, transformando-o em código. A resposta deve ser negativa, pela tendência com que as práticas costumeiras se cristalizariam – precisamente o que há de mais contrário ao espírito do direito anarquista, sempre vivo e em contínua evolução, por acção (ou omissão) dos comportamentos individuais que o vão modelando ao ritmo dos interesses e das necessidades de que se trata.
Em qualquer caso, e se se assentasse na oportunidade ou na conveniência da elaboração de um tal código, ele teria o mesmo valor que as gramáticas tem quanto às regras do discurso escrito e falado: também aqui, as transgressões às normas gramaticais não impedem a comunicação e o entendimento entre o emissor e o receptor, sendo certo que esses comportamentos desviantes é que vão sendo progressivamente consagrados pelos filólogos como novas regras gramaticais.
Na anarquia, e se houvesse um código de costumes, a solução seria a mesma.

10. Passando ao direito em sentido subjectivo, aquele que definiria, no plano das relações jurídicas (bilaterais ou multilaterais), a situação concreta de cada anarquista, o seu instrumento jurídico é, por excelência, o mútuo acordo entre os indivíduos ( ou as associações de indivíduos) que pretendem disciplinar entre si os respectivos interesses, ou seja, o contrato, como é mais conhecido.
Se as partes forem só os indivíduos, celebrar-se-ão contratos individuais; se as partes forem associações de indivíduos (uniões, federações ou confederações), celebrar-se-ão contratos colectivos – e, em qualquer doas casos, sempre com os mesmos objectivos: a prossecução de fins diversos, ou até mesmo opostos, através de um regulamentação unitária e harmónica. O contrato vem a ser, assim, o título jurídico privilegiado da relacionação dos anarquistas entre si: começarão por pôr em comum os meios que dispõem, concorrendo com os seus recursos para alcançarem um dado objectivo – e assim, celebrarão um contrato de sociedade ( ou de associação); depois, acordarão nos diversos contratos que as situações da vida exigirem(por exemplo, troca, prestação de serviços, empréstimos, doação, etc).

11. Importará ponderar, por fim, dada a sua especificidade, o tratamento jurídico dos litígios – tão ligados à condição humana que a anarquia, como se compreenderá, nunca conseguirá evitá-los por menor (ou menos retumbante) que seja a frequência deles.
Tratando-se de um ramo do direito em sentido objectivo (direito processual), será o costume libertário a definir as soluções de composição amigável ou contenciosa das situações de conflito. O processo que melhor se desenha, porém, a esse respeito – e que, aliás, já tem sido ensaiado -, é o da chamada arbitragem, que consiste em serem as partes a designarem os próprios árbitros, cuja decisão se comprometem a aceitar; em vez de magistrados ou juízes impostos, portanto, intervirão árbitros escolhidos pelas próprias partes, numa orientação que se harmonizará perfeitamente com o espírito de anarquia.


12. É altura de extrair algumas conclusões do quadro jurídico-libertário que antecede - esboçado, propositadamente, sem o primor estilístico da especulação política, nem a erudição doutrinária da investigação jurídica.
Não se tratou, pois, nem de obra de propaganda, nem de artigo de academia; a intenção foi outra: procuramos mostrar, com o rigor técnico-científico possível, estas duas coisas simples. Em primeiro lugar, que a anarquia é efectivamente, no elenco das modalidades de vida em sociedade, a única solução para o triunfo da Liberdade, e, portanto, para a realização integral das aspirações mais íntimas e mais generosas de cada indivíduo. Depois, que ela é tão completa, tão perfeita, que se mostra até apta ou idónea para chamar a si própria, sem recurso a elementos autoritários, a solução do problema delicado da elaboração e da aplicação do direito, tal como este decorre da vida em sociedade – e em termos tais que tem cabimento falar numa teoria anarquista do direito.

Alfredo Gaspar
In A Ideia nº 42/43, de Novembro de 1986

27.7.05

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Procuramos pessoas que ponham a ética por cima dos lucros, e interessadas em formas de vida alternativas à pura acumulação egoísta de capital.
Em vez de fazer dinheiro, de comprar e vender, queremos antes abrir lojas livres (free shops) e centros sociais onde se possam desenvolver livremente trabalhos sociais comunitários.
Tudo isto numa base de completo voluntarismo e apoio mútuo, de depreciação acentuada da competição ( e da sua sósia, a competitividade), desprezo pela aquisição e posse compulsiva de mercadorias e afins.
Absterem-se quem não estiver depurado da propaganda publi-mediática nem imunizado à ideologia insidiosa do produtivismo da teoria económica dominante. Ressabiados e agressivos, absterem-se também.

Transformar a sociedade passa por mudar os nossos modos de vida.

Esperamos por ti, estejas integrado ou marginalizado pelo sistema vigente.


Contacto:
PimentaNegra@hotmail.com

Vocabulário sobre estilos e movimentos musicais (alguns termos mais vulgares)

(Nota: a lista de vocábulos não é - como é lógico - exaustiva e não é difícil reconhecer lacunas e omissões, e bastantes insuficiências nas caracterizações. Carece ainda de alguns desenvolvimentos face à rápida evolução e multiplicidade dos diversos estilos e correntes de música que se praticam actualmente)

A Capella – canto sem acompanhamento musical

Acid – estilo techno e de house inventado no fim dos anos 60 que faz alusão aos efeitos do LSD. A sua particularidade são as frequências superagudas e sibilantes. Os pioneiros foram o DJ Pierre e os Hardfloor (em Jack in the box)

Acid-rock – estilo musical surgido nos anos 60 inspirado pelas drogas. O ambiente é planante e psicadélico. Os pais do movimento são os Grateful Dead e os Jefferson Airplane.

After – quando a maior parte vai dormir para casa, outros vão para outro local para continuar a dançar. A partir das 5 da manhã, a noite torna-se assim «after»

Ambient – toadas de sintetizadoras vaporosas e ambientes etéreos predominam sobre os ritmos. Escutar os albums The Orb’s Adventure’s Beyond the Ultraworld, dos The Orb.

Atmo (metal-atmo) – alguma doçura no mundo do metal, com a presença de teclados, coros femininos ou samplers, o que permite criar todo um outro ambiente. Trata-se pois de uma música metálica mais elaborada

Babilónia – para os rastas designa o Mal, o mundo corrompido e a sociedade de consumo.

Backstage – os bastidores de uma sala de concerto

Bastard Pop –música composta com temas musicais já existentes. O género foi popularizado por Danger Mouse que misturou o Black Album de Jay-Z com o White Album dos Beatles. O seu Grey Album acabou por ter milhões de exemplares distribuídos pela Internet.

Battle – são competições entre rappers. Ver o filme 8 Mile de Eminem

Beat – é o tempo marcado pela grande batida ( o kick). Por outras palavras, é a única coisa que se ouve no exterior de uma discoteca

Before – antes de sair para dançar pode-se começar por um «before», um encontro num outro local (bar, pub). Aqui a música é mais suave para permitir a conversa

Big beat – mistura explosiva de energia do punk-rock e de música electrónica, que surge nos meados dos anos 90 por intermédio de álbuns de grupos como os Prodigy, e dos Chemical Brothers ( ouvir Exit Panet Dust)

Big up – a saudação na versão reggae

Black Metal – riffs de guitarras ultra-vidradas, bateria acelerada ao máximo, vocalizações com a garganta aberta, o estilo Black Metal expõe uma imagética satânica que é apoiado por um visual agressivo e maquilhagens cadavéricas. Grupos como os Mayhem e os Emperor são os representantes do estilo.


Bootleg – álbum pirata, gravado de um concerto com a ajuda de um simples gravador. Normalmente muito procurados pelos fãs de uma banda ou músico.

BPM – batimentos por minuto. Número de pulsações num minuto num tema de música techno. Dá a impressão de ritmo.


Breakbeat – criado na Inglaterra no fim dos anos 80 é uma versão acelerada do hip hop

Breakdance – é o estilo de dança do hip hop. Nasceu nos Estados Unidos e é composta de figuras acrobáticas encadeadas umas nas outras. Os dançarinos evoluem muito ao nível do solo e ao ritmo dos temas musicais.


Brit Pop – em meados dos anos 90 as estrela pop eram de origem inglesa: Blur, Oásis, Pulp, Supergrass. Todos eles criaram um estilo. Com um acento irónico e com líderes algo arrogantes. Música audível e fresca baseados em acordes de guitarra de estilo clássico


Cena – diz-se de um conjunto de artista e músicos de determinada área ou corrente artístico-musical. Exemplo: a cena hip-hop.

Chill-Out – Local de distensão e relaxamento ao lado da festa propriamente dita., onde se pode escutar músicas techno mais calmas. Diz-se também do estilo de música que aí se ouve. De forma mais ampla usa-se este termo para designar as músicas electrónicas planantes.


Clash
– é uma espécie de partida entre vários DJ ou sound-systems, que se desenrola em várias sessões

Club – Nome dado às discotecas e danceterias

Concept-album – Um disco cujas músicas tratam todos do mesmo tema


Corte (coupure,etc) – partes da música sem canto, ideal para os DJs porque vão poder misturá-las com excertos de outras músicas a fim de criarem novas músicas.

Cover – retoma de uma canção ou música por outro grupo, geralmente com outro ambiente musical


Dance – Tendência comercial da techno e da música electrónica, em versão dulcificada para as rádios e discotecas

Dancefloor – pista de dança

Dancehall – é o local ( ao ar livre) onde se ouve os sound-systems para fazer dançar o auditório. Por extensão, designa também o estilo reggae nas festas

Dark Metal – Menos brutal que o Black Metak, o Dark Metal distingue-se por uma faceta mais heavy e ritmos menos caóticos.


Death Metal – Guitarras (rápidas) com acordes graves, baterista que toca como se trabalhasse com um picareta eléctrica, e cantores que se parecem como zombies caracterizam o estilo agressivo do Death Metal. Ouvir, por exemplo, Butchered at Birth, dos Cannibal Corpse

Deep
– estilo da música house que apareceu em Nova Iorque nos anos 90, e que se caracteriza pela presença de toadas de teclados, piano.Os mestres do género são Ron Trent, Kenny Dixon e Larry Heard

Disco – abreviatura de discoteca. Aparece nos anos 70 um estilo que se inspira no funk e no soul, com uma batida a servir de apoio. Os Bee Gees foram os seus representantes máximos. O filme «A febre de Sábado à noite» mostra o que houve de melhor e o que de mais kitsch teve este movimento.


DJ – Coloca e ordena os discos, põe-nos a tocar, podendo ainda misturá-los a fim de produzir novos sons.

Doom Metal – representa o lado depressivo do universo metal. Muito lento, pesado e, por vezes, condimentado, com teclas, o doom transpira tristeza. Os mestres do género são os Anátema (em Eternity) e os My Dying Bride ( em The Angel and the Dark River)


Dreadlocks – é o penteado típico dos adeptos da cultura jamaicana, feito de entrançados no cabelo.

Drum’n bass – feito de baterias sincopadas, linhas de baixo envolventes e ruidosos, o drum’n bass é uma música planante. Ouvir, por exemplo, os 4hero e os Goldie


Dub – é o reggae em versão hipnótica e planante. Em torno da bateria coabitam um baixo ultra-grave, melodias de guitarras e teclados com efeitos sonoros. Exemplo: High Tone

Dubplate – disco gravado com um único exemplar e destinado para uma só sound-system


East Coast – é um estilo de rap que surgiu na costa leste dos Estados Unidos, e que se opõe ao estilo da costa oeste. O «East Coast» caracteriza-se por sonoridades mais agressivas, líricas socialmente mais comprometidas, tornando-se menos dançante e com acesso mais difícil. Representa o rap maduro. Ouvir, por exemplo, os álbuns de Wu-Tang Clan.


Easy Listening – literalmente, «escuta fácil». Mambos, músicas voluptuosas, etc. Versão moderna para música de elevador. Tom Jones é o paladino do género.

EBM – iniciais de «electronic body music». Uma mistura de sons indus e ritmos techno. Nos anos 80 desenvolveu-se nos clubes e discotecas graças ao grupo Front 242

Electro – movimento precursor da techno nos anos 70. Mexendo em caixas de som ( sintetizadores e máquinas de ritmos) os alemães Kraftwerk marcaram toda uma época.

Electrónica – modalidade de música eléctrica de carácter vanguardista, em que as melodias primam sobre a rítmica. Espécie de electrónica intelectual, cujos espécimes são Autechre e Aphex Twin (para escutar em casa)

Electro pop – a Pop com sonoridades eléctricas. Segue um formato de canção com refrão, mas em que as máquinas de som substituem o trio guitarra-baixo-bateria.

Fast Style – é o efeito rápido do toaster. Trata-se de uma técnica que data dos fins dos anos 80 e foi inventado por DJs britânicos de origem jamaicana. A referência é Dodd e o seu Sir Coxsone

Featuring (Feat) – versão moderna dos duos. Termo usado para introduzir um músico convidado a meio de um tema musical, cuja intervenção pode ter durações mais ou menos diferenciada .

Flow – define o estilo de um rapper, a sua maneira de colocar a voz sobre a música, assim com as suas entoações de voz.

Flyer – folhetos ou cartazes com design próprio que anuncia uma festa

Folk – Guitarra acústica e palavras cuidadas, por vezes comprometidas socialmente. Nos anos 60 Bob Dylan foi o seu representante mais conhecido. Hoje, Ben Harper é a figura de proa.

Free-party – festa techno que se realiza fora das discotecas e locais habituais, normalmente em locais insólitos, como fábricas, castelos, terrenos rurais, etc. É normalmente gratuita e clandestina.

Free-style – é uma espécie de improvisação rapper sobreposta à instrumentação. Nas «battles» cada rapper improvisa um free-style.

French touch – por volta de 1997 a house e a música elctrónica marcam pontos em França com grupos como os Air, Draft Punk ( cd Homework), Superman Lovers, etc

Fusion – casamento entre os ritmos groove do funk ou do rap e a potência das guitarras metal. A mistura mais conhecida foi realizada pelos Rage Against The Machine e os Infectious Groove, que são os pioneiros do estilo

Ganja – é o nome jamaicano dado à cannabis.

Gangsta – belos carros, jóias tilintantes, dinheiro fácil e mulheres provocantes, o gangsta retrata a vida dos gangs mafiosos de Los Angeles. Ouvir, por exemplo, 2Pac.

Garage – é a house na versão gospel e soul. Mais cool que a sua variante puramente rítmica, ela valoriza as vozes das divas negras da soul. Exemplos: David Morales e Paul Johnson

Garage Rock – termo ligado ao punk. Anteriormente, nos anos 60, tinha por objectivo categorizar os grupos de jovens irrequietos: era o local onde os jovens se reuniam para ensaiarem as músicas dos Stones. Hoje, tornou-se um estilo à parte. Dele fazem parte grupos com tendências minimalistas como os White Stripes.

Gimmick – pequena melodia que se fixa na memória e que se arrisca por acabar de ser entediante.

Ghetto –para o reggae, o raggamuffin ou o ska, este termo designa os bairros pobres de Kingston, a capital da Jamaica. Foi no ghetto que nasceu a música jamaicana.

Glam Rock - sinónimo de «glitter rock»(rock brilhante). Mais que um som, traduz uma atitude. Nascido na Inglaterra dos anos 70, este movimento é conhecido fundamentalmente pelo seu glamour. Os seus líderes assumem uma faceta andrógina com roupas e maquilhagem extravagantes. David Bowie popularizou o estilo, que hoje é assumidos pelos The Darkness


Goa – sob a influência da corrente new age de Goa, cidade na costa sul da Índia, este termo designa um estilo de música techno ultra-psicadélico, rítmico e planante. Pode-se dizer que é a tendência hippie da música electrónica. Procurar, por exemplo, o álbum LSD dos Hallucinogen, a discografia dos Flying Rhino, e a dos Total Eclipse

Gore – Representa o uso e abuso pelos grupos de Death Metal da imagética de filmes de terror e dos respectivos efeitos sanguinolentos. Exemplo: os Mortician e o seu Darkest Day of Horror

Grindcore – está na fronteira do mais brutal Death Metak com o mais selvagem Punk. É barulho puro e duro. É o estilo mais extremo do metal. Quando é politizado, defende os valores do Punk (isto é, anticapitalista…). Está também associado a uma imagética Gore. Ouvir, por exemplo, o 38 Counts of Batery dos Pig Destroyer

Groove – tema envolvente e caloroso

Guitar hero – guitarrista prodígio como foi o caso de Jimi Hendrix

Grunge – género efémero com um extraordinário impacte nos inícios dos anos 90. Melodias simples, textos sombrios, algo a meio caminho entre o heavy metal e o punk. O ícone do movimento foi Kurt Cobain, líder dos Nirvana. Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains são outros grupos do mesmo estilo.

Indie – rock independente. Trata-se de grupos que não são editados pelas grandes editoras e normalmente com um discurso anticomercial. Guitarras e melodias pop minimalistas. Exemplo deste género são os Pixies


Hardcore (na techno) – caracteriza a artilharia pesada da techno com agressivos kicks, velocidade alucinante (150 bpms ou mais) e pouco ou nenhuma melodia.É o estilo preferido por frequentadores de raves. Escutar as produções francesas da editora Epileptik e do grupo Micropoint.

Hardcore (no rap)– estilo de rap duro com sonoridades abrasivas e textos provocantes e violentos. A música é muito simples e resume-se frequentemente ao beat, por vezes com melodias com sons glaucos e repetitivos. Exemplos são 36 Chambers, de Wu-Tang Clan, e Suprême, dos NTM


HardCore (HXC) – tal como o metal e o punk, o HardCore é um derivado do rock’n roll original e possui as suas próprias ramificações. Distinguem-se normalmente 3 tendências:
-Oldschool – musicalmente o HXC Oldschool está próximo do Punk, o que o leva a aumentar o tempo. Ouvir, por exemplo, Off the Beaten Tracks, dos Right for Life
-NYC (também designado por «hardcore novaiorquino») – tem origem em New York, e é um estilo que mistura ritmos pesados, dançantes e tempos rápidos do Punk. Tornou-se um género à parte. Exemplo: 25 Ta Life.
-Newschool – esta nova escola incorpora no hardcore elementos do metal, como ritmos mais sacados, mais rápidos e guitarras mais intensas, até atingir uma resultado brutal. Ouvir, por exemplo, Eyesore, dos Nostromo.

Hardhouse – compromisso ideal entre o groove da house e os beats percutantes da techno, que surgiu em Chicago. Pioneiros do estilo foram DJ Rush e DJ Sneak


Hard Rock – é o pai do heavy metal e avó do actual metal. Ao ouvi-lo abanamos a cabeça e mexemos os pés. Ouvir, por exemplo, Highway to Tell, dos AC-DC, ou, então, os Motorhead.

Harshnoise – algo entre a música electrónica e o barulho. As toadas de teclados são substituída por salvas de sons distorcidos e saturados ao extremo. Estrela incontestada do género é o japonês Merzbow.

Headbanging – é a gestualidade dos metálicos: abanar a cabeça ao ritmo da música, e deixar cair os cabelos e estender o braço sempre produz os seus efeitos.

Heavy Metal – é o primeiro derivado do Hard-rock que gerou as actuais tendências do Metal. Os gritos das vozes são acompanhados de guitarras, que alternam com líricas insinuosas e riffs de aço. Ouvir, por exemplo, os Iron Maiden, em A real live, ou então em Fear of the Dark.


Hip Hop – é o nome do movimento que abrange 3 facetas: a dança como o breakdance; a música com o rap; e o visual com os graffs.

House – nasceu em Chicago nos anos 80, e mistura os grooves do funk, do jazz e da soul aos beats da techno para produzir um efeito dançante. Exemplos. Trax, Guidance, Strictly Rythm

Indus ( no metal)– é o metal estilo marcial, misturado com samplers de sonoridades tecnoides. O resultado soa a muito gelado. Ouvir, por exemplo, os álbuns do Ministry, ou o robótico Sehnsucht, dos Rammstein.

Indus – literalmente música industrial, de onde resulta o seu nome para designar os sons produzidos por objectos do quotidiano, produzidos pela indústria. Fria, repetitiva, com sonoridades metálicas. Grupos como Throbbing Gristle e Einsturzende Neubauten são as suas referências.

Jam sessions ( Boeuf, em francês) – momento ou série de momentos de improvisação entre os músicos

J-Pop – Pop japonês, cuja estrela é Hamasaki Ayumi

Jungle – resultante do reggae, este estilo compõe-se de baterias com sons cruzados com baixos. Nas partes cantadas sente-se a inspiração do ragga. Exemplos: Roni Size, 4hero, Bad Company


Label – editora de discos. Os entendidos prestam mais atenção às saídas de discos de uma label do que a um grupo particular. É que as labels especializaram-se normalmente num determinados estilo de música.

Lyrics – as letras das músicas

Live act – diz-se para um grupo que ele se produz em directo.

Lo-Fi – abreviatura de «low-fidelity» em oposição a «high-fidelity». O rock «lo-fi» é caracterizado por ser gravado com material rudimentar. Exemplos são Beck, Pavement, ou Franz Ferdinand

Mainstream (grande público) – expressão com carácter pejorativo, uma vez que é sinónimo de algo que foi realizado para agradar ao maior número de pessoas

Major – grande editora que possui várias labels. A nível mundial existem 5 majors: Universal Music, Sony Music, EMI, Warner Music, BMG

MC – é a abreviatura para «mestre de cerimónias», isto é, aquele que pega no microfone e que dá o tom ao ambiente.

Metal – herdeiro do hard-rock dos anos 70 e princípios dos 80. Presença maciça de guitarras, riffs incisivos e potente bateria.

Metal gótico – pegai na banda sonora de Drácula, acrescentai uma dose maciça de guitarras, uma pincelada de vozes meladas e uma espreitadela de melancolia, e sirvam tudo isso num ambiente glauco. Consumir com moderação. Exemplo: os Theater of Tragedy, em Velvet Darkness They fear

Mic – é o microfone

Mix – Mistura de sons saídos de vários discos. O seu oposto é o live act.

Mixtape – é um demonstração de rap autoproduzida numa cassete. Hoje o suporte mais utilizado é o cd.

Natty Dread – é um rasta que anda com dreadlocks

NeoMetal ( ou Rap Metal) – é o último rebento da família metálica. Mistura teclados, samplers, ritmos hip-hop, gritos de vozes ou de rap e guitarras omnipresentes. Exemplos: os Linkin Park, os Korn.


New Wave – Literalmente significa «nova vaga». Trata-se de um movimento dos anos 80 que, com uma música pop, incorpora sintetizadores. Depeche Mode, Duran Duran, Talk talk, The Cure são os grupos de culto deste movimento.

Noisy pop – uma música pop algo ruidosa, com distorsões sonoras e guitarras abrasivas. Exemplos: Sonic Youth, Dinosaur Jr

Pop – termo anglo-saxónico que significa «variedades» ou «música para grande público». Prima pela melodia, com refrães envolventes.

Pop-rock – designa o rock comercial, mais ligeiro e frívolo que o rock duro..

Posse ( crew) – grupo de amigos que se reúnem para rappar, fazer graffs ou dançar hip hop.


Power pop – estilo de músico tocado intensamente com guitarras, a pop torna-se power. Trata-se de uma especialidade americana. Nada Surf é um seu representante.

Progressif – estilo com solos de guitarras, teclados em longas toadas. Exemplo: Dream Theater, ou Symphony X.

Punk – é a segunda grande corrente saída do rock’n roll. Nasceu nos anos 70 com os Sex Pistols. Guitarras a fundo, bateria intensa e textos contestatários. Perdura hoje com as suas próprias ramificações. Ouvir os Never Mind the Bollocks, dos Sex Pistols; os Beat the Bastards, dos The Exploited; e D.R.I.P. dos Mass Murderers.

Raggamuffin – estilo de reggae com sonoridades electrónicas, descendente directo do roots original. Beats eléctricos, teclados e toast são as suas principais características.


Rap – é a pedra angular da cultura rap. Nasce no início dos anos 80 nos bairros pobres dos Estados Unidos. O Rap e reconhecido pelos seus beats sincopados, os seus baixos muito groovy, assim como o seu fraseado entoado. Hoje em dia, este estilo musical é geralmente cruzado com arranjos mais ou menos sofisticados que vão buscar sons ao universo da música electrónica, da pop ou do rock.

Rasta
– adepto do rastafarianismo, movimento religioso surgido na Jamaica nos anos 30, cujo nome deriva de Ras Tafari, título dado ao imperador a Etiópia, Hailé Sélassié. O rastafarianismo defende, entre outras coisas, o regressos a Africa dos descendentes dos escravos


Rave – tal como as free-parties, são festas techno que se realizam normalmente em squats, fábricas abandonadas, terrenos. Mas estas são já a pagar.

Reggae – música que nasceu na Jamaica por volta de 1968, das cinzas do rocksteady, do qual diminui a velocidade. Par feito entre o baixo e a bateria não muito agitado, com guitarra a contratempo e toast mais cool são as suas principais características. A figura emblemática é Bob Marley.


Remix – diz-se de um excerto musical retrabalhado por outro músico que não o compositor original

Resident
– diz-se de uum DJ que regularmente anima as noites num determinado local (discoteca, danceteria,etc)

Riddim
– o mesmo que ritmo jamaicano. Base do reggae, do ragga e do ska. É o esqueleto-base do tema musical baseado no par baixo-bateria.

Riff
– elementos musical e rítmico repetido várias vezes num excerto musical. Fala-se frequentemente dos riffs de guitarra.

R & B – nasceu nos anos 40 sob a forma de uma mistura de músicas negras (blues, gospels,…) e brancas (country). Esteve na origem da editora (label) Motown que lhe deu outra direcção com grupos como The Supremes e Temptations, que representam a segunda vaga R & B. Hoje em dia, o género mistura rap, funk e soul. Exemplos: Erykah, Badu, Bilal, D’Angelo.

Rock
– Resultou do blues, mas com um ritmo mais acelerado. Diferentemente do pop, o rock é uma música identitária, com uma cultura marginal e de espírito selvagem. No início dos anos 50 começou por se chamar rock’n roll, e só mais tarde se veio a fixar no rock já nos meados dos anos 60.

Rocksteady – é o antepassado do reggae, que conheceu a sua glória nos anos 60. Sucedendo ao ska, ele diminui o tempo musical, prefigurando o reggae com as suas linhas de baixo melódicas. Escutar as produções da editora Treasure Isle de Duke Reid


Roots – Literalmente significa raízes. É um termo de sublinha o enraizamento das músicas e o seu valor de autenticidade, como o blues e o reggae. Caracteriza o músico cuja produção se destina aos habitantes do ghetto

Rude boy – é a figura do mau rapaz no universo da música jamaicana. Recordemo-nos do tema Rude boy dos Wailers, grupo legendários de reggae

Sampler – é uma amostra de música retirado de um tema e que é incorporado numa outra composição musical

Scratching – o DJ coloca um disco vinil sobre o gira-discos e começa a «riscar» de frente para trás o disco, criando ritmos e efeitos sonoros. Com o tempo sofisticou-se com a ajuda dos avanços da tecnologia.

Selector (selecta) – num sound-system é aquele que escolhe os temas que vão ser tocados

Set – equivalente a um concerto de um DJ. Designa o conjunto de temas musicais escolhidos.

Set-list
– aquando de um concerto, designa a lista de temas musivais que vão ser tocados.

Side-project – grupo paralelo formado por músicos que já fazem parte de outras formações.

Singjay – palavra que resulta da junção de sing (cantar) e DJ. Designa um DJ toaster reggae que canta e rap.

Ska – origem da música jamaicana. Trata-se de um cruzamento entre o rythm’n blues americano e os ritmos folclóricos jamaicanos, de onde resulta um reggae acelerado, sobre o qual o cantor «toaste» de forma rápida. Os Skatalites, grupo formado em 1964, são considerados a figura emblemática do Ska

Skank – é a marca característica da música jamaicana, um pequeno acordo de guitarra e piano que faz sacudir a cabeça em contratempo.

Slam ( ou Stage-Diving) – passatempo favorito dos espectadores mais nervosos: subir ao palco e lançar-se sobre a multidão.

Song-writer – aquele que escreve ou compõe canções


Sound-check (balance, em francês) – as últimas afinações de som antes de um concerto


Sound-system – Tem dois sentidos. De início significava o material técnico ( as mesas de mistura, …) que era utilizado para passar a música. Mais tarde vem a designar a equipa que organiza a festa.

Space rock – é um rock planante, incarnado por grupos como os Pink Floyd

Straight-Edge – Nome de um título de Minor Threat, cujos textos exortavam a não beber álcool, a não fumar nem consumir drogas. Trata-se de um movimento muito vulgar na cena do HardCore que segue geralmente o vegeteranismo.


Synth pop – é um pop realizado por sintetizadores. Depeche Mode e Alphaville incarnaram este estilo nos anos 80

Techno – termo genérico utilizado para designar todas as músicas electrónicas, baseadas no uso de máquinas, e com uma linha sonora repetitiva


Teen pop – pop destinados aos adolescentes, interpretado por artistas como Britney Spears

Teknival – versão longa, entre dois e dez dias, de uma free-party

Teuf –termo que substitui cada vez mais a palavra «rave» para designar as noites techno

Toaster – é o efeito de «tchatcher» no micro por cima de um tema tocado no sound-system, um pouco como o free-style.

Trance – versão hipnótica da techno. Mais rápida , ela desenvolve profundas toadas de sintetizadores e de sons em espiral. Para tripar. Exemplos: Sven Vath, Cosmic Baby


Trash Meat – foi o primeiro filho rebelde do Metal. Nos anos 80, os americanos aumentaram o tempo do heavy-metal e optaram por vozes menos empertigadas. Trata-se do estilo Metal em versão mais brutal que surgiu pelas mãos dos Slayer, e do seu Reign in Blood.

Trip Hop – corrente surgida no início dos anos 90. Designam-se de trip hop os grupos de música lancinante na base de beats electrónicos emprestados ao jazz ou à pop. Toadas de teclados, melodias de piano e baixos profundos. Figuras principais são os Portishead ( ouvir Dummy) e Massive Attack ( ouvir Mezzanine)


Unplugged – versão acústica de uma canção, isto é, sem guitarra eléctrica. A cadeia de televisão MTV fez deste género um autêntico must musical. Exemplo: o MTV Unplugged de New York dos Nirvana fez dele um dos discos mais ouvidos de sempre.

VJ (video-jockey) – O VJ é para as imagens o que o DJ é para as músicas electrónicas. Mistura imagens numéricas enquanto o DJ trabalha a sua música

Vocoder –sistema de filtros para transformar um som ou a voz

Zion – no universo rasta é a terra prometida

Yaourt – quando não se conhece ou não se compreende uma canção em inglês começa-se cantar sílabas sem sentido. Diz-se então que se canta em yaourt

Warm-up – mistura de músicas para dançar, antes da chegada dos Djs

West Coast – é o estilo rap da costa oeste americana, que se desenvolveu em torno da cidade de Los Angeles. Muito influenciado pelo gangsta, o estilo West Coast tem como os seus chefes de fila nomes como Ice Cube, Dr. Dre, Snoop Dog, Warren G… e como produtores de referência 2Pac, Suge Knight e a editora Death Raw. Pelo lado das letras, este estilo é muito menos maduro que o da costa este, e inspira-se sobretudo em temas relacionados com sexo, dinheiro e violência.